JORNAL A TARDE ,SALVADOR,
DOMINGO, 18 DE MAIO DE 1980
DESABAFO DO ESCULTOR BAIANO IVAN
MATOS
Dois projetos de esculturas do artista Ivan Matos,prontos para serem executados |
Multa-se
uma empresa por derrubar árvores em mais de 1 milhão de cruzeiros, o que acho
uma medida correta e absolutamente coerente, na defesa da nossa paisagem e
ecologia.
Resta
saber se tal medida foi fundamentalmente adotada visando os interesses
paisagísticos, ecológicos e urbanísticos da cidade, ou foi uma medida
alicerçada em divergências pessoais ou demagógicas, ou, o que é pior, só foi
adotado após o clamor e fortes denúncias feitas através dos jornais. Em outras
palavras, é preciso fazer denúncias, é preciso, sempre que necessário, chamar a
atenção dos homens do governo, das empresas privadas e, sobretudo, do povo em
geral para a necessidade de, no vazio das praças, no vazio dos grandes prédios
públicos ou particulares, colocarem obras de arte, absorvendo, assim, a
produção dos artistas plásticos da nossa terra.
Paradoxalmente,
fala-se da Bahia como a terra das artes e dos artistas. Infelizmente o que se
vê é uma situação de monopólio, onde apenas um escultor, bom escultor evidentemente,
e mais uns dois muralistas têm mercado junto aos órgãos do governo e às grandes
empresas. Será que só existem estes poucos bons artistas na nossa cidade? Não,
apenas criou-se um círculo vicioso, que é preciso romper urgentemente.
Compete
a nós, artistas plásticos, urbanistas, arquitetos, críticos, marchands e todos
aqueles, de uma forma ou de outra, estão envolvidos com a produção das artes
plásticas e humanização da nossa cidade, tentar romper este círculo vicioso
que, por ser monopolista, torna-se nefasto aos interesses de toda uma
comunidade.
Não
sei se existe alguma lei, e se não existe já passou da hora de criá-la;
obrigando as empresas de construção civil a colocarem obras de arte nos prédios
por elas construídos, quer sejam prédios particulares ou públicos, sendo esta
uma das inúmeras formas possíveis de absorver a produção dos artistas plásticos
de nossa terra.
É
muito importante que a Prefeitura fiscalize aqueles que indiscriminadamente
derrubam árvores na nossa cidade. Mas, também, é muito importante que, com esta
objetividade, a firmeza absorva um pouco da produção dos nossos artistas.
Espaço existe, e recursos, embora carentes, com um pouco de criatividade podem
surgir.
MAR,
CÉU E SOL NAS TELAS DE TURNER
O
grande pintor inglês Turner deixou por testamento todas as suas obras, tanto as
telas pintadas como numerosos esboços.
A
Grã-Bretanha e desde a sua morte elas fazem parte do acervo das maiores
galerias do pai, a saber: A Galeria Tate e o Museu Britânico de Londres,
depositários do legado de Turner.
Um belo por do Sol, do pintor inglês Turner |
Em
1905 sir Joseph Duveen mandou construir cinco galerias para as telas de Turner.
A
Nação elevou-o à categoria de lorde e a maior parte das aquarelas foram
entregues ao Museu Britânico, enquanto que boa parte das aquarelas guardadas
durante algum tempo nos porões da Galeria Tate sofreu danos em conseqüência de
uma cheia do Rio Tâmisa.
A
exposição intitulada “Sea, Sky and Sun” (Mar, céu e sol) aberta na Galeria tate
por ocasião de uma recolocação das grandes telas a óleo de Turner expostas na
Galeria Duveen, compreende cerca de 50
esboços, alguns óleos, outras aquarelas, que pela primeira vez são exibidos ao
público. Um grupo de 16 esboços, na sua maioria estudos de cor, de paisagens
marítimas ensolaradas, foram encontradas em 1962, por mera casualidade.
Tinham
sido empacotadas (possivelmente por Ruskin que fez uma série de seleções das
obras, depois da morte de Turner) em papel amarelo de embrulho, bem amarradas
com barbante. São pois, uma novidade, lindos estudos de cor com cenas de mar,
com barcos e figuras na praia.
Além
deste grupo, há dois esboços correspondente ao último estilo Turner, talvez
executados em 1840. outros dois esboços a óleo em cartolina, ao contrário,
seriam de 1835; uma tela igual, pertencente ao Museu Nacional de Gales foi
incluída na exposição para permitir uma comparação: a sua autenticidade teria
sido colocada em dúvida.
PORQUE
OS ARTISTAS PRÉ-HISTÓRICOS PINTAVAM MÃOS
As mãos pintadas numa rocha de caverna |
As
mãos são as únicas partes do corpo que os primitivos representaram como
unidade, únicas, sem os braços que as acompanham,nem sequer uma vez. A pesquisa
promovida pela Revista Pré-História partiu da análise do modo em que as mãos
eram representadas. O primeiro e mais simples é chamado Em Positivo, quer dizer
que se pintavam as mãos e a apoiavam nas paredes das cavernas, deixando assim
estampado o desenho ; o segundo, jamais elaborada era Em Negativo, apoiavam as
mãos nas paredes e depois delineavam o contorno pintando ao seu redor para que
o desenho da mão ficasse sem pintura. O terceiro modelo era ainda mais
elaborado: em primeiro lugar pintava-se a parede, o fundo, depois começava-se
os contornos como num segundo modelo, com uma tinta diferente. Este terceiro
tipo é chamado Pseudo Positivo.
Supunha-se
há muito que o sistema dependia dos fins preciosos, mas só agora foram
individualizados.
E
em primeiro lugar as mãos eram usadas como sinal de identificação numa época em
que não existia a escrita e alguém queria marcar a sua presença. A isto se
acrescenta o sentido de propriedade, quando são as mãos da própria pessoa que
aparece repetidamente. Também com o sentido de propriedade explicam-se os
desenhos de mãos, nas quais faltam um ou mais dedos. Seriam especificações
convencionais para indicar o número de pessoas ou animais que acompanhavam o
proprietário.
Formularam-se também teorias para explicar o
uso de cores diferentes, sobretudo o preto e o vermelho. O preto é a cor mais
natural e podia não ter às vezes significado, mas as vezes implica a negação da
luz, e portanto a morte.
Talvez
a realização das imagens em negativo, deve-se a vontade de querer evitar o
preto por seu sentido lutuoso. Quanto ao vermelho está sem dúvida relacionado
com o sangue e com a vida.
Ao
pintar as mãos de vermelho muitas vezes pretendia-se carregá-las de um valor
mágico o da sobrevivência.
Quanto ao tamanho das mãos muitas vezes são
ligeiramente menores que a do homem médio, como se fossem de mulher. Sugeriu-se
que isto poderia indicar a idéia de uma potência feminina superior, algo assim
como uma deusa mãe, representante da fecundidade . Por Annie Rupert, da Ansa.
PAULO
NEVES , FOTÓGRAFO
Esta
foto parece arranjada, ensaiada. Mas não foi. O fotógrafo Paulo Neves, que
trabalha em nossa reportagem conseguiu captar este momento com grande
felicidade. Um garoto, desses que andam perambulando pelas ruas das grandes
cidades resolvera descansar num galho de um flamboyant. O fotógrafo ia passando
e acionou a sua máquina Nikon conseguindo este belo efeito de luz. Os galhos e
a figura humana aparecem em
silhueta. Ao fundo o Elevador Lacerda, com sua imponência
furando o céu. A árvores fica próxima ao Cemitério de Sucupira, um local
inóspito e tão criticado. Porém, mesmo um local como este é possível captar-se
um momento de vida e beleza.
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