DEZESSETE OBRAS DE GUIGNARD SERÃO
EXPOSTAS
EM SALVADOR
EM SALVADOR
Uma exposição de grande
significado para o movimento cultural baiano acontecerá a partir de amanhã no
Núcleo de Arte do Desenbanco. Trata-se da mostra que reúne 17 obras do artista
carioca Alberto da Veiga Guignard. Ele nasceu em Nova Friburgo , no
Rio de Janeiro (1896), e faleceu em 1962, em Belo Horizonte. O
visitante além de ter a oportunidade de conhecer as telas do artista as quais,
em sua grande maioria, está em mãos de colecionadores, verá ainda um vasto
material, onde está documentada grande parte de sua existência. São Fotos,
cartas, depoimentos. A mostra está dividida em quatro segmentos distintos: a)
parte documental; b) Guignard, o professor que lecionou no Rio de Janeiro e
Belo Horizonte; c) uma análise comparativa de seu trabalho e outros mestres da
pintura; d) as obras expostas. No alto a obra "Vista de Ouro Preto, de Guignard.
Dentre as obras expostas o
visitante conhecerá a tela “Os Noivos”, pertencente ao acervo da Fundação
Raymundo Castro Maya. Esta tela é uma das mais festejadas.
Portinari costumava chamá-lo de
“anjo sem cor”. Sem dúvida que este artista soube captar a paisagem brasileira
como ninguém e, inclusive, cenas da vida de nossa gente, sobretudo, na sua
produção no período de 1935 a
1942.
Na tela “Os noivos”, que será
exposta pelo Desenbanco, ele revela todo o lirismo da gente simples, que veste
sua melhor roupa em dias de festa e coloca a cadeira na porta da rua para ver
as pessoas passarem em direção à igreja ou à praça. Nesta tela o fuzileiro
naval está envergando o seu traje de gala posando garbosamente ao lado de sua
amada.
Olhos fixos, como que a espreitar
o click de uma máquina fotográfica. Não é uma pintura ingênua como pensam
alguns e é o próprio Portinari quem rebate dizendo que é tão grande e
significativa quanto à obra de Pancetti.
Ao lado a obra Os Noivos,uma das mais significativas do pintor.
Ao lado a obra Os Noivos,uma das mais significativas do pintor.
Diria que sua obra é cheia de
lirismo onde as paisagens parecem emanar o cheiro dos jasmins e a exuberância
das azaléias e hortênsias, que cobrem os muros dos velhos casarões e os morros
que circundam Ouro Preto e outras cidades.
As obras que o Desenbanco exporá
pertencem aos colecionadores Gilberto Chateaubriand (seis), Erimar Carneiro,
Rubens Britman, Genita Lorsh, Jean Boghici e uma tela da coleção Odorico
Tavares e um desenho de Antônio Celestino. Dentre elas estão “Os noivos”,
“Auto-retrato” e várias paisagens e naturezas-mortas.
A exposição original realizada na
Casa Grand Jean de Montigny, no Rio de Janeiro contava com 21 obras, de algumas
portanto estão ausentes porque seus proprietários já haviam emprestado para
outras exposições. Assim, teremos uma visão de conjunto de apenas 17 de suas
obras, onde veremos um Guignard sem preconceitos, que pintou desde retratos e
paisagens, até porta de oratórios. Tudo feito com a mesma emoção de um homem
que mesmo depois de ter passado doze anos na Europa onde predominavam as
excentricidades do Cubismo e outros ismos chega para retratar esta gente
simples e as paisagens bucólicas de Ouro Preto e outras cidades.
A mostra ora em questão é quase fruto
ou resultado de uma pesquisa do curso de especialização em História da Arte do
Brasil, da PUC, do Rio de Janeiro a qual abriu em todo país a discussão em
torno de sua obra.
Segundo Roberto Marinho de
Azevedo “devido ao provincianismo do Brasil, Guignard acabou sendo até tombado
como artista moderno”.
É verdade que esta mostra
apresenta uma quantidade pequena em relação à produção artística de Guignard.
Mas não perde a sua importância
porque os baianos nunca tiveram oportunidade de conhecer um conjunto de suas
obras, que inclui um livro publicado pelo professor Carlos Zíllo, com
depoimentos e textos de diferentes autores sobre a importância de sua obra.
A inquietação e a emoção são
constantes em sua obra, possibilitando aí a percepção de qualidade e limites.
Como afirma Ferreira Guliar
“Guignard encontra o equilíbrio de suas paixões:
Mostra-se capaz de dominá-las e
transcendê-las. Como pintor, percorre um caminho próprio e de grande
significação na história da arte brasileira. Assimilando e superando influências
diversas, que vão da arte chinesa, e Botticelli e Dufy, Cézanne e Matisse, e
redescobre a paisagem brasileira e a traduz numa linguagem que preserva a
frescura e a atualidade da experiência primeira.
SUA VIDA
Alberto da Veiga Guignard nasceu
em 1896, em Nova
Friburgo , no Rio de janeiro. Filho de pais brasileiros e avô
francês. Fez cursos preparatórios na Suíça e frança. Em 1916 já estava na
Alemanha iniciando os estudos de pintura na Academia de Belas-Artes de Munique,
fixando-se quatro anos mais tarde em Florença. Participou
em 1929 do salão de Outono de paris. Retornou ao Rio de Janeiro, onde obteve as
medalhas de bronze (1929), prata (1939) e ouro (1942) e o prêmio de viagem ao
país em 1940.
A respeito dessa época disse
Rodrigo Melo Franco de Andrade, no álbum de reproduções da obra de Guignard
lançado pela Ediarte (GB) em 1967:
“Quando Guignard voltou da Europa,
para onde tinha ido menino, só regressando com mais de trinta anos, redescobriu
o Brasil, tomado de uma ternura e de uma admiração comovidas que conservou até
seus últimos dias. Toda a obra que produziu, desde então, ficou impregnada da
emoção e da poesia sentidas naquele reencontro com a terra natal (...) O Brasil
que se deparava ao recém-chegado vivia, por sua vez, a véspera de vastas alterações
na estrutura nacional, embora de proporções muito menos dramáticas. Eram os
últimos dias da República Velha, cuja agonia medíocre começou logo a sua vista,
sucedida pelos sobressaltos da instalação do novo regime, confuso e até hoje
expectante. No entanto, aquilo que impressionava Guignard não eram as
ocorrências econômicas, sociais e políticas em desenvolvimento no país,
fenômenos para ele como inexistentes. O que contemplava a apreendia eram os
aspectos empolgantes ou comovedores da terra em que tinha nascido, os traços
expressivos de sua população, o pitoresco das cidades grandes e pequenas, as
peculiaridades da vegetação e dos acidentes naturais, o colorido das flores”.
EM 1944 o então prefeito de Belo
Horizonte, Juscelino Kubitschek de Oliveira convidou Guignard a orientar e
dirigir um Curso Livre de desenho e Pintura. Nesta época lecionava no Rio de
janeiro na antiga Universidade do Distrito Federal e na Fundação Osório.
Concordou em se transferir e teve
oportunidade de orientar entre vários de seus alunos no Rio e em Minas, Marília
Gianetti Torres, Amilcar de Castro, Maria Helena Andrés e Mário Silésio. Ao lado a obra Vista de Sabará.
Segundo alguns, estudiosos de sua
obra é como paisagista que ele assume a mais alta importância sobretudo nas
séries do Jardim Botânico (início de sua permanência no Rio) e Itatiaia (fins
da década de 30 e começos da seguinte), Lagoa Santa, Sabará e Ouro Preto. São
muito apreciadas as vistas da antiga Vila Rica, em noites de São João, com o
céu coalhado de balões coloridos, onde sua imaginação torna-se grandiosa. Dizem
outros, que um curioso segmento de sua obra, até hoje pouco pesquisado e
estudado, consiste nas chamadas pinturas musicais, executadas ainda no Rio, sob
a inspiração da música dos mestres, por vezes beirando ao abstracionismo. Coube
a ele a revitalização da pintura religiosa no Brasil e era dotado de excelente
técnica, pintando em camadas finais, que se sucediam umas sobre as outras, à
maneira dos antigos. Sua pintura, é preferencialmente lisa, sem empaste.
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