JORNAL A TARDE DOMINGO, 30 DE
MARÇO DE 1980
HÉLIO OITICICA MORREU AO
PRINCIPIAR O IMPORTANTE
"Sempre gostei do que é proibido, da vida de malandragem, que representa a aventura, das pessoas que vivem de forma intensa e imediata, porque correm riscos.São tão inteligentes, essas pessoas. Grande parte de minha vida passei visitando meus amigos na prisão. Tive grandes amigos, pessoas admiráveis como Cara de Cavalo, Miguelzinho da Lapa.Tenho grandes amigos na família real da malandragem.O ambiente de arte é muito careta." Estas palavras foram pronunciadas em 1978 por Hélio Oiticica o grande artista vanguardista que morreu no penúltimo sábado, no Rio de Janeiro aos 43 anos de idade.
Uma
figura discutida e de atitudes estranhas e imprevisíveis. Um homem capaz de
captar o invisível. Um dos inspiradores do movimento tropicalista e um dos
participantes da controvertida mostra Information, realizada no início da
década passada no Museu de Nova Iorque.
Era
toxicônamo, tinha uma vida irregular e por isto muitas vezes não era tão bem
recebido em alguns setores artísticos, daí a sua reação de chamar o setor de
arte muito careta. Era de personalidade inquieta e criador. Todos os temas e
todos os suportes serviam à sua arte inovadora, sendo sem sombra de dúvidas um
dos líderes da arte de vanguarda neste país. Durante sua existência viveu e
defendeu algumas idéias. Em 1955 integrou o grupo Frente, em 1959 estava no
movimento Neoconcreto, Além de participar de numerosas manifestações plásticas.
Diria que Oiticica foi um personagem ativo da marginalidade. Digo da
marginalidade fora dos padrões costumeiros e aceitos por todas as pessoas que
obedecem e defendem valores estabelecidos. Como artista, um inovador. Um menino
prodígio que aos 17 anos como aluno de Ivan Serpa já demonstrou o seu talento e
a sua inquietude. E janeiro do ano passado retornou ao Brasil e ficou entocado
num pequeno apartamento no Leblon em meio a um emaranhado de livros, recortes,
fotografias e seus arquivos que preferia chamá-los de ninhos. Porém, mesmo o
espaço exíguo de sua moradia não impedia de trabalhar com suas maquetes e
imaginar mais espaços para os outros. Não gostava que o chamasse de um
vanguardista porque no seu entender a vanguarda se faz num dia e se desfaz no
outro. É a mitificação e a desmitificação, o acaso, a chance operation.
Preferia que não definissem seu processo artístico, por ser atualmente uma
tendência universal e não definição, “porque valores são criados cada vez que
alguma coisa é abordada”.
Tinha
uma estranha (para muitos) posição sobre o conceito de artista. Enquanto muitos
defendem a profissionalização do artista, com honrosas exceções, tornou-se mais
de caráter comercial que artístico. Todo artista autêntico é um desclassificado
e desde que você transforma a arte numa profissão, cria a contradição. Ganhar
dinheiro não é uma coisa, dizia Oiticica, essencial da arte, da atividade
artística, não pertence à sua estrutura.
E,
por ironia do destino, Oiticica sentenciava em 1978 “Tudo que fiz até hoje era
o prólogo. O importante está começando agora”. Porém, Hélio teve sua carreira
interrompida bruscamente aos 43 anos de idade. Morreu no último dia 15, ao
meio-dia, e cinco horas depois era enterrado sem que muitos dos seus amigos
soubessem. Sua morte teve lances dramáticos e imprevisíveis como sua obra.
Sofreu uma derrame cerebral e caido entre suas obras, ferido, imobilizado e sem
voz, ainda pode ouvir a campainha tocar, os amigos chamarem o seu nome ou da
porta, sem poder fazer nada. No quarto dia sua amiga Lygia Pape resolveu entrar
por uma janela aberta no seu apartamento e o encontrou quase sem vida.Operado,
veio a falecer.
JUSTINO
MARINHO NA GALERIA DON CAMILO
Trinta
desenhos feitos a pastel e lápis de cera estão expostos na Galeria Don Camilo, no Othon Palace Hotel.É
um projeto que Justino vem desenvolvendo há algum tempo e podemos afirmar que
é a continuação da mostra que fez anteriormente na Galeria ACBEU. Um trabalho
neofigurativo onde o artista procura dar forma à figura humana. Um desenho
caprichado, uma técnica que ele desenvolve com muito critério e agora nestes
trabalhos vemos a presença da cor como elemento novo que veio dar maior
dimensão à sua obra. A cor aparece definida e marcante. Surge como um
complemento do desenho.
Embora
algumas pessoas não gostem e até critiquem a presença da cor no desenho, a meu
ver a cor muitas vezes dá maior dimensão, especialmente quando é bem utilizada.
Também não concordo que a sua mostra anterior tinha conotação panfletária.
Apenas entendo que o artista não pode ausentar-se totalmente da realidade. A
própria fantasia do escritor sempre tem um ponto de partida ou referência com o
real. Parte do real para abstração. Vejo a obra de Justino com uma temática
onde a figura humana está presente.
Um
movimentar constante de formas e situações que ele lança nos espaços vazios do
papel ou outro qualquer suporte que utiliza para sua manifestação artística.
É
o próprio Justino quem diz: " Hoje, depois de todo esse tempo que venho
desenhando, acho que meu desenho toma uma forma mais definida. Sem compromissos
de antes. Quem viu a minha exposição anterior e for ver esta, vai notar. O que
faço agora, faço dentro de uma saída de dentro pra fora, sem a preocupação de
conteúdo explícito. Acho que o conteúdo está na própria evolução de fazer o
desenho.
Quando
fiz a exposição passada, (na ACBEU), tinha uma estória pra contar, através do
trabalho. “Nesta exposição da Don Camilo, tenho a evolução do meu trabalho, da
técnica, o uso da cor, enfim, é o que está aí pra ser visto”.
E
posso garantir que merece ser visto porque Justino é um dos maiores profícuos
desenhistas baianos.
GUERNICA, DE PICASSO VAI PARA A ESPANHA
O
Museu de Arte Moderna de Nova Iorque assinou acordo para devolver à Espanha
no final deste ano, o quadro Guernica de Pablo Picasso, informou a agência
noticiosa Europa Press.Citando
fontes culturais espanholas, a agência disse que a obra de Picasso, retratando
o bombardeiro de Guernica, durante a Guerra Civil Espanhola de 1936 a 1939, deve ser
enviada à Espanha em outubro, depois da retrospectiva do museu sobre Picasso.
O
pintor, que morreu em 1973, deixou instruções para que Guernica fosse
entregue a sua terra natal depois da queda do regime franquista e da
instauração de uma democracia no país.
A
pintura, que nunca foi exposta na Espanha, é conservada a título de empréstimo
no Museu de Arte Moderna desde 1939.
Picasso
havia pedido que a pintura passasse a integrar a coleção do Museu do Prado, de
Madri, mas outras cidades já pediram para ficar com a obra, como as cidades
bascas de Guernica e Bilbao, a cidade de
Málaga, onde o pintor nasceu, e Barcelona, onde fica o Museu de Picasso.
Na
carta ao primeiro-ministro Adolfo Suarez, divulgada ontem, Jacqueline, viúva de
Picasso, revelou que o pintor sempre lhe falou em ver um dia Guernica figurar
no acervo do Museu do Prado, do qual foi administrador durante os últimos anos
da Segunda República.
NOVA
ETAPA NA FUNDAÇÃO BIENAL DE SÃO PAULO
Tendo
em vista a necessidade de revisão e conseqüente reestruturação da Bienal de São
Paulo, de acordo com o pronunciamento do novo presidente Luiz Villares, por
ocasião de sua posse, em conformidade com as alterações do meio sócio-cultural
brasileiro nas últimas décadas, seja em seu contexto cultural municipal
imediato a que a entidade é afeta e por que deve responder, bem como ao nível
estadual, nacional, latino-americano e internacional, a atual diretoria
considera que seu objeto mais urgente é reformular a atuação da Fundação Bienal
de São Paulo, prevendo dentro de um prazo mínimo necessário de discussões, um
anteprojeto para um programa de ocupação do espaço físico de seus locais nos
períodos de inexistência das exposições internacionais, a fim de satisfazer á
carência de espaço para as mais diversas manifestações artísticas de todas as
áreas, e para encontros de natureza cultural por parte da população da cidade,
do estado, do país e do exterior.
É
importante notar que neste período de reformulação a diretoria convocará,
profissionalmente, os elementos que considere. Poderão trazer depoimentos
enriquecedores para suas definições, críticos e artistas plásticos, além dos
membros de seu Conselho de Arte e Cultura.
INEXEQUÍVEL
Tendo a nova diretoria como meta, implantar um novo espírito, pode chegar a suceder, como está ocorrendo agora, que isso traga implícito o adiamento, ou o atraso, no caso da Bienal latino-americana, d realização de um evento de tal importância, conquista difícil somente concretizada em 1978. Porém o adiantamento de uma presença maciça da América Latina em evento, autônomo, foi imperioso por que:
1º) não se tinha em mãos quaisquer entendimentos já iniciados com meios culturais desses países que pudessem dar margem a um evento significativo.
2º) a Bienal de São Paulo deseja ouvir, prioritariamente, representantes
culturais dos diversos países sobre sua expectativa a respeito da presença
latino-americana nas bienais de São Paulo.
3º) os problemas econômicos porque passamos no momento não são exclusivos do Brasil, refletem toda uma crise mundial e os países da América Latina, em particular, têm dificuldades em se fazer presentes anualmenteem São Paulo. Daí
por que representantes dessas nações devem ser ouvidos sobre como melhor
representar seus meios artísticos nas bienais brasileiras.
3º) os problemas econômicos porque passamos no momento não são exclusivos do Brasil, refletem toda uma crise mundial e os países da América Latina, em particular, têm dificuldades em se fazer presentes anualmente
Um
Encontro de Críticos e Representantes Culturais da América Latina (diretores de
museus, historiadores, artistas) para outubro próximo, já está em pauta na
diretoria da Bienal de São Paulo.
Ao
mesmo tempo, acha-se também em fase de estudo preliminar, a organização, também
para outubro, de uma Jornada de Documentários Cinematográficos da América
Latina, que, cogita diretoria, deveria
realizar-se durante 15 dias seguidos de projeções, em sua maioria filmes
inéditos no Brasil.
Projeto
já em tramitação pela diretoria anterior, uma exposição de Antropologia
Brasileira a partir da Coleção do Museu Goeldi.
NILZA BARUDE ESTÁ PROCURANDO ACERTAR
Venho
acompanhando, com interesse, o trabalho que vem desenvolvendo Nilza Barude. Uma
vontade ferrenha em acertar, em encontrar o seu caminho artístico. Certa
ocasião, fiz uma crítica muito forte sobre uma exposição que ela fez, de
algumas peças em cerâmica, na Galeria ACBEU. A princípio, diria que Nilza
estava mal acompanhada, ou seja, estava expondo com outra pessoa que teima em
ser artista. Mas o tempo passou e Nilza vem procurando melhorar e dar uma forma
mais apurada à sua obra. Confesso que ainda não me dou por satisfeito com que o
que Nilza vai apresentar. Diria até que ela devia esperar mais um pouco para
realizar sua exposição. Porém, ela é inquieta, e tem necessidade de mostrar, de
extravasar o que está fazendo, resolveu expor o que já fez.
Realmente
vem melhorando e uma transformação já se pode notar, aliás, desde a sua
exposição realizada na Galeria O Cavalete, onde mostrou algumas figuras
humanas dando importância às formas. Nesta sua exposição programada para a
Katya Galeria de Arte vai mostrar ainda algumas figuras, porém não tão
definidas como as que apresentou na exposição anterior.
Diz
Nilza que essas figuras são as pessoas do seu tempo.São
as figuras em pedaços, incompletas e cortadas. As faixas, como que representam
as dificuldades que enfrentam para almejar o desejado. Algumas largas, as
situações mais difíceis?, outras mais estreitas, as situações mais fáceis de
ser contornadas?, Também surgem interferências de cartas de baralho e dados.
GONZAGA EXPÔS NA CASA DO BRASIL
Pinturas
e colagens do gaúcho Luiz Gonzaga Mello Gomes (ou simplesmente Gonzaga) foram
expostas na Casa do Brasil, em Madri, numa promoção da embaixada brasileira
naquele país.
Gonzaga
é professor adjunto do Centro de Artes da Universidade federal de Santa Maria e
atualmente está fazendo um curso de especialização em pintura mural na
Faculdade de Belas Artes de San Fernando, em Madri, sob a orientação do
professor Manuel L. Villasenõr. Desde 1965 que Gonzaga vem participando de várias
exposições individuais e coletivas e já foi agraciado com alguns prêmios em
salões realizados em sua terra natal.
Quem
faz a apresentação é o mestre Manuel L. Villasenõr que em certo trecho afirma:
“Quando Luiz Gonzaga veio do Brasil trazia uma bagagem de escultor. Aqui
chegando, entregou-se ao campo da investigação pictórica. Como um
enriquecimento de seu mundo. O espaço tem conseqüente importância desempenhada
na sua pintura. Ressonâncias surrealistas predomínio do teima sobre as cores
puramente plásticas, dificultam prever a radical evolução de sua pintura como
um milagroso autodescobrimento.
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