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sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

UM CENTRO DE CULTURA POPULAR NO VELHO FORTE DE SANTO ANTÔNIO - 02 DE MARÇO DE 1980


JORNAL A TARDE  DOMINGO, 02 DE MARÇO DE 1980

UM CENTRO DE CULTURA POPULAR NO VELHO 
FORTE DE SANTO ANTÔNIO

O imponente forte colonial onde funcionou a Casa de Detenção,
antes da reforma.
O Forte de Santo Antônio Além do Carmo sofrerá, a partir do segundo semestre deste ano, restauração e adaptação para abrigar o Centro de Cultura popular da Bahia. A proposta foi discutida pelo diretor executivo da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural, Vivaldo da Costa Lima, com o prefeito da Cidade do salvador, Mário Kertész, de quem recebeu autorização e promessa de apoio.
Os técnicos da Fundação do Patrimônio concluem o projeto de restauração e adaptação do Forte para encaminhá-lo ao escritório da SEPLAN em Recife, com a segurança de que o Programa de reconstrução das Cidades históricas do Nordeste assegurará 80% dos recursos necessários a obra. A Fundação prevê para setembro o início da recuperação no Forte.

TOMADA DE POSIÇÃO
Alguns estados nordestinos destinaram suas antigas Casas de Detenção para centros comerciais de artesanato. Assim, fizeram Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. A proposta baiana, desenvolvida pelo sociólogo Vicente Deocleciano Moreira, Coordenador de Planejamento e Pesquisa da Fundação do Patrimônio, é quase exceção, porque é uma “tomada de posição face o estado de abandono institucional e a falta de publicações e estudos científicos (e não apenas literários e folclóricos) sobre a cultura popular brasileira”.
Planta baixa do Forte
O Anteprojeto para Ocupação Social do Forte de Santo Antônio de autoria de Vicente Moreira e Jefferson Afonso Bacellar, lembra que em 1963 o arquiteto Lina Bardi planejou o Museu de Arte Popular no Unhão. A concepção do idealizador previa o funcionamento do museu como universidade popular, com oficinas experimentais, auditório, biblioteca... “entretanto a concretização desse trabalho, fruto da obstinação de seu idealizador e de alguns estudiosos baianos, foi malograda”. O Centro de Cultura popular da Bahia será, enfim, a universidade popular prevista em 1963.
Os autores referem-se aos trabalhos realizados em Minas e São Paulo, quando avaliaram se o sobrenatural brasileiro ainda exerce influência sobre o comportamento das crianças de hoje; constatam que os monstros e demônios brasileiros estão condenados ao desaparecimento, pois mais temerosos são os monstros e demônios criados e bem alimentados pelo avanço tecnológico e pela urbanização crescente, um prejuízo para a cultura popular.
Ressaltam o valor da campanha nacional em defesa do folclore, a iniciativa da Universidade Federal de Pernambuco de montar uma biblioteca especializada em cordel e o trabalho da Universidade Regional do Nordeste que recolhe lameiros de caminhão para compor o acervo de seu Museu de Artes Plásticas. Os autores salientam a pretensão do MEC para criar o “ballet” popular brasileiro e aconselham que “a Bahia deve participar do movimento em favor a cultura popular, e para tanto é imperativo a criação de um centro de atividades culturais e de lazer, responsável pelo estudo científico e exibição pública dos variados aspectos da cultura popular”.

Foto atual ( Google) do Forte de Santo Antônio reformado
FUTURO DO FORTE

O Forte de Santo Antônio Além do Carmo foi edificado no século XVII, em posição estratégica e dominante sobre o mar, tendo por finalidade a defesa de Salvador. As lutas contra os holandeses dão conta de sua importância histórica e arqueológica.
Com o passar dos anos, sofreu diversas modificações e reformas, sendo que no início do século XIX já não tinha utilidades para fins bélicos, devido ao estado precário em que se encontrava. Em 1830, a Secretaria do Estado dos Negócios da Justiça transforma a fortaleza em Casa de Correção. Posteriormente, nome foi mudado para Casa de Detenção. Hoje, o Forte aguarda a restauração e ocupação pelo Centro de Cultura Popular.
Tornara-se inadimissível a permanência da Casa de Detenção em um bairro próximo ao Centro da cidade.
Todavia a transferência dos presidiários do Forte não trará maiores impecilhos à continuidade da Festa do Divino, no que se refere ao ato de liberação do detento pelo Imperador-menino, porquanto, na ocasião da festa, os organizadores da mesma encontrarão os meios para a transferência do preso para o Forte e a cerimônia será realizada como de costume.
Em breve, o Forte terá em seu interior um tablado e arquibancadas desmontáveis para permitir a realização de espetáculos folclóricos, shows de música popular e apresentação e violeiros, danças e repentistas. Haverá uma biblioteca especializada em cultura popular, com salão de leitura, uma discoteca, uma filmoteca, uma iconoteca de objetos de origem popular e um salão de exposições de artesanato dos presidiários, artesanato indígena, cerâmica popular, bebidas e aperitivos típicos, doçaria não industrializada e ervas, chás e outros medicamentos da medicina popular.

OBJETIVOS DO CENTRO

 Afinal, quais os objetivos do Centro de Cultura?
  1. centro de estudos sócio-antropológicos, artísticos e históricos sobre cultura popular em suas diversas manifestações, possibilitando a sistematização de estudos relativos a estas manifestações e assim proporcionando meios para uma atitude científica.
  2. ponto de lazer e recreação, através de montagem de espetáculos de cultura popular brasileira.
  3. centro de informações didáticas sobre cultura popular, mediante o emprego de recursos áudio visuais modernos.
  4. elemento de apoio ás manifestações populares ligadas ao bairro de santo Antônio.
  5. cursos livres sobre cultura popular.
  6. torneios de jogos populares.
 O Centro de Cultura Popular da Bahia terá como público os baianos e os turistas, não se dedicando em particular à população das áreas que a Fundação do Patrimônio interfere, sua instalação no Forte de Santo Antônio Além do Carmo obedece a filosofia do Programa de Reconstrução das Cidades Históricas, segundo a qual, os monumentos restaurados deverão abrigar atividades turísticas, favorecendo, contudo, a preservação dos valores artísticos e culturais ( Luís Guilherme Tavares).

GRANDES MUSEUS COM QUADROS FALSOS 
DO MESTRE TICIANO
Ticiano, auto-retrato, 1567

Alguns dos mais importantes museus do mundo, como o Louvre, de Paris, e o Metropolitan Museum, de Nova Iorque, possuem quadros falsos de Ticiano, um dos grandes pintores da Escola Veneziana, no século 16.
A descoberta das obras falsificadas foi feita pelo historiador de arte e Vice-curador do Museu Prussiano de Berlim, Peter Dreyer, segundo revelou a revista artística alemã Pantheon.
Uma das obras classificadas como falsas por Dreyer é a Paisagem de Floresta, comprada pelo Metropolitan Musseum, de Nova Iorque, em 1908. A tela, vendida num leilão da Galeria Christie, de Londres, foi descrita pelo Jornal “Times” como a mais famosa paisagem pintada por Ticiano.
No Louvre há duas obras falsas e na Galeria Nacional da Escócia há uma paisagem, também falsificada. No Christ Church College, de Oxford, foram descobertas mais duas telas falsificadas de Ticiano e no Stadeisches Kustinstitut, de Frankfurt, mais uma.
Dreyer acredita que as falsificações foram obras de um empregado de uma tipografia veneziana que tinha acesso as pranchas de madeira usadas para imprimir as obras de Ticiano, no século16. O falsificador se utilizava de alguns trechos dessas pranchas e depois ampliava os traços, imitando o mestre.
Dreyer fez sua descoberta, ao examinar a paisagem a coleção do Museu de Frankfurt. O especialista alemão descobriu que a paisagem era semelhante a uma outra usada como fundo numa famosa xilogravura de Ticiano, a Natividade. Nesse quadro de Ticiano, a paisagem é encoberta pelas figuras da natividade, A Sagrada Família, A Vaca, O Burrinho, e também pelo resplendor que irradia da manjedoura, onde está o Menino Jesus. Examinando cuidadosamente a falsificação, Dreyer descobriu onde tinham sido prolongados os traços para refazer o resto da paisagem encoberta pelas figuras da natividade.
Dreyer visitou depois outros museus, examinando as peças de Ticiano, e descobriu outras falsificações.
Ticiano, cujo o nome era Ticiano Vecellio ou Vacelli, viveu de 1477 a 1576 e se distinguiu por sua arte religiosa e pela reprodução dos grandes temas da Idade Média, mas ficou também famoso por seus retratos e paisagens. Um retrato do imperador Carlos V, da Alemanha, valeu Ticiano a elevação ao grau de cavaleiro e a seus filhos o título de nobres, uma distinção muito rara para um pintor.

FRANCISCO MESSINA, OCTOGENUÁRIO, AINDA QUER ESCULPIR BAILARINAS

Recente entrevista com o escultor italiano Francisco Messina, publicada no Jornal La Stampa de Turim fala da prodigiosa vitalidade desse artista, que terá 80 anos.Diz o entrevistador, Alfredo Venturi, que Messina continua a trabalhar ativamente no seu estúdio de Milão. Em gesso prepara os esboços das suas figuras sempre ternas de bailarinas. Os gestos são clássicos e as esculturas, de grande beleza. Farei mais uma escultura em mármore diz- se minhas mãos  conseguirem ajudar-me. Se não me ajudarem nesse esforço, acrescenta, então farei a figura em bronze.
As mãos de Messina- diz Venturi- são mãos de um homem de 80 anos de idade mas mostram um vigor supreendente e isto permite apostar a favor de criações em mármore.
O escultor siciliano-milanês acaba de voltar de Munique onde se realizou uma grande exposição individual de escultura e gráfica. Sua obra- declarou Erich Steingraeber, diretor dos museus da Baviera, ao inaugurar-se essa exposição compreende um milênio de antiga tradição cultural mediterrânea. E na mesma ocasião, Hans Sedlmayr, crítico alemão estudioso da arte de Messina, disse que nas artes plásticas européias e escultor italiano tem um lugar importante.
Durante decênio, Messina modelou e esculpiu figuras segundo um gosto bem clássico e por sua vez bem moderno. Suas bailarinas são magníficas. São exemplos de beleza porque segundo o mestre “a mulher, quando dança, torna-se estupenda”.
A nota de Venturi conta que o estúdio de Messina é freqüentado há anos por um modelo fiel, Aída Accola, bailarina do Scala, mas também posaram para ele, Carla Fracci e Luciana Savignano, grandes figuras de dança internacional. Outros temas freqüentes nas esculturas de Messina são os cavalos.
“Vi-os livres nos pampas argentinos- diz Messina- e é o animal que prefiro. É famoso o seu cavalo agonizante colocado em frente à sede da Raí, em Roma. Finalmente são bem conhecidos as suas esculturas de tema religioso e algumas estátuas dedicadas a prelados ilustres, a começar por uma estátua de Pio XIII e outra do cardeal Schuster.
Lembra, na entrevista, com satisfação os seus 40 anos de ensino na Academia de Brera, onde foi professor de escultura. Lá- lembra Messina- ensinava os jovens a aprenderem errando. Eu mesmo serei várias vezes... e fui picassiano até 1928. Ensinava-os também a desenhar.
É essencial- afirma -porque a escultura é sobretudo desenho. Muito mais desenho que pintura. Porque infinitos são, numa estátua, os pontos de vista. “Por sua vez também pintura e retomou recentemente os pincéis com entusiasmo. Sente o “encanto da cor”. Mas na pintura continua a descobrir elementos da escultura de algum modo”. Debaixo da cor afirma- há volume. Por outro lado, insiste, tenho sempre presente que nas estátuas egípcias e nas gregas havia cor...
Conta o escultor na entrevista que, quando teve de deixar o seu grande estúdio de Brera, indicaram-lhe a possibilidade de instalar-se numa igreja do século XV em ruínas, que o cardeal Frederico Bornomeu mandou reconstruir no lugar de outros templos antigos. Graças a um acordo com prefeitura de Milão, Messina pôde ocupar o lugar depois de imcumbiu-se da restauração da igreja. Ele tem sido desde então o seu lugar de trabalho e de exposições permanentes. Todas as suas obras ficaram neste lugar, são xisto, no coração de Milão.

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