JORNAL A TARDE DOMINGO, 02 DE MARÇO DE 1980
UM CENTRO DE CULTURA POPULAR NO
VELHO
FORTE DE SANTO ANTÔNIO
FORTE DE SANTO ANTÔNIO
O imponente forte colonial onde funcionou a Casa de Detenção, antes da reforma. |
Os
técnicos da Fundação do Patrimônio concluem o projeto de restauração e
adaptação do Forte para encaminhá-lo ao escritório da SEPLAN em Recife, com a
segurança de que o Programa de reconstrução das Cidades históricas do Nordeste
assegurará 80% dos recursos necessários a obra. A Fundação prevê para setembro
o início da recuperação no Forte.
TOMADA
DE POSIÇÃO
Alguns estados nordestinos destinaram suas antigas Casas de Detenção para centros comerciais de artesanato. Assim, fizeram Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. A proposta baiana, desenvolvida pelo sociólogo Vicente Deocleciano Moreira, Coordenador de Planejamento e Pesquisa da Fundação do Patrimônio, é quase exceção, porque é uma “tomada de posição face o estado de abandono institucional e a falta de publicações e estudos científicos (e não apenas literários e folclóricos) sobre a cultura popular brasileira”.
Alguns estados nordestinos destinaram suas antigas Casas de Detenção para centros comerciais de artesanato. Assim, fizeram Pernambuco, Rio Grande do Norte e Ceará. A proposta baiana, desenvolvida pelo sociólogo Vicente Deocleciano Moreira, Coordenador de Planejamento e Pesquisa da Fundação do Patrimônio, é quase exceção, porque é uma “tomada de posição face o estado de abandono institucional e a falta de publicações e estudos científicos (e não apenas literários e folclóricos) sobre a cultura popular brasileira”.
Planta baixa do Forte |
Os
autores referem-se aos trabalhos realizados em Minas e São Paulo, quando
avaliaram se o sobrenatural brasileiro ainda exerce influência sobre o
comportamento das crianças de hoje; constatam que os monstros e demônios
brasileiros estão condenados ao desaparecimento, pois mais temerosos são os
monstros e demônios criados e bem alimentados pelo avanço tecnológico e pela urbanização
crescente, um prejuízo para a cultura popular.
Ressaltam
o valor da campanha nacional em defesa do folclore, a iniciativa da
Universidade Federal de Pernambuco de montar uma biblioteca especializada em
cordel e o trabalho da Universidade Regional do Nordeste que recolhe lameiros
de caminhão para compor o acervo de seu Museu de Artes Plásticas. Os autores
salientam a pretensão do MEC para criar o “ballet” popular brasileiro e
aconselham que “a Bahia deve participar do movimento em favor a cultura popular,
e para tanto é imperativo a criação de um centro de atividades culturais e de
lazer, responsável pelo estudo científico e exibição pública dos variados
aspectos da cultura popular”.
O
Forte de Santo Antônio Além do Carmo foi edificado no século XVII, em posição
estratégica e dominante sobre o mar, tendo por finalidade a defesa de Salvador.
As lutas contra os holandeses dão conta de sua importância histórica e
arqueológica.
Com
o passar dos anos, sofreu diversas modificações e reformas, sendo que no início
do século XIX já não tinha utilidades para fins bélicos, devido ao estado
precário em que se encontrava. Em 1830, a Secretaria do Estado dos Negócios da
Justiça transforma a fortaleza em Casa de Correção. Posteriormente, nome foi
mudado para Casa de Detenção. Hoje, o Forte aguarda a restauração e ocupação
pelo Centro de Cultura Popular.
Tornara-se
inadimissível a permanência da Casa de Detenção em um bairro próximo ao Centro
da cidade.
Todavia
a transferência dos presidiários do Forte não trará maiores impecilhos à
continuidade da Festa do Divino, no que se refere ao ato de liberação do
detento pelo Imperador-menino, porquanto, na ocasião da festa, os organizadores
da mesma encontrarão os meios para a transferência do preso para o Forte e a
cerimônia será realizada como de costume.
Em
breve, o Forte terá em seu interior um tablado e arquibancadas desmontáveis
para permitir a realização de espetáculos folclóricos, shows de música popular
e apresentação e violeiros, danças e repentistas. Haverá uma biblioteca
especializada em cultura popular, com salão de leitura, uma discoteca, uma
filmoteca, uma iconoteca de objetos de origem popular e um salão de exposições
de artesanato dos presidiários, artesanato indígena, cerâmica popular, bebidas
e aperitivos típicos, doçaria não industrializada e ervas, chás e outros
medicamentos da medicina popular.
OBJETIVOS
DO CENTRO
Afinal,
quais os objetivos do Centro de Cultura?
- centro de estudos
sócio-antropológicos, artísticos e históricos sobre cultura popular em
suas diversas manifestações, possibilitando a sistematização de estudos
relativos a estas manifestações e assim proporcionando meios para uma
atitude científica.
- ponto de lazer e
recreação, através de montagem de espetáculos de cultura popular
brasileira.
- centro de
informações didáticas sobre cultura popular, mediante o emprego de
recursos áudio visuais modernos.
- elemento de apoio
ás manifestações populares ligadas ao bairro de santo Antônio.
- cursos livres
sobre cultura popular.
- torneios de jogos
populares.
O Centro de
Cultura Popular da Bahia terá como público os baianos e os turistas, não se
dedicando em particular à população das áreas que a Fundação do Patrimônio
interfere, sua instalação no Forte de Santo Antônio Além do Carmo obedece a filosofia
do Programa de Reconstrução das Cidades Históricas, segundo a qual, os
monumentos restaurados deverão abrigar atividades turísticas, favorecendo,
contudo, a preservação dos valores artísticos e culturais ( Luís Guilherme Tavares).
GRANDES MUSEUS COM QUADROS FALSOS
DO MESTRE TICIANO
DO MESTRE TICIANO
Alguns dos mais importantes museus do mundo, como o
Louvre, de Paris, e o Metropolitan Museum, de Nova Iorque, possuem quadros
falsos de Ticiano, um dos grandes pintores da Escola Veneziana, no século 16.
A descoberta das obras falsificadas foi feita pelo
historiador de arte e Vice-curador do Museu Prussiano de Berlim, Peter Dreyer,
segundo revelou a revista artística alemã Pantheon.
Uma das obras classificadas como falsas por Dreyer
é a Paisagem de Floresta, comprada pelo Metropolitan Musseum, de Nova Iorque,
em 1908. A
tela, vendida num leilão da Galeria Christie, de Londres, foi descrita pelo
Jornal “Times” como a mais famosa paisagem pintada por Ticiano.
No Louvre há duas obras falsas e na Galeria
Nacional da Escócia há uma paisagem, também falsificada. No Christ Church
College, de Oxford, foram descobertas mais duas telas falsificadas de Ticiano e
no Stadeisches Kustinstitut, de Frankfurt, mais uma.
Dreyer acredita que as falsificações foram obras de
um empregado de uma tipografia veneziana que tinha acesso as pranchas de
madeira usadas para imprimir as obras de Ticiano, no século16. O falsificador
se utilizava de alguns trechos dessas pranchas e depois ampliava os traços,
imitando o mestre.
Dreyer fez sua descoberta, ao examinar a paisagem a
coleção do Museu de Frankfurt. O especialista alemão descobriu que a paisagem
era semelhante a uma outra usada como fundo numa famosa xilogravura de Ticiano,
a Natividade. Nesse quadro de Ticiano, a paisagem é encoberta pelas figuras da
natividade, A Sagrada Família, A Vaca, O Burrinho, e também pelo
resplendor que irradia da manjedoura, onde está o Menino Jesus. Examinando
cuidadosamente a falsificação, Dreyer descobriu onde tinham sido prolongados os
traços para refazer o resto da paisagem encoberta pelas figuras da natividade.
Dreyer visitou depois outros museus, examinando as
peças de Ticiano, e descobriu outras falsificações.
Ticiano, cujo o nome era Ticiano Vecellio ou
Vacelli, viveu de 1477 a
1576 e se distinguiu por sua arte religiosa e pela reprodução dos grandes temas
da Idade Média, mas ficou também famoso por seus retratos e paisagens. Um
retrato do imperador Carlos V, da Alemanha, valeu Ticiano a elevação ao grau de
cavaleiro e a seus filhos o título de nobres, uma distinção muito rara para um
pintor.
FRANCISCO MESSINA, OCTOGENUÁRIO, AINDA QUER
ESCULPIR BAILARINAS
Recente entrevista com o escultor italiano
Francisco Messina, publicada no Jornal La Stampa de Turim fala da prodigiosa vitalidade
desse artista, que terá 80 anos.Diz o entrevistador, Alfredo Venturi, que Messina
continua a trabalhar ativamente no seu estúdio de Milão. Em gesso prepara os
esboços das suas figuras sempre ternas de bailarinas. Os gestos são clássicos e
as esculturas, de grande beleza. Farei mais uma escultura em mármore diz- se
minhas mãos conseguirem ajudar-me. Se
não me ajudarem nesse esforço, acrescenta, então farei a figura em bronze.
As mãos de Messina- diz Venturi- são mãos de um
homem de 80 anos de idade mas mostram um vigor supreendente e isto permite
apostar a favor de criações em mármore.
O escultor siciliano-milanês acaba de voltar de
Munique onde se realizou uma grande exposição individual de escultura e
gráfica. Sua obra- declarou Erich Steingraeber, diretor dos museus da Baviera,
ao inaugurar-se essa exposição compreende um milênio de antiga tradição
cultural mediterrânea. E na mesma ocasião, Hans Sedlmayr, crítico alemão
estudioso da arte de Messina, disse que nas artes plásticas européias e
escultor italiano tem um lugar importante.
Durante decênio, Messina modelou e esculpiu figuras
segundo um gosto bem clássico e por sua vez bem moderno. Suas bailarinas são
magníficas. São exemplos de beleza porque segundo o mestre “a mulher, quando
dança, torna-se estupenda”.
A nota de Venturi conta que o estúdio de Messina é
freqüentado há anos por um modelo fiel, Aída Accola, bailarina do Scala, mas
também posaram para ele, Carla Fracci e Luciana Savignano, grandes figuras de
dança internacional. Outros temas freqüentes nas esculturas de Messina são os
cavalos.
“Vi-os livres nos pampas argentinos- diz Messina- e
é o animal que prefiro. É famoso o seu cavalo agonizante colocado em frente à
sede da Raí, em Roma.
Finalmente são bem conhecidos as suas esculturas de tema
religioso e algumas estátuas dedicadas a prelados ilustres, a começar por uma
estátua de Pio XIII e outra do cardeal Schuster.
Lembra, na entrevista, com satisfação os seus 40
anos de ensino na Academia de Brera, onde foi professor de escultura. Lá-
lembra Messina- ensinava os jovens a aprenderem errando. Eu mesmo serei várias
vezes... e fui picassiano até 1928. Ensinava-os também a desenhar.
É essencial- afirma -porque a escultura é sobretudo
desenho. Muito mais desenho que pintura. Porque infinitos são, numa estátua, os
pontos de vista. “Por sua vez também pintura e retomou recentemente os pincéis
com entusiasmo. Sente o “encanto da cor”. Mas na pintura continua a descobrir
elementos da escultura de algum modo”. Debaixo da cor afirma- há volume. Por
outro lado, insiste, tenho sempre presente que nas estátuas egípcias e nas
gregas havia cor...
Conta o escultor na entrevista que, quando teve de
deixar o seu grande estúdio de Brera, indicaram-lhe a possibilidade de
instalar-se numa igreja do século XV em ruínas, que o cardeal Frederico
Bornomeu mandou reconstruir no lugar de outros templos antigos. Graças a um
acordo com prefeitura de Milão, Messina pôde ocupar o lugar depois de
imcumbiu-se da restauração da igreja. Ele tem sido desde então o seu lugar de
trabalho e de exposições permanentes. Todas as suas obras ficaram neste lugar,
são xisto, no coração de Milão.
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