JORNAL A TARDE, SALVADOR,
TERÇA-FEIRA, 18 DE ABRIL DE 1983.
BAIANO EXPÕE SEUS TRABALHOS NUMA
FUNDAÇÃO
EM NEW YORK
“Se a liberdade, a harmonia e a mágica da forma podem inspirar minhas mãos cada nova manhã, eu devo estar vivendo completamente minha fantasia e coletando a mais gratificante e bela de todas as recompensas”. Estas palavras que me foram enviadas por carta pelo artista baiano João Augusto demonstram acima de tudo uma faceta da consciência de sua obra pictórica. Radicado
Na foto o artista João Augusto e um dos seus trabalhos expostos em New York.
A exposição é composta de grandes
trabalhos geométricos dentro de todo o vocabulário desta forma de expressão,
pois acredita que a arte geométrica seguirá inspirando e servindo como base do
desenvolvimento da arquitetura e engenharia. “Ela nunca vai desaparecer, ela
terá um espaço separado entre os conceitos tradicionais de pintura e
escultura”.
Em seguida, João Augusto investe
contra o que chama mal agouro e o atavismo anacronista, representando um ontem
glorioso, mas opressivo que não encontra um grande eco neste país.
“Aqui, o presente é vivido
intensamente.Este fenômeno permite que a arte se conserve viva, ao contrário,
injustiças demais poderiam ser cometidas contra o artista e acima de tudo
contra a humanidade. Passividade é a eterna inimiga da criatividade; a
simultânea absorção dos acontecimentos de hoje fomentam o aspecto e o tempo não
é gasto em lágrimas perdidas, chorando honras a um passado estagnado.”
Em seguida, uma visão de New
York, a cidade que escolheu como pouso porque “o espírito irriquieto encontra
nesta cidade uma atmosfera que estimula um grande excitamento, que meus sonhos
vagueiam livremente e longe de ser ameaçados por qualquer perigo”.
Estas idéias de João Augusto o
inserem dentro da contemporâneidade do artista que tem os pés no chão e está
com os olhos abertos para as coisas que lhe cercam. Tem base e estrutura
cultural para desenvolver o seu trabalho numa cidade que é o espelho da
civilização. New York é o cadinho do que existe de bom e ruim. Lá é possível
encontrar de tudo e ele tem consciência disto. Diz mesmo que seu trabalho não
pode ser transformado meramente numa mercadoria cultural. Seu alvo “é a
pesquisa incessante por uma comunicação maior, uma comunhão subjetiva”.
Reagindo, portanto, contra a forte possibilidade de transformação de sua obra
em simples mercadoria, a ser consumida dentro de um sistema de livre iniciativa
ou negociação como que busca resgatá-la para que a vejam como uma coisa subjetiva
e carregada de espiritualidade e criatividade.
Olhando a pintura de João Augusto
vejo como que retalhos ou detalhes mesmo da gigantesca silhueta de New York com
suas toneladas de concreto armados e vidros apontado para os céus. As partes
ponte-agudas são semelhantes às extremidades dos imensos edifícios que parecem
disputar espaços mais altos em busca do infinito. Uma corrida louca como
acontece com os milhões de homens que passam apressados “protegidos” por sinais
luminosos carregando nas pastas e bolsos as ilusões de uma sociedade
consumista.
E João Augusto sabe captar como
ninguém a sutileza e a transforma em belos quadros. São trabalhos que
demonstram a influência da geometria nas construções com suas formas curvas ou
triangulares resultando uma estrutura tridimensional.
Seu trabalho tem aparecido em
muitas exposições individuais na Itália e França, além de muitos museus,
coleções privadas e de corporações em outros países, principalmente nos Estados
Unidos.
O Núcleo de Artes do Desenbanco
abriu ao público a mostra “50 anos de fotografia de Pierre Verger”, homenagem
ao artista e etnólogo, francês que vive há 37 anos na Bahia, estudando,
pesquisando e editando publicações sobre as diversas manifestações da cultura
negra no nosso estado e difundindo por todo o mundo essas informações.
A exposição fica instalada até o
dia 29 de abril no “hall” de entrada do edifício do Desenbanco, na sala de
exposições temporárias, no horário das 8h30min às 18h30min; Da mostra fazem
parte 60 fotografias de Verger e as últimas publicações do artista.
OUTRAS PROMOÇÕES
Integrado ao cenário das artes
baianas, o Núcleo de Artes do Desenbanco desenvolve uma programação intensa
divulgando a arte e a cultura da Bahia, mantendo intercâmbio constante com
núcleos similares em todo o país. Paralelamente têm, no seu acervo, arquivos,
publicações e 35 importantes obras entre tapeçarias, óleos, aquarelas e
esculturas de Carlos Bastos, Jenner Augusto, Lygia Sampaio, Mário Cravo Júnior
e Rubem Valentim, artistas que se projetaram no início do movimento de Arte
Moderna da Bahia.
Nos próximos meses, o Núcleo de
Artes do Desenbanco promove dois grandes eventos: a exposição de Mário Cravo,
comemorativa dos 60 anos do artista e a mostra de artistas paranaenses, numa produção
conjunta com o Banco de Desenvolvimento do Paraná. Esta última faz parte do
programa de intercâmbio entre o Núcleo e o BD do Paraná, que inclui para o
mesmo período, uma exposição de artistas baianos naquele Estado.
Fotos de Pierre Verger: uma cena de rua em Sevilha, na Espanh e o já famoso escritor Ernest Hemingway, em 1957, em Cuba.
UM RESUMO DA OBRA DE EDITH BEHRING
A exposição individual de Edith
Behring pretende resumir, em 33 gravuras, datadas de 1957 até a década de 80, o
trabalho dessa artista carioca, sem dúvida alguma uma das mais importantes
gravadoras.
Parte do êxito alcançado nacional
e internacionalmente pela gravura brasileira nos anos cinqüenta, cabe por
direito e justiça a Edith Behring. Foi ela, na verdade, com a seriedade do seu
trabalho, que abriu caminho para muitas outras premiações, ao conquistar, em
1957, o Prêmio de Honra na II Exposição Internacional de Gravura de Lubliana,
Iugoslávia, posteriormente confirmado, em 1963, com o Grande Prêmio na I Bienal
Americana de Gravura de Santiago do Chile. Prestígio que seria consolidado
pelas presenças fortes de nomes como Fayga Ostrower e Anna Letycia, ambas
merecedoras de premiações na Bienal de Veneza (1958) e Bienal de Paris (1963),
respectivamente, por falar somente nas mulheres.
Por esta razão, ao analisar a
arte brasileira no seu livro “Contemporary Art in Latin América”, no qual
dedica três páginas à mulher gravadora no Brasil, o historiador norte-americano
Gilbert Chase não vacila em destacar as artes gráficas brasileiras como uma das
mais importantes deste século.
Figurativa enquanto pintora,
abstracionista quando se voltou inteiramente para gravura em metal, Edith
Behring é uma artista sensível à forma, às transparências de cores, dotada de
uma técnica excepcional que não prescinde da emoção. Fruto de um aprendizado
sério, de uma dedicação ao trabalho e a uma forma de expressão autônoma que ela
soube dignificar, não somente como artista mais, principalmente, como
professora nos dez anos em que esteve à frente do Ateliê de Gravura do Museu de
Arte Moderna do Rio de Janeiro.
Esta semi-retrospectiva de sua
obra representada por trabalhos por ela própria escolhidos de diversas etapas
de sua trajetória artística, chega, no momento oportuno: o de mostrar às novas
gerações o valor de um artista maior, senhora do seu ofício e dele se
orgulhando, com a humildade dos grandes criadores:
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