OS ORIXÁS DE TATTI MORENO FORAM
DANÇAR
EM BRASÍLIA
EM BRASÍLIA
O escultor Tatti Moreno não poderia escolher uma época melhor para levar seus orixás para a capital federal.Quando os boatos agourentos ganham os imensos espaços do Planalto Central chegam ao Sul e ao Nordeste do país, somente a força dos Orixás pode afastar ou anular os apóstolos da desgraça.
Recentemente entrevistando um
velho carranqueiro do São Francisco, ele disse que ao fazer uma carranca, que é
a representação do demônio, tem o cuidado para não ser surpreendido pelo diabo.
Uma crença que herdou de seus ancestrais, como também acontece com a maioria
das pessoas que cultua os deuses africanos. Assim, uma simples escultura em
bronze de um Orixá, ganha força de misticismo porque atrás de sua imagem,
existe toda uma herança cultural religiosa e uma gama de seguidores convictos e
fervorosos.
A postura dos Orixás, que foram
agrupados para a fotografia da capa do catálogo, nos lembra um flagrante de um
terreiro de candomblé, quando os Orixás baixam para a felicidade dos pobres
mortais desta terra. É um encontro celestial entre vivos e mortos, homens e
deuses que encarnam seus espíritos fazendo as pessoas cair, roda e se bater
contra o solo. Uma manifestação de fé.
Portanto, mesmo que o artista
esteja imune a própria relação objeto-religião, pessoas que olham suas
esculturas representando os Orixás, não estão centenas e centenas de outras pessoas que olham suas esculturas representando os Orixás.
E, utilizando latão, ele vai
armando o seu mundo místico unindo os pedaços deste metal de cor dourada com
pontos de solda elétrica. Um trabalho tão significativo, como dos verdadeiros
artesãos que o antecederam nesta tarefa de cultuar os deuses da África negra.
Seu trabalho é como a prece de um crédulo.
Com as palavras de suas orações
vai alinhando pensamentos, pedidos e agradecimentos. Só que Tatti dá um sentido
mais concreto, quando retorce, corta, fura e bate a folha do latão e vai
juntando os pedaços, até a encarnação de seu Orixá.
São esses Orixás de latão, cobre
e ferro que deixaram Salvador e voaram para Brasília, local próprio para
exercer a proteção sobre este país, que mais parece um porta-aviões à deriva.
Aproveitando os grandes espaços de Brasília que são tão escassos em nossa Bahia , eles vão
dançar e cantar para afastar os perigos que nos rondam. A exposição será aberta
no dia 21 e permanecerá até 30 de junho no Saint Paul Park Hotel.
VESTINDO A ARTE DE MARIA ADAIR
A idéia surgiu de um trabalho de
arte integrada que Maria Adair apresentou os Estados Unidos, sobre o qual já
falei alguns meses atrás. O trabalho inicial foi montado no Museu de Arte de
Iowa. Slides de suas pinturas foram projetados em cima dos corpos de
dançarinos. Aí ela sentiu que suas formas em jatos de luz vestiam as pessoas.
Um passo à frente e resolveu pintar com o objetivo de vestir as pessoas. Tudo
isto será mostrado na Livraria Corrupio, através de uma coreografia
especialmente preparada por Beth Grebler com seu corpo de baile: Lily Graça,
Ana Nossa, Telma Almeida, Simone, Beto de Souza e Nem. Os dançarinos maquilados
pelo aerógrafo de Poló.
A baiana Maria Adair retornou ao
Brasil em janeiro, deste ano, depois de estudar e realizar algumas exposições
nos Estados Unidos. Sua arte traz em seu bojo a vitalidade e o palpitar dos
órgãos que formam o próprio corpo humano, esta máquina fantástica e inimitável.
É a natureza toda a fundamentação do seu trabalho artístico tanto no campo
animal, como no campo vegetal. São as estruturas que normalmente não vemos
porque estão cobertas pela pele ou pela casca. Realmente se você se detiver
diante de uma tela de Maria Adair certamente ficará emocionado com a trama que
ele cria e derrama com cores fortes, suaves e linhas sinuosas.
É como quisesse revelar o íntimo
das pessoas e das plantas através uma radiografia, possibilitando uma total
nudez e dissecação da matéria. Tudo isto brota de uma instantaneidade invulgar,
que somente as pessoas mais chegadas à artista podem realmente avaliar a sua
capacidade expressiva.
PERDEMOS A FORÇA DE HANSEN E,
AGORA,
A DOÇURA DE ILSE
A DOÇURA DE ILSE
“Nesta casa encontrareis a
alegria de viver e o humanismo, a paz e o trabalho criador, a doçura de Ilse e
a força de Hansen, o amor da Bahia”. Estas palavras de Jorge Amado são
suficientes para a gente sentir quanto à Bahia perdeu com o desaparecimento da
força de Hansen e da doçura de Ilse. Tudo começou, quando Hansen partiu.
Lembro-me da última vez que o vi, em São Félix no leito, com parte do corpo envolto
numa grossa colcha de lã quadriculada a levantar-se várias vezes, para dar
ordens aos operários que trabalhavam na construção de uma piscina na sua nova casa.
Ao lado, a esposa querida. A
ex-aluna que captou o seu trabalho forte, belo e sensual. A esposa-aluna que
durante dias e noites soube compartilhar os seus sentimentos e a grandeza na
hora do sofrimento deste artista que viveu para a arte. Hansen dormia e vivia
pensando em suas gravuras, em suas novas publicações. Usou toda a força
interior que lhe restava para a construção de uma obra, que ainda será
reconhecida com muito mais intensidade. Vejo a sua obra como que guardada para
um momento maior de explosão e reconhecimento em todos os recantos.
Desta união da força e da doçura
nasceu exatamente esta dupla de artistas que encantava os amigos com suas
conversas alegres, descontraídas e sinceras.
Lembro também de sua casa que
construiu com tanto zelo em Salvador, com trabalhos seus e de amigos
incrustados nas paredes, lembro principalmente de sua inquietação com a chegada
dos tratores barulhentos a destruir o coqueiral que descortinava de sua
casa-atelier. Ficava nervoso. Quando por várias vezes lá estive, desabafava e
prometia mudar. Eu não acreditava, tal o zelo com que construíra a sua casa.
Parecia que estava ali assentado para o resto da vida. Qual foi minha surpresa
quando comprou a Fazenda Santa Bárbara, fora do centro de São Félix e lá
começou a erguer sua última casa. E, Ilse numa das poucas entrevistas que deu,
dizia “que ele procurava a Bahia de 1950, que veio encontrar aqui”. Foi
exatamente lá que os dois vieram a falecer num ambiente da Bahia dos anos 50.
Partiram daquele alto
descortinado o Paraguaçu descendo vagarosamente, batendo suas águas nas pedras
e nas barrancas em busca do mar. Muitos dos painéis que projetou para a sua
nova morada nem chegaram a ser concluídos.
Estão lá, intactos à espera que
alguém se interesse em promover uma campanha para que possam continuar a
envaidecer todos aqueles que gostam de obras de arte. A casa está lá,
desprovida da força de Hansen e da doçura de Ilse.
Gostaria de ter escrito antes
sobre estes dois amigos que partiram. Aliás, sobre Hansen escrevi uma página neste
jornal na época da sua morte. Porém, estive viajando. Mas nunca é tarde para
falar de amigos, principalmente de amigos sensíveis e criadores.
FOTÓGRAFOS BAIANOS REUNIDOS NA
FOTOBAHIA,
NO DIA 15 DE AGOSTO
NO DIA 15 DE AGOSTO
Os fotógrafos profissionais e
amadores podem participar da Fotobahia 83, de 15 de agosto a 4 de
setembro, no Foyer do Teatro Castro Alves. O tema é “Bahia”, em seus diversos
aspectos sociais, econômicos e culturais. A produção é do Grupo de Fotógrafos
da Bahia que, paralelo à exposição, também vai promover a “Mostra de
Audiovisuais” e o “4º Encontros de Fotógrafos da Bahia”, de 1º a 4 de setembro,
com participação de debatedores famosos nacionalmente, como Luiz Humberto, de
Brasília; Pedro Vasquez, do Rio de Janeiro; Nair Benedito e Ricardo Malta, de
São Paulo.
Os fotógrafos baianos
interessados em participar da “Fotobahia 83” devem entregar suas fotos e fazer suas
inscrições até o dia 15 de julho. Só serão aceitas cinco fotos, no máximo, que
não devem ser montadas e que tenham mínimo de 18x24 e o máximo de 30x40.Além das fotos para exposição,
cada fotógrafo deve reservar todos extras para o catálogo e divulgação do
evento.
A “Mostra de Audiovisuais” é um
novo espaço para apresentação de trabalhos em linguagem audiovisual e /ou
slides.. E o” 4° Econtro de Fotógrafos da Bahia”, além dos debates com profissionais
importantes do país que discutirão questões como “ O Fotógrafo Como Autor”,
“Cultura e Fotografia”, “Fotojornalismo” e “Eexercício da Profissão e Formas
de Organização”- será uma oportunidade de avaliação e desenvolvimento da arte de
fotografar aqui na Bahia. A propósito, os fotógrafos baianos elaboraram este
documento dirigido à Fundação Cultural.Vejamos:
“O Grupo de Fotógrafos da Bahia,
representados pelos abaixo-assinados, é uma entidade particular que, há cinco
anos, vem realizando e produzindo a principal exposição fotográfica do estado,
a Fotobahia, cuja importância e valor são reconhecidos nacionalmente, tanto que
tem participado de vários eventos culturais como 32ª Reunião da SBPG, 1960, no Rio
de Janeiro, 33ª. Reunião de SBPG, 1981, em Salvador, 1ª Semana da Fotografia
realizada pelo Núcleo de Fotografia/Funarte, em 1982 no Rio de Janeiro, Feira
da Cultura Brasileira, 1983, em
São Paulo.
Paralelamente à divulgação da
Fotografia Baiana, o GFB vem assumindo a luta pelos direitos dos Fotógrafos
(Direitos Autorais e Regulamentação da Profissão), bem como a discussão do
papel da fotografia na nossa comunidade e no nosso tempo.
Assim sendo, nos sentimos no direito
e no dever de apresentar as seguintes considerações e solicitações:
1º- A produção fotográfica da
Bahia é reconhecida como expressiva, nacional e internacionalmente. Nesta
produção está incluída toda a atividade fotográfica desde a dos fotógrafos que
aqui se instalarem, no fim do século passado.
2º- Existe na Bahia um grande
acervo de fotografias que vem desde o século passado, que cobrem todo este
tempo, e estão esquecidas e se perdendo em vários arquivos públicos e
particulares, sem os necessários cuidados da conservação nem de divulgação,
correndo sério perigo de desaparecimento. E a fotografia tem um sério papel na
conservação da Memória Nacional.
3º- Existem importantes projetos
fotográficos nas áreas de artes plásticas, educação, Linguagem Fotográfica,
Documentação etc., que não podem ser realizados por absoluta falta de apoio.Outros estão em andamento, graças
a recursos particulares ou a apoio de entidades de fora do estado.
4º- fotografia é uma linguagem
nova (tem só 160 anos). Rica, complexa, com características e problemas
particulares é o espelho da nossa sociedade e tem poderes de influir sobre ela.
E o fotógrafo é o produtor e autor desta linguagem.
5º- Não tem existido até o
momento, por parte da Fundação Cultural da Bahia, uma política cultural
específica, elaborada a partir do encontro com os fotógrafos, que cuida da
fotografia no que tange a produção, circulação e conservação, enquanto bem
cultural.
Assim, solicitamos na Fundação
Cultural da Bahia a realização de um seminário, que englobando todos os ramos
da produção fotográfica, possa tornar claros os caminhos a seguir para
incentivar e cuidar a nossa fotografia.
Para tanto o Grupo de Fotógrafos
da Bahia se coloca à disposição da Fundação Cultural para discussão e
realização desta proposta.
Certos do atendimento,
cordialmente, pelo GFB:Rino Marconi, Aristides Alves e
Adenor Queiroz Gondim.
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