JORNAL A TARDE SALVADOR,
TERÇA-FEIRA, 15 DE AGOSTO DE 1983
COSTA PINTO EXPÕE 21 TELAS NA
ÉPOCA GALERIA DE ARTE
Portanto, o nosso conhecimento é
antigo, embora ocupasse um cargo hierarquicamente menor, mas tão digno quanto o
dele.
Cabia a mim datilografar as
ordens de bolsas de estudos e outros documentos. Sempre nos encontramos mesmo que
rapidamente.
Porém, ao longo do tempo venho
acompanhando com interesse suas exposições e principalmente sua pintura marcada
pelo geometrismo, retratando a paisagem baiana, que tanto nos agrada.
Acima o artista Jorge Costa Pinto e sua esposa D. Vera.
É um mestre em simplificar as
composições, definindo as massas com traços negros como a limitar os espaços
para cada elemento. É metódico no seu ofício de pintar. Costuma sair com um
caderno de anotações onde registra as principais linhas de uma paisagem
qualquer. De posse dos desenhos vai para o seu atelier onde os transpõe para a
tela. “Muitas vezes não fica quase nada do original. Modifico tudo o que tinha
anotado, inicialmente”, confessa Jorge Costa Pinto. Sim, a modificação está
exatamente em abandonar muitos detalhes, dando maior expressão aos elementos
que elege como mais significativos. E, as massas contornadas pelos traços
firmes e negros dão maior grandiosidade às composições que concebe.
O artista trabalha normalmente
com tinta acrílica holandesa marca “Talens”, e o veículo que usa para dissolver
é a água. Assim, consegue efeitos especiais que vão daqueles que permite uma
aquarela ou sejam efeitos suaves e transparentes, até os efeitos densos
utilizados pelos que usam tinta óleo. Acostumado com este tipo de tinta Jorge
Costa Pinto, sabe usá-la em doses certas para cada situação. E, outro detalhe
importante é que pelo seu próprio temperamento não tem pressa. Portanto, pode
elaborar e reelaborar seus trabalhos em busca de uma maior perfeição. Paciente,
Costa Pinto demora-se também em suas anotações captando os elementos mais
significativos, podendo depois simplificar sem retirar das paisagens que recria
as suas próprias identidades sendo facilmente identificadas pelos que se
interessam pela arte e têm sensibilidade.
O artista Jorge Costa Pinto sabe
como nenhum outro pintor baiano captar o ambiente calmo dos locais, que ainda
não foram parcialmente ou totalmente destruídos pela ânsia do progresso ou da
especulação imobiliária, que tanto aflige as populações que residem nas grandes
cidades.
Ás vezes penso na capacidade do
artista em retratar dentro de sua visão geométrica os locais que nos são mais
caros desta velha Bahia. È verdade que não existe uma preocupação documental,
porém, se nos transportarmos para anos adiante certamente pensamos que suas
obras servirão pelos menos como um referencial para o que era a nossa gente,
mas alerto que é preciso cuidar, antes que seja tarde demais, dessas paisagens,
desses locais bucólicos que surgem calmos e vigorosos dos pincéis de Jorge
Costa Pinto.
Jorge geometriza a paisagem
baiana, dando destaque às massas e volumes contornando-as com seus traços
vigorosos. O triptico intitulado “Panorama do Porto da Bahia”, é um dos
trabalhos mais significativos entre os expostos. Nele o artista destaca o
quebra-mar e os casarões em volumes bem definidos, e os barcos deitados sobre o
mar em total calmaria, aliás, como se apresenta quase sempre este pedaço do
Atlântico que beija as nossas praias.
ADVOGADO- PINTOR
Embora tenha revelado no início
deste artigo a sua condição de inspetor federal de ensino, o artista Jorge
Costa Pinto passou grande parte de sua existência entre a advocacia, a
repartição pública, e nas horas vagas pintando. A pintura foi despertada desde
a infância, mas a necessidade de abraçar uma carreira, que lhe garantisse de imediato
a sobrevivência, afastou Jorge Costa Pinto da arte. Mas, não totalmente, porque
se aproveitava, dos fins de semana e até das madrugadas para a intimidade com
as tintas e os pincéis. Foi assim por quase duas décadas e o curioso é que foi
descoberto pelo professor Adams Firnekaes, então assessor técnico do ICBA, que
o convidou para expor juntamente com outros artistas. Foi o início de uma série
de outras exposições individuais e coletivas, aqui e em outros estados. Hoje,
seus trabalhos figuram em museus, coleções particulares e oficiais.
O então pintor de domingo ou
pintor nas horas vagas , é hoje um profissional dedicado exclusivamente à arte.
Fechou a sua banca de advocacia, embora tenha sido insistentemente consultado
para que continuasse advogando. Mas, com os filhos já encaminhados Costa Pinto
resolveu cuidar do que mais gosta, e para isto recebeu o apoio incondicional de
D. Vera, esposa, companheira, e acima de tudo uma pessoa que sabe entender as
necessidades e anseios do artista. Hoje, o ex-advogado e ex-inspetor federal de
ensino tem o tempo inteiro dedicado à sua arte, dando uma contribuição
importante, pela qualidade do seu trabalho, para o engrandecimento da cultura
baiana. Portanto, se você ainda não visitou a exposição de Jorge Costa Pinto
poderá fazê-lo até o final desta semana.
FOTOBAHIA 83 COM TREZENTAS
IMAGENS
Está chegando a Fotobahia 83,
importante espaço de expressão dos fotógrafos, que já se firmou no calendário
cultural de Salvador. Abertura será amanhã, às 21 horas, no Foyer do Teatro
Castro Alves. Serão expostas , cerca de 300 fotos de amadores e profissionais,
coloridas e em preto e branco, com vários enfoques sobre a realidade baiana.
Participam da mostra cerca de 80
fotógrafos apresentando a Bahia em seus múltiplos aspectos – social, econômico,
político, natureza, arquitetura -.Fotobahia 83 apresenta também um catálogo com
uma foto de cada participante.
Fotobahia faz agora seis anos de
criada: “Surgiu em 1978 com a intenção de abrir um espaço para reunir e mostrar
os trabalhos produzidos por profissionais e amadores que atuassem na área. Não
havia tema definido, nem seleção, pretendia-se fazer, de uma maneira concreta,
o primeiro levantamento dos fotógrafos atuantes em Salvador, suas área de
trabalho, abordagem temática e como utilizavam da técnica fotográfica”, explica
Arestides Alves. Foto Gente do Sertão, de Juracy Dórea.
É organizada por um grupo de
fotógrafos independentes, que busca atuar junto à categoria heterogêna,
promovendo eventos que possam ajuda na transformação do nível profissional do fotógrafo.
Este ano a mostra acontecerá no
Foyer do Teatro Castro Alves e ficará até o dia 4, quando ocorrerá também – de
1º a 5 – o Encontro de Fotógrafos e Oficina de Fotografia, na Escola de Belas
Artes. Fotobahia 83 tem o patrocínio da Funarte e colaboração da Fundação
Cultural do Estado da Bahia e da Prefeitura Municipal de Salvador.
SANTE SCALDAFERRI FOI PREMIADO
O artista Sante Scaldaferri acaba
de ser agraciado com mais um prêmio. Ele participou da V Mostra do Desenho
Brasileiro, realizada em Curitiba, e foi premiado, tendo sido convidado para a
inauguração da exposição que ocorreu no último dia 10 na Sala de Exposições do
Teatro Guaira. Sante concorreu com três desenhos de 80 x 65 cm: A Família Real,
Flores para Monarcas e A Lista dos Convidados.
Esta mostra de desenhos é
realizada todos os anos e dezenas de artistas são convocados a concorrer. A
promoção tem por finalidade reunir em Curitiba obra de destacados desenhistas
brasileiros em uma visão panarômica e documental das atuais tendências do desenho
no país. De acordo com o regulamento complementam a estrutura da mostra, salas
especiais artístico-didáticas apresentando conceituados artistas especialmente
convidados e obras gráficas do patrimônio cultural brasileiro. Foram concedidos
prêmios de aquisição e prêmios unitários de Cr$80 mil, sendo o nosso amigo
Sante Scaldaferri um dos convidados premiados.
Na foto o desenho premiado: A
Família Real.
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