A MULTIDÃO É A TEMÁTICA DO BAIANO JOSÉ SABÓIA
Entre os pintores de temática
popular brasileira, José Sabóia é, sem dúvida, um dos mais originais, com boa
receptividade entre colecionadores e a crítica de arte. Nascido em Almadina, Bahia,
em 1945, chegou ao Rio de Janeiro no final da década de 60, aqui iniciando-se
autodidaticamente na pintura. Com dez exposições coletivas, inclusive
temáticas, como “Futebol/Interpretações”, na Galeria de Arte Banerj e “Universo
do Futebol”, na Galeria de Arte Acervo, ambas em 1982. Os agrupamentos humanos,
nas colheitas, nos campos de futebol, nas festanças interioranas estão sempre
em suas telas de irresistível empatia pelo toque de brasilidade que delas se
desprende.
Começou a pintar com 20 anos mais
ou menos, porque gostava de pintar.
Depois foi para Feira Hippie, em
Ipanema, e deu certo. Não teve, portanto uma vocação definida desde criança
para a pintura, que só aconteceu posteriormente.
Por ser autodidata e não ter
recursos técnicos, começou a pintar á maneira primitiva, utilizando aqueles
motivos que lhe eram mais afins, que via através de reproduções e pintores que
apareciam em Ilhéus.
A Galeria de Arte Banerj está
apresentando uma exposição individual de pinturas de temática popular de José
Sabóia. Baiano de nascimento, radicado no Rio de Janeiro, começou a participar
de salões e exposições coletivas em 1969, em Fortaleza, Ceará.
Em 1973, fez sua primeira
exposição individual no Rio de Janeiro, na extinta Galeria Grupo-B, seguindo-se
outras mostras em São Paulo
e Campinas. Recentemente, um quadro de sua autoria foi adquirido para o acervo
do Museu da Arte Brasileira, da Fundação Armando Alvarus Penteado, de São
Paulo.
A multidão tem sido a temática
principal do artista, seja nos campos de lavouras interioranas, principalmente
do sul da Bahia, seja da paisagem urbana, representada pelos torcedores dos
grandes estádios de futebol.
“Normalmente sempre estou em
multidão”, explica o artista, afirmando:“Gosto de escola de samba, de
futebol.
Tenho essa identificação então
pinto o que conheço. Por isso falo das florestas, porque são bonitas, é uma
parte, para mim, decorativa. (...) A massa é igual.
Junto, todo mundo é igual. Na
massa você vê se é branca ou preta, você é igual.
Para Geraldo Edson de Andrade, na
apresentação de sua mostra, “a paisagem humana dos nossos estádios,
representada por entusiasmados torcedores, é o enfoque de José Sabóia nesta sua
exposição individual, a11ª de sua carreira. Concentrando o seu interesse num
único time de futebol, sintomaticamente o mais popular de todos, o Flamengo, o
pintor baiano procura sintetizar formas e cores com expressividade feérica.
Plasticamente bonitas porquanto criações de um artista genuíno, as cenas
flamenguistas de Sabóia formam, por outro lado, um amplo painel sociológico,
estádio, torcedores, policiais, bandeiras desfraldadas de uma das demonstrações
coletivas mais brasileiras. Nelas, o homem carioca e, por extensão, o homem
brasileiro dá vazão à sua impulsiva criatividade no preto e no vermelho do seu
clube-paixão”.
Seu primeiro quadro, era um
perfil de Raimundo de Oliveira, porque ele era muito conhecido em sua terra. Me
lembro que tinha saído uma reportagem sobre ele em “O Cruzeiro” e quando
cheguei aqui fiz esse quadro, que levei para uma pessoa ver. Depois não fiz
mais, confessa Sabóia.
Conta ainda o artista, nessa
época da feira Hippie existia uma excitação geral pela pintura. O povo gostava
de tudo, comprava tudo. Sorte minha e de muita gente. Quando você vende no
início, dá um pique diferente; e, depois, as galerias impunham condições para
trabalhar com artistas que estivessem fora da feira. A primeira vez levei uns
trabalhos para a feira e vendi, na segunda vez vendi, então cada vez pintava
mais para a feira. Então não dá; ia para trás em vez de ir para frente, ganha
dinheiro mais não ganha. E a galeria é outra coisa, você mostra melhor; e eu
tinha outras idéias, muita sorte também de sair e dar certo, porque podia ter
saído e não ter dado. A feira, para mim, foi o que o salão é para muita gente,
aquela excitação de você mandar, de ser cortado, então para mim era na feira, o
contato com as pessoas também. O início da feira foi uma época muito bacana.
Ele começou a pintar o futebol
quando o Cruzeiro foi campeão. Fez um trabalho enfocando o Cruzeiro. Depois
outro do Internacional. E quando o Geraldo morreu, o Flamengo jogou com um
calção preto, aí fez uma série, todos com o calção preto. Depois, de
brincadeira, fazia sempre grupo de jogadores... Quando o Márcio Braga era
candidato, tinha um outro candidato que era amigo de um amigo do artista, então
fazia umas faixas contra o Márcio Braga, porque era aquele negócio “champagne e
caviar no Flamengo dá azar”. “Então comecei a fazer... O Flamengo foi ganhando
e eu fui mudando porque participava, ia sempre aos jogos. Então mudou
completamente o sentido”.
“As melhores coisas que eu fiz
foram em São Paulo ,
inclusive as exposições. No Rio não, foram mais ou menos.
A ARTE CONTEMPORÂNEA DA ESPANHA
NO SOLAR DO UNHÃO
Uma oportunidade ímpar para os
jovens e a comunidade espanhola é esta mostra que será realizada no Museu de
Arte Moderna da Bahia (Solar de Unhão), nesta quinta-feira, dia 24, abertura à
21h, da “Gráfica Española Contemporânea”, que reúne obras de dezenas de
artistas representantes de diversas tendências pictóricas espanholas. Promoção
conjunta do Museu de Arte moderna da Bahia e o Consulado Espanhol em Salvador.
“Gráfica Española Contemporânea”
reúne nomes conhecidos das artes plásticas espanholas, como Genovês, um dos
mais importantes, Agustín Ubeda, com exposições em cidades como: Paris, Madri,
Montreal e Japão, Rafael Canogar, premiado nas bienais de São Paulo e Veneza,
Eduado Chillida, conhecido por seus trabalhos em escultura, Joan Miro,
considerado um dos três melhores artistas espanhóis e um dos grandes mestres da
arte do século XX, e Antônio Saura, primeiro prêmio de pintura na Exposição
Internacional de Pittsburgo em 64.
Ao lado obra do espanhol M. Gudiol integrante da Gráfica Espanhola Contemporânea.
Panorama- esta exposição é
organizada pela direção geral das relações culturais do Ministério de Assuntos
Exteriores da Espanha com a idéia de mostrar um panorama amplo sobre a gravura
espanhola contemporânea. Na exposição, “alguns dos variados e excelentes
trabalhos realizados por artistas espanhóis com os mais diversos procedimentos:
água-forte, litografia, serigrafia...”
O diretor do Museu de Arte
Moderna, Chico Liberato, falou da oportunidade da comunidade baiana ver esta
exposição, pela colocação da expressão plástica espanhola dentro do contexto
universal. Ele ressalta a contribuição espanhola para as artes plásticas em
todos os tempos.
“Podemos citar artistas como
Tapies, Genovês, Canogar, Tharrats, que deram uma contribuição direta ás artes
plásticas no Brasil, na década de 60, no início da corrente do Neo-realismo,
Realismo Crítico e Nova Figuração”. “Além disso, prosseguiu, esta exposição,
por trazer uma experiência em gravura ( a partir do grande mestre Goya até a
gravura contemporânea) traz uma importância muita grande para a comunidade
baiana por trazer diferentes obras usando várias técnicas em gravura”.
“Gráfica Española Contemporânea”
começou no Brasil, em Brasília e depois, de salvador seguirá para Recife e
Fortaleza, possivelmente indo depois para outras cidades da América Latina. No
Museu de Arte Moderna da Bahia fica até 31, com visitas de terça a sexta das 11
às 17h e aos sábados, domingos e feriados das 14 às 17h.
DOIS TRABALHOS DOCUMENTAM AS
ARTES
Dois trabalhos de documentação
das artes plásticas brasileiras, um no Estado do Mato Grosso do Sul e outro em
Pernambuco, estão sendo realizados por críticos e artistas daqueles estados com
o apoio do Instituto nacional de artes plásticas da Funarte, inseridos no
Projeto Levantamento de Produção das regiões, que o INAP implantará durante o
ano de 83.
“Historiografia das Artes Plásticas
de Pernambuco” e “Artes Plásticas em Mato Grosso do Sul são as pesquisas que
estão sendo realizadas respectivamente sob a coordenação do pintor pernambucano
José Cláudio Silva e da crítica e pesquisadora mato-grossense Aline Figueiredo.
Os trabalhos serão editados, logo que forem concluídos, enriquecendo a
bibliografia das artes plásticas no Brasil.
O homem de Pernambuco, seus
costumes, a paisagem de Olinda, de Itamaracá, do Recife e de outros sítios
pernambucanos sempre foram registrados pelos artistas plásticos que percorrem
aquela região desde o século XVI. Para o artista plástico José Cláudio,
“Pernambuco é um dos estados brasileiros cuja iconografia constitui, por sua
qualidade e riqueza documental, um dos troncos da produção artística
brasileira”.
“Artes Plásticas em Mato Grosso do Sul”,
por uma visualidade mato-grossense é um levantamento sistemático das artes
plásticas de Mato Grosso do Sul. Para a coordenadora da pesquisa, a crítica e
pesquisadora Aline Figueiredo, “Mato Grosso tem uma necessidade imperiosa de
definir os seus valores culturais. Esse trabalho, além de estimular o estudo da
memória plástica do estado, servirá para colaborar para o estudo e reflexão da
sua história, contribuindo para a afirmação de uma identidade cultural
sul-mato-grossense, a visualidade, bem como para a conscientização desse valor
cultural”.
Mato Grosso conta apenas com um
livro de informação bibliográfica e iconográfica de suas artes visuais, “Artes
Plástica no Centro-Oeste”, de Aline Figueiredo, realizado com o apoio do
INAP/Funarte. Devido a essa carência bibliográfica, as pesquisas serão feitas
diretamente nas fontes, na base da oralidade.
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