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sábado, 9 de agosto de 2025

ANTONIO BRASILEIRO O POETA DAS FORMAS E CORES

Antonio Brasileiro pintando em seu
 ateliê , Feira de Santana, 2025.
O Antonio Brasileiro divide o seu precioso tempo entre a literatura e as artes visuais. Já escreveu centenas de poemas, crônicas, ensaios , novelas e diariamente está se expressando neste mundo onírico onde as ideias fluem como nuvens que se movimentam num céu da criação. Quando não está poetizando sua caneta e seus pincéis revelam formas e cores que pousam suavemente no papel ou na tela branca. Esta vida de contemplação e criação define um pouco este homem que já escreveu vários livros de poesias e crônicas, pintou mulheres gordinhas, ciclistas e até mesmo formas abstratas  inspirado no que vê nas cidades e em sua fazenda. É um dos poetas vivos mais festejados do país e também reconhecido como ficcionista e ensaísta.  Desde a adolescência que vem se dedicando à poesia não só escrevendo, mas ao longo de sua vida já criou algumas publicações como as revistas Serial, Hera e Cordel com a participação de outros poetas e escritores. É primo em quarto grau do grande poeta baiano Antônio de Castro Alves, o seu bisavô João José de Castro Alves era irmão do médico e pintor Antônio José Alves, um dos fundadores da Sociedade de Belas-Artes da Bahia e pai do Poeta dos Escravos que escreveu o famoso poema Navio Negreiro.

 Antonio Brasileiro criando
 um novo poema.
Ele nasceu na cidade de Ruy Barbosa, que fica no leste da Chapada Diamantina, na Bahia, e que tem a Serra do Orobó como um santuário ecológico, e a principal atração turística, especialmente para os que gostam de realizar trilhas. Fez o primário lá, e em seguida veio para Salvador. Graduou-se em Ciências Sociais na década de 60. Durante o regime militar os cursos de Ciências Sociais explodiram em número de alunos. 
Fomos contemporâneos na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da Universidade Federal da Bahia, que funcionava no casarão na Avenida Joana Angélica, hoje ocupado pelo Ministério Público Estadual. Nesta época começa a pintar, estuda nos Seminários de Música e publica os primeiros livros. Em 1971 vai morar em Feira de Santana dando continuidade ao seu trabalho literário e de artista visual.

                                            VIDA DE INTELECTUAL

O poeta e artista visual Antonio Brasileiro Borges nasceu em quinze de junho de 1944 na cidade de Rui Barbosa onde estudou o primário na Escola Municipal Ernesto Carneiro Ribeiro. O nosso personagem é filho de Manoel Alves Borges e d. Elvira Brasileiro Borges. Lembrou que a escola tinha apenas quatro pequenas salas, cada uma dedicada a um dos quatro anos do primário. Ao término veio morar com uma tia que tinha um pensionato de estudantes na Rua Direita da Piedade. Fez a admissão e foi estudar no Ginásio Brasil, que ficava nas imediações, onde hoje tem o shopping Lapa. Aí ficou apenas um ano, e em 1956 foi matriculado no Colégio Severino Vieira, no bairro de Nazaré. Lá encontrou alguma dificuldade de adaptação e foi reprovado porque o curso era puxado, e as

Quatro obras a óleo sobre tela do artista.
professoras Maria Helena e Candolina eram famosas na época por sua exigência e disciplina. Foi trabalhar com o irmão mais velho que tinha uma loja de tintas chamada Cogel, na Rua Lopes Cardoso, no Comércio. Depois de trabalhar como vendedor seu irmão lhe ensinou algumas noções de contabilidade e ele passou para a área administrativa. Terminou o colegial estudando à noite no Colégio da Bahia, fez vestibular para Medicina e Engenharia perdendo as duas provas eliminatórias, respectivamente. Em 1964 decidiu fazer novo vestibular desta vez para Ciências Sociais, embora seus familiares insistissem que fizesse medicina ou engenharia. Advogado não aconselhavam alegando que tinham milhares de advogados na Bahia. Lá conheceu os poetas Afonso Manta , Fernando Batinga de Mendonça, Marcos Santarrita e Maria Conceição Paranhos. A Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas era um baluarte da resistência contra o regime militar. Também participaram na época deste movimento cultural intenso Gey Espinheira, Luiz Café, no cinema Ronaldo Sena e Kabá Gaudenzi, diretor de conteúdo da Mandacaru Vídeos, dentre outros.

Três obras da série Ciclistas, de Brasileiro.
Disse que preferiu estudar Ciências Sociais e  que não escolheu fazer o vestibular para Letras “para não perder a minha criatividade e liberdade”. Decidiu também estudar música nos Seminários de Música da UFBA passando a tocar violão,  até participou do coral, e logo depois começou a pintar. Publicou os primeiros livros e criou as Revistas Serial e Cordel. Mudou para o Rio de Janeiro para tentar a vida de poeta e lá enfrentou dificuldades financeiras e até de sobrevivência retornando à Salvador. De 1966 a 1967 morou em Belo Horizonte, e tem poemas publicados na Revista Civilização Brasileira, editada por Ênio Silveira, que era o dono da editora e um dos patrocinadores da resistência contra a ditadura militar no campo das letras. Esta revista reunia os novos e velhos intelectuais de esquerda que na época lutavam por liberdade e anistia.

Capas de dois livros seus, e outro de
Filomena Perrelli Balestieri.
Em 1980 sai pela Editora Civilização Brasileira seu primeiro livro de poesia em edição nacional. Aos 44 anos, passou a fazer o Mestrado em Letras, pela Universidade Federal da Bahia, concluindo em 1982. Ingressa no ano seguinte como professor, na Universidade Estadual de Feira de Santana e posteriormente faz o Doutorado em Literatura Comparada, na Universidade Federal de Minas Gerais, concluindo em 1999. Era a mais conceituada, e sua tese foi Da Inutilidade da Poesia que perpassa e “explora a função da poesia em um mundo que frequentemente questiona sua importância e utilidade. Também  analisou a questão da inutilidade útil da poesia, recorrendo a pensadores e poetas entre eles  os filósofos  Platão, Caio Cássio Longino ( 213-c. 273)  e a  Horácio  que foi um filósofo e poeta romano ; Shelley um proeminente poeta romântico inglês, conhecido por sua poesia lírica e filosófica, bem como por suas visões políticas radicais; Charles Baudelaire, escritor francês do século XIX, considerado o pai do simbolismo ; pelo filósofo alemão Martin Heidegger; Paul Valéry, que  foi um filósofo, escritor e poeta francês da escola simbolista e tinha interesse pela matemática, filosofia e música, e pela obra do brasileiro  João Cabral de Melo Neto, que nasceu em Recife, e é considerado um poeta hermético e racional. Em 2009 Antonio Brasileiro é eleito para a Academia de Letras da Bahia. Como pintor, faz parte da chamada Geração 70 de artistas plásticos da Bahia, com quase uma centena de exposições coletivas e individuais.

                                          NERUDA NA BAHIA

Ilustração de Antonio Brasileiro.
Desde os doze anos de idade que fazia seus poemas românticos influenciados pelos poetas Castro Alves e Cassimiro de Abreu. A partir dos catorze aos dezoito anos   lia Manoel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes e o português Fernando Pessoa. Em 1960 passou e ler obras da Editora do Autor, a escrever e pintar. Segundo a Wikipédia “A Editora do Autor foi uma editora brasileira fundada em 1960 por Fernando Sabino em sociedade com Rubem Braga e Walter Acosta, cuja divisão, em 1966, deu origem à Editora Sabiá.” Em 1966 Antonio Brasileiro criou a Revista Hera publicando versos de Rui Espinheira, Afonso Manta, Maria da Conceição Paranhos e Fernando Batinga de Mendonça, que escreveu um poema elogiando o guerrilheiro Che Guevara, sendo preso pelos agentes da ditadura militar.

Disse o poeta Antonio Brasileiro que era uma pessoa muito ativa e que estudava francês, latim, russo e até iorubá. Livros de trinta a quarenta páginas  já escreveu uns trinta, e que a História do Gato já está na quarta edição. Tem programado o lançamento de um novo livro com umas setenta páginas para setembro próximo.

Nesta capa vemos o desenho 
singelo do poeta-pintor.
Em 1968, Pablo Neruda visitou a Bahia, onde desfrutou da culinária local saboreando acarajé e vatapá, e expressou sua admiração pela pimenta malagueta. Ele estava acompanhado de sua esposa Matilde Urrutia. Neruda já conhecia a Bahia, mas fez questão de mostrar a região a sua esposa. Ele foi ciceroneado pelos escritores Jorge e Zélia Amado. Na ocasião estava sendo realizada em Salvador uma Feira do Livro, na Praça da Piedade, e o Antonio Brasileiro participou com uma barraca onde exibia Poemas Cartazes com seus versos e de outros poetas baianos. O poeta chileno visitou o local, mas infelizmente não tem nenhuma foto registrando o encontro desta rara visita. Nesta época  existiam poucas máquinas fotográficas para registrar os fatos, e talvez possa ser encontrado algum registro nos arquivos antigos dos jornais locais.

                                     

                      PINTOR PROFISSIONAL

Vemos aqui uma obra onde o artista mostra 
completo domínio da sua arte autoral.
O poeta e pintor Antonio Brasileiro disse ainda que dos dezessete aos dezoito anos pintou usando a tinta guache e papel. Em seguida iniciou o processo de pintar a tinta óleo e que até os quarenta anos de idade não se arvorou a comercializar suas obras. Quando completou quarenta anos lembrou que iniciou a comercialização vendendo cada uma a cem dólares .  Participou de muitas exposições coletivas e fez algumas individuais. Citou que foi um dos artistas integrantes do Projeto Nordeste e que realmente sofre um pouco de preconceito por ser um poeta reconhecido quando vai expor suas obras visuais, apesar de já ter feito uns cinco mil desenhos e mais de duas mil pinturas. Ultimamente passou a simplificar o desenho. Lá pelos anos  80 fazia um figurativo quase realista, depois foi evoluindo para um "expressionismo meio abstrato".

Outra obra de Antonio Brasileiro.
O pintor Antonio Brasileiro revelou ainda que sente mais vontade de fazer uma pintura abstrata. Quando está pintando levanta cedo e vai para o ateliê e muitas vezes pinta até a madrugada. Para ele  com a chegada de impressoras modernas que fazem cópias de obras que satisfazem o gosto duvidoso de algumas pessoas e também de estampas  bem realizadas e assim  a pintura ganhou muita concorrência. Isto não aconteceu só no Brasil inteiro, mas também em quase todos os países. Atualmente está mais dedicado à Literatura , escrevendo todos os dias e tem muitos projetos de livros. Escreve um diário que já está com mais de três mil páginas.

Outro lado do poeta e pintor Antonio Brasileiro é de fazendeiro. Nos anos noventa seus irmãos compraram umas fazendas no estado do Acre, e ele também entrou na empreitada. A terra era barata , de boa qualidade , tomou gosto, chegando a ter três fazendas, que considera pequenas. Mas, já se desfez doando aos filhos, e a última que possui no município de Ibicaraí é administrada por um dos filhos.

                  PRINCIPAIS EXPOSIÇÕES

Obra da série que ele chama
meio figurativa.
E1975 - Fraxem I Cinco Artistas Feirenses – Instituto Cultural Brasil/Alemanha – Salvador-BA. 1978 - II Exposição de Poemas Cartazes da Bahia – Instituto Cultural Brasil Alemanha – Salvador-BA; Fraxem II / Opus Quavro – Galeria Cañizares – Salvador-BA; I Salão de Artes Plásticas – Museu Regional – Feira de Santana-BA - Menção Honrosa; proposta 80 – Museu de Arte Moderna da Bahia – Salvador-BA. 1980 - I Encontro de Artistas Plásticos do Nordeste – Museu de Arte Moderna da Bahia – Salvador; Quarto Salão Nacional de Artes Plásticas – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro-RJ. 1983 - Circuito de Arte do Nordeste – Museu de Arte Moderna da Bahia – Salvador-BA; Quatro Artistas da Bahia - Antonio Brasileiro, Chico Liberato, Juraci Dórea e Sante Scaldaferri – Mab Galeria de Arte – Salvador-BA. 1986 - I Salão Metanor/Copenor de Artes Visuais da Bahia – Museu de Arte da Bahia – Salvador - Menção Honrosa; Mostra Baiana de Artes Plásticas – Teatro Castro Alves – Salvador-BA. 1987 - Octaedro – Galeria Raimundo de Oliveira – Feira de Santana-BA. 1988 - Projeto Nordeste: Itinerante I - Salvador, Aracaju, Maceió, Recife, João Pessoa, Natal; Exposição de Inauguração – Espaço Cultural 18 do Paschoal - Salvador-BA; Bahia Artists Exhibition – W.K.Kellog Foundation - ACBEU Gallery - Salvador-BA; Projeto Nordeste: Itinerante II – São Luís, Teresina, Fortaleza. 1992 - Individual Antonio Brasileiro ­– Espaço A – Feira de Santana-BA. 1994 - Futebol: Uma Interpretação Plástica – Escola de Belas Artes – Salvador-BA. 2001 - Mais Cem – Museu de Arte Sacra – Salvador-BA. 2004 - Antonio Brasileiro Exposição Individual – Galeria Carlo Barbosa – Feira de Santana-BA. 2005 - Antonio Brasileiro Diálogos – Conjunto Cultural da Caixa – Salvador-BA.

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