JORNAL A TARDE, SALVADOR, 6 DE
ABRIL DE 1980.
CATALUNHA RETRATADA PELO PINCEL
DE
FRANCESC PETIT
FRANCESC PETIT
A efervescência política da Catalunha, os arabescos de Barcelona, a alma
imortal e indomável do povo catalão, foram os temas escolhidos por Francesc
Petit para retornar à pintura. depois de 12 anos de quase inatividade. A
arquitetura catalã, o passado e o presente de Barcelona, fotografados com o
coração, vistos com calor e a paixão de um reencontro marcado por 27 anos de
ausência, está á mostra em cerca de 100 óleos e desenhos de Francesc Petit, no
Museu de Arte São Paulo, até o dia 27 de abril.
Petit,
depois de várias exposições individuais em Galerias de São Paulo e tendo
participado de bienais em três oportunidades, afastou-se momentaneamente da
pintura, passando a realizar apenas algum trabalho, de vez em quando, sem se
preocupar em realizar uma obra. A necessidade de pintar, de desenhar, no
entanto, ressurgiu ao realizar no ano passado uma viagem à Catalunha, sua terra
natal, de onde saíra há 27 anos, no tempo ainda em que os sonhos e direitos
autonomistas dessa região foram apagados pelas restrições impostas pelo governo
central de Madri, chefiado pelo falecido generalíssimo Francisco Franco.
Ao
desembarcar em Barcelona, capital catalã, Francesc Petit sentiu o ímpeto de
correr em direção à casa onde nasceu. Estava lá, intacta, sem qualquer
modificação. Mas a Catalunha já não é a mesma que resistiu silenciosa, tenaz e
obstinadamente a quase quatro décadas do regime centralizador de Franco, numa
luta ao mesmo tempo feroz para preservar seus costumes, sua cultura e sobretudo
sua língua, então proibida de ser ensinada nas escolas, proscrita até mesmo nas
conversas mais íntimas. Barcelona renasce, refloresce, bafejada pelos ventos
liberalizantes do regime que substituiu ao centralismo franquista.
“Como
se fosse um habitante de Barcelona, que mora lá a vida toda, simples, andava,
andava e via e absorvia a minha cidade; parecia minha, de minha propriedade;
amava tudo que via, o feio e o lindo, e fiz uma frase para minha mulher, Inês,
pelo telefone: Barcelona é muito mais feia do que lhe falei, e muito mais
bonita do que lhe falei. Apaixonado, assim é como se sentia, a sensação de
falar catalão o dia inteiro, de ter em catalão, o nome das casas comerciais em catalão. A lixeira em
catalão era maravilhosa, era voltar ao catalão que fui e vivi durante os
primeiros dezessete anos de minha vida, e assim acabei, até, fazendo tudo o que
os turistas fazem também, apesar de não gostar”.
NECESSIDADE DE PINTAR
Francesc Petit na década de 70. Foto Google |
“Com
isto tudo, como posso ficar parado?- indaga Petit. “É necessário pintar, se
comunicar, bem ou mal, com ou sem técnica, bonito ou feio, simples ou
inteligente; mas diante de um mundo tão repleto de coisas emocionantes não é
possível ficar olhando, tem que se pintar muito”.
Foi
a volta à pintura e a Barcelona.
“Fiz
alguns esboços, com muita vontade, e pouco a pouco estava definido o que fazer,
não me refiro a uma obra de arte, mas a uma impressão da minha volta a Barcelona,
que está latente e palpitante dentro de mim; queria pintar passeatas,
protestos, greves, povo, dizer que a Catalunha está viva, como nunca tinha
visto anteriormente”.
O
palpitante reencontro com a terra natal, com os lugares da infância com os inimigos
de tanto tempo, com o povo catalão e com um presente que vai aos poucos se
ligando ao passado republicano e autonomista, como uma ponte que sobrepõe a um
poço iodoso, obrigam Francesc Petit a retornar a Barcelona quatro meses depois,
desta vez, acompanhado de sua esposa Inês. Queria mostrar a esposa tudo que
vira e sentira, transmitir-lhe todo o entusiasmo.
No
segundo retorno à Caralunha, Francesc Petiti teve um momento em que “vai ficar
gravado pelo resto da minha vida”: foi apresentado a Mito, o principal pintor
catalão vivo.
“Quase
fiquei duro, confessa. Tremia, suava, gaguejava, esqueci, de tanta emoção: que
felicidade a minha poder apertar a mão do maior gênio da pintura e, falando com
ele em catalão, me achei um ser humano privilégio”.
E,
seus desenhos óleos retratando a rebelde e encantadora Barcelona, Francesc
Petit queria utilizar elementos de Miró para ficar bem claro um diálogo com
aquele que hoje é o símbolo da nova Catalunha, da Catalunha universal de que
todos falam tanto em todo o mundo.
“Mas,
finaliza, como gráfico que sou, fui traduzindo a minha própria linguagem de
forma e de cor: e acho este trabalho um figurativismo, gosto de usar tinta,
pincel e tela, acho romântico, e Barcelona é romântica, deve ser pintada com
boa tinta óleo, um bom pincel e uma boa tela, bem branca”.
HISTÓRICO
A
exposição de Francesc Petit coincide com a última etapa do processo de
reconquista de autonomia administrativa e política por parte da Catalunha e
também do país basco. Esse processo se iniciou em outubro do ano passado quando
o governo de Madri concebeu o estatuto de autonomia a essas duas regiões, que
possuem hábitos, costumes, cultura e língua que diferem das demais regiões
espanholas.
Na
Catalunha foi realizado no dia 20 de março passado a eleição para o Parlamento
autônomo, com direito a legislar e executar planos relacionados com a Cultura,
Comércio Interior, Turismo, Indústria, televisão, etc. Ao parlamento cabe
também escolher o governo autônomo local.
Tanto
a Catalunha quanto o país Basco possuíam autonomia administrativa durante o
breve período republicano espanhol, de 1931 a 1939. Com a deflagração da guerra civil
e tomada do poder pelo generalíssimo Francisco Franco em 1939, é abolida a
autonomia dessas regiões. Contudo, durante o período franquista, o povo catalão
e basco insistiu no retorno ao processo de autonomia, obtido finalmente após a
morte de Franco e ascensão ao poder em Madri de um governo democrático.
ARTE
MARANHENSE NA GALERIA PORTAL
Iniciando o ciclo de exposições de
Sobre sua obra, comenta Walmir Ayala: “O
encontro das referências regionais e folclóricas, sobretudo no plano do
fabulário e da festa, sobrevive na memória gráfica de Péricles Rocha. Seu
desenho tem como protagonista os personagens do Bumba-Meu-Boi, os bichos e
espécies vegetais autóctones aos quais, Péricles imprime uma categoria material
próxima da terra e de madeira, do desenho primitivo e do decorativismo
indígena. A fidelidade à voz primeira dos vigilantes da cultura popular
funde-se em seu processo de análise à função jovem e vital de um cronista de
memória poética.
Para
se manter fiel às suas raízes, anualmente o jovem pintor faz questão de ir ao
Maranhão visitar várias cidades, estudar as lendas e o ambiente pra pintar seus
quadros e levá-los a diversas cidades.
RECONHECIMENTO
A
preocupação com o aprimoramento e perfeição da técnica do desenho leva o
artista a uma libertação maior das figuras, que se tornam mais universais,
segundo sua própria explanação. Sendo que as cores marron e escuras deixam de
predominar, passando a ter maior realce os tons verde, azul e vermelho.
Em
meados de 1977, seu nome já atinge o mercado internacional, quando realizou
exposições em Roma, Munique, Sttutgart e Nova Iorque. Na Europa e Estados
Unidos, segundo ele, a arte brasileira começa a ter grandes aceitação,
principalmente quando é acentuadamente brasileira, sem qualquer influência das
escolas européia e americana.
Talvez
por essa razão, ele tenha vendido todos os desenhos que expôs. Pois é um dos
poucos desenhistas brasileiros que conseguem uma síntese artisticamente
verdadeira entre o imaginário popular do Maranhão e as técnicas de expressão
aprendidas
No
Brasil, seus trabalhos já foram expostos na Bahia, Rio de Janeiro, Maranhão,
Recife e em Brasília, onde, no ano passado, recebeu o prêmio 1º Documento de
Artes Contemporâneas do Distrito Federal.
(prêmio
máximo para o Desenho), com a obra “santos Pássaros Gêmeos”. Concurso promovido
pela Funarte e julgado pelos críticos de arte, Hugo Auler, do Jornal Correio
Brasiliense, Geraldo Edson de Andrade, do Rio de Janeiro, como também pelos
artistas plásticos: Abelardo Zaluá e Yedo Thcez, da Funarte.
O EL GRECO DE JIMMY CARTER
Inspirado
numa declaração do presidente Jimmy Carter que disse ser El Greco seu pintor
favorito o editor da revista ARTnews Milton Esterow solicitou ao desenhista
David Lavine que elaborasse um desenho com a figura de Carter com a técnica do
pintor espanhol do século XVI.
O
resultado aí está nesta radiofoto distribuída pela UPI onde aparece a
caricatura do presidente Jimmy Carter com as mãos entrelaçadas semelhante a um
beato. Esta posição faz lembrar sua luta pra soltar os reféns que estão
aprisionados pelos fanáticos do aiatolá Komeini, no conturbado Irã
Carter
fez a declaração de sua preferência pictórica dizendo que EL Greco é um artista
extraordinário, especialmente pela atmosfera de miticismo e modernismo em que
distorce a forma física para enfatizar o caráter da pessoa que está retratando.
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