JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 08 DE MARÇO DE 1982 .
DOIS CONCURSOS SACUDIRÃO O
MERCADO
DE ARTE BAIANO
DE ARTE BAIANO
O mercado de artes nas galerias
pode não estar excelente, mas, certamente, duas promoções vão sacudir o
mercado: os concursos para Realização de Trabalhos de Artes Plásticas e de
Cartazes promovidos pela Fundação Cultural, prefeitura e Bahiatursa. Portanto,
dois concursos onde serão empregados milhares de cruzeiros. Mas chamo atenção
que o último concurso, realizado pela Fundação Cultural, através do Museu de Arte
Moderna, não atendeu às expectativas de alguns membros da Comissão Julgadora e
tampouco do diretor do MAM, Francisco Liberato. Entre os decepcionados com o
resultado final de alguns projetos, eu me incluo. Decepcionado porque alguns
artistas estiveram mais interessados em embolsar o dinheiro que produzir obras
de arte. E o pior é que já está sendo anunciado o segundo concurso e alguns nem
entregaram seus trabalhos do concurso anterior, o que demonstra nesse caso má
fé e falta de responsabilidade profissional.
Sabemos que o artista vive no
informalismo por excelência, mas aí trata-se de dinheiro suado que vem da
comunidade e que pode e não deve ser gasto desta forma. Acho que no próximo
concurso as coisas têm que ser amarradas de tal forma para que coisas deste
tipo não venham a ocorrer novamente.
OS PROJETOS
A Fundação Cultural do Estado,
através do seu Museu de Arte Moderna da Bahia, instituiu o Concurso de Projetos
para Elaboração de Trabalhos de Artes Plásticas, destinado exclusivamente a
artistas baianos ou brasileiros radicados na Bahia há mais de dois anos. A
verba global é de Cr$2.400.000,00 distribuídos pelo número total de projetos a
serem selecionados, que não deverá ser inferior a seis e nem superior a doze.
O concurso visa estimular a
criatividade na área de artes plásticas e atender às expectativas do mercado de
trabalho no meio produtor local. As propostas deverão ser apresentadas no ato
da inscrição, no Museu de Arte Moderna, Solar do Unhão, onde podem ser
encontradas maiores informações, inclusive o regulamento deste programa de
apoio à produção de trabalhos de artes plásticas.
CRIAÇÃO DO CARTAZ
A Fundação Cultural do Estado,
Prefeitura do Salvador e Bahiatursa lançam concurso público para a criação de
um cartaz comemorativo ao aniversário de fundação da Cidade de Salvador. As
inscrições para entrega dos trabalhos estão abertas até o dia 26 próximo, no
Museu de Arte Moderna da Bahia e ao vencedor será dado prêmio no valor de
Cr$200 mil.
A mensagem do cartaz deve ser
relacionada ao conteúdo cultural e promocional da Cidade, sendo que a
elaboração dos dizeres ficará ao cargo do concorrente, constituindo-se num dos
elementos fundamentais da proposta. Os trabalhos devem ser apresentados a nível
de arte-final, sob pseudônimo.
Maiores informações, inclusive as
disposições gerais do concurso, estão no Museu de Arte Moderna, no Solar do
Unhão, Avenida de Contorno, s/n.
RAIO X PARA RESTAURAR OBRAS DE
ARTE NO BRASIL
“Nossa Senhora com Menino Jesus”, de Giovanni Bellini, e “A Ressurreição de Cristo”, de Rafael Sanzio, dois quadros do “cinquecento” pertencentes ao Museu de Arte de S. Paulo Assis Chateaubriand, foram radiografados para serem restaurados a fim de, juntamente com outros trabalhos, participarem de uma exposição de obras do acervo do MASP, na Cidade de Mie, no Japão. No Brasil, está foi a segunda iniciativa bem-sucedida nesse campo: a primeira ocorreu em 1981, quando a obra “Auto-retrato com Barba Nascente”, de Rembrandt, foi submetida ao mesmo processo, atendendo a pedido especial feito ao MASP por historiadores e “experts” holandeses que desenvolvem, desde 1971, extensa pesquisa sobre a vida e obra do grande pintor.
Na foto aparecem à esquerda o instrutor e, à direita, Pietro Maria Bardi, diretor do Masp.
“Neste novo trabalho que
realizamos para o MASP- explica Eustáquio Godoy, instrutor do Centro
Educacional Kodak e responsável pela elaboração das radiografias utilizamos os
mesmos recursos empregados para radiografar o Rembrandt, ou seja, filme de raio
X médico, exposição direta, sem auxílio do ‘écran’ intensificador etc. Todavia,
posso dizer que com esses quadros do ‘cinquecento’ nós aprimoramos a técnica em
certos aspectos como, por exemplo, no emprego de uma lâmina de chumbo mais
espessa para reduzir o efeito da radiação secundária, prejudicial ao contraste
da radiografia, e uma distância diferenciada do tubo em relação a cada uma das
telas”.
O equipamento usado para
radiografar os quadros é o mesmo que se emprega em Medicina para radiografias
de tórax e outras partes do corpo humano. Contudo, o processo aplicado
reveste-se de uma particularidade especial, assim explicados por Eustáquio
Godoy: “ao realizarmos a radiografia, deixamos as duas obras expostas aos raios
x durante um período de 15 segundos, uma quantidade quase equivalente à
radiação para fins industriais, que jamais poderia ser aplicada ao homem”.
AS CONSTATAÇÕES
Após o processamento das
radiografias, algumas evidências foram imediatamente constatadas: Rafael, ao
contrário do que supunha, não traçou a carvão ou lápis os desenhos
fundamentais de seu quadro e utilizou estiletes para fazer detalhes que dão a
impressão de alto-relevo; a tinta dourada, utilizada na restauração de um sol
existente na obra, tem uma tonalidade mais berrante que a original.
Para Maria Helena Chartuni,
restauradora do MASP e responsável pelo desenvolvimento de todo o trabalho, a
radiografia dá uma ajuda científica aos especialistas, permitindo que se
descubram novos detalhes de técnicas e material usados pelo pintor, que são
documentados, e também ajuda na limpeza do quadro para posterior restauração.
Através dos raios X, os “experts”
ainda podem saber se a obra é falsificada ou não, pois uma pintura falsa não dá
contraste quando submetida à radiação.
O diretor do MASP, Pietro Maria
Bardi, que também acompanhou todo o trabalho desenvolvido, satisfeito, disse
que: “Os raios X revelam a alma do quadro. Através de sua utilização, podemos
descobrir a técnica usada pelo pintor, verificar antigas restaurações e
comprovar cientificamente aquilo que estamos vendo a olho nu. Servem, também,
para comprovarmos a autencidade da obra”.
O IRÃ VAI VENDER SUA ARTE PARA
FINANCIAR A GUERRA!
A estupidez das radicalizações da
direita ou esquerda, ideologia ou religiosa tem mais um exemplo grotesco de
quanto são inócuas, burras e perniciosas. É a atitude do governo do Irã que
está vendendo todo seu patrimônio artístico para financiar sua guerrinha
particular contra o Iraque. O Museu de Arte Contemporânea, que era um dos mais
importantes do Oriente, está transformado num verdadeiro mercado de cartazes
“revolucionários” porque seus “ideólogos” consideram a arte moderna decadente.
Aqui não se chegou a tamanha radicalização, mas se olharmos nossos museus,
ficaremos com muitas interrogações, tão pequeno é o orçamento dedicado pelos
governos municipais, estaduais e federal para tais instituições. A sensibilidade
anda sumida, pois os homens andam em busca de coisas mais “palpáveis” para o
eleitorado como fachadas de prédios e outras coisas suntuosas.
Algumas das principais casas de
leilões do mundo pediram ao governo iraniano que organize um leilão para os tesouros
históricos que o país decidiu pôr à venda.
Em Teerã, um porta-voz do
Parlamento disse que uma lei, aprovada recentemente, poderá fazer com que a
venda seja organizada por diversas instituições e não apenas pela Fundação
Khomeini para os Oprimidos. Mas as casas de leilões de Londres, incluindo a
Christie’s e a Sotheby’s, fizeram um apelo para que o Irã realize um leilão, de
preferência no exterior.
Além dos tapetes, miniaturas,
peças de prata, mobiliário e pinturas, a coleção iraniana de arte moderna,
incluindo obras de Picasso, Andy Warhol e David Hockney, pode dar bons lucros,
comentou Tom Craig, diretor do Departamento de Arte Islamita da Chrstie’s,
acrescentando, porém, que o governo iraniano sairia perdendo se desse o lote
para marchands, de âmbito de ação mais limitado.
“Para se conseguir os melhores
preços, a única alternativa é o leilão. E este tem que ser feito por
profissionais”, disse Craig.
A venda das obras de arte se
insere no esforço iraniano para superar o déficit orçamentário criado pela
guerra com o Iraque, que reduziu as reservas nacionais a menos de três bilhões
de dólares, forçou o Banco Central a vender muito ouro apesar da queda do metal
e levou uma baixa de 4 dólares no preço do barril de petróleo.
O projeto foi condenado pelos movimentos
oposicionistas no exílio, que disseram que os compradores terão que devolver os
objetos de arte ao Irã quando o regime de Khomeini for derrubado.
Craig, que costumava viajar muito
ao Irã até que a revolução de 1979 acabou com o comércio local de antiguidades,
disse que existe um enorme interesse na venda. “O Irã tem a maior coleção de
jóias do mundo, mas não sabemos se as jóias serão vendidas, pois no passado já
foram usadas como garantia de empréstimos”, comentou.
As obras de arte moderna foram
compradas pela ex-imperatriz Farah Diba, viúva do xá Reza Pahlevi, com ajuda do
ex-vice-presidente norte-americano, Nelson Rockefeller. Os funcionários do
regime religioso retiraram a maior parte das obras modernas, consideradas
decadentes e transformarem parte do enorme Museu de Arte Contemporânea numa
exposição permanente de cartazes revolucionários.
Acredita-se que a maior parte dos
quadros está a salvo, embora muitos retratos do xá e de sua família tenham sido
destruídos depois da queda do regime.
AS AQUARELAS DE ADOLF HITLER
À primeira vista, as quatro
aquarelas parecem bastante comuns: muito detalhadas nas pinceladas em verde e
azul, mas sem nada que o indique a marca de uma grande artista. Quando o
observador se aproxima, vê que o interesse está na assinatura “A. Hitler”.
“Fizemos esta exposição, não
para glorificar o homem, mas para revelar um aspecto de sua personalidade que
passou por grandes mudanças”, comentou John Quarstein, diretor do Museu de
Guerra de Virgínia, que está com a exposição chamada “A Arte de Adolf Hitler”.
“Elas não são diferentes da obra
de outros artistas do período.O que se diferencia é o artista,
disse Quarstein.
As aquarelas foram capturadas
pelas forças norte-americanas após a Segunda Guerra Mundial e estavam no Centro
de História Militar do Exército, em Washington, de onde saíam raramente. A
exposição está no Museu de Newport News.
“Eu vim porque sou interessado em História e sabia que Hitler foi artista no começo”, disse um homem ao
contemplar as aquarelas. “Mas não esperava que fosse tão boas”.
“Se não soubesse que Hitler foi
quem pintou, diria que são ótimas”, comentou uma senhora de idade.
Quando Hitler era adolescente,
considerava-se um artista talentoso e foi a Viena e Munique para pintar, lembrou
Quarstein. Na Academia de Belas-Artes de Viena, foi rejeitado duas vezes. Os
professores sugeriram que fosse para Faculdade de Arquitetura, mas como ele não
havia terminado o curso médio, também não foi aceito. “Rua de Viena” e “Velho Tribunal de Munique”, pintados entre 1904 e 1905, são característicos do estilo
do jovem Hitler que, sendo um mais um arquiteto, pintava com traços fortes,
usando as figuras humanas apenas para medir a perspectiva e altura dos
edifícios, disse Quarstein.
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