RUBENS GERCHMAN EXPÕE NO MAMB VOYER AMOROSO
“Voyer Amoroso” foi à expressão que encontrou o artista Rubens Gerchman para designar o espectador do amor. Ou seja, aquela pessoa sensível capaz de perceber a pura amizade entre duas pessoas.Assim, podemos entender estas 20 litografias e serigrafias que o artista está expondo no Museu de Arte Moderna da Bahia, de 1° a 8 de agosto. Certa vez Rubens Gerchman disse “o que melhor caracteriza o homem é a multidão”. Dentro dessa visão durante a década de 60 trabalhou obrigando o espectador a pensar através dos detalhes, dos pedaços do cotidiano, levando-o muitas vezes até ajoelhar para mirar melhor uma obra de sua autoria. Na foto Rubens Gerchman que expõe 20 litografias e serigrafias.
Na década 70 Gerchman se apodera de novos símbolos, até chegar ao “Voyer Amoroso”, cuja série começou a elaborar em 1975 com “Boa Noite”, sempre abordando temas amorosos e o que se chama de lado afetivo, sem qualquer agressividade. Os beijos demorados, e o apalpar das coxas surgem em suas litografias e serigrafias dentro de uma linguagem natural e não chocam, nem mesmo uma pessoa mais reacionária ou que tenha muitos preconceitos. A abordagem tem uma conotação lírica da efetividade, da abordagem natural e parece que Gerchman se colocou, como um verdadeiro voyer escondido atrás de sua criatividade para captar aqueles momentos vividos a sós com toda intensidade.
Inquieto, por temperamento,
Rubens Gerchman com mais de 20 anos de experiência, tem não apenas captado o
cotidiano deste Brasil. É bom lembrar, das misses e dos índios que realmente
alcançaram como imagem e mensagem plástica todo este país. É um profissional
que acompanha de perto o seu trabalho, mesmo quando necessita utilizar de
métodos mecânicos. Como é o caso da reprodução em série. Revelou a
este colunista que na série das litografias e serigrafias “Voyer Amoroso” fez todas as matrizes conseguindo uma variação de
cores espetacular. São dez cores que estão devidamente definidas. “E, este
resultado sintetiza o meu trabalho”.
ATENTO E METICULOSO
Voyeurs somos todos nós, espectadores do que está acontecendo a
nosso redor. Somos os que deitam o olhar demoradamente sobre o que nos cerca,
os objetos e as ações de outras pessoas e mesmo dos animais. Percebendo e
ficando muitas vezes surpresos com o que acontece e que nos preocupamos em
olhar e registrar.
Enquanto falava Rubens Gerchman
mostrava muito carinho com sua filhinha que brincava correndo de um lado para
outro.Estava na posição de um pai amoroso, não mais do espectador, de voyer, mas de um participante do jogo
amoroso tão comum entre as pessoas que se amam
É verdade que Gerchman é um
pintor figurativo e atento ao que acontece dentro de seu ambiente. Tem os pés
no chão, tem a cabeça dentro da realidade, a qual observa como espectador e sabe
recriar como artista que e, sempre trazendo inovações ou chamando a atenção das
pessoas para estas ocorrências.
Na série das misses, nas dos
índios e agora no jogo amoroso, Rubens Gerchman é quase um artista que transpõe
para tela ou papel, as coisas que estão acontecendo, as quais preocupam alguns,
interessam a poucos e passam despercebidas por muitos.
Sua pintura de certa forma é
autobiográfica, são retalhos de sua existência que ele transpõe, como que
tivesse fotografando para a posterioridade. Só que este “álbum” ele não guarda
como um egoísta para admirar sozinho. E, esta série “Voyer Amoroso” é exatamente o reflexo da felicidade que Gerchman
traduz em sua linguagem plástica e vem compartilhar conosco.
Aqui uma manifestação de amor retratada por Gerchaman
Aqui uma manifestação de amor retratada por Gerchaman
OPINIÃO
Reunidos na sexta-feira passada
no primeiro andar do casarão principal do Solar do Unhão com Améris Paolino,
Grijó, o artista Rubenas Gerchman revelou que foi uma grata surpresa a
exposição de fotografias de Améris. Ele não conhecia nada de fotógrafa
paulista, e realmente ficou gratificado com o seu trabalho. Quanto a Grijó já o
conhecia, e foi responsável pelo primeiro emprego do artista português, que deu
um curso na Escolinha do Parque Lage. O elemento novo, segundo Rubens, é a cor.
Lembra que Grijó trabalhava com
objetos quase fetichistas, mágicos. “Ele trabalhava materiais pobres e
conseguia dar-lhes nobreza e dignidade. Agora vejo uma arte construída,
cuidadosa, recortando a tela, deixando que os espaços brancos penetrem”. E,
finalmente, disse que “a cor e as formas são elementos de ligação entre os dois
artistas que ora expõem do Unhão”.
Portanto, quem leu o que escrevi
há duas semanas notará a semelhança das observações que fiz com a de Rubens
Gerchman. E, quem ainda não visitou a exposição de Améris e Grijó ainda há
tempo. Mas não deixem de ver até o dia 8 de agosto as serigrafias e litografias
de Gerchman.
GILSON RODRIGUES VOLTA COM RETALHOS DE
UM PEDAÇO
UM PEDAÇO
Depois de sete anos quase
totalmente dedicados ao teatro onde produziu belos figurinos e cenografias, eis
que retorna às galerias o artista Gilson Rodrigues. Ele foi o responsável pelos
figurinos e cenografias das peças “Língua de Fogo”. “Mulheres de Tróia” e
“Decameron”, dentre várias outras peças que fizeram sucesso em Salvador. Portanto ,
Gilson não perdeu durante este período o contato com o desenho.
Este retorno é cheio de
curiosidade e felicidade. A mostra chama-se “Retalhos de um Pedaço”. E será
apresentada no Hotel Merídien, a partir de 13 de agosto até o dia 30. Será,
portanto numa sexta-feira, dia 13, só que a Lua é crescente e não, minguante o
que garante uma boa dose de otimismo para que Gilson alcance sucesso de
público.
Afastado das galerias, Gilson
Rodrigues como que estava sentado num platô observando o bater das ondas do
mar, os peixes, as pinturas, e quando anoitecia lá para casa observar os
objetos ao seu redor. Assim aparecem os pilões, os pesos de ferro, tão comuns
das feiras livres do Interior deste país. E, é claro, que a flora e a fauna não
poderiam estar fora desta colcha de retalhos, que é a sua exposição. São realmente
pedaços, que juntos, representam momentos que estão gravados no inconsciente de
Gilson Rodrigues. O desenho é perfeito e entremeado de pinceladas gestuais que
vão compondo os volumes como notas de uma partitura musical. São closes de coisas comuns, que estão no
nosso dia-a-dia, que servem como objetos de decoração, utilitário, e mesmo
apropria subsistência do homem.
Diria que Gilson Rodrigues deu um
mergulho no tempo, enquanto construía suas cenografias e desenhava seus
figurinos.Umas das telas mostra um pássaro com olhar altivo, envolvido por uma
cobra, que mais parece que veio para dar cor à sua plumagem.
Como que convivem
harmoniosamente. Quando iniciamos a olhar surge à mensagem que a cobra está
matando-o.Gilson retorna com individual depois de 7 anos de ausência.
Mas, ao contrário quando
examinamos mais detalhadamente notamos que se completam. Talvez a dualidade do
bem e do mal.Uma imagem de Gilson Rodrigues,
que é uma pessoa sensível e frágil. Encontrei o artista em sua casa na Boca do
Rio debruçado sobre o mar envolvido pelo coqueiral. Os peixes e os moluscos são
integrantes da sua própria paisagem. Esta exposição não poderia ter um nome
mais sugestivo, porque na realidade são pedaços ou retalhos que estão
harmoniosamente unidos pela cor e pela abordagem plástica de Gilson Rodrigues.
Acredito que o artista quis revelar momentos de seu próprio viver, e que agora
nos revela.
As figuras têm formas definidas e
os volumes são salientados por pequenas pinceladas gestuais, possibilitando a
leitura do que Gilson deseja transparecer. Quando lhe pedi que pronunciasse
algumas palavras sobre seus novos trabalhos ele apenas adiantou:
“São pedaços”. Sim, são pedaços,
que juntando podemos ter uma idéia do que existe dentro do seu inconsciente e
que aos poucos ele vai revelando. Acho que esta nova mostra de Gilson é um
grande passo em sua carreira, já pontilhada de boas realizações.
MARIA HELENA ESTÁ AQUI
A artista Maria Helena de Moura
Dória expõe a partir de 3 de agosto na Teresa Galeria de Arte, no Rio Vermelho.
Desde os 14 anos de idade que ela pinta. Tem vários cursos realizados em
institutos e ateliers de artistas,
além de várias exposições individuais e coletivas. Sua mostra reflete a própria
vocação para a paisagem lírica, onde a artista parece estar debruçada numa
janela como uma boa observadora que capta todos os elementos para o surgimento
de uma composição. Os volumes mostram harmonia plástica e as cores como que
traduzem tardes bucólicas. O trabalho impresso no catálogo e que reproduzo ao
lado, mostra que sua pintura não tende ao primitivismo, como salienta uma das
apresentações. Conheço pouco o trabalho de Maria Helena, mas pelo que pude
apreciar acho que tem futuro promissor, se continuar insistindo na melhoria da
técnica e na busca de um a linguagem própria. O simples retratar paisagens
bucólicas está a exigir um vôo mais alto para que sua criatividade pulse
livremente. O que importa é o seu sentimento e sua vontade de pintar, de passar
para a tela a visão do que lhe cerca. É preciso que continue assim buscando
soltar o traço e imagens outras que lhe possibilitem a encontrar outros
horizontes plásticos.
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