JORNAL A TARDE, TERÇA-FEIRA, 7 DE
DEZEMBRO DE 1981.
CONCURSO PARA
DECORAÇÃO
Este ano a decoração do Carnaval será
escolhida através de concurso público. Uma medida que deve ser encarada com
naturalidade porque apenas o prefeito Renan Baleeiro está cumprindo
determinação legal. No ano passado critiquei veementemente a escolha da
decoração mediante critérios discutíveis e desconhecidos. Esta medida virá
beneficiar os artistas plásticos e até mesmo estudantes da Escola de Belas Artes
da Universidade Federal da Bahia, os quais sempre são convocados para ajudar os
responsáveis pelo projeto vencedor. Isto é uma prática salutar e uma
oportunidade para artistas e estudantes ganharem algum dinheiro e exercitarem
seu aprendizado.
A decisão do concurso já foi comunicada
oficialmente por Renato Ferreira, atual secretário de Informação da Prefeitura,
após membros da Associação de Artistas Plásticos da Bahia, a qual tinha
defendido a reivindicação. Os artistas foram mais longe, solicitando que fosse
estendido o concurso público para qualquer trabalho relacionado com arte a ser
executado pela Prefeitura e lembraram que os calçadões da Praça da Sé e Lapa
poderão abrigar esculturas e outras obras de arte. Querem finalmente ser
consultados quanto à decoração natalina e querem um local para funcionar a sede
da entidade e que a reconheçam como de utilidade pública. A princípio parece
que os membros da Associação de Artistas Plásticos da Bahia estão pedindo
demais. Mas, ao contrário, esta é uma entidade séria que merece todo o apoio
das autoridades porque congrega um segmento importante da nossa cultura e num
país onde cultura e educação andam a passos de cágado, nada mais justo que
atender a essas mínimas reivindicações.
Porém, voltando à decoração do Carnaval
espero que seja feito um digno regulamento de concurso para que a escolha do
projeto não permita interrogações. É preciso estabelecer os requisitos básicos
para que a comissão julgadora, a ser escolhida, tenha condições de trabalhar
com tranqüilidade em benefício do Carnaval baiano que hoje já tem amplitude
universal pela sua espontaneidade e beleza plástica.
O anúncio da realização do
concurso vem, portanto, nos confortar, na esperança de que seja executado um
projeto de melhor qualidade que aquele do ano passado.
O verão baiano, por exemplo, com
toda sua explosão de alegria nas praias e o colorido das ruas, dos camelôs e de
dezenas de tipos humanos poderá, inclusive, ser uma fonte de inspiração para
àqueles que pretendem concorrer. Ação que é hora de eliminar àqueles tipos
tradicionais de piratas inspirados em outras culturas para integrar a decoração
do Carnaval baiano. Vamos buscar inspiração na nossa gente, na nossa flora e
fauna que são ricas e oferecem muitos elementos para elaboração de projetos
fantásticos. Vamos aguardar. Estaremos a postos.
MANOEL DO BONFIM E 2 FILHOS
EXPÕEM
NA RUA FONTE DO BOI
À direita o escultor Manuel do Bonfim.
À esquerda
o filho, João Augusto com
duas telas de
sua autoria.
O clã dos Bonfim está agora
reunido na Rua Fonte do Boi , número 8-A, no bairro do Rio Vermelho num novo
atelier que o velho escultor Manuel do Bonfim instalou para trabalhar com seus
dois filhos, também artistas. João Augusto e Manoel Augusto do Bonfim. Depois
de cinco anos afastado do movimento artístico baiano o Manuel do Bonfim,
risonho e falador, retorna com a força dos orixás que esculpe com tanta maestria
nas pranchas de madeira. A inquietude de Manuel revela a sua intransigência com
determinadas posturas. Um batalhador incansável que sempre está em busca de um
lugar ao sol, de um lugar digno de sua capacidade criadora. Traz no sangue e na
cor de sua pele a identidade com as coisas do culto que abraçou e respeita.
Cultiva com suas goivas, serrotes e formões as figuras místicas dos orixás
adorados nos terreiros de candomblés. Conhece a sua capacidade e defende a
integridade de sua obra e a manutenção de seu caminho. Enfim, a pureza do seu
trabalho, que é identificado com a própria maneira de ser. Um trabalho de
emoção. Um trabalho onde os rostos de Nanã, de Oxalá e muitos outros são
talhados com muito respeito. Existe uma identificação em Manuel do Bonfim entre
o trabalho e a “obrigação” do seu culto. Assim ele prossegue realizando uma obra
que merece o mais alto estímulo pela qualidade e pela seriedade com que
executa.
A seu lado vem surgindo João
Augusto do Bonfim com aquela mesma espontaneidade herdada do pai. Agora retorna
do Rio de Janeiro onde fez uma exposição na Galeria Sagitário, que fica na
Avenida Nossa Senhora de Copacabana e teve vários de seus quadros cortados a
punhal por um vândalo. Não ficou devidamente esclarecido quem mutilou suas obras.
Mas, não é preciso apurar muito, porque estas agressões não levam a nada. O que
interessa a João Augusto é continuar trabalhando e lutando com a mesma firmeza
de Manuel, o seu pai. O que interessa é que o Manuel (pai), Manoel Augusto e
João Augusto (filhos) continuem pintando e lutando juntos. É preciso que o clã
continue alegre, como é o velho Manuel do Bonfim. Este mês ele está em pela
euforia com as festas de Santa Bárbara, que chegou a organizar vários anos no
Mercado do Rio Vermelho e, agora com a da Conceição da Praia, sem esquecer-se
do 2 de fevereiro, Yemanjá quando todos admiram àquela escultura bonita que
fica em frente à Casa do Peso ou do Pescador, feita por ele, para homenagear a
rainha do mar. Axé para o clã dos Bonfim.
PINTORA PERUANA MOSTRA SUA OBRA
Pela primeira vez, a pintora
peruana Haydée Persivale expõe a sua obra no Brasil, especificamente em
Salvador, que escolheu pôr ser a sua cidade favorita e que a impressionou desde
a primeira vez que veio aqui no ano passado. A exposição, intitulada O Imigrante contém 32 trabalhos e está
aberta à visitação pública na Capela do Solar do Unhão, até o próximo dia 28.
Haydée Persivale nasceu em Lima e
desde cedo demonstrou tendências artísticas, começando a pintar aos 8 anos de
idade e a exibir os seus trabalhos aos 10 anos e conta hoje com um currículo
muito vasto. Inicialmente cursou a Pontifícia Universidade Católica de Lima e,
depois, o Instituto Suarez Vertiz e seguindo-se inúmeros outros cursos. O seu
estilo , segundo ela própria, é o figurativo simplificado, com muita ênfase
para o colorido.
O tema da exposição, Os Imigrantes foi escolhido devido a sua
própria experiência vivendo fora da sua cidade natal durante muitos anos, 12
dos quais em San Francisco, onde reside. Foi nos Estados Unidos que ela cursou
o bacharelado em Artes na Universidade da Califórnia, continuando o seu aperfeiçoamento
na Universidade de New York.
Haydée Persivale se identifica
muito com a Bahia pelos laços que, segundo ela, irmanam a sua cidade natal com a nossa, além de
admirar o colorido da cidade e alegria do seu povo. Ela conhece um pouco a arte
baiana e afirma que em New York há um interesse muito grande pelos artistas
primitivos brasileiros que trabalham com as cores naturais.
Lá, atualmente, continuou a
pintora, há uma série de galerias exibindo trabalhos primitivos de muitos
artistas brasileiros.
Além de suas preferências pela
Bahia, a pintora veio à Salvador a convite da Fundação Cultural do Estado e
conta com o patrocínio do Banco Econômico. A sua mostra prossegue até o próximo
dia 28 de dezembro, porém, no sábado , ela seguiu para a Flórida para tratar de
assuntos comerciais. Antes disso, na tarde da última terça-feira, Haydée se
reuniu com artistas plásticos baianos, na Capela do Solar do Unhão trocando informações
.
Em 1975, Haydée expôs três vezes
nos Estados Unidos, participando de diversos outros eventos artísticos, sendo
detentora de vários prêmios, como o Primeiro Prêmio Springhill Costume, em
1974, na Califórnia, assim como o Primeiro Lugar na Stanley Carving
Competition, em 1976, também na Califórnia.
Em 1978, ela expôs em Lima e
também no ano seguinte, participando ainda da exposição Artistas Peruanos
Consagrados.
Este ano, ela já expôs na Oakland
International Council Solo Show, em maio, na Oliver Galery durante a Exposição
Internatioal e em São Francisco, durante a Art Expo, Califórnia ( de Margareth
Lemos)
MEMÓRIA DA PHARMACIA APRESENTA
RESULTADOS
Nesta última sexta-feira a Fundação Roberto Marinho e
o Laboratório Roche receberam autoridades, representantes das classes médicas ,
farmacêutica e da imprensa para a divulgação dos primeiros resultados do 1º
Inventário do Acervo Cultural Farmacêutico no Brasil, inventário este realizado
como uma das principais atividades comemorativas dos 50 anos da Roche no país,
com o apoio do Conselho Federal de
Farmácia e da Academia Nacional de Farmácia.
Ao lado foto da Pharmacia Chile que ficava na rua do mesmo nome
A Memória da Pharmacia , como ficou conhecido este trabalho, reuniu
uma comissão de técnicos, museólogos e especialistas que, através de indicações
da própria população, vem catalogando, fichando, descobrindo e arquivando um
imenso patrimônio histórico que pretende ser, para as próximas gerações, uma
verdadeira fonte de estudos e informações sobre a história da farmácia no
Brasil. Com um total de 836 comunicações já recebidas de todo o país, a
campanha da Memória da Pharmacia está
registrando , ao final do seu sexto mês, um resultado bem acima das
expectativas. E a chegada histórica da dica de número 1000 está sendo aguardada
para muito breve. O Professor Benedito Lima de Toledo, presidente da Comissão
do Inventário explica: “Este inventário pode ser feito de maneira ativa ou
receptiva. Uma não exclui a outra, mas a segunda tem uma vantagem muito significativa:
a valorização pela coletividade do patrimônio cultural que a cerca, aferindo
aspectos do subconsciente coletivo. Como a iniciativa é, de certa forma,
pioneira e depende da motivação desinteressada do público, uma vez que não se
oferecem prêmios, o resultado obtido tem sido plenamente satisfatório".
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