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sábado, 22 de setembro de 2012

DEZESSETE OBRAS DE GUIGNARD SERÃO EXPOSTAS EM SALVADOR

JORNAL A TARDE, SALVADOR, TERÇA-FEIRA 30 DE MAIO DE 1983.

DEZESSETE OBRAS DE GUIGNARD SERÃO EXPOSTAS 
EM SALVADOR
 Uma exposição de grande significado para o movimento cultural baiano acontecerá a partir de amanhã no Núcleo de Arte do Desenbanco. Trata-se da mostra que reúne 17 obras do artista carioca Alberto da Veiga Guignard. Ele nasceu em Nova Friburgo, no Rio de Janeiro (1896), e faleceu em 1962, em Belo Horizonte. O visitante além de ter a oportunidade de conhecer as telas do artista as quais, em sua grande maioria, está em mãos de colecionadores, verá ainda um vasto material, onde está documentada grande parte de sua existência. São Fotos, cartas, depoimentos. A mostra está dividida em quatro segmentos distintos: a) parte documental; b) Guignard, o professor que lecionou no Rio de Janeiro e Belo Horizonte; c) uma análise comparativa de seu trabalho e outros mestres da pintura; d) as obras expostas.  No alto a obra "Vista de Ouro Preto, de Guignard.
Dentre as obras expostas o visitante conhecerá a tela “Os Noivos”, pertencente ao acervo da Fundação Raymundo Castro Maya. Esta tela é uma das mais festejadas.
Portinari costumava chamá-lo de “anjo sem cor”. Sem dúvida que este artista soube captar a paisagem brasileira como ninguém e, inclusive, cenas da vida de nossa gente, sobretudo, na sua produção no período de 1935 a 1942.
Na tela “Os noivos”, que será exposta pelo Desenbanco, ele revela todo o lirismo da gente simples, que veste sua melhor roupa em dias de festa e coloca a cadeira na porta da rua para ver as pessoas passarem em direção à igreja ou à praça. Nesta tela o fuzileiro naval está envergando o seu traje de gala posando garbosamente ao lado de sua amada.
Olhos fixos, como que a espreitar o click de uma máquina fotográfica. Não é uma pintura ingênua como pensam alguns e é o próprio Portinari quem rebate dizendo que é tão grande e significativa quanto à obra de Pancetti. 
Ao lado a obra Os Noivos,uma das mais significativas do pintor.
Diria que sua obra é cheia de lirismo onde as paisagens parecem emanar o cheiro dos jasmins e a exuberância das azaléias e hortênsias, que cobrem os muros dos velhos casarões e os morros que circundam Ouro Preto e outras cidades.
As obras que o Desenbanco exporá pertencem aos colecionadores Gilberto Chateaubriand (seis), Erimar Carneiro, Rubens Britman, Genita Lorsh, Jean Boghici e uma tela da coleção Odorico Tavares e um desenho de Antônio Celestino. Dentre elas estão “Os noivos”, “Auto-retrato” e várias paisagens e naturezas-mortas.
A exposição original realizada na Casa Grand Jean de Montigny, no Rio de Janeiro contava com 21 obras, de algumas portanto estão ausentes porque seus proprietários já haviam emprestado para outras exposições. Assim, teremos uma visão de conjunto de apenas 17 de suas obras, onde veremos um Guignard sem preconceitos, que pintou desde retratos e paisagens, até porta de oratórios. Tudo feito com a mesma emoção de um homem que mesmo depois de ter passado doze anos na Europa onde predominavam as excentricidades do Cubismo e outros ismos chega para retratar esta gente simples e as paisagens bucólicas de Ouro Preto e outras cidades.
A mostra ora em questão é quase fruto ou resultado de uma pesquisa do curso de especialização em História da Arte do Brasil, da PUC, do Rio de Janeiro a qual abriu em todo país a discussão em torno de sua obra.
Segundo Roberto Marinho de Azevedo “devido ao provincianismo do Brasil, Guignard acabou sendo até tombado como artista moderno”.
É verdade que esta mostra apresenta uma quantidade pequena em relação à produção artística de Guignard.
Mas não perde a sua importância porque os baianos nunca tiveram oportunidade de conhecer um conjunto de suas obras, que inclui um livro publicado pelo professor Carlos Zíllo, com depoimentos e textos de diferentes autores sobre a importância de sua obra.
A inquietação e a emoção são constantes em sua obra, possibilitando aí a percepção de qualidade e limites.
Como afirma Ferreira Guliar “Guignard encontra o equilíbrio de suas paixões:
Mostra-se capaz de dominá-las e transcendê-las. Como pintor, percorre um caminho próprio e de grande significação na história da arte brasileira. Assimilando e superando influências diversas, que vão da arte chinesa, e Botticelli e Dufy, Cézanne e Matisse, e redescobre a paisagem brasileira e a traduz numa linguagem que preserva a frescura e a atualidade da experiência primeira.

SUA VIDA

Alberto da Veiga Guignard nasceu em 1896, em Nova Friburgo, no Rio de janeiro. Filho de pais brasileiros e avô francês. Fez cursos preparatórios na Suíça e frança. Em 1916 já estava na Alemanha iniciando os estudos de pintura na Academia de Belas-Artes de Munique, fixando-se quatro anos mais tarde em Florença. Participou em 1929 do salão de Outono de paris. Retornou ao Rio de Janeiro, onde obteve as medalhas de bronze (1929), prata (1939) e ouro (1942) e o prêmio de viagem ao país em 1940.
A respeito dessa época disse Rodrigo Melo Franco de Andrade, no álbum de reproduções da obra de Guignard lançado pela Ediarte (GB) em 1967:
“Quando Guignard voltou da Europa, para onde tinha ido menino, só regressando com mais de trinta anos, redescobriu o Brasil, tomado de uma ternura e de uma admiração comovidas que conservou até seus últimos dias. Toda a obra que produziu, desde então, ficou impregnada da emoção e da poesia sentidas naquele reencontro com a terra natal (...) O Brasil que se deparava ao recém-chegado vivia, por sua vez, a véspera de vastas alterações na estrutura nacional, embora de proporções muito menos dramáticas. Eram os últimos dias da República Velha, cuja agonia medíocre começou logo a sua vista, sucedida pelos sobressaltos da instalação do novo regime, confuso e até hoje expectante. No entanto, aquilo que impressionava Guignard não eram as ocorrências econômicas, sociais e políticas em desenvolvimento no país, fenômenos para ele como inexistentes. O que contemplava a apreendia eram os aspectos empolgantes ou comovedores da terra em que tinha nascido, os traços expressivos de sua população, o pitoresco das cidades grandes e pequenas, as peculiaridades da vegetação e dos acidentes naturais, o colorido das flores”.
EM 1944 o então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek de Oliveira convidou Guignard a orientar e dirigir um Curso Livre de desenho e Pintura. Nesta época lecionava no Rio de janeiro na antiga Universidade do Distrito Federal e na Fundação Osório.
Concordou em se transferir e teve oportunidade de orientar entre vários de seus alunos no Rio e em Minas, Marília Gianetti Torres, Amilcar de Castro, Maria Helena Andrés e Mário Silésio.  Ao lado a obra Vista de Sabará.
Segundo alguns, estudiosos de sua obra é como paisagista que ele assume a mais alta importância sobretudo nas séries do Jardim Botânico (início de sua permanência no Rio) e Itatiaia (fins da década de 30 e começos da seguinte), Lagoa Santa, Sabará e Ouro Preto. São muito apreciadas as vistas da antiga Vila Rica, em noites de São João, com o céu coalhado de balões coloridos, onde sua imaginação torna-se grandiosa. Dizem outros, que um curioso segmento de sua obra, até hoje pouco pesquisado e estudado, consiste nas chamadas pinturas musicais, executadas ainda no Rio, sob a inspiração da música dos mestres, por vezes beirando ao abstracionismo. Coube a ele a revitalização da pintura religiosa no Brasil e era dotado de excelente técnica, pintando em camadas finais, que se sucediam umas sobre as outras, à maneira dos antigos. Sua pintura, é preferencialmente lisa, sem empaste.

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