JORNAL A TARDE DOMINGO, 23 DE
MARÇO DE 1980
CINCO ARGENTINOS EXPONDO NO
MAM / BA
A partir de um trabalho grupal, funcionando como um mecanismo sem
restrições, respeitando basicamente a liberdade de cada um, Carlos Mendes de
Faísca, David Burin, Hugo Grinback, Alberto Martins e Marcelo Elola, artistas
argentinos que integram o Grupo Cronos estão expondo suas obras em desenho a
lápis, acrílico, esculturas, fotografias, no Museu de Arte Moderna da Bahia até
o dia 06 de abril, em promoção da Fundação Cultural.
Essa
exposição é o resultado de um trabalho de pesquisa começado na Argentina onde
durante alguns anos os artistas desenvolveram e aprimoraram suas técnicas. Não
puderam, no entanto, dar continuidade aos seus trabalhos devido à falta de
apoio dos órgãos oficiais, galerias, entidades acadêmicas que controlam a
expressão artística e cultural aquele país. Principalmente enfatizam eles por
se tratarem de artistas “jovens” e “sem nome” e, principalmente, por não
encontrarem espaço da seriedade dos seus trabalhos, e transformando-os em
marginais da arte e da sociedade.
A
partir da necessidade de buscar apoio para mostrar seus trabalhos em outros
países decidiram viajar ao Brasil, “ onde nos deram a possibilidade de
finalmente mostrar nossos trabalhos, transformados ocultos como um contrabando
precioso durante quase dois anos” como declaram os componentes do grupo.
Como
alunos da Escola de Belas Artes de La
Plata (Faculdade de Artes Plásticas) as dificuldades
continuaram, não sendo respeitada a criatividade dos artistas já que o objetivo
dessa faculdade “não era a produção de artistas e sim, a formação de
professores de pintura.
Apesar
das dificuldades o Grupo Cronos sobreviveu e afirma que: “Se há uma ideia em
que todos concordamos é a de que toda arte é a afirmação mais evidente da
liberdade do homem”. A partir desse conceito houve uma evolução em comum, por
exemplo, Carlos desenha em lápis sobre os temas “cotidianos” e pessoais como o
vampirismo.
Influenciado
pela corrente geométrica, Marcelo executa trabalhos em acrílico usando
aerógrafo. É ele quem controla o equilíbrio e a cor dos trabalhos do grupo.
Os
trabalhos de fotografias de Hugo tem uma linguagem direta e paisagista, onde o
retratismo adquire um toque de mesura e discrição nos exaltados espíritos dos demais
componentes do grupo.
Alberto
e David trabalham com fotografia experimental, montagens, técnicas mistas
tentando misturar o elemento objetivo dado pelo registro mecânico da realidade
através da câmera. Com o elemento subjetivo denotado pelo desenho, o eco
aleatório e pessoal tenta-se incorporar à fotografia básica. Buscam também uma
realidade mágica para servir de contra-ataque ao cotidiano e lamentam sempre
que em quase todos seus “truques mágicos” não saiam tão bem quanto esperam.
Continuam trabalhando para que um dia ao abrirem a máquina para retirar o filme
“apareça por fim um coelho”.
Declaram
ainda “que essa exposição pode ser o início de um intercâmbio cultural entre
nossos países para colaborar com a integração regional a que estaria destinada o
nosso continente”.
A
ARTE ATUAL DE A.L.M. ANDRADE
Uma das obras expostas por Almandrade |
O
Sacrifício do Sentido não se pretende, segundo o artista, “ a uma falsa
politização imediata tão presente na mentalidade pouco inteligente de muitos
fazedores de arte”. Esta exposição reclama uma abertura para se experimentar a
linguagem e denunciar o poder dos signos, principal base de sustentação deste
tipo de sociedade. O que pensam os artistas e críticos baianos da estratégia
deste artista?
Nesta
hora vale a pena ressaltar a iniciativa de uma instituição como o MAMB em promover
uma exposição como essa, do mais radical artista contemporâneo da Bahia.
Antes
de mais nada qualquer manifestação de arte contemporânea, exige-se um
entendimento da teoria da arte e da história, além de contatos com outros
repertórios. Como se relaciona o sistema/arte com o restante da sociedade, daí
vem o rótulo de difícil e hermética para a arte experimental.
Na
exposição de Andrade, não exista nada para o divertimento do olhar, somente
gestos que levam o espectador a um espaço de saber.
Mas
o que é esta arte, e a produção contemporânea de maneira geral? Num texto deste
artista, sobre a arte dos anos 70, publicado num suplemento especial de um
jornal local, o artista responde muito bem a pergunta.- “A arte dos anos 70,
bem menos explosiva que as vanguardas dos anos anteriores, é mais um gesto
mental, um meio de conhecimento específico, rompe definitivamente com os
limites enunciados pela estética, para assumir uma posição crítica de si mesma.
O
objetivo/arte como é entendido até então como produto de uma técnica manual e
retiniana, é questionado e esta hipótese desprezada. A arte é um campo de saber
tal qual a física, a matemática, a lógica, a biologia, etc, se estende agora e
se investiga um sistema/arte e sua função no universo social a partir da formalização
de seu discurso, fundamentado em bases técnicas...”’
Na
arte de Andrade, ó belo é causador de estranhezas, de problemas para o
espectador resolvê-los ou não. O importante é abrir possibilidades de leituras
do real, tanto da arte como social, contra uma aparente política que limita o
espectador a um universo de signos fácil, onde a ideologia se esconde.
Isto
é um procedimento materialista e consciente na arte, sempre provocado por
poucos artistas em toda a história da arte.
EDSOLEDA
EXPONDO EM VITÓRIA DA CONQUISTA
Um
evento cultural pouco comum às cidades do interior teve início esta semana,
quando a pintora Edsoleda Santos inaugurou a Galeria Geraldo Rocha - Atelier de
Iniciação Artística, em Vitória da Conquista, a exposição Bahia Luz e Mistérios,
com a colaboração da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
Natural
de Salvador, Edsoleda Santos é diplomada em Escultura pela Escola de Belas
Artes da Universidade Federal da Bahia, tendo ainda diploma em Licenciatura em
Desenho, obtido na mesma unidade. È detentora do Prêmio Estadual de Desenho, da
I Bienal de Artes Plásticas Bahia/1966, do III Prêmio de Desenho do Salão de
Vitória, Espírito Santo, obtido em 1968 e do Prêmio Isenção de Júri na II
Bienal Nacional de Artes Plásticas da Bahia, em 68, além de outros.
Expôs
individualmente na Galeria Convivium (1965 e 66), no Museu de Arte Moderna da
Bahia, na Galeria de Arte da Bahia, participando de diversas coletivas, dentre
as quais os II e III Salão de Arte Moderna do Distrito Federal, da Exposição Coletiva
de Artistas Baianos, no Instituto Cultural Brasil-Alemanha, do Festival de
Caribe e da mostra de artistas baianos no Rio Grande do Sul.
Num
depoimento sobre artista, Jorge Amado escreveu no livro Bahia de Todos os
Santos: “ Edsoleda, forte ou frágil, piscando no chão ou estendida nos céus,
nas nuvens, levada pelo vento?
Moça
desenhista, é da estripe dos mestres, para termo de comparação faz-se
necessário buscar os maiores, falar em Carybé, em Juarez Paraíso , em Floriano Teixeira.
De súbito, explode em cores, numa invenção onírica que
participa do desenho animado, da ficção, de uma verdade que transpõe os limites
do habitual para romper-se em lua marítima e misteriosa onde nascem sereias em
atos de amor”.
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