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terça-feira, 16 de outubro de 2012

IVONETE DIAS REVELA O QUE ACONTECE DENTRO DE CASA - 26 DE DEZEMBRO DE 1983


JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 26 DE DEZEMBRO DE 1983

IVONETE DIAS REVELA O QUE ACONTECE 
DENTRO DE CASA
 A vida novelesca e de muitas dificuldades não conseguiu apagar os sentimentos mais nobres e a capacidade de recriar imagens puras e verdadeiras do interior. Sua arte é simples com uma chama de sensibilidade, que explode em formas e cores fortes. É o próprio eu de Ivonete Dias.
Sem qualquer exagero Ivonete é a melhor artista primitiva que surge na Bahia depois da morte de João Alves. Existem vários outros, de valor. Mas, aqueles que já tiveram a oportunidade de parar e refletir sobre a sua obra já constataram a sua extrema habilidade, aliada a uma capacidade de reter cenas interioranas e transportar para a tela em toda a sua plenitude.
Quando falo em Ivonete fico muito à vontade porque tenho conhecimento da sua vida novelesca, de sua força que lhe permite sobreviver depois de mil peripécias e que os problemas são enfrentados com muita garra, ao lado de seus quatro filhos.
É um Nordeste colorido, onde aqueles personagens que vivem distantes dos mísseis, bombas atômicas, do egoísmo e individualismo das metrópoles vão desfilando garbosos, com suas roupas domingueiras nas procissões ou mesmo nas feiras livres.
Agora, Ivonete dá um mergulho para dentro de casa. Ela está construindo cenas belíssimas do dia-a-dia da dona-de-casa. São mulheres costurando, fazendo comida, varrendo a casa, a família inteira almoçando, tendo ao lado o cachorro vira-lata roendo um osso, o pagode e assim por diante. São cenas comuns a todos aqueles que vêm e moram no interior. Forte por revelar este dia-a-dia, pois estamos acostumados com as pinturas de profissões, bumba-meu-boi e assim por diante, Ivonete agora nos revela o seu lado de dona-de-casa interiorana fixado em sua mente.
Mesmo cheia de problemas é capaz de esquecê-los quando está sentada diante de uma tela branca e compor estas cenas ricas em detalhes e expressividade. Lembram as tão reclamadas raízes. E, Ivonete é realmente uma pessoa do interior no seu jeito de falar, na sua maneira de tratar, e mesmo na simplicidade com que diz às coisas que gosta ou não gosta. E, sua pintura reflete um pouco desta maneira de ver o mundo, um mundo ainda ingênuo, embora sofrido.
Fico portanto à vontade para falar de sua arte que vai ser mostrada na primeira exposição de 1984 da Galeria Época, a partir de 27 de janeiro: serão cerca de 20 quadros em sua maioria de 40 x 50 e será uma boa oportunidade para aqueles que ainda não tiveram oportunidade de examinar a sua obra possam ver a representação das coisas do interior.
Ivonete é de Rio Tinto, na Paraíba.
Residia no interior da Bahia. Atualmente, mora com seus filhos, próximo ao bairro de Santo Antônio, de onde recompõe através de suas telas, situações e cenas, que dentro de alguns anos terão desaparecido com a sanha destruidora do progresso. Mas, enquanto ainda podemos falar de coisas simples, deixemos que as telas de Ivonete Dias povoem os salões e as galerias porque são pedaços do que existe de significativo na vida desta gente simples que mora no interior.
E, como boa dona-de-casa e mãe extremada, Ivonete ainda consegue pintar.
Deixemos que ela nos brinde com as belas composições simples e graciosas. E aí está o seu valor porque tem o equilíbrio necessário entre a simplicidade e o valor artístico.
Esta sua volta para o interior de uma família, para o fazer diário da dona-de-casa possibilita uma variedade imensa de cenas, quase desconhecidas de muita gente, mas que representam grande parte da existência de milhões de nordestinos. Com uma grande sensibilidade e criatividade além de conhecedora deste mundo, que já viveu tantos anos, Ivonete nos abre a cortina e nos permite ver o que acontece dentro de casa.

AS “PREVISÕES” DO SERRA
O Paulo Serra não é vidente. É um cartunista de mão cheia e ultimamente todo final de ano ele generosamente atendendo aos apelos de Papai Noel desenha alguns cartuns sobre o ano vindouro.
Para 84 ele faz cinco “previsões”. No primeiro cartun, Serra acredita que o operário continuará arrochado pelo patrão. No segundo, que a violência urbana vai imperar. No terceiro, que o mundo clamará de joelhos diante do perigo de uma guerra nuclear. No quarto, que aparecerá água no Nordeste bastando às autoridades resolveram trabalhar. E, finalmente, a quinta “previsão” é que a paz povoará os corações daqueles que acreditam no amor.
Deixando as “previsões” de Serra, podemos dizer que o Natal foi comemorado em todos os lares. Mesmo naqueles onde a injustiça social esmaga as pessoas pela falta de recursos.
Mas, é necessário que comemoremos não apenas o Natal, mas outros eventos para que esqueçamos por algum tempo o sofrimento que todos nós vivemos neste mundo de incertezas.
Uma infinidade de violência, praticada pelo próprio homem capaz de amar e odiar num simples fechar de olhos. É preciso manter abertas as nossas consciências e acreditar na bondade de muitos. Que a desesperança dê lugar a uma esperança cada vez maior na capacidade de criar coisas boas.

OS PREMIADOS NO SALÃO NACIONAL

Os artistas Manoel Fernandes (desenho-Rio), Luciano Pinheiro (pintura-Olinda-PE), Solange Oliveira (gravura-Rio) e Carlos Mascarenhas (escultura-Rio) são os artistas que receberam os prêmios de viagem no VI Salão Nacional de Artes Plásticas-MEC-SEC-Funarte. Cada artista recebeu C$2 milhões. O Prêmio Gustavo Capanema, para pesquisa, foi dado este ano para o artista brasiliense José Eduardo Garcia de Moraes, com a apresentação da performance O Mágico Iludir. O prêmio tem o valor de CR$400 mil.
Receberam prêmios de aquisição os seguintes artistas: Luiz Pizarro (pintura-Rio), Francisco Faria (desenho-Curitiba-PR) e Felipe Artur Andery (pintura-SP). A subcomissão de seleção e premiação do VI SNAP resolveu também indicar como referências especiais do júri: Lívia Flores (desenho-Rio), Jair Jacquemont (desenho- Amazonas), Santuza Andrade (pintura-São Paulo), Hilton Berredo (mídia-Rio), Leonilson (pintura-São Paulo) e Gerardo (pintura-Rio). Como prêmio de aquisição para o Museu Edison Carneiro do Instituto Nacional de Folclore da Funarte o júri escolheu os artistas Alcides (MT), Oswaldina (MT) e Nilson Piamont (MT).

TRAJETÓRIA

Manoel Fernandes - 39 anos, paulista, morando há quase três anos em Petrópolis. Formou-se em Arquitetura em São Paulo, depois freqüentou a Escola Brasil e passou a fazer pintura e desenho. Nos anos 70 ficou durante dois anos viajando pela Itália, produzindo e vendo arte. Na volta, resolveu deixar São Paulo por Petrópolis, onde dá aulas e organiza exposições em museus e galerias. É também professor de Desenho no Museu de Arte Moderna do Rio. Manoel Fernandes sempre participou de salões, mas já fazia três anos que não se inscrevia no Salão Nacional de Artes Plásticas. Fez individual na Galeria Paulo Figueiredo, de São Paulo, na Galeria de Arte Cândido Mendes e Galeria Contemporânea, ambas no Rio. No VI SNAP apresentou trabalhos de desenho com vários tipos de carvão.
Luciano Pinheiro- Luciano é do Recife, e tem o seu atelier no Alto da Sé, em Olinda. Começou a expor em 1965. Em 1966 integrou-se ao grupo da Ribeira, na Cooperativa de Artes Plásticas Oficina 154, em Olinda, e nesse mesmo ano expôs na I Bienal nacional de Artes Plásticas de Salvador, no XXV Salão Anual de  Pintura do Museu do Estado de Pernambuco e outras exposições coletivas e individuais. Em 70 foi premiado no I Salão dos Novos, no Museu de Arte Contemporânea, em Olinda, e em 74 recebe o Prêmio de Aquisição de Desenho no I Salão de Arte Global, de Pernambuco. Em 77 inicia seus contatos com a técnica litográfica por intermédio de João Câmara. Em 78 foi premiado (aquarela) no XXXI Salão de Arte do Museu do Estado de Pernambuco; em 79 foi premiado na I Mostra de Desenho Brasileiro, em Curitiba e no XXXII Salão de Arte em Pernambuco (aquarela). Participa do Panorama/80 no MAM-SP em 81, no Panorama de Arte Atual em Pernambuco. Fez, em 82, uma individual na Galeria Sérgio Milliet da Funarte. Em setembro de 83, expôs no espaço ABC- Arte brasileira contemporânea- da Funarte, fazendo exposição do MAM-RJ e em São Paulo.

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