JORNAL A TARDE, SALVADOR, DOMINGO, 10 DE FEVEREIRO DE 1980.
OS ESPANTALHOS DE MURILO
Tristes
figuras humanas infestam os bolsões de miséria que estão localizados na
periferia das grandes cidades brasileiras, e principalmente no Nordeste do
país. São homens, mulheres e crianças que desconhecem uma roupa e uma
alimentação, além da habitação em condições dignas. Vivem como párias- ou pior
que esses perambulando e sofrendo a falta de emprego. Uma vida só de
sofrimentos. Uma vida só de tristezas. E é deles exatamente que lembro quando
observo com cuidado uma dessas fortes e vibrantes telas de Murilo. São pessoas
“fotografadas” pela sensibilidade deste jovem artista, que vem crescendo de
qualidade a cada dia. E concordo com Ivo Vellame quando afiram que esta nova
fase de Murilo (a dos espantalhos) é
talvez a mais importante das apresentadas por ele, a mais expressiva, plena de
melancólica poesia, marcante pela tristeza que se vê estampada nos rostos das
figuras por ele criadas.
Seus
espantalhos transcendem àqueles outros que são muito comuns habitantes das
lavouras para espantar os pássaros e os ladrões menos avisados. Estes últimos
têm uma poesia lírica, são feios e a feiúra serve para espantar, mas em
contrapartida são imóveis, parados e insensíveis. Porém os retratados por
Murilo parecem seres vivos que vivem massacrados pelas violências, pela
arrogância daqueles que buscam o lucro fácil e transbordam. São vítimas dos
insensatos e das frustrações sem limites. Mas, concluindo devo dizer que os
espantalhos criados por Murilo são dignos de compor coleções as mais exigentes,
inclusive já deveria integrar uma de suas telas a coleção do Museu de Are
Moderna da Bahia. Fica aí a sugestão para a atual diretoria do MAM-Ba.
A
BUSCA DOS LADRÕES DE ARTE
O
Esquadrão das Artes é uma das recentes divisões da famosa Scotland Yard embora
conte com 11 anos de vida. Também estamos certo de que não gozaria de fama
internacional a não ser pela recompensa com que têm sido gratificados os seus
consideráveis esforços. Referimo-nos ao fato de que o famoso esquadrão
conseguiu recuperar mais de 75 milhões de dólares em obras de arte e
antigüidades na Inglaterra e no resto do mundo. Para avaliar exatamente a
importância desta divisão da Scotland Yard basta pensar que o roubo de obras de
arte é atualmente, o “negócio” mais lucrativo depois do tráfico de drogas.
O
Esquadrão das Artes foi criado em 1968 quando se teve conhecimento da
existência de importantíssimos roubos de obras de arte tanto de museus como de
coleções particulares. A isto deve-se acrescentar que a lei inglesa estabelece
que quem compra de boa fé uma obra exposta livremente não pode ser privado
dela, embora se trate de material roubado. As duas circunstâncias exigiam das
autoridades ação urgente.
Inicialmente
foram destinadas a este esquadrão três pessoas que pouco ou nada sabiam de
arte, razão pela qual tiveram de atualizar-se freqüentando cursos ou lendo
livros especializados.
Hoje,
graças ao sucesso obtido, esta divisão da Scotland Yard possui um registro
minucioso de todas as peças roubadas de museus, galerias e coleções
particulares.
Por
outro lado, é preciso acrescentar que os métodos usados pelo esquadrão serviram
de modelos a outras organizações como FBI americano e Sureté francesa.
O
inspetor Graham Ward, que há vinte anos serve na Scotland Yard informa:
“naturalmente nenhum de nós é um especialista em arte, mas rodos somos
detetives experientes, no sentido de que, para agir neste setor, deve-se estar
em condições de tratar tanto com o submundo do crime como com grandes
especialistas ou comerciantes que se dedicam a este lucrativo negócio”.
O
esquadrão publica todos os meses um boletim que distribui em lugares
estratégicos e também a pessoas entendidas no ramo com uma lista das
antigüidades e das telas que foram furtadas, segundo seus proprietários.
Durante
1978, o esquadrão recebeu 1516 pedidos de informações de policiais não ingleses
e graças às informações prestadas recuperaram-se cerca de Um milhão e 200 mil
dólares em objetos e telas. É preciso registrar também que muitas vezes a rápida
ação desta divisão deve-se mais que a própria à atitude de informantes ligados
diretamente ao comércio de obras de arte que alertam com informações precisas.
Um
funcionário da Scotland Yard confessa: na realidade umas das chaves da eficácia
do esquadrão é o seu serviço de permuta de informações, o que significa que
quando um negociante de obras de arte recebe uma mercadoria que poderia não ter
sido comprada legitimamente, pode recorrer imediatamente à divisão a fim de que
esta comprove se a peça em questão está incluída em sua lista.
Por
sua vez, estes “marchands”, declaram: “o esquadrão é que deve dar a última
palavra, pois muitas vezes criam-se situações embaraçosas quando não se pode
estabelecer a origem de uma peça. Por isso, apoiamos nas autoridades. Também,
deve-se ter em conta que estamos a enfrentar um novo fenômeno: o ladrão de
obras de arte culto, que sabe perfeitamente o que vale a pena roubar. Por outro
lado, acreditamos que se está a organizar um tráfico de telas roubadas, mas...
Não posso adiantar-lhe mais, só que o registro do esquadrão mostra que estes ladrões podem
vangloriar-se de uma imaginação capaz de rivalizar com as próprias obras, alvo
das suas ambições.
MÁRCIA
MAGNO, UM SUCESSO
Agradou
a todos aqueles que tiveram oportunidade de visitar a exposição dos trabalhos
de Márcia Magno no Rio de Janeiro. O meu amigo Geraldo Edson de Andrade
escreveu na revista isto/É, de São Paulo, sobre o seu trabalho e em certo
trecho afirmou- formas geométricas habilmente construídas, transparências de
cores puras com um acentuado ludismo extravasam a fantasia criativa da jovem
gravadora. Que não se contenta somente com a gravura em si.
Dela
parte para pipas (pandorgas, papagaios,
etc.) que, soltas ao vento, dão lhe uma nova função, alegre e colorida, além da
parede ou da mapoteca costumeira.
Diria
ainda que Márcia é uma das esperanças do fortalecimento da gravura baiana, e
fico feliz com isto porque aos poucos a xilo retoma o seu verdadeiro lugar,
especialmente com novos talentos que começam a despontar, alguns deles, como é
o caso de Márcia Magno, contando com a orientação criteriosa e segura do mestre
Juarez Paraíso, que diga-se é um gravador de mão cheia.
Mas,
por falar em Márcia também Walmir Ayala deu sua opinião sobre o trabalho da
gravadora baiana, afirmando que ela usa a matriz de madeira, manipula a cor e
exercita a geometria. Tudo com grande eficiência técnica, envolvendo o olho do
espectador numa festa de cor-ritmo compositivo. As transparências, o efeito das
superposições, a simetria e o respeito Aragão, Dedé Santana, Mussum, Zarcapela
linguagem natural do material (madeira) resultam nesta série de xilogravuras de
grande unidade a par de uma rica seqüência de estímulo visual.
A
exposição de Márcia Magno foi realizada na Galeria Macunaíma da Funarte, e ela
foi selecionada entre os expositores do Salão Nacional de Belas Artes. É uma
boa esperança para o futuro das artes plásticas baianas.
OBRAS
NO PRÉDIO DA FUNARTE E MUSEU DE BELAS ARTES
O
prédio do Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro onde também está
instalada a sede da Funarte, passa, a partir deste mês, por um período de 150 dias (seis meses), pela primeira reforma
das fachadas externas desde a sua construção em 1908, a partir do projeto
de Moralles de Los Rios. Ampliado em 1922, quando foram criadas galerias
internas e erguido outro pavimento, o edifício ocupa o quarteirão compreendido
entre a Avenida Rio Branco e as ruas Araújo Porto Alegre, México e Heitor de
Melo. Nele funciona, além do MNBA (com quatro andares voltados para a Avenida
Rio Branco, em frente ao Teatro Municipal) a Funarte, que desde 1977 está
instalada no espaço originalmente ocupado pela Escola de Belas Artes, hoje
integrada ao campus da UFRJ, na Ilha do Fundão.
A
obra, orçada em CR$ 985 mil, compreende limpeza e reconstituição da parte
exterior do prédio tombado pela Secretaria do Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional, Órgão encarregado da orientação técnica da restauração. As
especificações foram elaboradas pelo setor de engenharia da Funarte e aprovadas
pelas Sephan.
O
trabalho está dividido em fases distantes. A primeira tratará do
hidrojateamento- limpeza com jatos de água quente sem utilização de qualquer
produto químico ácido ou alcalino- das quatro fachadas. Os apinéis de
baixo-relevo não serão lavados por esse processo, e sim manualmente, porque
podem se desfazer.
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