JORNAL A TARDE, SALVADOR, 27 DE OUTUBRO DE 1980
NEGADO O DESMEMBRAMENTO DA COLEÇÃO DE
ARTE SACRA
ARTE SACRA
Apesar de fortes rumores na cidade que a coleção sacra Abelardo Rodrigues, composta por 770 peças, seria desmembrada, foi negada, ontem, pela diretora do Museu de Arte Sacra, Liana Gomes Silveira, que, entretanto, informou que, possivelmente, algumas destas peças serão emprestadas para uma exposição que se realizará quando da inauguração do Solar do Ferrão, dependendo apenas de aprovação do reitor Macedo Costa, da UFBa.
Em
barro, marfim e madeira, estas peças motivaram há alguns anos uma polêmica
entre os governos da Bahia e de Pernambuco, já que a Bahia adquiriu o acervo da
família de Abelardo em 1973, mas os pernambucanos não queriam que as peças
deixassem aquele estado. Depositadas no Museu de Arte Sacra, em 1975, muitas
peças, entretanto, permanecem encaixotadas, devido à falta de espaço para dar
ao público a oportunidade de ver estes trabalhos, muitos do século XVI.
Foi visitando este acervo, no ano passado, que a condessa de Augsburg resolveu abrir um parêntesis na obra que realiza com aço inoxidável e que a fez produzir trabalhos como a escultura de um Cristo em bronze, inspirado numa talha de coleção de Abelardo, intitulada Cristo Rezando no Horto. Segundo ela, a criação desses santos constitui-se num desafio, “um querer devolver ao mundo do século XX, já tão pobre de crenças e valores humanos, a beleza contida naquelas imagens feitas por monges escultores”. E começou por Salvador a exposição que, depois de São Paulo, irá para Madrid, Lisboa, Paris e Roma.
Foi visitando este acervo, no ano passado, que a condessa de Augsburg resolveu abrir um parêntesis na obra que realiza com aço inoxidável e que a fez produzir trabalhos como a escultura de um Cristo em bronze, inspirado numa talha de coleção de Abelardo, intitulada Cristo Rezando no Horto. Segundo ela, a criação desses santos constitui-se num desafio, “um querer devolver ao mundo do século XX, já tão pobre de crenças e valores humanos, a beleza contida naquelas imagens feitas por monges escultores”. E começou por Salvador a exposição que, depois de São Paulo, irá para Madrid, Lisboa, Paris e Roma.
A
museóloga Valdete Paranhos está concluindo um levantamento iconográfico das 770
peças do acervo e ainda não conseguiu identificar a imagem de um santo negro de
olhos azuis trazendo um cetro nas mãos. De seis santos negros que já conseguiu
identificar, nenhum tem as características desta peça que, apesar disso, está
exposta nas dependências do museu. Segundo ela, a enchente ocorrida em Recife
prejudicou um pouco tais obras, mas aqui chegando foi providenciada a sua
restauração e imunização.
Um
dos trabalhos que sempre atraí a atenção de turistas e do público de maneira
geral é um Cristo em tamanho natural feito em madeira, do século XVIII, e que inclusive
já foi exposto em
Brasília. Da mesma forma é a imagem de São Jerônimo numa
miniatura feita em madeira.
Abelardo
Rodrigues nasceu em 1908, mas a coleção foi iniciada por seu pai Augusto
Rodrigues, que gostava de colecionar coisas raras.
Abelardo
viveu no Rio de Janeiro e participou do movimento de renovação da década de 30,
tendo convivido com Portinari, Goeldi, Heitor dos Prazeres e Pancetti, já que
era pintor, desenhista e trabalhou com arquitetura paisagística.
Mas,
na coleção não existe nenhum trabalho seu, pois a maioria é esculturas dos
séculos XVI a XIX. Em Recife, ele fundou a Escolinha de Arte, que durante oito
anos dirigiu e orientou.
FILME
MOSTRA A FORÇA DA GRAVURA FEITA NA BAHIA
A Gravura na Bahia é o filme que será estreado amanhã, às 21 horas, no Teatro Maria Bethânia. O filme localiza a geração de gravadores da década de
É
um filme de 35mm realizado pela Yuna Filmes, firma baiana de produção e
distribuição cinematográfica, onde aborda as origens da implantação da gravura
moderna na Bahia, destacando o atelier da Escola de Belas Artes da 28 de
Setembro, a presença dos mestres responsáveis pelo ensino das diversas técnicas
de gravura como: Mário Cravo, Hansen Bahia, Henrique Oswald e Adan Firnekaes.
Segundo
Juarez Paraíso, o responsável pelo texto do filme, esse trabalho visa acima de
tudo valorizar a gravura como arte maior, uma vez que existe um grande
preconceito tanto de desenho como de gravura, por ser feita em papel. Os poucos
colecionadores refém que se criou com a pintura feita no preto e branco.
Contudo a gravura é um meio de expressão semelhante aos outros. O preconceito
também de ser um trabalho reproduzido interfere em grande escala no mercado,
mas a noção de original não tem nenhum significado intrínseco do trabalho-
esclareceu Juarez- obviamente a gravura deve prevalecer pelo seu conteúdo,
apesar de ser muito mais barata do que qualquer obra de arte.
Nesse
filme é mostrado poucos artistas conhecidos na Bahia, mas que são de
importância fundamental, isto para dar oportunidade e como também valorizar a
obra local.
Apontou
como os principais geradores da década de 60,a mais importante até hoje, na
área de produção artística: Calasans Neto,José Maria, Hélio Oliveira, Sônia
Castro, Juarez Paraíso, Leonardo Alencar, Edison da Luz, Gilberto Oliveira, Gley
Melo e Edísio Coelho, como os artistas mais destacados , sendo que Renato da
Silveira é tido como representante de uma geração de gravadores. A música foi
especialmente composta por Tom Tavares e a montagem por José Humberto, a
fotografia foi realizada por Rino Marconi8 com a assistência de Alonso
Rodrigues. A produção é de Vadoca Melo e a direção e assistência de direção
respectivamente de Juarez Paraíso e Humberto Rocha.
O
filme é centralizado nas motivações da produção da gravura na Bahia,
ressaltando as características da chamada Escola Baiana da Gravura, havendo
capítulo especial dedicado`à gravura popular. O filme visa dar ao espectador
uma visão concisa da história da gravura, principalmente apresentando os
trabalhos mais representativos de suas fases.
O
custo da produção ficou em torno de CR$500 mil utilizando todo o pessoal de
Salvador, só a parte de finalização foi feita no Rio de Janeiro, porque
contribui para o aumento do custo da produção. Revelaram ainda que, não contou
com a ajuda de nenhum órgão do governo, o que dificultou muito o trabalho,
contudo agradecem a colaboração por parte da proprietária do teatro Maria
Bethânia, Gilka Maria, que concedeu o teatro para realização da projeção, como
também a Antonio celestino que cedeu todo o acervo para as pesquisas( Sônia
Araújo).
EXPOSIÇÃO
DE ARISTAS ALEMÃES
Espaços
é o nome da exposição que o Icba – Instituo Cultural Brasil Alemanha está
apresentando, reunindo doze coleções de 30 folhas, representativas da Arte
Gráfica contemporânea na República Federal da Alemanha. A mostra, que se
estenderá até 9 de novembro, tem a participação dos artistas Grasel, Otto
Hajet, Erwin Heerrich , Rudiger Utz, Dieter Krieg, entre outros. Na
apresentação da mostra, o crítico Dieter Honinsch destaca que “ os artistas
sempre têm sentido especial fascinação para o problema de representar o espaço
sobre uma superfície plana. É longo o caminho percorrido desde o fundo dourado
dos quadros da Idade Média... até chegar a converter a tela ou ao papel a
simples superfície plana como ponto de partida de toda a reflexão artística”,
Diz
que, a partir do momento em que se descobriu uma realidade pictórica autônoma,
a arte não podia limitar-se simplesmente à realidade “ mas sim começou , ela
mesma, criar condições que haveriam de influenciar diretamente o espectador”.
Segundo Dieter, esta exposição não se propõe a definir o espaço , porém,
pretendo mostrar quão diferente podem ser a concepção e a representação do
espaço por parte de artistas. Um
aspecto, porém, vale, de modo geral, a todos eles: em contraposição a seus
esforços do passado no sentido de procurar abrir a superfície do quadro,dando
ilusão de uma janela, os artistas de hoje tratam de partir da realidade
bidimensional de seu trabalho e definir exatamente sua relação com o
espectador”.
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