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quarta-feira, 19 de setembro de 2012

A ARTE VANGUARDISTA DO ARQUITETO ALMANDRADE - 21 DE ABRIL DE 1983.

JORNAL A TARDE SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 21 DE ABRIL DE 1983.

A ARTE VANGUARDISTA DO ARQUITETO ALMANDRADE


Está expondo na Galeria Macunaíma, da Funarte, o artista plástico, poeta e arquiteto de São Felipe, Bahia, Antônio Luiz M. Andrade, o Almandrade. Sua figura magra e irrequieta é uma presença constante nas discussões e teorizações sobre tudo que diz respeito à arte. É um artista de vanguarda, que traz na sua obra a marca do aprendizado de uma escola de Arquitetura. Já participou de muitas coletivas, de bienais e salões, tendo recebido Menção Honrosa, no I Salão Estudantil, em 1972.
Foi recusado em vários salões, devido principalmente o distanciamento entre a teoria e a capacidade de realizar aquilo a que se propunha. Ausente das galerias, por razões também óbvias, optou por movimentos alternativos, e é um dos fundadores do Grupo de Estudos de Linhagem da Bahia, onde editou a revista Semiótica, em julho de 1974.

IDÉIAS DE ALMANDRADE

Para o artista baiano, “a arte é uma fala singular, especializada, que permite operacionalizar o absurdo, o contrário, a inversão. A seriedade do riso. A economia da emoção. Importante são os seus problemas, o uso de uma formalização mais precisa contra a superstição de um saber fácil e a ilusão de uma totalidade sem relações verticais. Como desmontar esta máquina semiótica (objeto/arte) ou acioná-la? É a grande dúvida. O segredo íntimo que irrita a ansiedade de uma satisfação imediata dos sentidos. É oportuno se falar numa política localizada, a ocupação do aparelho/arte em construir a um certo nível, um código incomunicável, intrigante, que altera a disciplina que rege o consumo de signos”.
Explica Almandrade que a princípio esta mostra que permanecerá até o próximo dia 13, na  Galeria Macunaíma, “são duas exposições ocupando o mesmo espaço: uma objetos de carpete, a outra registros fotográficos de eventos diversos, realizados entre 1976 e 1982, articuladas pelos incômodos irônicos”.
As fotos são informações sobre o uso de uma multiplicidade de suportes e experiências localizadas no território da arte. A questão central não é fazer uma exposição mais demonstrar um método de trabalho, as interrogações que ele tenta colocar ao olhar clínico e intencional predisposto a uma relação de pensamento. São na realidade experimentações tipo laboratório com efeitos exclusivos no campo cultural (meio de arte). Ou produtos de uma ciência que goza de suas próprias “inutilidades”. Como podemos perceber, o artista vive questionando conceitos e está sempre propenso a lançar suas idéias, discuti-las, e acima de tudo, lutar para que sejam aceitas. Diria que Almandrade é um daqueles “guerreiros”, que sente na pele a batalha em todos os campos e níveis. Está disposto a usar seus argumentos e teorias não apenas na defensiva, mas principalmente na ofensiva tentando conquistar espaço. E, graças a persistência, aliada a sua capacidade de criação tem conseguido vencer algumas “batalhas”, embora ainda sem maior projeção no cenário artístico nacional.
Sou daqueles que acredita em sua vitória. A princípio, o próprio artista imaginava (ele sempre está imaginando coisas!)  Que me colocava numa posição de apatia ou mesmo contrária a sua obra.
Pelo contrário, algumas restrições que diz limitavam-se a distancia que existe entre a sua teorização e a capacidade de colocar as idéias na prática. Lembro-me por exemplo, que num dos salões que integrei o júri o escolhemos entre os expositores. Na hora de realizar, Almandrade não cumpriu o que tinha estabelecido, e passou a culpar os organizadores, quando, na realidade, faltou foi determinação de sua parte.
Mas, agora formado, mais maduro, o Almandrade começa a deslanchar e espero que esta oportunidade que tem de expor na Galeria Macunaíma, no Rio de Janeiro, seja o passo decisivo para continuar defendendo suas idéias inovadoras, vanguardistas, e principalmente que surja uma verdadeira aliança entre sua teorização e a prática.

                                                                  O SILÊNCIO TENSO

O carpete é um elemento industrial, flexível e silencioso, sem cicatrizes na história da arte. Banal, com aparência sofisticada. Na mão do artista ele é submetido a um tratamento artesanal, deixa o chão para ocupar um lugar privilegiado na parede (suporte dos objetos de arte). Deixa de ser uma superfície de intimidade dos pés para se tornar uma superfície/objeto (arte), estranha ao ritual do olhar. O que é aparentemente íntimo para os pés pode ser áspero e barulhento para os olhos um excesso irônico.
A obra de arte é portadora de uma profundidade ruidosa, o sentido, um buraco de atrito para os olhos. Se o carpete absorve os ruídos dos sapatos, poderia absorver os ruídos do olhar, reter o sentido.
Situação paradoxal.
Concordâncias/discordâncias, acasos, uma razão oculta nestas situações fantasmagóricas. Outros elementos participam na formalização do trabalho, materiais de propriedades físicas diversificadas são relacionados. Um jogo de possibilidades onde transpira um ar de emoção frio e tenso. Imagens/fantasmas perdidas no mundo da razão e do cálculo. Uma lei desconhecida fundiu ou relacionou materiais e conceitos heterogêneos. Um problema é formulado, resta como alternativa para fugir deste ‘labirinto reto’, imaginar hipóteses de solução.

                                                  A DESRAZÃO VISUAL

“O vício da fotografia é reproduzir o outro (contorno visual), sem expor desconfianças. Estas são fotos de pequenos e até momentâneos inventos no meio campo da arte, objetos artificiais, maquetes, instalações, que deixam o espectador longe de sua materialidade, da dimensão exata etc. Entre estas reproduções e os objetos existem algumas diferenças: a foto mostra apenas uma sensação visual, eu poderia sugerir outra dimensão, outros materiais, estabelecer novas relações.
Estas fotos registram ou documentam eventos muitas vezes deslocalizados, minúsculos acontecimentos/arte que chegam a outros circuitos por intermédio desse aparelho. São situações inesperadas segundo a lógica da comunidade, invenções exorbitantes, impossível de um funcionamento puramente racional. Podemos afirmar que em alguns casos o ‘real’ foi destruído, ou melhor, foi construído apenas para ser registrado, um universo que só existe na fotografia e no meio de arte. Uma desrazão que ironiza e desterritorializa o olho

NOVOS CARTEMAS DE ALOÍSIO MAGALHÃES

Depois do Rio de Janeiro, Recife e Salvador, mais sete capitais receberão até o dia 31 de agosto, a exposição “Novos Cartemas e o Seu Processo de Criação”, de Aloísio Magalhães, dentro do projeto Itinerância, do Núcleo de fotografia da Funarte. O roteiro começa por Brasília, continuando depois por Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre. Dependendo de locais para exposição estão Cuiabá, Belém, São Luís, Fortaleza e Aracaju.
Para o núcleo a itinerância dessa exposição por quase todo o país, permitirá que se amplie ainda mais a visão comum que se tem da fotografia que, em Aloísio, não aparece apenas como produto final, mas como suporte para um processo criativo que subverte sua função inicial e alarga fronteiras. Mais do que uma relação contendo as fases nacional e internacional e preto e branco, esta última totalmente inédita, a mostra pretende recriar, com seus 32 trabalhos, todo o processo de concepção e criação dos cartemas.

                                    ROTEIRO

Na capital federal a exposição de Aloísio Magalhães ficará até o dia 8 de abril, na Galeria Oswaldo Goeldi, setor de divisão cultural, no Eixo Monumental. Em Belo Horizonte a mostra ficará no Palácio das Artes, na Av. Afonso Pena s/n.º ,de 19 de abril a 5 de maio. Em seguida virão :Vitória (Galeria Aloísio Magalhães, Av Gerônimo Monteiro s/n), de 12 a 22/05; Curitiba (Escritório da Funarte, Rua Cruz Machado 98) , de 26/05 a 16/6); São Paulo (Museu de Arte Moderna, no Parque Ibirapuera) , de 21/06 a 8/7; Florianópolis (Museu de Arte de Santa Catarina, Rua Victor Konder 71), de 19/7 a5/8) e Porto Alegre (Centro Municipal de Cultura. AV. Èrico Veríssimo, 307), de 16 a 21/8).


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