UMA VISITA A 30ª BIENAL PAULISTA
São Paulo , 13 de setembro de 2012.
Texto e Fotos Reynivaldo Brito
Texto e Fotos Reynivaldo Brito
Instrutores conduzem e explicam às crianças detalhes da obra Silence, de 1995, do artista David Moreno.
A 30ª Bienal de São Paulo que está aberta ao público até o dia 10 de dezembro deste ano, no Parque Ibirapuera, em São Paulo, traz como tema central “A iminência das Poéticas” e propõe-se segundo seu curador Luís Perez-Oramas “ como uma estrutura de sentido constelar. Os artistas e as obras aqui presentes foram selecionados e instalados em função de uma dupla potência de vinculação: vinculação entre eles, quer dizer, entre artistas dissemelhantes formal e gerencialmente, sempre aberta, sempre iminente; e vinculação de suas obras entre elas próprias, formando constelações quase retrospectivas mais ou menos autocontidas”.
O curador “encontrou” doze
constelações entre os artistas expositores, mas ele abre a possibilidade do visitante encontrar
outras, a depender da sua sensibilidade e da percepção diante do que está
exposto. Ele cita Goethe quando o filósofo alemão diz que “
todo existente é o análogo de todo existente”. Para ele “ o
importante não é tanto a arbitrariedade dos vínculos como a possibilidade de
que esses sejam intelectual e responsavelmente justificados, estabelecendo
assim a potência de uma comunhão polêmica de sentido. Não é outra coisa o que
entendemos por “ Iminência das Poéticas.”.
Das várias bienais que já visitei
acredito que esta seja uma das mais intangíveis para o visitante comum, aquele
que não tem muita vivência com a arte contemporânea. Existe um excesso de
instalações utilizando de recursos audiovisuais (cinema,vídeo e fotografia) e nas horas que
passei por lá a maioria delas fica completamente vazias, não atrai a atenção do visitante que passa batido a
procura de ver coisas mais palpáveis. Quando via grupos de crianças visitando
esta bienal, mesmo acompanhados de instrutores, acredito que o choque é
muito grande e que o
rendimento talvez seja muito pequeno.
Mas, de qualquer forma, vale este encontro com a arte e alguma coisa deve ficar
marcada na sua formação futura.
Para mim a arte tem que
emocionar. A arte não precisa ser necessariamente totalmente
compreensível, ela tem que causar emoções e inquietações. Tem que romper,
inovar, porém, confesso que muitas das instalações e performances que vi não me trouxeram qualquer emoção e serão
( se já não
foram) ligeiramente esquecidas. As viagens de alguns artistas são viagens suas,
as quais muitas vezes não conseguimos decodificar coisa alguma, não conseguimos
penetrar por várias razões. E, é
preciso ser aberto para dizer isto. Muitos se escondem no silêncio ou através
de conceitos incompreensíveis e intelectualmente discutíveis. Talvez minha capacidade, de uma pessoa medianamente instruída ,não esteja à altura de
entender toda esta "Iminência das Poéticas " que o curador propõe.
Uma das obras que realmente a trazem alguma emoção são as de Arthur Bispo do Rosário ( foto ao lado) que viveu quase cinquenta anos num hospício juntando, colando, costurando e pregando tudo que encontrava pela frente. Ele acreditava estar fazendo um papel divino e assim passou os anos entre a criatividade e o delírio. Seus estandartes, assemblages e objetos são hoje consagrados como obras referenciais da arte contemporânea brasileira. Sua arte já foi exposta nos principais museus do mundo com grande aceitação do público e da crítica. Acredito que seus trabalhos estão mais próximo do delírio.
Uma das obras que realmente a trazem alguma emoção são as de Arthur Bispo do Rosário ( foto ao lado) que viveu quase cinquenta anos num hospício juntando, colando, costurando e pregando tudo que encontrava pela frente. Ele acreditava estar fazendo um papel divino e assim passou os anos entre a criatividade e o delírio. Seus estandartes, assemblages e objetos são hoje consagrados como obras referenciais da arte contemporânea brasileira. Sua arte já foi exposta nos principais museus do mundo com grande aceitação do público e da crítica. Acredito que seus trabalhos estão mais próximo do delírio.
Num artigo publicado recentemente
na revista Filosofia, André Assi Barreto diz que o apreciador comum de muitas dessas obras de arte contemporâneas tendem a rejeição, enquanto os adeptos das correntes artísticas
modernas atribuem esta postura à incompreensão ou ao preconceito. Como não ter
preconceito diante das várias fotos de homens nus com os pênis expostos sem
qualquer motivo ou valor estético? Estão lá na bienal aparentemente como se fossem fotos dessas revistas
“especializadas” para determinado público, quase pornografia explícita! Este é
trabalho de um dos expositores da bienal paulista. Essas “obras” são de autoria Mark
Morrisroe, nascido em 1959 em Malden, nos Estados Unidos, o qual faleceu em 1989, em
Jersey City, também nos Estados Unidos,
após contrair o vírus da Aids.
Agora buscamos o choque, a feiura
ou a incompreensão na produção da obra de arte .Na maioria das vezes são obras
efêmeras, as quais só duram o tempo de uma exposição.
Lembra o autor que o filósofo
inglês Roger Scruton , conhecido como o
filósofo das “causas perdidas” , que
hoje a arte deixou de atribuir sentido à vida e é substituído pelo desejo de
causar impacto a todo custo. “ O caminho
mais curto para isso, de acordo com o filósofo , foi romper com a moral
tradicional e estabelecer o escárnio moral. A quebra de tabus passou a ser a
bandeira da arte dita moderna: profanar e dessacralizar o sacro, cultuar o
feio, levando todos ,dos especialistas ao apreciador comum, à total confusão.
Isso se deve a uma concepção de arte equivocada”.
Equivocada ou não a 30ª Bienal de
São Paulo reúne dezenas de instalações que realmente estariam dentro desta visão de Scruton.
Esta posição, tanto de Roger Scruton ou de qualquer outro que discorde
desta arte que se propõe a ser contemporânea, é considerada pelos
“especialistas” como resultado do conservadorismo e mais radicalmente falando
da ignorância e da dificuldade de aceitar o novo ou do preconceito.
Parodiando Joãozinho Trinta, o
saudoso carnavalesco, “ quem gosta de coisa feia é intelectual ou especialista
em arte”.
Vamos à Bienal: Vou destacar alguns dos artistas que me transmitiram alguma emoção e compreensão do que vi e ouvi. Não segui a orientação do curador formando ilhas ou mesmo constelações procurando semelhanças. Apenas falo de uns poucos que entendo merecer algum registro.
Vamos à Bienal: Vou destacar alguns dos artistas que me transmitiram alguma emoção e compreensão do que vi e ouvi. Não segui a orientação do curador formando ilhas ou mesmo constelações procurando semelhanças. Apenas falo de uns poucos que entendo merecer algum registro.
1) David Moreno , reside em New York, tendo nascido em 1957 em Los Angeles, também nos Estados Unidos. Suas obras trazem a articulação constante de dois universos que são: figuralidade do som e a sonoridade da imagem. Através de suas instalações sônicas ele chama a atenção, nos faz parar , meditar e até brincar com a sonoridade . As crianças que vi visitando a bienal se deliciavam os sons emitidos por suas obras. Numa delas um grupo de molas dependuradas transmitiam um som agradável de ouvir. Na obra Silence , ( foto ao lado) de 1995, ele colou várias fotografias de personagens antigos, formando um grande mural e em suas bocas uma corneta de papel amarelo . Deu um efeito interessante e segundo os organizadores “ suas obras emolduram questões sobre a mortalidade do corpo, a condição animal do humano e os impulsos de vida e de morte manifestos sob a forma de sintoma”.
Tehching Hsieh – Nasceu em 1959 , Nan-Chou , em Taiwan, mas vive em New York. Na primeira de suas performances ele ficou confinado numa cela em seu estúdio e registrou tudo num relógio de ponto e com fotografias,( foto ao lado) todas as horas do dia. Outra performance passou 365 dias nas ruas de New York. Depois ficou amarrado a uma mulher sem poder tocá-la. De 1985 a 1986 ,anunciou seu distanciamento do mundo da arte. Finalmente, se propôs a fazer arte durante 13 anos sem mostrar, até completar 49 anos, quando concluiu o plano e deixou de atuar como artista.
A sensação é de que o artista
está passando por uma sessão de tortura ,dessas que agora estão sendo
desvendadas em vários países latino americanos, inclusive no Brasil, após a
queda das ditaduras. O relógio de ponto vira uma máquina de tortura.
Eduardo Gil – nasceu em 1973, em Caracas, Venezuela e vive em New York, nos Estados Unidos. É um artista emergente latino americano que articula estratégias de instalação e formas arquivistas. Uma de suas obras expostas apresenta uma série de retângulos girando. É uma das que mais chama a atenção do visitante, por seu caráter lúdico, participativo. Muita gente e posiciona com pequenas máquinas fotográficas que gravam e, também com celulares para flagrar o giro das formas geométricas. São dezenas delas que a cada instante mudam de posição formando várias situações.
Bas Jan Ader – Nasce em 1942, Winschoten, Holanda e morre em 1975. Desapareceu no Oceano Atlântico para onde partiu num veleiro tentando atravessá- lo. Nunca mais foi visto. Ele misturava o tom dramático com o cômico. Num audiovisual cai do telhado de uma casa com uma cadeira que tentava sentar. Noutra obra ele se inclina sobre um cavalete, e intitulou de Broken Fall ( Geometric, 1971). Foto ao lado, Divulgação . O artista performático fazia estas experiências indagando o sentido da vida e da existência humanas. Este seu desaparecimento, que na realidade viajara
- Em busca do Milagroso - fez criar uma mística sobre ele , o qual teria ido até as últimas consequências em suas experiências.
Edi Hirose - apresenta fotos grandes de construções estranhas feitas por moradores da região central da selva peruana. Sua obra intitulada Pozuzo é um ensaio onde ele apresenta esta região. Nela, há mais de 50 anos vivem imigrantes descendentes de alemães e austríacos. Ele apresenta situações desses moradores e suas habitações, onde algumas delas nos lembram dos puxadinhos estranhos que encontramos em nossas favelas, que agora os idiotas que defendem o politicamente correto tentam mudar de nome para comunidades.
Outra coisa, que me chamou a atenção
foi a presença de muitas obras fotográficas e audiovisuais em detrimento de telas e objetos tridimensionais,
no caso as esculturas. As instalações utilizaram muito as técnicas fotográficas,
cinema, som e vídeo e, sendo o papel um dos materiais mais presentes nesta bienal.
Alejandro Cesarco - Nasceu em 1975,Montividéu,Uruguai, também vive em New York. Portanto, mais um que reside nos Estados Unidos e sua arte reflete a contemporaneidade daquela cidade cosmopolita. Ele explora a leitura por entender que o leitor tem sua participação, a qual é tão importante como do autor. O que está além da palavra lhe fascina. ( Foto ao lado)
Sabemos que mesmo como leitor ou
ouvinte de uma leitura de texto o
indivíduo cria em sua mente imagens que são diferenciadas . Elas variam a cada
indivíduo. Por exemplo, o personagem de um romance lido ou ouvido por pessoas diferentes, evidente que
ele será “criado” com características muito diferenciadas, individualizadas por
cada um deles.
Andreas Eriksson – 1975, Sjörsäter , Suécia, vive em Medelplana, também na Suécia, onde trabalha com diversos meios como pintura, fotografia ,escultura e instalação. Suas fotografias retratam a natureza. As produções mais recentes , fotografia e pintura se unem e o artista cria dípticos e trípticos que " justapõem ilusão e realidade e suscitam questionamentos sobre a relação do homem com a natureza.”
Chamou-me a atenção esta obra ao lado que
não está em destaque, tanto no Guia como no catálogo da bienal.
Mas, a 30ª Bienal Paulista tem
obras expostas em outros locais como na
Estação da Luz, Casa Modernista, Instituto Tomie Ohtake, Casa do Bandeirante,
Capela do Morumbi, Museu de Arte de São Paulo ( MASP) e Museu de Arte
Brasileira da FAAP. Logo, para visitá-la completamente você tem que dispor de 3 ou mais
dias. Essas obras que falei um pouco acima estão todas no pavilhão da bienal no
Parque Ibirapuera, onde se concentram a grande maioria.
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