JORNAL A TARDE, SALVADOR, TERÇA-FEIRA, 15 DE FEVEREIRO DE
1982.
JULGAMENTO E EXECUÇÃO
Critiquei com insistência a maneira como a administração de Mário Kertész tinha escolhido a temática e os artistas para decorar Salvador durante o Carnaval de 1981.Fui o primeiro a levantar o problema, tendo inclusive pago um preço caro por esta firme posição. Aplaudi este ano quando a Prefeitura abriu a concorrência pública para a escolha da decoração, e fiquei desapontado porque apenas três projetos concorreram. Convidado a integrar a Comissão Julgadora através do presidente da Associação Baiana de Imprensa, Afonso Maciel Neto, tive o cuidado de examinar detalhadamente os projetos concorrentes. Escolhi aquele que achei que melhor estava identificado com o espírito baiano, “Esperando a Copa” e juntamente com meus colegas de júri fizemos algumas recomendações que deveriam ter sido obedecidas pelas pessoas envolvidas na execução do projeto. Estou surpreso. Não levaram nada em consideração e ainda por cima mutilaram o projeto aprovado. Ou seja, não estão nem cumprindo o que se propuseram.
A Rua Carlos Gomes, por exemplo, deveria, de acordo com o
projeto aprovado a ser totalmente decorada com gambiarras e estruturas aéreas.
Estou sabendo que exigiram mais CR$3 milhões para decorá-la. Ora, isto e uma
aberração e uma postura que não condiz com a seriedade. A informação me foi
confirmada pela Secretaria de Comunicação da Prefeitura, através de pessoa
altamente categorizada. Fico, portanto perplexo com a distância entre
julgamento e execução. Chego à triste conclusão que hoje em dia nem mesmo “o
preto no branco”, ou seja, a coisa escrita em letras de forma não é mais
respeitada.
Também a justificativa de que os executores tinham
desobedecido à recomendação de substituir a estrutura que representa a Taça
Jules Rimet pela taça que está sendo disputada, é boba e não convence. É
bobagem do Sr. Dantas dizer que o desenho da Jules Rimet é mais difícil. Não, a
nova taça é uma complicada composição plástica representando algumas figuras
humanas e mais difícil de ser representada no plano. O que existiu foi falta de
informação por parte dos executores. Basta dizer que foi A TARDE quem forneceu
fotos da Taça Jules Rimet, que vieram buscar em cima da hora. Procuraram a
outra taça e as fotos ou radiofotos existentes não servirem para ser copiadas.
Finalmente, a Comissão recomendou que houvesse uma
preocupação em dar uma unidade plástica ao conjunto de peças, ou sejam, as
estruturas fixas, aéreas e coretos, e mostrou que os coretos estavam projetados
sem quase decoração, que existiam estruturas aéreas totalmente desintegradas do
conjunto. Não tenho acompanhado a execução e creio se as recomendações ou
reajuste plásticos não estiverem sendo obedecidos. NÃO FOI ESTE O PROJETO
VENCEDOR! Estão impingindo um projeto capenga e, portanto, que está fora da
minha responsabilidade como membro da Comissão Julgadora. Falo em meu nome
pessoal, porque não procurei os demais colegas para endossar ou não o meu
alerta. Aqui faço mostrando a distância entre julgamento e execução e que às
vezes o simples fato de ter havido concorrência não basta.
Gritaram porque não foram beneficiados no Carnaval passado e
agora deixam margem a estas críticas, as quais não gostaria de ser obrigado a
exercer. Voltarei ao assunto.
O PROTESTO DOS ARTISTAS
Quando se cria uma obra de arte se deposita nela fatores
técnicos que não podem ser manipulados por qualquer pessoa sob pena de
contribuir para uma má composição. Os fatores existentes mantêm entre si uma
relação de importância, unidade e força perceptual, não podemos ser substituída
ou alterada (os elementos utilizados são insubstituíveis). Mas, ao que parece
não é compreendido ou levado a sério.
O esclarecimento é da Associação dos Artistas Plásticos da
Bahia a respeito da polêmica criada em função de alguns elementos de composição
(a foice e o martelo da bandeira da União Soviética) utilizados para a
decoração do Carnaval /82. “Testemunhamos recentemente a polêmica sobre a
exclusão e depois inclusão do elemento utilizado no contexto compositivo no
aprovado projeto do Carnaval da cidade e sua fase de confusão”, lembra e
entidade acrescentando que o fato só veio mostrar mais uma vez”a freqüência de
leigos interferindo, opinando e selecionando o bom e o mau trabalho e o bom e o
mau artista, na escolha dos interessados, interessantes artistas para
representar a classe nos salões, museus e comemorações; nas indicações de
amigos dos amigos para execução de murais em obras públicas federais, estaduais
e municipais”.
A Associação dos Artistas Plásticos da Bahia busca, nesse
momento conforme ressalta “valorizar o artista e nos bastidores trabalha dia a
dia no estudo e na pesquisa de instrumentos que possa contribuir para o
engrandecimento da arte”. Mas adiante afirma que o poder não pode ser simplesmente
administrativo. Deve antes de tudo ser democrático, representativo e extensivo
a todas as classes e a todas as pessoas:
Esses artistas merecem oportunidade e reconhecimento de
todos que se preocupam com o processo e desenvolvimento da arte da Bahia. Que
esses artistas tenham o direito de criar livremente e participar dos propósitos
e projetos visuais da cidade e que o povo tenha um Carnaval feliz e tranqüilo,
independente da infantil polêmica conclui.
SENEGALESES VÃO EXPOR NO MUSEU DE ARTE MODERNA
Uma exposição das criações mais expressivas dos artistas
plásticos representativos do Senegal, será aberta a partir do dia 2 de março,
no Museu de Arte Moderna da Bahia -Solar do Unhão. Pintura a óleo, nanquim,
guache, pintura sobre vidro, gravura em metal e tapeçaria representando as
forças espirituais do seu povo, do seu país de maioria negra, que vive um pleno
renascimento das artes num conjunto de acontecimentos históricos e culturais,
especialmente o despertar de energias adormecidas e a redescoberta da fonte de
identidade coletiva comum à arte senegalesa.
Os artistas senegaleses contemporâneos mostram, cada em seu
estilo absolutamente pessoal, uma forma de apreender o mundo. Sem classificação
num gênero figurativo ou abstrato, o conjunto de suas obras está impregnado de
uma certa mitologia cujas raízes profundas foram definidas na linguagem
psiquiátrica como inconsciente coletivo. Não se imita a natureza,
interpreta-se, desloca-se essa natureza. Expressa no grafismo hiperbólico ou
numa linguagem incolor e de curvas entrelaçadas, o que nasce, se transforma e
não morre, no interior insensível para o profano deste vasto arranjo animista
onde se desenvolvem as seqüências cósmicas da simbiose deuses-homem
vegetal-animal mineral-espaço.
Expressando essa total integração com a natureza está a
maioria dos artistas senegaleses. Nessa exposição representativa do Senegal
aqui na Bahia, trabalhos de Amadou Ba, Samba Balde, Bedara Câmara, Theodore
Diouf, Doudou Sylla, Mamadou Seck, Babacar Seye, Cherif Tham, entre tantos
outros. No total são 41 criações artísticas, que muito representam o Senegal e
são importantes para o Brasil, especialmente para a Bahia, pela forte
influência da cultura negra na formação da vida cultural do nosso povo.
ARTE PARA VIVER MAIS E MELHOR
A representatividade da arte negra é ilimitada. Num colóquio
sobre arte negra, em abril de 1966, o poeta, chefe de Estado Lépold Senghor
disse: “O escravo pertence ao passado. Hoje em dia, no Senegal, para tomar um
exemplo atual, a nova arte nacional enraizada no basalto negro do Cabo Verde,
torna-se novamente neste lugar de encontro que é Dakar, onde afluem imagens,
idéias e todo o pólen do mundo. È também a arte negra que, salvando-nos do
desespero, fortalece nosso desenvolvimento econômico e social em nossa teimosia
por viver. São nossos poetas, narradores e romancistas, nossos cantores e
dançarinos, nossos pintores e escultores, nossos músicos”.
“Mesmo que pintem violentas abstrações místicas ou a nobre
elegância das cortes de amor ou que esculpam o leão nacional ou monstros
incríveis, que dancem o Plano de Desenvolvimento ou que cantem a diversificação
de culturas, os artistas senegaleses contemporâneos nos ajudam a vier hoje em
dia mais e melhor. Viver mais é viver mais intensamente, fortalecendo a maior
tensão própria do rosto norte-sudanês da civilização negro-africana, viver
melhor para resolver os problemas concretos que condicionam nosso futuro”.
TRABALHO É O TEMA DA MOSTRA DE FOTOGRAFIAS
Até o dia 1º de março de 82 os fotógrafos, amadores ou profissionais,
podem enviar os seus trabalhos para a próxima exposição coletiva da Galeria de
Fotografia da Funarte, cujo tema escolhido é o trabalho. A mostra será
inaugurada no dia 29 de abril e ficará até 28 de maio, de 2ª. A 6ª. Feira, das
10:30 às 19 horas.
Cada fotógrafo deve enviar o mínimo de 3 e um máximo de 5
fotos para o Núcleo de Fotografia da Funarte Rua Araújo Porte Alegre, 80 Centro
rio de Janeiro CEP 20.030 Tel. 3262-5422 R. 15. Os trabalhos devem ter o
tamanho máximo de 28 cm
para as fotos quadradas e até 36cm para as fotos retangulares, em cor ou preto
e branco. Cada original deve ser acompanhado de duas cópias 18x24, em papel
brilhante e em preto e branco, para impressão do catálogo da exposição e para
divulgação na imprensa.
As fotos para exposição devem datar de 1960 para cá e podem
ser ampliadas em qualquer papel plano, com ou sem margem, mas não devem ser
montadas. Deverão trazer no verso etiquetas com o nome do autor, endereço e
telefone. Para evitar estrago, as fotos devem ser embaladas com papelão
protetor e a Funarte não se responsabilizará por qualquer dano ou extravio do
material antes de chegar à coordenação do núcleo.
Ao remeter o trabalho, o autor concorda em ceder o material
selecionado para ser publicado no caderno, Mostra de Fotografia, catálogo com a
reprodução da exposição, impresso em offset, papel couché e tiragem de três mil
exemplares. O caderno será vendido pela Funarte e o resultado da venda será
reinvestido na edição de outros catálogos. Os fotógrafos cujos trabalhos forem
escolhidos, terão os direitos autorais pagos em forma de catálogos.
As fotos expostas farão parte do acervo da Funarte e sua
utilização para outros fins só será concretizada com a prévia autorização do
autor. A galeria não tem cunho comercial, mas o fotógrafo que desejar vender a
sua produção, poderá fazê-lo diretamente, sem precisar pagar qualquer comissão
à galeria. O material não selecionado estará disposição para consulta na
galeria e só será devolvido após o encerramento da exposição.
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