JORNAL A TARDE DOMINGO, 1.º DE
JUNHO DE 1980
POUCOS E RAROS, UMA EXPOSIÇÃO DE
PUBLICAÇÕES FORA DO SISTEMA
A propósito da exposição Poucos e Raros, realizada na Biblioteca Municipal
Mário de Andrade, em São
Paulo , no final do mês de março, organizada pela editora
Poesia e Arte,onde foram reunidas edições (livros, jornais, revistas, folhetos,
calendários, agendas etc.) fora do sistema oficial de publicações, que serão
apresentadas ao público baiano no mês de agosto próximo, o artista e professor
da Faculdade de Artes Plásticas da FAAP, Júlio Plaza, teceu as seguintes
análises e observações:-
Do
ponto de vista da produção editorial, existem duas formas básicas atuantes no
mercado: a edição sistema e a edição não-sistema. Na produção sistema o
livro sai ao público em função de um círculo já estabelecido: criação,
produção, distribuição e comercialização sincronizados e usando como apoio os
meios de comunicação de massa.
Na
edição não-sistema, independente ou alternativa, o autor e agente de produção
se confundem, ele faz todas as operações, desde a criação até o contato com o
público. Esse tipo de atuação e animação de circuitos é protótipo de atuação
política em termos culturais, na medida em que cria espaços e veículos
diferentes dos espaços e veículos convencionais, estabelecidos, policiados e
viciados, permitindo ir ao encontro de um público outro menos imbecilizado pela
ideologia artística do poder.
O
“livro como forma de arte” cria um novo tipo de ação artística. Está
relacionado, primeiramente, à produção artística dos poetas que nele encontram
seu espaço “natural” como o artista visual tem outros meios igualmente
“naturais”: o quadro, o mármore etc. É por isso que a primeira relação
semiótica entre a produção visual plástica e a produção verbal dar-se através
do paralelismo de linguagens (escrita-ilustração), notadamente a partir da
primeira revolução industrial, ou melhor, a partir da invenção da imprensa.
No
“livro como forma de arte”, prossegue Júlio Plaza, o suporte livro é
considerado como mídia concreto para veicular um trabalho que somente se pode
realizar sobre este suporte, da mesma forma que um quadro ou um filme só pode
ser veiculado no suporte correspondente. Importa tratar o livro como mídia,
como suporte de arte significativamente ativo e não como mero fundo passivo.
Nessa categorização excluem-se os livre memória ou os
livro-divulgação-de-informação que se encontram noutros suportes.
RETROSPECTO
Pode-se
ver a atividade artística relacionada com a imagem, enquanto complemento do
verbal, nas iluminuras dos irmãos Limbourg ( Mui Ricas Horas do Duque de
Barry, cerca de 1416, Paris), nos livros dos humanistas, nos incunábulos
(livros impressos nos primeiros anos da arte de imprimir, até 1.500) e nos
livros de ciência ilustrados por artistas.
Dare
Militari, de Valturius, é o primeiro livro ilustrado com imagens impressas de
equipamentos militares, (Verona, 1472) e Gart der Gesundheit (Mainz, 1485),
de Peter Schoffer, colaborador de Gutemberg, é o primeiro herbário, termo
utilizado a respeito de coleção de plantas secas destinadas a estudo ou
guardadas como comprovantes das classificações estabelecidas, no caso,
refere-se a ilustração com imagens de plantas.
O
catálogo de Poucos e Raros, entretanto, somente faz levantamento do “livro como
arte” de cultura francesa, não mencionando outros grandes nomes relacionados ao
Construtivismo e Futurismo russos cujos movimentos proporcionaram valiosa
atividade editorial, principalmente, no Atelier de Artes gráficas de Vitebsk,
dirigido por El Lissitzky, que editou livros sobre vários assuntos e trabalhos
dentro dos movimentos da época, livros estes fac-similizados hoje em dia no
Ocidente, como “suprematisme” de K. Malevitch. Mas, o artista que inaugura de
forma radical a categoria do “livro como arte” é Mallarmé, ao publicar em 1897
Um Coup de Dês
(Um
Lance de Dados), aproveitando recursos tipográficos e sua disposição no branco
das páginas, usando o branco como silêncio.
Mallarmé
rompe, radicalmente, com o esquema de leitura linear do poema e indica no
prefácio da primeira versão, “sem presumir do futuro o que sairá daqui, nada ou
quase uma arte”.
O
livro, no Ocidente (cuja forma não mudou desde a invenção do papel), é um
repertório de sinais em sucessão, códigos digitais ou analógicos que correm paralelos
(caso de livros ilustrados) ou se interpenetram como realidade significa. Este
processo de canalização da comunicação privilegia a forma
lógica-discursiva-linear: palavras sucedem palavras, linhas sucedem linhas,
páginas sucedem páginas. Já a intenção analógico-sintético-ideográfica produz a
interação escrita-desenho (caso elementar do caligrama) e outras realidades
sígnicas com características de simultaneidade.
Observa,
ainda, Júlio Plaza que no tradicional livro-ilustração, “álbum de gravuras” ou “edição
de luxo”. Normalmente, em formato de “plaquette” impresso “in-folio”, texto e
imagem correm separados e se comentam.
No
Brasil é feito não em folha dobrada (“info-folio”), mas em folha solta,
acrescentando-se uma função outra que não a da edição (a gravura pode ser
destacada e pendurada na parede). O Poema-livro, onde o livro é usado como
veículo da produção poética, pode conservar a informação estética num outro
veículo; cartaz, filme, dialogando porém com o suporte livro. Mas, se o
poema-livro pode ser transposto, sem perda significativa para outro meio
livro-poema, livro-objeto ou livro-obra mostra uma tal interpenetração da
informação estética e do veículo, que não há separação possível sem prejuízo
para o conjunto.
Um
dos primeiros livros criado dentro destas condições é A Ave (1954) de
Wlademir Dias-Pino, onde poema e suporte se confundem de tal maneira que a
fiscalidade do papel está interpenetrada com o poema. Ronaldo Azeredo, também, vem se preocupando com esta
problemática desde a década de 50, tendo feito, em 197, um livro de pano sem
título verbal e, recentemente, o poema Armar (1977),
caixa-livro-quebra-cabeças com o poema Maria-José.
OUTROS
EXEMPLOS
Um
Coup de Dés é um poema-livro, como também o poema Life de Décio Pignatari, onde
o poeta aproveita o homemorfismo (as semelhanças das partes) a modulação das
letras para criar uma seqüência progressiva (dada pela quantidade de informação
gráfica de cada sinal, Life), ritmo de crescimento da vida (do signo).
Finalmente, pela montagem de todas as letras, produz a síntese na forma do
ideograma “nipon” ou sol nascente.
Rayuela de Júlio Cortazar (1968), que propõem uma leitura do linear-discursivo e da
causa-efeito de capítulo para capítulo, deve, também, ser incluído neste grupo.
Também pertence a esta categoria o livro Júlio Plaza Objetos editado em 1968,
que procurou uma inter-relação com o espaço circundante (interior-exterior) por
estruturas de pura sintaxe visual, trabalho este, posteriormente, incorporado
ao Poemóbiles (1974) onde os poemas (de Augusto de Campos) e estruturas
integram-se isomorficamente.
Finalizando,
Júlio Plaza lembra que existem, ainda, tipos de livros como os denominados
Cadernos, feitos principalmente por artistas plásticos. Originalmente o
Caderno vem de uma prática conotada como didática (cartilha, caderno
colegial) hoje em dia recuperada pelos artistas conceituais, este Caderno de
caráter analítico-discursivo, semântico, tem como característica a possível
recuperação da informação para outro meio. (Albenísio Fonseca)
O
MAIOR CRISTO DE CERÂMICA DO PAÍS ESTÁ EM BRASÍLIA
O ceramista baiano Osmundo apresentou, em Brasília, o seu mais recente
trabalho: uma imagem de Cristo em cerâmica, medindo 1.85m, a maior existente no
Brasil executada em barro. A
imagem foi criada especialmente para a Secretaria Geral da Ceplac- Comissão
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira.
Osmundo
Oliveira Teixeira Júnior, de 25 anos, parte para a Europa em julho próximo para
cursar uma bolsa de estudos de seis meses, de especialização em cerâmica, concedida
pela Fundação Kaluste Gulbenkian, de Portugal por indicação de oito renomados
intelectuais artistas brasileiros, entre eles Jorge Amado e Carybé. Ele
estagiará na fábrica Viúva Lamego, de Lisboa.
PANELAS
E SANTOS
Foto atual de Osmundo |
O
“Cristo”, integra uma trindade, construída em um mês de trabalho: uma imagem
de Santa Luzia que está em Ilhéus, um
São Judas Tadeu, exposto em Itabuna, adquirido por uma empresa financeira.
DE
NORTE A SUL
Em
Itabuna, Osmundo recebeu as primeiras orientações sobre a técnica de trabalhar
com barro da escultura Cristina Gedeon em 1974, transferiu-se para Salvador,
onde o estudo e o trabalho disciplinados plasmam a personalidade e o
comportamento do artista com o ceramista alemão Udo Knoff, e cursa Artes
Plásticas na Universidade Federal da Bahia.
No
atelier que divide com Udo Knoff em salvador, Osmundo modela seus, santos,
quase sempre atendendo a encomendas de instituições e personalidades, de vários
estados. O maior santo em cerâmica do Brasil é de sua autoria e encontra-se na
Catedral de Itabuna, um São José, padroeiro da cidade, de 3.80m. Entre os seus
trabalhos mais importantes estão: no museu da cidade de Salvador, as três
imagens dos mais populares santos da Bahia: São João, São Pedro e Santo
Antônio, na matriz, da cidade de
Olindina (norte da Bahia), Nossa Senhora da Conceição, na cidade histórica de
Paraty, RJ, um trabalho de restauração de Santa Ana do século XVII.
Os
santos de Osmundo habitam museus, igrejas, bancos, lojas e mansões de norte a
sul do país. Famosas coleções particulares, nacionais e estrangeiras, possuem
peças de sua autoria.
ENCONTRADO
CÁLICE DO SÉCULO OITAVO
Dublin,
(UPI)- Um cálice de ouro e prata, datando do século oitavo, foi descoberto no
campo remoto do condado de Tipperaty, na
Irlanda.
“Ele
é tão valioso que não é possível atribuir um valor em dinheiro”, disse um porta
voz do Museu Nacional.
“Trata-se
d mais importante descoberta histórica, na Irlanda, em pelo menos um século”.
O
cálice foi encontrado por um morador da região que procurava um tesouro
enterrado. O Museu Nacional não quis dar a localização exata para evitar uma
invasão de “caçadores de tesouros”.
Uma
equipe de arquelógicos iniciará, imediatamente escavações no local.
O
cálice é semelhante ao famoso cálice de Ardagh, encontrado no século passado.
Esta
objeto é tão valioso que nenhuma companhia de seguro quis cobri-lo quando foi
levado para os Estados Unidos, há alguns anos, como parte de uma exposição de
tesouros irlandeses.
Madri,(UPI)-
A polícia informou que recuperou cinco quadros roubados de autoria dos mestres
espanhóis Goya, Juan de Toledo e Zurbaran e prendeu cinco suspeitos, inclusive
um belga que testava, a ponto de comprar
as obras.
Os
quadros, avaliados em mais de 700 milhões de cruzeiros, foram roubados, no dia
25 de maio, de uma residência particular em Madri. A investigação da polícia determinou que o
ladrão, um colombiano identificado como Marco Túlio Taborda Velazquez,
entregasse as obras a Maria Luz Gimenez Portoles, conhecida vendedora de
objetos roubados.
Esses
dois desentenderam-se porque a mulher tentou lograr o ladrão, dizendo-lhe que
os quadros tinham sido roubados dela.Taborda
foi preso por causa de outros furtos e entregou a cúmplice á polícia.Os
agentes chegaram a tempo de surpreender a mulher e os sócios ao ponto de
entregar as obras ao comprador identificado como Francisco José Seronveu, belga
nascido na França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário