ALGUNS ESTRANGEIROS NA 19ª BIENAL
(FINAL)
Neste
último artigo sobre a 19ª Bienal Internacional de São Paulo, vou enfocar alguns
artistas estrangeiros, cujas obras merecem destaque. Inicialmente temos que
falar de Marcel Duchamp, o pai das vanguardas das últimas décadas, representado
por várias obras cedidas pelo colecionador Arturo Schwarz, radicado em Milão, e
pelo Moderna Museet de Estocolmo, além de documentos e fotografias da réplica
do Grande Vidro. Sua presença está intimamente relacionada com sua importância
como artista que foi e, principalmente, porque este ano é o centenário do seu
nascimento. A curadora geral da bienal, Sheila Leirner, justifica a presença de
Duchamp dizendo que é um contraponto para o embate ‘Utopia versus Realidade’.
Duchamp é um marginal diante dessa questão.
Um
outsider que revolucionou o pensamento e o olhar sobre a arte do nosso século.
Assim, nada mais natural que merecesse uma exposição especial, inédita na América
Latina.
Sem
dúvida que é extraordinária a obra do escocês David Mach, uma grande instalação
feita com 15 toneladas de revistas, que são dispostas sem qualquer colagem ou
recortes.
Por
cima delas um trator que nos dá uma sensação de total destruição, levando à sua
frente, com a força dos seus cavalos invisíveis, tudo que o David resolve
captar como elemento e integrar à sua obra. Esta sua identificação com retalhos
da produção industrial ou da sociedade de consumo é fruto de
uma observação que o acompanha desde o tempo de estudante, quando aproveitava as férias de Verão para trabalhar como operárioem fábricas. Ele ficava impressionado com os
excessos de produção. Não trabalha com sucata. Suas obras são sempre
construídas com objetos novos, como os que usou nesta sua instalação na Bienal
paulista.
uma observação que o acompanha desde o tempo de estudante, quando aproveitava as férias de Verão para trabalhar como operário
Ele
disse gostar de trabalhar em público, ao contrário de muitos artistas que
preferem o silêncio do atelier, “porque as pessoas fazem perguntas perturbadoras
que nos obrigam a pensar”. Podemos destacar que as 15 toneladas de revistas, o
trator e outros objetos do nosso mundo real que utiliza em sua instalação
permitem a criação de várias imagens de acordo o ângulo em que o visitante se
coloca para examinar a sua obra.
A
instalação passa uma imagem de um turbilhão de revistas que vai invadindo os
espaços e o trator cumprindo o seu papel de levar adiante o resultado daquela
catástrofe. A instalação pode servir ainda a muitas leituras, e, como diz Mach,
“eu me interesso na diferença entre a insensibilidade da produção em massa, a
maneira não espiritual com que as coisas são feitas e a afetividade que se pode
ter por alguma coisa”
A
FAMÍLIA BOYLE
Todos
que lêem sobre arte já conhecem os trabalhos da família Boyle ou pelo menos já
devem ter ouvido falar. Na Bienal a família apresenta 12 relevos em fibra de
vidro e todo o seu trabalho é formulado nas observações nos solos em várias
partes do mundo, ou seja, desde uma rua movimentada de uma grande metrópole à
superfície de um deserto. Mark Boyle, o chefe da família, nasceu em Glasgow, estudou Direito e, em 1964, iniciou
com Joan Hills os trabalhos com a superfície da Terra. Mais tarde, os filhos do
casal, Sebastian Boyle e Geórgia envolveram-se também nesse trabalho e os
quatro passaram a assinar como Família Boyle
Eles
tem viajado pelo mundo afora recolhendo material para o seu trabalho que é
realmente arrebatador. Diz Mark Boyle que “ao contrário do que pensam as
pessoas que conhecem o nosso trabalho, não existe uma fórmula para executas as
nossas peças. Detalhe de uma obra executada pela Família Boyle.
É
fatal engano imaginar que sabemos como vamos fazer uma determinada superfície.
O
que é importante é que nós que tivemos oportunidade de ver de perto obras da
família Boyle ficamos visivelmente impressionados com a capacidade inventiva do
grupo e a habilidade em transportar para seus relevos imagens que estão
gravadas no solo de várias partes do mundo. Os mínimos detalhes, como uma ponta
de cigarro amassados numa velha calçada de Londres são reproduzidos com
perfeição. É um trabalho apurado com as resinas e conseguem dar o colorido
exato.
ERWIN
WURN
O
austríaco Erwin Wurn, festejado em sua terra, apresenta uma instalação onde une
e superpõe objetos utilitários de metal, especialmente grandes tachos e latões
que nos dão a impressão de estarem soltos., disponíveis à assumir variadas e
intrigantes posições, juntamente com a Brigite Kowanz, representa a Áustria e
nos informa Peter Baum que ele, com 30 anos de idade, foi homenageado com o
prêmio Otto Mauer, e já apresenta como referência uma obra pluralística e de
grande conseqüência, ilustrando claramente, através da contrapontuação na
utilização diferenciada da cor, a mudança,, a seqüência de materiais aplicados, tais como madeira,
concreto, palha e chapa de alumínio
Acima obra do austríaco Erwin Wurn,com objetos utilitários.
Acima obra do austríaco Erwin Wurn,com objetos utilitários.
MARGRETE SORENSER
A
dinamarquesa Margrete Sorenser apresenta quatro séries de escadas reais ou
oficinas, que se dirigem para uma plataforma. Todos que visitam a exposição
imaginam subir as escadas, porém isso não é possível.
O
movimento é indicado, mas não de forma física. É o movimento do material para o
imaterial. Na realidade trata-se de uma escultura em forma de cruz, já
conhecida em Copenhague, onde foi montada há cerca de dois anos.
Para
Oystein Kjort a obra de Sorenser pode ser considerada uma apresentação teatral,
durante a qual o observador convidado a ver as amplas possibilidades do espaço,
encontrando-se, de sonho e obsessão, de posse do desconhecido.
Podemos
ainda destacar as obras do alemão Anselm Kiefer, com sua pintura que prima por
anotações nebulosas de arquitetura e paisagens.
Uma
atmosfera que para alguns críticos de arte evoca temas históricos e a própria
mitologia germânica. Para outros, alude ao arcaico, a um passado fora do
próprio tempo presente, lembrando a atitude dos antigos mestres alemães.
Também
o japonês Tadashi Kawamata, mora em Tóquio, apresenta uma instalação composta
de duas partes. No pavilhão da Bienal tem uma documentação fotográfica e
explicativa de sua obra e, numa rua próxima ao parque de Ibirapuera fez uma
montagem usando sarrafos de madeira numa casa em ruínas.
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