Translate

terça-feira, 18 de setembro de 2012

JULGAMENTO E EXECUÇÃO - 15 de FEVEREIRO DE 1982.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 15 DE FEVEREIRO DE 1982.

            JULGAMENTO E EXECUÇÃO


Critiquei com insistência a maneira como a administração de Mário Kertész tinha escolhido a temática e os artistas para decorar Salvador durante o Carnaval de 1981.Fui o primeiro a levantar o problema, tendo inclusive pago um preço caro por esta firme posição. Aplaudi este ano quando a Prefeitura abriu a concorrência pública para a escolha da decoração, e fiquei desapontado porque apenas três projetos concorreram. Convidado a integrar a Comissão Julgadora através do presidente da Associação Baiana de Imprensa, Afonso Maciel Neto, tive o cuidado de examinar detalhadamente os projetos concorrentes. Escolhi aquele que achei que melhor estava identificado com o espírito baiano, “Esperando a Copa” e juntamente com meus colegas de júri fizemos algumas recomendações que deveriam ter sido obedecidas pelas pessoas envolvidas na execução do projeto. Estou surpreso. Não levaram nada em consideração e ainda por cima mutilaram o projeto aprovado. Ou seja, não estão nem cumprindo o que se propuseram.
A Rua Carlos Gomes, por exemplo, deveria, de acordo com o projeto aprovado a ser totalmente decorada com gambiarras e estruturas aéreas. Estou sabendo que exigiram mais CR$3 milhões para decorá-la. Ora, isto e uma aberração e uma postura que não condiz com a seriedade. A informação me foi confirmada pela Secretaria de Comunicação da Prefeitura, através de pessoa altamente categorizada. Fico, portanto perplexo com a distância entre julgamento e execução. Chego à triste conclusão que hoje em dia nem mesmo “o preto no branco”, ou seja, a coisa escrita em letras de forma não é mais respeitada.
Também a justificativa de que os executores tinham desobedecido à recomendação de substituir a estrutura que representa a Taça Jules Rimet pela taça que está sendo disputada, é boba e não convence. É bobagem do Sr. Dantas dizer que o desenho da Jules Rimet é mais difícil. Não, a nova taça é uma complicada composição plástica representando algumas figuras humanas e mais difícil de ser representada no plano. O que existiu foi falta de informação por parte dos executores. Basta dizer que foi A TARDE quem forneceu fotos da Taça Jules Rimet, que vieram buscar em cima da hora. Procuraram a outra taça e as fotos ou radiofotos existentes não servirem para ser copiadas.
Finalmente, a Comissão recomendou que houvesse uma preocupação em dar uma unidade plástica ao conjunto de peças, ou sejam, as estruturas fixas, aéreas e coretos, e mostrou que os coretos estavam projetados sem quase decoração, que existiam estruturas aéreas totalmente desintegradas do conjunto. Não tenho acompanhado a execução e creio se as recomendações ou reajuste plásticos não estiverem sendo obedecidos. NÃO FOI ESTE O PROJETO VENCEDOR! Estão impingindo um projeto capenga e, portanto, que está fora da minha responsabilidade como membro da Comissão Julgadora. Falo em meu nome pessoal, porque não procurei os demais colegas para endossar ou não o meu alerta. Aqui faço mostrando a distância entre julgamento e execução e que às vezes o simples fato de ter havido concorrência não basta.
Gritaram porque não foram beneficiados no Carnaval passado e agora deixam margem a estas críticas, as quais não gostaria de ser obrigado a exercer. Voltarei ao assunto.

               O PROTESTO DOS ARTISTAS

Quando se cria uma obra de arte se deposita nela fatores técnicos que não podem ser manipulados por qualquer pessoa sob pena de contribuir para uma má composição. Os fatores existentes mantêm entre si uma relação de importância, unidade e força perceptual, não podemos ser substituída ou alterada (os elementos utilizados são insubstituíveis). Mas, ao que parece não é compreendido ou levado a sério.
O esclarecimento é da Associação dos Artistas Plásticos da Bahia a respeito da polêmica criada em função de alguns elementos de composição (a foice e o martelo da bandeira da União Soviética) utilizados para a decoração do Carnaval /82. “Testemunhamos recentemente a polêmica sobre a exclusão e depois inclusão do elemento utilizado no contexto compositivo no aprovado projeto do Carnaval da cidade e sua fase de confusão”, lembra e entidade acrescentando que o fato só veio mostrar mais uma vez”a freqüência de leigos interferindo, opinando e selecionando o bom e o mau trabalho e o bom e o mau artista, na escolha dos interessados, interessantes artistas para representar a classe nos salões, museus e comemorações; nas indicações de amigos dos amigos para execução de murais em obras públicas federais, estaduais e municipais”.
A Associação dos Artistas Plásticos da Bahia busca, nesse momento conforme ressalta “valorizar o artista e nos bastidores trabalha dia a dia no estudo e na pesquisa de instrumentos que possa contribuir para o engrandecimento da arte”. Mas adiante afirma que o poder não pode ser simplesmente administrativo. Deve antes de tudo ser democrático, representativo e extensivo a todas as classes e a todas as pessoas:
Esses artistas merecem oportunidade e reconhecimento de todos que se preocupam com o processo e desenvolvimento da arte da Bahia. Que esses artistas tenham o direito de criar livremente e participar dos propósitos e projetos visuais da cidade e que o povo tenha um Carnaval feliz e tranqüilo, independente da infantil polêmica conclui.

SENEGALESES VÃO EXPOR NO MUSEU DE ARTE MODERNA

Uma exposição das criações mais expressivas dos artistas plásticos representativos do Senegal, será aberta a partir do dia 2 de março, no Museu de Arte Moderna da Bahia -Solar do Unhão. Pintura a óleo, nanquim, guache, pintura sobre vidro, gravura em metal e tapeçaria representando as forças espirituais do seu povo, do seu país de maioria negra, que vive um pleno renascimento das artes num conjunto de acontecimentos históricos e culturais, especialmente o despertar de energias adormecidas e a redescoberta da fonte de identidade coletiva comum à arte senegalesa.
Os artistas senegaleses contemporâneos mostram, cada em seu estilo absolutamente pessoal, uma forma de apreender o mundo. Sem classificação num gênero figurativo ou abstrato, o conjunto de suas obras está impregnado de uma certa mitologia cujas raízes profundas foram definidas na linguagem psiquiátrica como inconsciente coletivo. Não se imita a natureza, interpreta-se, desloca-se essa natureza. Expressa no grafismo hiperbólico ou numa linguagem incolor e de curvas entrelaçadas, o que nasce, se transforma e não morre, no interior insensível para o profano deste vasto arranjo animista onde se desenvolvem as seqüências cósmicas da simbiose deuses-homem vegetal-animal mineral-espaço.
Expressando essa total integração com a natureza está a maioria dos artistas senegaleses. Nessa exposição representativa do Senegal aqui na Bahia, trabalhos de Amadou Ba, Samba Balde, Bedara Câmara, Theodore Diouf, Doudou Sylla, Mamadou Seck, Babacar Seye, Cherif Tham, entre tantos outros. No total são 41 criações artísticas, que muito representam o Senegal e são importantes para o Brasil, especialmente para a Bahia, pela forte influência da cultura negra na formação da vida cultural do nosso povo.

                 ARTE PARA VIVER MAIS E MELHOR

A representatividade da arte negra é ilimitada. Num colóquio sobre arte negra, em abril de 1966, o poeta, chefe de Estado Lépold Senghor disse: “O escravo pertence ao passado. Hoje em dia, no Senegal, para tomar um exemplo atual, a nova arte nacional enraizada no basalto negro do Cabo Verde, torna-se novamente neste lugar de encontro que é Dakar, onde afluem imagens, idéias e todo o pólen do mundo. È também a arte negra que, salvando-nos do desespero, fortalece nosso desenvolvimento econômico e social em nossa teimosia por viver. São nossos poetas, narradores e romancistas, nossos cantores e dançarinos, nossos pintores e escultores, nossos músicos”.
“Mesmo que pintem violentas abstrações místicas ou a nobre elegância das cortes de amor ou que esculpam o leão nacional ou monstros incríveis, que dancem o Plano de Desenvolvimento ou que cantem a diversificação de culturas, os artistas senegaleses contemporâneos nos ajudam a vier hoje em dia mais e melhor. Viver mais é viver mais intensamente, fortalecendo a maior tensão própria do rosto norte-sudanês da civilização negro-africana, viver melhor para resolver os problemas concretos que condicionam nosso futuro”.

        TRABALHO É O TEMA DA MOSTRA DE FOTOGRAFIAS

Até o dia 1º de março de 82 os fotógrafos, amadores ou profissionais, podem enviar os seus trabalhos para a próxima exposição coletiva da Galeria de Fotografia da Funarte, cujo tema escolhido é o trabalho. A mostra será inaugurada no dia 29 de abril e ficará até 28 de maio, de 2ª. A 6ª. Feira, das 10:30 às 19 horas.
Cada fotógrafo deve enviar o mínimo de 3 e um máximo de 5 fotos para o Núcleo de Fotografia da Funarte Rua Araújo Porte Alegre, 80 Centro rio de Janeiro CEP 20.030 Tel. 3262-5422 R. 15. Os trabalhos devem ter o tamanho máximo de 28 cm para as fotos quadradas e até 36cm para as fotos retangulares, em cor ou preto e branco. Cada original deve ser acompanhado de duas cópias 18x24, em papel brilhante e em preto e branco, para impressão do catálogo da exposição e para divulgação na imprensa.
As fotos para exposição devem datar de 1960 para cá e podem ser ampliadas em qualquer papel plano, com ou sem margem, mas não devem ser montadas. Deverão trazer no verso etiquetas com o nome do autor, endereço e telefone. Para evitar estrago, as fotos devem ser embaladas com papelão protetor e a Funarte não se responsabilizará por qualquer dano ou extravio do material antes de chegar à coordenação do núcleo.
Ao remeter o trabalho, o autor concorda em ceder o material selecionado para ser publicado no caderno, Mostra de Fotografia, catálogo com a reprodução da exposição, impresso em offset, papel couché e tiragem de três mil exemplares. O caderno será vendido pela Funarte e o resultado da venda será reinvestido na edição de outros catálogos. Os fotógrafos cujos trabalhos forem escolhidos, terão os direitos autorais pagos em forma de catálogos.
As fotos expostas farão parte do acervo da Funarte e sua utilização para outros fins só será concretizada com a prévia autorização do autor. A galeria não tem cunho comercial, mas o fotógrafo que desejar vender a sua produção, poderá fazê-lo diretamente, sem precisar pagar qualquer comissão à galeria. O material não selecionado estará disposição para consulta na galeria e só será devolvido após o encerramento da exposição.


Nenhum comentário:

Postar um comentário