JORNAL A TARDE,SALVADOR,
TERÇA-FEIRA, 17 DE MAIO DE 1982.
MIGUEL DOS SANTOS PODERÁ EXPOR
ESCULTURAS NA BAHIA
ESCULTURAS NA BAHIA

O crítico Frederico Morais quando
escreveu sobre sua obra disse. “Mas se Brennand (outro ceramista pernambucano)
nas cores e nos temas representa, sobretudo, a Zona da Mata, com sua
exuberância tropical, Miguel dos Santos é muito mais sertão, o seco e áspero,
cortante e despojado. No vazio sem fim do sertão (o ser tão ). Na monotonia do
tempo e do espaço, é a imaginação que cria a paisagem e os frutos, melhor, é
ela que povoa aquele mundão de seres fantásticos, alados, encapsulados, heróis e
reis destronados, carregados de ancestralidade e mistério, monstros ou dragões
brasonados, o pescoço se alongando mais e mais, querendo devorar o infinito com
“guias cósmicas”.
Eu que sou do sertão,
acrescentaria que este mundão fantástico é uma dualidade da fartura e da
escassez. Fartura quando os arbustos estão verdes e florados e as aguadas
cheias. O homem com sua religiosidade renascida das entranhas da terra rachada,
agora úmida e cheirosa, vai sobrevivendo com seus cavalos alados que cavalgam espaços
imaginários. E, é desta terra seca e úmida que Miguel dos Santos retira a
matéria-prima de sua arte. Os bichos estranhos (para alguns) convivem com o
nordestino que sentado em frente a sua choupana num tosco banco de madeira é
capaz de habitar a sua mente de lobisomens e dezenas de outras criaturas
imaginárias. É a visão do sofrimento. E, certamente, estas imagens que cria,
são frutos de sua sensibilidade aguçada de um criador nordestino. Para o mestre
Clarival Prado Valadares a sua escultura “é a depuração de sua pintura,
realizada com um mínimo de elementos para a composição formal”
Entendo que Miguel é um
intérprete desta complexidade sertaneja e sua obra é uma síntese disto tudo.
Nascido em Caruaru, a 3 de
novembro de 1944, mas, que desde a década de 60, reside em João Pessoa , onde
inclusive fez toda sua formação artística, Miguel já realizou dezenas de
exposições no Sul do país e no exterior e participou em 1977 com pinturas e
cerâmicas no II Festival Mundial de Arte Negra, em Lagos na Nigéria.
CARLO BARBOSA MOSTRA SEUS DEZ
ANOS DE PINTURA
NO MAMB
NO MAMB

Sobre a exposição, é o próprio
artista quem define o seu objetivo de “documentar 10 anos de pintura, a partir
de um trabalho ininterrupto desenvolvido em 1971 a 1981 na Cidade do Rio
de Janeiro”.
Carlo Barbosa, artista baiano,
nascido na Cidade de Feira de Santana, afastado da Bahia por 10 anos, além do
apoio do Museu de Arte Moderna, conta com a colaboração de outros órgãos
ligados ao Movimento Cultural da Bahia. Sobre o seu trabalho têm comentado
vários críticos. De Walmir Ayala: “Tudo está vivo na pintura de Carlo Barbosa,
uma pintura que não abre mão do clima de beleza, de idealizações ou uma
tipologia rústica e pouco vista. É uma visão particular, pujante, em pleno
processo de amadurecimento, que coloca este artista entre os mais sérios de sua
linhagem”.
De Eduardo Portela: “Em Feira de
Santana convivem a dimensão mística na Bahia e uma certa intuição precisa e
severa das coisas. A pintura de Raimundo Oliveira expressa esta verdade, e esta
lição múltipla desponta agora nos quadros de Carlo Barbosa. Figurativo capaz de
elaborar o retrato para além da fotografia, religioso fiel a um Cristo “hippie”
inevitavelmente incompreendido, tropicalista paradoxalmente introvertido e
aberto, tudo isso configura e instala o mundo em processo de Carlo Barbosa”.
Segundo o artista “esta exposição
tem o objetivo de documentar dez anos de pintura, a partir de um trabalho
ininterrupto, desenvolvido de 1971
a 1981, na Cidade do Rio de Janeiro.Numa fase mais recente eu me
proponho a documentar, através da pintura e do desenho, aspectos da paisagem e
da vida urbana: o sistema, o poder econômico que impulsiona o progresso, a
arquitetura mal programada apagando a paisagem, a destruição de beleza natural,
o problema do espaço físico, o trabalho, o lazer, a religiosidade do povo. O
Cristo Redentor surge como um símbolo inevitável no contexto da obra. Sem os
detalhes de sua hierática presença, poderia estar falando de qualquer outro
lugar. A ideia deste encontro entre forma e expressão é abrangente quanto aos
problemas e coisas da cidade onde resido.
Reflete o meu envolvimento com a
terra. Sobre a pesquisa, não tenho nenhuma preocupação de influência ou
definição técnica, nem de escola ou tendência. É um problema íntimo de
expressão. No momento, o meu compromisso como artista é da busca de novas
experiências e conclusões no aprendizado do dia-a-dia profissional, testando a
minha capacidade, procurando a solução para cada elemento enfocado. O
importante é pintar, jogar com as cores e formas, dizer numa linguagem pessoal
tanto quanto possível, pesquisar sem me prender a conceitos críticos
preestabelecidos. Como tema fui envolvido pelo trabalho do metrô, a
participação árdua e heróica do homem nordestino, que outrora foi vaqueiro,
batuqueiro nos festejos populares, e que hoje é retratado como os bóias-frias
que constroem a metrópole. Os temas foram mudando e exigindo linguagem
específica: permaneceu intacto o conceito da liberdade, pois a criação é um ato
livre, do contrário não valeria à pena.
ISAÍAS VAI PARTIR

FUTEBOL, UM TEMA EM PAUTA

Os 22 artistas que participam da
exposição interpretam o futebol de maneira pessoal, muitas vezes deixando-se
arrebatar pela grandeza popular do assunto, sem dúvida de rica e paradoxal
perplexidade; outras vezes, detendo-se nos próprios mitos pelo futebol criados,
heróis absolutos de uma torcida apaixonada, vibrante, que por eles torce,
briga, explode numa alegria incontida, extrapolando suas emoções nos estádios e
estendendo-a às ruas quando da vitória do seu time, de sua seleção.
É assim, na maioria das vezes,
que o artista brasileiro vê o futebol: com a visão de um torcedor. Não é a toa
que, nos seus trabalhos, o Flamengo seja o time mais enfocado, assim como Pelé
e Garrincha, duas glórias nacionais, os jogadores que lhes disputam a
preferência.
“Futebol / Interpretações” reúne
trabalhos de diversas épocas, recrutados de coleções oficiais e particulares,
dos seguintes artistas: Aldemir Martins, Aloysio Zaluar, Álvaro Apocalipse,
Cláudio Tozzi, Clécio Penedo, Elza O. S., Flory Menezes, Gerchman, José César Castro, José Lima, José Paulo Moreira da Fonseca, José Sabóia, Júlio Martins da
Silva, Luiz Alphonsus, Luiz Jasmim, Marcier, Newton Cavalcanti, Newton
Mesquita, Rosina Becker do Valle, Vicente do Rego Monteiro, Volpi e Zé Caboclo,
de 20 de maio a 11 de junho de 1982. Na foto ao alto, óleo/madeira, um trabalho de
Aloysio Zaluar.
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