JORNAL A TARDE,SALVADOR, 20 DE OUTUBRO DE
1980
DEPÓSITOS DE ARTE
É hora de chamar atenção para o descaso que vivem nossos museus de Norte a
Sul do Brasil, com poucas e honrosas exceções. Na maioria das vezes são
verdadeiros depósitos de quadros e objetos envelhecidos pelo tempo, empoeirados
e mal cuidados. Seus funcionários nada sabem informar e quase sempre mostram-se
mal humorados, sob a alegação de quem ganha pouco. Sempre recebem pequenas
dotações oficiais que lhes garantem uma difícil sobrevivência. Sobrevivem ao
invés de promoverem a cultura. Vegetam pelos canais da burocracia e também
deixam simplesmente, que seus diretores e outros funcionários menos graduados
recebam os míseros cruzeiros de seus salários irreais. Ao lado deste quadro
triste, encontramos pessoas incompetentes dirigindo-os. Encontramos pessoas
completamente alheias ao sentido moderno de museu, que deve ser uma instituição
viva onde palpitem os elementos significativos da cultura. Aqui o burocrata
quase nada faz. Cruza os braços pela sua incompetência diante das dificuldades,
ao invés de enfrentá-las. Estive recentemente nos Estados Unidos visitando
vários museus nas capitais e em cidades do interior. Confesso que fiquei
impressionado pelo trabalho de seus diretores; de centenas de voluntários que
trabalham de graça pelas instituições e também pela atividade desenvolvida. Lá
(e não cá) os museus faturam, arrecadam dinheiro com venda de livros de Arte,
reproduções, catálogos e de vários objetos artísticos.
Alguns
deles têm restaurantes e bares que exploram um número certo de contribuintes,
quer sejam pessoas jurídicas ou físicas; incentivam as doações e até fazem
excursões culturais para o exterior. Parece que isto só acontece nas grandes
cidades americanas.
Não,
também nas cidades de porte médio. Lá cobram ingresso para as pessoas visitarem
os acervos e fazem exposições importantes.
Aqui
quase nada acontece. Quando acontece uma grandiosa exposição (casos raros) é
promovida por embaixadas, consulados ou instituições estrangeiras. Os nossos
diretores de museus só sabem gastar. Esquecem a palavra arrecadar. Ficam
esperando as míseras dotações oficiais. Não têm imaginação.
São
burocratas, que serveriam melhor se lhes fossem dados carimbos de repartições
públicas mas de pouco movimento.
É
preciso agitar, como dizem os jovens.
É
preciso criatividade para se dirigir. É hora de descruzar os braços e realizar
alguma coisa.
Garanto
que a maioria, ao terminar a gestão, quando for fazer os tais relatórios vai
ter que inventar serviço, porque o que realizou foi pouco e insignificante. É
preciso também não expor qualquer coisa, a exemplo do Museu de Arte da Bahia,
que realiza esta pobre exposição de jovens artistas de Joinville, ou exposições
como a tal “Cadastro”, de triste memória, realizada pelo Museu de Arte Moderna,
que agora, além de depósito, é arquivo de artista. Está cadastrando ou
arquivando...
Obra do artista Murilo que foi um dos premiados |
Alguns inconformados estão falando aos redemoinhos que os prêmios do salão “saíram pros mesmos”. É uma inverdade. Muitos jovens e desconhecidos foram premiados. Mas, certamente outros já conhecidos e talentosos não podiam ficar de fora pela qualidade da obra que ostentam. O mais é a falta do que fazer e visão retorcida das coisas. É hora de aplaudir os premiados e não procurar confundir com blá blá blá que ninguém entende ou citar autores que não nos interessam.
CRIANÇAS VÃO BRINCAR DE PINTAR NA CAIXA D’ÁGUA
Uma tarde de emoção viveram dezenas de crianças que participaram de uma promoção especial promovida pela Fundação Cultural do Estado, buscando a realidade cultural de cada bairro. A primeira experiência, no último dia 10, no Nordeste de Amaralina, e a próxima será no dia 25, na Caixa D’Água.
O barro é a essência de Maragogipinho |
FESTA
CONTINUOU
Algumas
crianças nem andavam com desenvoltura, outras, envergonhadas com a estranha
presença dos organizadores, ficavam cabisbaixas. Outras, andavam de um lado
para outro levando os pincéis entre as pequenas mãozinhas sujas. Delinearam
gravuras rústicas e nomes e recados de amiguinhos, a exemplo de Joana que
escreveu com grandes e grossas letras vermelhas “Quero uma boneca grande e
loura, do meu tamanho, e um vestido de bolinha para minha mãe”.
Houve
choro, também.
Choro,
quando um garotinho reclamava; “Roubaram meu barro que ia fazer uma máquina de
escrever e mandar uma carta para “Batman” vir matar um morcego que aparece lá
em casa toda a noite”, queixava-se Pedro de seis anos, da escola de “Tia
Alice”.
No
final da tarde todos queriam saber quando a equipe voltaria ao Nordeste de
Amaralina para realizar novas brincadeiras.
IDENTIDADE
CULTURAL
“Nosso
objetivo é a aproximação direta com a comunidade, atendendo ás carências e
dificuldades da mesma, agilizando uma programação cultural dentro das escolas e
grupos interessados em cada bairro”, afirma Cristina Mendonça, coordenadora do
grupo de trabalho responsável pela Dinamização Cultural nos bairros e de
escolas atingidos pelo Prodasec e desenvolvimento pela Fundação Cultural do
Estado-SEC. O programa é dividido em três etapas: estudos, buscando o
conhecimento da realidade cultural de cada bairro, produção e difusão cultural
e desenvolvimento de recursos humanos para ação comunitária. Estão sendo feitos
contatos nos bairros do Cabula, Alagados, Caixa d’Àgua e Nordeste de Amaralina.
No bairro do Cabula será apresentado o filme A Grande Feira, no Nordeste de
Amaralina está sendo desenvolvido um trabalho com bonecos. O próximo encontro
será na Caixa D’Água, dia 25 de outubro.
Dessa
forma, as crianças que deixaram os coqueirais do Nordeste de Amaralina catando
e dançando ao som do violão de Leila Gaetha, que brincaram com barro orientados
por Maria Betânia Vargas, com o grupo de trabalho da Fundação Cultural, formado
por Sue Ribeiro, Lúcia Mascarenhas, Osmária Ferreira, Isabel Gouveia e Cristina
Mendonça e com a equipe integrante do programa Museu/Escola/Comunidade.
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