JORNAL A TARDE, TERÇA-FEIRA, 28 DE MARÇO DE 1983
CRESCE INTERESSE PELA ARTE DOS ÍNDIOS BRASILEIROS
Texto Reynivaldo Brito
Fotos Google
Fotos Google
O ministro do interior, Mário Andreazza, desmentiu
categoricamente a informação de que sua pasta estava disposta a iniciar a
construção do Museu do Índio, em Brasília. “Não vamos construir agora, não é
oportuno, não existe essa idéia”, afirmou Andreazza, acrescentando ainda que
“mesmo que fôssemos levar esse empreendimento à frente agora não o faríamos com
verbas do Ministério do Interior”. Na foto índios da tribo Tukano com seus belos cocares.
Mário Andreazza explicou que existem instituições,
nacionais e estrangeiras, interessadas em colaborar com o projeto, mas destacou
que não pretende acioná-las agora, tendo em vista “o momento, que não é
oportuno”. Sobre a observação do antropólogo Darcy Ribeiro, segundo quem o
projeto teria sido elaborado sem qualquer consulta aos profissionais da área, o
ministro afirmou:
Não temos obrigação de consultá-los. Temos um Conselho
indigenista, junto à Fundação nacional do Índio, onde tem representantes que
exprimem bem o pensamento da área.
Andreazza desmentiu ainda que o Museu do Índio do
Rio de Janeiro esteja desativado, assegurando que as peças do museu não
estariam numa garagem do Ministério do Interior, em Botafogo.
O Chefe de Gabinete do Ministro deu outras
explicações sobre o problema. Segundo ele, o projeto do museu foi uma doação do
arquiteto Oscar Niemayer, da mesma maneira que o governo do Distrito Federal
reservou uma de suas áreas com a finalidade de abrigar a instituição. Insistiu
que o governo não chegou a iniciar o levantamento de custo da obra exatamente
por considerar que o projeto não deve ser levado à frente agora.
“O museu do Índio do Rio de Janeiro não será
desativado, pois considero que todo museu deve ser preservado, por ser um
Centro de Informação Cultural. A afirmação é do Presidente da FUNAI, coronel
Paulo Moreira Leal, que afirmou não ter fundamento a informação de que
futuramente todo o acervo do Museu do Rio seria transferido para o Museu do
Índio, projetado para Brasília pelo arquiteto Oscar Niemayer.
O coronel leal afirma que, por enquanto, o museu não
será construído no ano passado, o projeto foi orçado em CR$500.000.000,00, mas
quando a idéia for levada adiante, a FUNAI pretende contar com recursos doados
por empresas, entidades e pessoas ligadas
a causa indígena. O presidente da FUNAI nega também que o Museu do Índio
esteja atualmente abandonado.
De acordo com o projeto de Niemayer, o museu de
Brasília será construído no Espaço Cultural, uma área situada no centro da
cidade que já abriga o Planetário, o Palácio das Convenções e o prédio da Funarte. A obra terá mais de
cinco mil metros de área construída e sua forma inspira-se na aldeia dos índios
lonomanis: ao invés de várias malocas em círculos, apenas um a “Água” contínua,
abrindo para o interior e fechada por fora. Sobre o pátio interno será
construída uma gigantesca concha de concreto que serve de quebra-sol do pátio e
simula um cocar reclinado. Este pátio terá, ainda, trechos de terra natural
para eventual montagem de malocas.
O presidente da FUNAI considera que nos museus
brasileiros já existe um acervo importante de artesanatos indígenas mais
defende as instalações de novos museus do início em todos os estados. O coronel
Leal acha que a exportação dessas, peças, muitas delas raras, não traz prejuízo
para o país, pois levam a cultura brasileira
outros povos. Citou, como exemplo, um acervo existente na Itália que
conta atualmente com 5.000 peças levadas do Brasil e que estão agora sendo
catalogadas. Segundo ela, a Fundação Roberto Marinho está tentando transferir
estas peças para o prédio do Fórum Romano.
Ele confirmou, também, que não há restrições à saída
dessas peças do país, e nem preocupação do governo no sentido de coibir a
exportação. Esta posição da FUNAI s do governo federal pode ser sentida não
somente pela existência de lojas da FUNAI em vários estados, como também pela
realização anual da mostra “Moitará, nome da feira de trocas feitas pelos
índios do Alto Xingu, realizada durante a Semana do Índio, em Brasília. Esta
feira de artesanato que a FUNAI insiste em chamar de mostra, tem atraído nos
últimos anos, vários colecionadores estrangeiros que mesmo antes de sua
abertura, no dia 1º de abril, começam a brigar pelas melhores peças expostas,
como máscaras, rituais xinguanas que, no ano passado, foram vendidas, em média,
por treze mil cruzeiros. Estes colecionadores e intermediários confessam que
muitas vezes uma só dessas peças, especialmente de arte plumária, paga a viagem
ao Brasil quando revendida a um museu ou outro colecionador.
Marcos Terena, que pertence à tribo dos terenas, no
Mato grosso do Sul, e já presidiu a Unid - União das nações indígenas, vê com
preocupação a venda de peças indígenas pela Funai. Segundo ele, este comércio,
estimulado pelos chefes de postos da Funai que induzem os índios a fabricarem
aquelas peças mais aceitas pelo mercado branco, tem causado danos à cultura
indígena.
“Algumas tribos estão tão empenhadas em vender cada
vez mais para a Funai, que passaram a fabricar peças que nada tem a ver com a
tradição tribal, introduzindo linhas coloridas industrializadas e outros
materiais, afirma terena. A qualidade das peças e suas descaracterização têm
sido tamanha, que a própria Funai está, em muitos casos, se recusando a
adquirir alguns artesanatos, criando tensões entre o órgão as comunidades
indígenas.
Terena defende a necessidade de a FUNAI estimular
nas aldeias os mais velhos e ensinarem aos mais novos os segredos do ser
artesanato, insistindo na qualidade das peças. Ele acha, ainda, que a
existência de museus é positiva, desde que eles sejam construídos, também, para
informação dos próprios índios e não apenas para vender uma imagem
interiotipada dessas comunidades, como tem ocorrido, especialmente no exterior.
“Muitas tribos, disse ele, estão perdendo os seus
traços de cultura, e algumas crianças falam hoje em dia melhor o português do
que sua língua tribal. Se também não preservarmos seus objetos, seu artesanato,
em breve, estes índios perderão todos os traços de sua cultura.
MURAL
O MUSEU DO CACAU - Provisoriamente ficará instalado
num prédio amplo de dois pavimentos na Rua Antônio Lavigne de Lemos, na cidade
de Ilhéus, onde começarão a ser reunidos, catalogados e abrigados, objetos,
livros, documentos e tudo aquilo que esteja relacionado com a tecnologia do
cacau, as transformações culturais, econômicas e sociais pelas quais têm
passado o Sul da Bahia, ou tudo aquilo que cresceu á sombra dos cacauais, tais
como as artes populares expressas no folclore, no artesanato, na literatura de
cordel, na tradição oral e tantos outros valores nitidamente regionalistas.
Nesta fase inicial, todo o apoio que as pessoas
possam dar à implantação do museu é importante, tais como emprestando ou doando
objetos ou, simplesmente, prestando informações que possam contribuir para a
formação do seu acervo.
O Museu do cacau é resultado de convênio entre o
Instituto do Cacau da Bahia, Ceplac e a Universidade Santa Cruz.
MAIS UMA DO LEÃO - O secretário da Receita Federal, Francisco Dornelles, fixou
em 150 mil e 500 mil dólares o limite global para a venda, com isenção do
imposto de importação, de obras expostas na XVII Bienal Internacional de Artes
Plásticas de São Paulo.As obras serão vendidas no local da exposição dentro
do prazo fixado para a permanência dos bens, no país, sob o regime aduaneiro
especial de admissão temporária.
A Fundação Bienal de São Paulo, promotora da
exposição, rateará, entre as representações interessadas, o limite global
fixado.
No caso de algumas das representações utilizar
parcialmente ou não utilizar a quantia que lhe couber no rateio, a fundação
repassará a outra representação o valor não utilizado.
FALECE ESCULTOR - o Escultor norte-americano Robert
Howard morreu aos 86 anos, no último dia 20, em santa cruz (Califórnia).Howard ficou famoso por seus móbiles, que
normalmente vinham acompanhados de um cartaz incitando o público a tocá-los.
Sua obra mais importante é o triangulo de três dimensões “Hidrogiro” de doze
metros de altura, realizada para uma companhia americana em São José (Califórnia).O escultor expôs em Paris, Nova Iorque e Los
Angeles, assim como na exposição Internacional de Seattle (estado de
Washington).Na América latina, suas obras chegaram a ser
expostas no Brasil.
MELHORANDO - O artista plástico Ricardo Nery, ( Foto) já
realizou cinco exposições, sendo três individuais, e duas coletivas, uma delas
na Galeria Rococó, em Belo Horizonte.
Os temas prediletos em suas telas são Alagados, capoeira, o
candomblé, os velhos casarios e a puxada de rede, Nery está aos poucos
melhorando a qualidade de seus trabalhos.Ele começou em 1973, fazendo entalhes e três anos
depois as primeiras telas, onde teve a grande colaboração de Edvaldo Assis.
MUSEU DINÂMICO - Muldisciplinar, abrangendo diversas
áreas, que começa a se estruturar no Museu de Ciência e Tecnologia da Bahia, já
tem o seu primeiro grupo em atividade, formado por 40 alunos do Instituto de
Ciências Exatas da Universidade Católica do salvador. Auto-intitulado de Clube
de Ciência de Biologia, esses estudantes da Católica colocaram em seu regimento
interno que o objetivo principal é o da “melhoria do nível do curso”. Sua
primeira meta é a montagem de uma coleção de zoologia para o Laboratório
Didático com representação de todos os phlluns zoológicos da região de
Salvador. “È o passo inicial para o concreto funcionamento do grande Clube de
Ciências, com diversos pesquisadores, cientistas e estudantes, que o Museu de
Ciência e Tecnologia, unidade do Cedap, órgão vinculado à Seplantec, pretende
colocar em funcionamento dentro em breve. Essa concepção do museu tem o objetivo de
atrair para as suas instalações os estudantes universitários, como já está
fazendo com os de 1º e 2º graus, interessados em participar das atividades e
colaborar com as pesquisas, segundo o coordenador do Museu, Nidalvo Quinto.
Ainda segundo o coordenador, a idéia estrutural do
Clube de Ciências com seções em cada um dos ramos do conhecimento, é a de
tornar mais dinâmica a programação do Museu de Ciência e tecnologia, que não se
limita à exposição permanente, mas pretende multiplicar as exposições
temporárias e itinerantes, que se desloquem, por exemplo, para escolas e centro
de estudos. Assim, o museu poderá buscar espaço até mesmo em cidades do
interior do estado, levando equipamentos para a difusão da prática das ciências
a grupos de populações que, de outra forma, dificilmente teriam essa
oportunidade.
Dentro dessa programação, o Museu de Ciência e
Tecnologia está incentivando a organização de outros grupos independentes que
lá pretendem trabalhar. Todos os ramos das atividades científicas são aceitos,
para a elaboração de projetos. Os grupos tanto podem ser formados a partir de
faculdades ou unidades universitárias, como podem ser iniciativas particulares
e espontâneas de pessoas interessadas em se integrar a grupos e projetos já
existentes ou em organização.
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