JORNAL TARDE, SALVADOR,TERÇA-FEIRA, 03 DE MAIO DE 1982
IVONETE DIAS QUER ATENÇÃO DOS COLECIONADORES
A exposição Nordeste em
Cores, realizada na Galeria do Hotel Méridien, tinha tudo para ser sucesso de
público e de vendas.Estava localizada numa boa
galeria e perto de um público abonado e que gosta da arte exótica,
principalmente da chamada arte naif ou primitiva. Mas, não foi. Não foi devido
a pouca movimentação de turistas estrangeiros, sempre atentos em busca dessas
obras. A divulgação foi considerada pelos expositores como excelente, porém,
uma coisa importante que é a venda, não aconteceu como se esperava. Poucos
quadros foram comercializados e os participantes, que são artistas que dispõem
de poucos recursos, estão enfrentando algumas dificuldades devido as despesas
que realizaram para concretização da exposição. Um destes artistas é Ivonete
Dias, uma boa primitiva, que veio da longínqua Maracás para expor suas obras.
Ela chegou a escrever um depoimento que me enviou dizendo: “Faço um apelo aos
senhores colecionadores e ‘marchands’ para que olhem com mais atenção a obra do
artista primitivo. Somos gente simples com talento e sem os artifícios
acadêmicos. Pintamos o que sentimos, não o que aprendemos de terceiros. No
entanto, vivemos de maneira geral à margem de todo o movimento artístico
importante."
Mais que um apelo, este trecho do
depoimento feito com muita emoção por Ivonete mostra as dificuldades que o
artista sem fama encontra. Não é apenas o primitivo. Não é apenas a Ivonete,
mas são muitos que estão por aí percorrendo com muito sofrimento caminhos
tortuosos, mas que devem e têm que ser vencidos com muita garra.
Compreendo o desabafo de Ivonete,
mas não apoio àqueles que desistem pelo meio do caminho.Certamente não é o caso da referida
artista, com a qual mantive longa conversa sobre as dificuldades que até certo
ponto são consideradas “normais” dentro do mercado de arte. Espero que ela e
seus colegas voltem a expor suas obras e que tenham mais sucesso. Aqui estarei
para apoiá-los no que for necessário.
OBRAS DE DALI E VAN GOGH VENDIDAS POR ALTOS PREÇOS
Um dos quadros mais importantes
da Salvador Dali, que pertencia a um psicanalista suíço, que o utilizava para
ajudar seus pacientes a liberar seus complexos, foi vendido em leilão na
Christie’s pelo equivalente a 122 milhões de cruzeiros, o maior preço já obtido
por uma obra de um artista vivo.
Dali destaca sua obr L’Enigme du Desir, de 1929. |
O próprio Dali considera o quadro
pintado em 1929, L’Enigme du Desir, como uma de suas dez obras mais
importantes. Na opinião dos críticos, o quadro de composição
caracteristica torturada e bizarra marca a primeira obra de maturidade do
artista, com seu estilo surrealista.
O psicanalista Oskar Schiang, que
vendeu o quadro, disse que o comprou em 1946 por achar que poderia ajudar seus pacientes a se livrarem de
complexos, e mantinha a pintura ao lado do divã do seu consultório.
O quadro é dominado por uma rocha
amarela com buraco a onde está escrito várias vezes: “ma mère, ma mère, ma
mère”... um pequeno grupo a esquerda mostra Dali enlaçando seu pai com um
peixe, um gafanhoto, uma adega e uma cabeça de leão.
Segundo Schiag, o quadro
propiciava um choque útil para ajudar os pacientes a se soltar.
Dali disse uma vez a respeito do
quadro: “às vezes eu cuspo com prazer no retrato de minha mãe”. Ele tinha uma
explicação psicanalística, pois é perfeitamente possível se amar a mãe e ainda
assim sonhar que se cospe nela.
O recorde anterior por obra de um
artista vivo, era de outro quadro de Dali, “Sommeil”, vendido no ano passado
por 104 milhões de cruzeiros.
Schlag disse que vendeu “L'enigme
Du Desir” para doar a uma fundação particular uma biblioteca sobre alquimia,
maçonaria, simbolismo e assuntos do gênero.
O comprador foi um marchand
suíço.
VAN GOGH
Um desenho a lápis e pena de
Vicent Van Gogh foi vendido em leilão na filial da “Sotheby’s em Toronto por
150 mil dólares (22,5 milhões de cruzeiros) em apenas 60 segundos.
O desenho, que mede cerca de 24
por 35 centímetros ,
e se intitula “O vicariato”, representou o ponto alto de três dias de leilão e
constitui uma das únicas duas obras do artista que se encontra no Canadá.
A obra produzida em 1884, no que
a Sotheby’s descreveu como “um período relativamente sereno na vida turbulenta”
do artista holandês.
O desenho representa a casa dos
pais de Van Gogh em Núemen, Holanda, onde seu pai era pastor. (Foto). O comprador foi o proprietário da
galeria de arte de Ontário.
FOTOBAHIA ABRE INSCRIÇÕES
EUNICE MOSTRA O QUE APRENDEU
Desde 1966, que a baiana Eunice
Nogueira de Oliveira vem recebendo orientação o mestre Rescála. Agora ela expõe na Galeria
Cañizares, pela primeira vez, um toral de 50 quadros e traz a apresentação do
professor Rescála que em certo trecho diz:
“A ambiência baiana com todas as
tendências, que a caracterizam exercem em seus intelectuais, nítida influência,
os quais as sentem e admiram e assim procuram manifestar seus entusiasmos pela
terra dadivosa.
Nas artes plásticas são muitos os
pintores consagrados, desde o período colonial, considerados da melhor
categoria; mas a grande maioria sem os desejados estímulos, vive e produz no
anonimato sem oportunidade de aparecer, entre eles estava Eunice Nogueira de
Oliveira. Desde 1966 espontaneamente começou a pintar dentro de um
autodidatismo, causativo e de resultados problemáticos.
O mais curioso é que afastada do
ambiente artístico por residir no interior do estado, sua pintura, na ocasião,
não apresentava feição primitivista como acontece em casos semelhantes. Tentava
pintar de modo erudito como exigia seus sentimentos e como compreendia a arte
em sua grandeza.
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