JORNAL A TARDE , SALVADOR, 15 DE
JUNHO DE 1980
O CRESCIMENTO DA FOTOGRAFIA COMO
ARTE
Esta foto é de autoria do fotógrafo Juvenal Pereira |
Recentemente,
um fato inédito ocorreu durante um dos leilões promovidos pela Sotheby Parke
Bernet’s, templo consagrado na venda de quadros e esculturas de alta qualidade
a preços altos.
Uma
fotogravura de autoria do falecido fotógrafo Alfred Stieglitz foi rematada por
4.500 dólares, preço habitualmente alcançado apenas por quadros de qualidade.
Este
exemplo serve para argumento forte contra aqueles que, teimosamente, insistem
em colocar a fotografia como a prima pobre da arte. Os fatos e a multiplicação
de exposições, muitas com sucesso internacional e nacional, também demonstram
que a fotografia começa a ser encarada com mais seriedade no campo da arte. O
mercado de fotografias antigas aumentou de maneira irrefutável, e eu mesmo tive
oportunidade de verificar na viagem que fiz aos Estados Unidos, onde encontrei
várias galerias vendendo fotografias e museus expondo-as. Esta nova posição
conquistada pelos fotógrafos, em todo o mundo, está provocando mudanças em
conceitos emitidos por diversas pessoas que viam a fotografia como uma arte
menor.
Fotografar
não é apenas apontar a máquina e acionar o botão. E preciso ter muita
sensibilidade para conseguir captar toda a atmosfera que envolve o objeto
fotografado.
E
preciso saber o momento exato de acionar a máquina e, também, os instrumentos a
serem utilizados. E verdade também que a fotografia desde seus primórdios, vem
fixando em imagens as culturas, a história e o próximo ser humano, com
resultados talvez mais satisfatórios do que qualquer outra forma de arte.
Nós,
jornalistas, dizemos que uma foto fala mais que mil palavras. Isto é correto e
tenha tido a comprovação desta afirmação todas as vezes que recebo uma foto de
boa qualidade feita por um dos fotógrafos que trabalham neste jornal.
Gosto
também de fotografar e sei quanto é difícil fazer uma foto significativa. E sou
daqueles que defendem a fotografia como uma importante forma de expressão e que
a vê como uma arte difícil e suavemente importante. Refuto àqueles que a
colocam na prateleira da insignificância. Prefiro as boas fotos que a arte
menor, feita por muitos pintores sem qualificação, que continuam insistindo em
realizar exposições.
Por
falar em fotografias, vocês não podem deixar de visitar a exposição fotográfica
que está acontecendo na Galeria da Associação Brasil- Estados Unidos – Acbeu,
no Corredor da Vitória . A mostra ficará aberta ao público até o próximo dia 20
.
PRIMEIRA
TRIENAL
Inaugura-se,
em 17 de junho próximo às 19 horas a Primeira Trienal de Fotografia do MAM de
São Paulo. Grandes mostras já foram feitas por Foto Cines Clubes, Salões; houve
também exposições importantes de fotógrafos de renome, mas é a primeira vez que
um Museu de Artes Plásticas no Brasil toma a iniciativa de criar uma Trienal de
Fotografia de âmbito nacional.
Considerou-se
o papel de elevado interesse que a fotografia vem assumindo em centros
culturais mais desenvolvidos e, contando o Brasil e especialmente São Paulo;
Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre, com profissionais de grande seriedade e
amadores da fotografia de excelente nível, achou fotografia de excelente nível,
achou o MAM que o momento é mais do que adequado e nasce assim a Primeira
Trienal de Fotografia do MAM de São Paulo.
Com
sugestões e observações em geral, obterá o MAM um aperfeiçoamento maior nas
próximas trienais.
Para
assegurar o nível da programação, o MAM convidou um certo número de fotógrafos
de prestígio e abriu inscrições a todos interessados em participar. Como
pode ser notado pelo regulamento, as normas estabelecidas não são rigorosas.
Deu-se
o máximo de elasticidade quanto á temática e a dimensão dos trabalhos.
Exigiu-se
unidade plástica, temática ou conceitual. Nas próximas trienais, novos
critérios poderão ser estudados.
A
seleção dos inscritos foi feita por um júri constituído por cinco membros: três
convidados e dois da Comissão de Arte do Museu. Cláudio Kubrusly, fotógrafo
profissional, Moacyr R. de Oliveira, crítico e titular da seção de fotografia
do Jornal da Tarde de São Paulo, Zeka Araújo, coordenador do setor de
fotografia da Funarte do Rio de Janeiro, Fábio Magalhães, artista, professor da
FAU PUCC e FAU Mackenzie, e diretor da Pinacoteca do Estado de São Paulo, e
Fernando Lemos, jornalista, editor de “Artes Visuais” da Folha de São Paulo. Os
dois últimos nomes são membros da Comissão de Arte do MAM.
Esta foto integra a exposição organizada pela Acbeu |
Inscreveram-se
cerca de 150 candidatos, de todo o
Brasil e foram selecionados os trabalhos de 43 fotógrafos: André de Souza Rosa,
Penna Prearo, Berenice Toledo, Bernando Alps, Bruno Scharfstein, Camila Butcher,
Carlos Edmundo Fadon Vicente, Carlos Henrique do Souto, Cláudio Pulhesi,
Cláudio Tozzi, Clóvis Vieira Loureiro Jr., Eduardo Maugeri Chaubet, Emídio
Luisi, Fàbio de Mesquita Sampaio, Fernanda Cintra Pimentel, Flávia Bocciarelli,
Gerson Zanini, Heloísa Helena Fernandes (Hélô), Hugo Sgawa, Humberto Cezar
Menescal Sampaio, João Baptista Alves Costa Spínola, João Carlos Otta, José
Carlos Bisconcini Gama, Juan Pratgnistós, Júlio Bernardes, Júlio Covello,
lamberto Scipioni, Léo Kocinas, Leonardo Tiozo Hatanaka, Lóris Zanotta Machado,
Marcos Bonissom, Mário Belloni Jr., Maurício Valadares, Mauro Holanda, Osmar
Vilar de Melo, Pedro Vasquez, Regina Bittencourt, Rolan Fernandes Pimenta,
Sérgio Bianchi, Solange de Moraes Curi, Vera Lúcia Albuquerque, Vivian Gottheim,
Walter Carvalho.
Participarão,
além destes, 28 convidados: Ameris Paolini; Ana Helena Mariani, Britta
Pimentel; Domício Pinheiro, Dulce Carneiro, Dulce Soares, Francisco
Albuquerque, George Racz, Heitor Magaldi Filho, Hildegard Rosental, João Urban,
Jober Brochado da Costa, Júlio Abe Wakahara, Juvenal Pereira, Kim Ir Sem Pires
Leal, Leonid Streliaev, Luiz Carlos Felizardo, Luiz Trípoli, Madalena Schwartz,
Mazda Perez, Miguel Rio Branco, Milton Guran, Orlando Britto, Pedro Martinelli,
Pierre Verger, Ricardo Chaves, Roberto Maia, Sérgio Sade.
Estão
representados, assim, trabalhos de fotógrafos dos estados de: São Paulo,
Brasília, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia, Minas Gerais,
Ceará, Maranhão.
O
júri de seleção e premiação outorgou o prêmio “1ª trienal de Fotografia do MAM
de São Paulo” a Miguel Rio Branco, do Estado de São Paulo.
Os
cinco prêmios de Aquisição foram destinados a Ana Helena Mariani, de São Paulo,
Carlos Henrique do Souto, de São Paulo, orlando Britto, de Brasília, Vera Lúcia
Albuquerque, de São Luiz do Maranhão e Leonardo Tiozo Hatanaka, de São Paulo.
LYGIA
MILTON NA KÁTIA GALERIA
Uma
das maiores expressões da arte feita na Bahia volta a expor, desta vez na Kátia
Galeria de Arte. Trata-se da artista Lygia Milton cujo catálogo apresenta
opiniões de várias pessoas ligadas ao movimento artístico, inclusive algumas
palavras que escrevi sobre sua obra.
Dizia
eu que Lygia é a pintora do silêncio. E seria alguém capaz de pintar o
silêncio, isto é transferir para a tela toda a atmosfera que envolve um lugar
silencioso? Se alguém me fizesse esta pergunta eu acertaria: Lygia Milton. Ela
consegue, com suas linhas retas e com horizontes longínquos, traduzir todo o
silêncio que poderíamos encontrar numa rua, numa casa ou numa sala.
Uma
pintura que deixa o observador tranqüilo e descansado. O que chamo a atenção é
que as figuras escolhidas por Lygia se encaixam perfeitamente àquela ambiência
do silêncio.
Acrescentaria,
hoje, que a obra de Lygia mostra um pouco de contraste com a sua personalidade
alegre e descontraída. Para quem não a conhece pode imaginar que trata-se de
uma pessoa introvertida, que fala pouco e evita um contato com gente. Ao
contrário, Lygia é uma pessoa aberta, alegre e que gosta de conhecer coisas e
gente. E Jorge Amado, falando também sobre sua obra, disse que ao falar dessa
pintora é necessário e exato dizer-se que ela não se conformou com o sucesso
inicial, ao talento instintivo buscou somar a pesquisa de novas tendências,
dando dimensão mais ampla ao traço e à cor com que resguarda a nossa
fisionomia, a lembrança das casas e da vida. Sua exposição será aberta no
próximo dia 19, às 21 horas, e deverá ser vista por todos aqueles que gostam de
arte.
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