JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 04 DE JULHO DE 1983
ARTE NORDESTINA EXPOSTA NA GALERIA DEBRET,
EM PARIS
A Galeria Debret de Paris (28, Rue La Boétle ) realizou
recentemente, a exposição intitulada “Influências Populares na Arte
Contemporânea Brasileira”, na qual os franceses puderam apreciar uma seleção de
gravuras anônimas do Nordeste brasileiro e trabalhos de dois entalhadores
contemporâneos- Gilvan Samico e Newton Cavalcanti, cujas obras trazem em si
fortes influências populares.
A gravura popular do Nordeste brasileiro tem a sua origem na
tradição dos trovadores e cantadores ambulantes, que remonta à Idade Média
européia e trazida da Península Ibérica, pelos primeiros colonizadores. Aqui ela
se enriqueceu, em seguida, mesclada que foi com os valores de uma tradição
similar africana: aquela do akpaló ou dos cantores bantos, que iam de cidade em
cidade contando suas histórias.
Ainda em nossos dias esses cantores são encontrados nas
feiras livres e festas do Nordeste, os quais, acompanhados de uma viola recitam
para um vasto público versos fantásticos ou circunstanciais, históricas
místicas ou épicas, líricas ou trágicas, religiosas ou humorísticas.
Reprodução de um detalhe da obra de A Luta dos Homens , de Gilvan Samico.
A
literatura oral do Nordeste passou a ser aproveitada em pequenos livretos nos
fins do século XIX, com o surgimento dos primeiros impressos. As folhas eram
expostas em cordas, sem encadernação, sendo que a este tipo de disposição
deu-se o nome de “livros de cordel”.
A xilografia popular nordestina surgiu para ilustrar as
histórias de cordel, inicialmente sob a forma de vinhetas, depois para ilustrar
as capas. Daí o seu caráter ilustrativo e sua variedade temática. Entre os
folhetos mais antigos, sabe-se da existência de exemplares datados de 1907,
apresentando como tema o bandido Antônio Silvino. A ilustração dos livros de
cordel, que registram importantes tiragens, chegando até 40 mil exemplares,
conforme a popularidade do autor ou do tema escolhido, revelou mestres famosos
como José Cavalcanti e Ferreira (Dila), José Costa Leite, José Francisco Borges
e muitos outros.
Este tipo de trabalho alcançou um graude personalização tal
que acabou por estimular a independência das gravuras em relação aos livros.
Das dimensões reduzidas da primeira página, os gravadores ocuparam os espaços
mais largos, produzindo trabalhos destinados a um público mais distantes dos
centros de difusão da literatura oral e que se sentia primordialmente atraído
pela produção plástica. Este fenômeno, que data das duas últimas décadas, não
interrompeu, porém, a produção de textos ilustrados, nem mesmo as atividades
dos cantadores. Antes, aliado a outros fatores da modernização, veio contribuir
para modificar os modelos vigentes.
É possível que o progresso, a televisão, o próprio processo
de alfabetização das populações rurais e as novas técnicas de impressão de
livros determinem o fim da produção cordelista. Até agora, não somente esta
produção se mantém ativa mais coexiste com as formas mais eruditas que ela
soube tão bem influenciar, alimentando-as com a sua vitalidade criativa.
THOMAZ DE MELLO EXPÕE NO ESTORIL
Constituiu um importante acontecimento artístico a
inauguração da exposição que o pintor Thomaz de Mello /Tom, nascido em 1906 no
Rio de janeiro e que aos 16 anos se fixou em Portugal, mantendo, porém, a sua
nacionalidade brasileira, está realizando na Galeria de Arte do Casino Estoril
e que compreende um conjunto de 24 óleos e 20 desenhos numa mostra intitulada
Bahia /82, já que todos os trabalhos apresentados versam sobre temas da Bahia,
recolhidos numa viagem que aquele artista fez a Salvador, em setembro do ano
passado.
No vernissage estiveram presentes dois ministros, três
secretários de Estado, o embaixador do Brasil, Dário de Castro Alves e o cônsul
geral, Dr. Félix de Faria, além de mais de cinco centenas de convidados, que em
poucos minutos adquiriram todos trabalhos expostos. Tom, assim é conhecido este
artista em Portugal, que com esta sua exposição comemora 55 anos de atividade artística, tem uma obra
vastíssima desenvolvida em várias áreas,designadamente na pintura, desenho,
artes gráficas, caricatura, decoração e design. A sua vinda à Bahia para
recolher os temas que constituem esta sua exposição foi patrocinada pela TAP,
sendo de realçar a importante ação de intercâmbio cultural que tem vindo a ser
incentivada pela diretoria comercial de Lisboa, à frente da qual está Manuel
Bastos e pelo representante geral da TAP no Brasil, Antônio Morgadinho, autor
de numerosas iniciativas para a aproximação cultural entre Portugal e o Brasil.
Quando Thomaz de Mello esteve na Bahia foi recebido e apoiado
por Manoel Castro, então secretário da Industria e Comércio e atual prefeito e
por Paulo Gaudenzi, presidente da Bahiatursa, dois bons amigos de Portugal.
Toda a imprensa portuguesa, bem como a Rádio e TV se têm referido largamente à
exposição de Tom, em que aparece como motivos de primeiro plano as belas
mulheres baianas, podendo se dizer que esta exposição Bahia /82 é um hino em
louvor das mulheres da Bahia.
O ÁLBUM SOBRE A BAHIA
Vinte dos trabalhos apresentados nesta exposição foram
reproduzidos em cor num álbum de luxo que tem texto e apresentação de Jorge
Amado e do pintor português Lima de Freitas, ilustrado com uma dezena de
desenhos também sobre a Bahia. Trata-se do primeiro lançamento de uma nova
editora, “Atlântico”, de que é diretor Nuno Lima de Carvalho, o português que
mais ama a Bahia e que vai fazer incidir a sua atividade de preferência sobre a
edição de obras de arte de autores brasileiros e portugueses num intercâmbio
cultural e artístico, que vem em seguimentos de outras iniciativas levadas a
cabo pela Estoril-Sol, como seja a Semana do Estoril na Bahia e a apresentação
do Estoril, de diversos artistas baianos, Carybé, Floriano Teixeira, Carlos
Bastos, Mário Cravo, Calasans Neto e Jenner Augusto.
Uma obra ao lado enfocando nossa Bahia.
No texto de apresentação deste álbum e que foi lançado com
grande êxito durante a exposição, Jorge Amado escreveu: Tom foi conquistado
pela beleza lírica e dramática da Bahia, pela graça e doçura de seu povo. Aos
muitos títulos que possui, Thomaz de Mello pode agora somar mais um:“Adorável pintor das terras e gentes da Bahia”. Com este
valioso apoio de Jorge Amado a Bahia está de novo presente em Portugal, deste
Vaz, através da paleta e dos pincéis de um grande pintor, brasileiro de
nascimento e português de coração. Morreu aos 84 anos em 1990, Lisboa.
COMEÇAM HOJE AS INSCRIÇÕES PARA O VI SALÃO NACIONAL DE ARTES
PLÁSTICAS
Já saiu o regulamento do VI Salão Nacional de Artes
Plásticas que se realizará no Rio de Janeiro, abertos aos artistas brasileiros
e estrangeiros residentes no país. Qualquer artista poderá se inscrever
bastando preencher e enviar a ficha de inscrição e os trabalhos, a partir de
hoje até o dia 12 de agosto. Existem quatro prêmios no valor de CR$ 2 milhões,
sendo dois a intitulados “Prêmio de Viagem ao Exterior” e dois “Prêmio de Viagem no País”. Além de um Prêmio Especial de CR$400 mil cruzeiros. Eis o
regulamento na íntegra:
“Considerando a Portaria Ministerial nº 6.426, de 30 de
junho de 1977, que criou o Salão Nacional de Artes Plásticas, resolve a
Comissão Nacional de Artes Plásticas, designada pela portaria nº009, de 31 de março
de 1982, baixar as seguintes normas regimentais:
REGIMENTO
Art. 1- A Fundação Nacional de Arte-Funarte- realizará o VI
Salão Nacional de Artes Plásticas, entre 01 de dezembro de 1983 e 15 de janeiro
de 1984, no Rio de Janeiro, no Palácio da Cultura e/ou Museu de Arte Moderna;
Art. 2 - O VI Salão Nacional de Artes Plásticas apresentará
uma manifestação paralela através de uma Sala especial.
DA INSCRIÇÃO
Art. 3 - O VI Salão Nacional de Artes Plásticas estará aberto
aos artistas brasileiros e estrangeiros residentes no Brasil;
Art. 4 - A
inscrição para o VI Salão Nacional de artes Plásticas será realizada através da
ficha própria no período compreendido entre os dias 04 de julho e 12 de agosto
de 1983;
Parágrafo 1º - A ficha de inscrição estará a disposição dos
candidatos na sede da Funarte/INAP, à Rua Araújo Porto Alegre, 80- Sala 15, Rio
de Janeiro; no Museu Histórico Nacional, Praça Marechal Âncora s/nº, nos
escritórios de representação da Funarte em Brasília, Curitiba e São Paulo e
delegacias regionais do MEC nos demais estados;
Parágrafo 2º - os trabalhos
acompanhados da respectiva ficha de inscrição deverão ser entregues ou
remetidos para:-Rio de Janeiro: Museu Histórico Nacional- Praça Marechal
Âncora, s/nº- RJ-20021 Tel.: (o21) 240-7978.
Art. 5 - Os candidatos ao VI Salão Nacional de Artes
Plásticas poderão inscrever-se nas seguintes categorias: Pintura, Escultura,
Desenho, gravura, Tapeçaria, Fotografia e em mídias contemporâneos. Entende-se
por mídias contemporâneos as seguintes técnicas ou linguagens: Instalação,
performance, vídeo-tape, filmes de 16mm e super-oito, audiovisual, objeto,
neon, laser e holografia;
Parágrafo 1º- os artista poderão inscrever-se em
apenas uma categoria, estando obrigados a apresentar 3 (três) trabalhos quando
se tratar de Pintura, Escultura, Desenho, gravura, Tapeçaria ou Fotografia. As
obras não poderão ocupar um espaço de parede ou painel acima de 4(quatro)
metros lineares ou 10 (dez) metros quadrados em planta baixa, excetos nos casos
de mídias contemporâneas, nos quais os artistas poderão apresentar somente
1(hum) trabalho;
Parágrafo 2º - Para inscrever-se em instalação os artistas devem
apresentar desenhos indicativos ou maquete, além de memorial descritivo e foto.
Parágrafo 3º- cada trabalho inscrito em instalação não poderá ocupar área
superior a 10 (dez) metros quadrados;
Parágrafo 4º -Será de responsabilidade do
artista, durante a seleção e exposição de trabalhos com novos mídias, a
montagem, funcionamento, desmontagem e transporte das obras, bem como o
funcionamento, preservação e operação dos equipamentos;
Parágrafo 5º - A duração
dos filmes super-oito e 16mm, vídeo-tapes e audiovisuais, deverá ser de no
máximo 15 minutos cada;
Parágrafo 6º - A Funarte dispõe de projetor para filmes
super-oito (sonoro), projetor para filmes 16mm (som ótico e magnético),
equipamento para reprodução de vídeo-cassete com monitor sistema VHS- sinal de
vídeo PAL-M e conjunto de projeção de slides com 2 (dois) projetores Kodak
Ektagrafic e sistema de sincrotape. Esta aparelhagem será utilizada na projeção
de trabalhos, conforme programação a ser estabelecida para o Salão, e,
portanto, não poderá ser decida ao uso individual permanente em qualquer obra;
Parágrafo 7º - Os artistas que apresentarem trabalho, para cuja projeção seja
necessário aparelhagem não incluída na relação do 6º parágrafo deste artigo,
devem fornecer o equipamento necessário, nos termos do 4º parágrafo deste
artigo;
Parágrafo 8º - Os trabalhos deverão ser entregues em perfeitas condições
para serem expostos;
Parágrafo 9º - A Funarte determina o local e os horários
destinados à exibição dos trabalhos de que trata o parágrafo 5º deste artigo
efeito de seleção.
Art. 6 - Os artistas selecionados não poderão alterar ou
retirar seus trabalhos antes do encerramento do salão e deverão obedecer o
projeto original na íntegra sob pena de não serem apresentados na mostra do
salão;
Art. 7- A premiação do trabalho realizado em parceria ou por grupo de
artistas será outorgada ao responsável, o qual deverá estar previamente
indicado na ficha de inscrição; Art8- A subcomissão de seleção e premiação
escolherá uma obra de cada artista premiado com viagem ao exterior e viagem ao
país, a qual será doada a museus, a critério da Funarte.
DO RECEBIMENTO E DEVOLUÇÃO DAS OBRAS
Art. 9 - Correrão por conta dos artistas inscritos as despesas
de remessa de obras para os locais de inscrição e a devolução das mesmas, caso
tenham sido recusadas; Parágrafo Único- As obras, no momento de inscrição,
deverão estar embaladas em perfeitas condições para transporte, quando necessário;
Art 10 - As obras recusadas deverão ser retiradas dos locais de recepção referidos
no presente regimento em até 30 (trinta) das subseqüentes à publicação dos
resultados da seleção, após os quais a Funarte não mais se responsabilizará
pelas mesmas;
Parágrafo 1º - As obras recusadas dos artistas não-residentes nos
locais de recepção serão enviadas ao endereço de origem indicado na ficha de
inscrição com frete a cobrar;
Parágrafo 2º - As obras selecionadas de artistas
residentes no Rio de Janeiro-RJ deverão ser retiradas do local até 15 (quinze
dias subseqüente ao término da exposição, após os quais a Funarte reservar-se o
direito de remetê-las ao endereço de origem indicado na ficha de inscrição com
frete a cobrar.
DOS PRÊMIOS
Art. 11- O VI Salão Nacional de Artes Plásticas concederá os
seguintes prêmios: a) quatro no valor de CR$ 2.000.000,00 (dois milhões de
cruzeiros) cada, sendo dois intitulados “Prêmio de Viagem ao Exterior e dois
Prêmios de Viagem no País”; b) Prêmio Especial Gustavo Capanema no valor de
CR$400.000;00 (quatrocentos mil cruzeiros);
Art 12 - Os trabalhos adquiridos
serão pagos no valor nunca inferior ao declarado pelos expositores nas
respectivas fichas de inscrição;
Parágrafo único - O total das aquisições não
excederá a importância de CR$700.000,00 (setecentos mil cruzeiros), devendo ser
as obras incorporadas ao patrimônio da Funarte;
Art. 13 - Para os efeitos de
seleção e premiação será constituída uma subcomissão composta de três membros
indicados pela Comissão Nacional de Artes Plásticas e três membros eleitos
pelos artistas inscritos no salão, além do diretor do Instituto Nacional de
Artes Plásticas /Funarte, que a presidirá com direito a voto de qualidade;
Parágrafo 1º- são irretratáveis e irrecorríveis as decisões finais da subcomissão
a que se refere o presente artigo;
Parágrafo 2º- Os três membros da subcomissão
indicados pela Comissão Nacional de artes Plásticas não poderão nela
participar dois anos consecutivos;
Art. 14 - Os candidatos ao VI Salão Nacional
de artes Plásticas indicarão na própria ficha de inscrição os nomes de seus
representantes na subcomissão de seleção e Premiação;
Parágrafo 1º - Os
representantes indicados pelos artistas inscritos no Salão Nacional de Artes Plásticas que participarem
do Júri de Seleção e Premiação não poderão ser eleitos dois anos consecutivos. O voto concedido à pessoa inelegível será considerado nulo
com relação àquele nome, sendo válido artista, com relação aos demais;
Parágrafo 2º - o artista quando preencher a fixa de inscrição, deverá votar em três nomes distintos.A repetição de um mesmo nome na ficha de inscrição implicará na nulidade do nome repetido;
Parágrafo 3º-
Serão eleitos para membros de Subcomissão de seleção e Premiação os três nomes
mais votados pelos artistas inscritos, deverão ser pública a apuração de suas
indicações, previstas para o dia 24 de agosto de 1983, às 14h, na Sala Aloísio
Magalhães na sede da Funarte;
Art. 15- A Subcomissão de Seleção e Premiação
deverá selecionar o conjunto de obras inscritas de cada artista concorrente na
categoria por ele declarada na respectiva ficha de inscrição, não sendo
permitida a recusa parcial ;
Art. 16 - Durante os trabalhos de seleção e
premiação do VI Salão Nacional de Artes Plásticas, somente poderão entrar no
recinto membros da Subcomissão da Seleção e Premiação e funcionários do INAP/Funarte
diretamente ligados ao trabalho.
Art. 17 - Os casos omissos serão resolvidos pela
Comissão Nacional de Artes Plásticas;
Parágrafo Único - Os casos omissos,
surgidos no julgamento dos trabalhos de seleção e premiação, serão resolvidos
pela respectiva subcomissão.
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