JORNAL A TARDE, DOMINGO ,10 DE
AGOSTO DE 1980
DESCOBERTOS NOVOS TRABALHOS DO
GRANDE MURALISTA RIVERA
Foram descobertos gigantescos desenhos do pintor revolucionário mexicano Diego Rivera (1886-1957), no porão do Instituto das Artes de Detroit. Os desenhos cobrem uma área de
Rivera
disse na sua autobiografia que pintou os afrescos em 1933 para “representar a
arte de uma época... caracterizada pelas massas, pela maquinária e pelo poder
mecânico nu”. Os murais mostram a vida diária dos operários, a maquinária das
grandes fábricas da indústria de automóveis de Detroit, os progressos da
ciência, a paisagem, a região e o transporte aquático, e na parte superior, são
dedicados à Raça Humana.
Antes
de iniciar a sua obra, Rivera havia estuado a intensa atividade das fábricas de
Detroit durante todas as horas do dia, e fez inúmeros esboços de trabalhadores,
fundições, roldanas e laboratórios. Linda Downs, encarregada do Instituto das
Artes de Detroit, explicou que são muito raros os desenhos preliminares para
murais e, no caso de Rivera, também o seu tamanho. O maior mede 3 metros por 8.
Rivera examina cerâmica |
Mais
ainda, afirmo que muito deles lhe devem suas formas pessoais ao aço, o qual
representei tão assiduamente e o qual amo, embora seja um metal duro e frio”.
Por
algum tempo não se sabia se os murais seriam destruídos, como acontecia com
outros considerados por muitos políticos, no dizer dos seus ricos
patrocinadores. Depois de Detroit, Rivera fez um mural no Centro Rockefeller de
Nova Iorque, que os Rockefeller borraram porque o artista negou-se a suprimir a
imagem de Lenine estendendo as suas mãos a um negro norte-americano e a um
soldado russo.
Rivera
foi muito versátil, mas, a sua maior contribuição à arte foi como muralista. Depois de ter estudado
arte clássica na Europa, regressou ao México decidido a romper com os estilos acadêmicos
e de “investidas” tão populares então. Gradualmente foi desenvolvendo um estilo
que pode usar os progressos técnicos da arte moderna de um modo simples e
popular, para exprimir as realidades políticas frente a um grande auditório.O
muralismo foi pois, para Rivera, a forma mais perfeita da arte popular.
Linda
Dows comentou sobre a contribuição do artista mexicano: “Desde o Renascimento
até o século XX ninguém havia usado o afresco para comunicar-se com o povo, que
normalmente não lhe interessa pela arte. Ele incorporou imagens do meio
ambiente a fim de que a sua mensagem causasse impacto”.
O
muralismo de Rivera teve um impacto imediato e perdurável, fazendo da arte uma
arma da política. Junto com seu patrício, David Siqueiros, Rivera ajudou o
renascimento do muralismo no México que alcançou, depois das suas exibições nos
Estados Unidos durante os anos 30, o máximo da sua popularidade.
Muitos
pintores, trabalhando em projetos do governo decoraram edifícios públicos com
homenagens aos trabalhadores, à indústria e à ciência, sob a evidente
influência das obras de Rivera.
O
movimento muralista mexicano mantém vivo este legado, de tal modo que muitas
paredes de casas deterioradas nos “bairros” no sudeste e no meio oeste dos
estados Unidos são renovados com as imagens de orgulho nacional e de rebelião
que os novos pintores herdaram de Rivera.
A
recente descoberta destes desenhos constitui um grande acontecimento na
história do Instituto de Artes de Detroit. Os desenhos estavam perdidos entre
outros materiais durante a Depressão, quando diminuição no orçamento do museu
deixou este com só um encarregado.
Devido
ao fato que a técnica de pintar afrescos requer que se segue o gesso, os
desenhos preliminares ganham uma especial importância. Muitas das idéias do artista
são captadas no desenho e ao trasladá-las ao gesso, perde-se grande parte da
espontaneidade que os esboços contêm.
O
trabalho da Rivera e, em geral, a arte política dos anos 30 foi na realidade
menosprezado por críticos e historiadores. Parece que unicamente as descobertas
de Detroit ali encontrados, têm a virtude de despertar interesse para as obras,
um tanto esquecidas do muralista mexicano.
O
Instituto de Arte de Detroit exibirá os desenhos de Rivera em 1983, para
comemorar o cinquentenário do seu afresco “Indústria de Detroit”. Esta
homenagem a sua memória se realizará na Cidade dos Operários do Automóvel,
muito distante da sede dos conhecedores da arte em Nova Iorque.
VÁRIOS
PROJETOS SERÃO DESENVOLVIDOS NA BAHIA
A
Universidade Federal da Bahia entrou para o Projeto Universidade da Funarte
recebendo, em dois convênios, o total de CR$2 milhões 195 mil para desenvolver
trabalhos nos setores da música, artes plásticas, teatro, folclore, cinema e
dança, em Salvador e no interior do estado. Os responsáveis pela programações
culturais da UFBa, seguindo a nova filosofia do Projeto Universidade, já deram
início aos trabalhos, procurando levar para as comunidades em vez de simples
espetáculo, um estímulo para que elas, possam, depois, criar e desenvolver sozinhas
seus programas.
A
UFBa, preparou, para o segundo semestre, os seguintes eventos culturais: Concurso de Compositores em Música Erudita, na segunda quinzena de outubro; Oficina de Livre Criatividade, em setembro e outubro, para exercitar a liberdade
criativa de expressão; Pesquisa Lúdica Infantil, em agosto, com comunidades
periféricas de Salvador e pelo interior do estado, onde as crianças pobres
trabalharão com pedra, barro, areia e sucatas, criando brinquedos.
A
UFBa realizará outros projetos como o Teatro Universitário, que começou este
mês e que, até dezembro, apoiará iniciativas de grupos teatrais em faculdades,
difundindo, também, conhecimento teórico de arte teatral entre os estudantes;
um arquivo cinematográfico para guardar filmes que contam parte da história do
estado; um laboratório central de fotografia para atender a área de
documentação visual; um núcleo de atuação cultural, em outubro, para estudantes
de outras áreas; um festival de arte em novembro englobando grupos
semiprofissionais, artistas populares e universitários; uma oficina de dança,
para este mês, com apresentações de vários grupos, uma amostra de filmes e
troca de experiências entre os diversos grupos convidados e, na primeira
quinzena de setembro, uma jornada de curta-metragem que dará atenção especial
aos filmes produzidos fora do eixo Rio-São Paulo.
No
segundo convênio, a UFBa, recebeu recursos para realizar o V Salão Nacional
Universitário de Artes Plásticas da Bahia, de 3 a 31 de outubro, no foyer do
teatro castro Alves, em Salvador.
Os objetivos são apoiar as aspirações dos universitários no
campo das artes plásticas das artes visuais entre os estudantes e a comunidade.
BARBA
MUITO GRANDE
A
famosa cabeça de bronze, representando a chamada Divindade Barbuda, que os
historiadores acreditam ter sido confeccionada entre o IV e V séculos antes de
Cristo, foi totalmente recuperada por uma equipe especial de carabineiros que
cuida da tutela do patrimônio histórico e artístico do Ministério dos Bens
Culturais, na Itália. A cabeça fora roubada em novembro de 1978, do Museu
Nacional de Paestum, e, hoje, está avaliada em 2 bilhões de libras.
INSCRIÇÕES ABERTAS PARA TRÊS CURSOS E UM SALÃO
Estão
abertas as inscrições para o segundo semestre das Oficinas de Técnicas de
Expressão Arte em Série, no Museu de Arte Moderna da Bahia, onde são
fonerecidos os cursos de xilogravura, serigrafia e litogravura.
O
início dos cursos do segundo semestre está previsto para o dia 26 de agosto,
com duração de três meses cada. O curso de xilogravura será ministrado pelas
artistas Sônia Castro e Márcia Magno. As técnicas em serigrafia e litogravura
serão ensinadas por Michael Walker e Renato Fonseca. O número de vagas será de
20 alunos, por curso, e as inscrições estarão abertas até o dia 18 de agosto, no
horário das 9 às 12 horas e das 14 às 17 horas.
No
dia 19, às 14 horas, será realizado um teste de aptidão artística para os
alunois inscritos. Maiores informações no Museu de Arte Moderna, no Solar do
Unhão.
SALÃO
NACIONAL
Foram
prorrogadas, até 12 de agosto, as inscrições para o III Salão Nacional de Artes
Plásticas, que ocorrerá de 03 a
29 de novembro, no Palácio das Artes, no Rio, e que premiará os quatro melhores
artistas plásticos com viagens ao exterior. Outros artistas ganharão viagens
pelo Brasil. O Prêmio Gustavo Capanema, de CR$100 mil, irá para o melhor conjunto de obras e haverá prêmios de
aquisição, de CR$100 mil, para os trabalhos incorporados ao acervo da Funarte.
O
regulamento do concurso e a ficha de inscrição continuam à disposição dos
candidatos, das 13 às 17 horas, na sede da Funarte, no Rio, (Rua Araújo Porto
Alegre, 80, sala 15), na sua apresentação, em São Paulo , (Rua Apa, 83,
bairro Campos Elísios) e Funarte Brasília (Setor de Difusão Cultural, atrás da
torre de tevê) e nos demais estados e territórios, nas sedes das delegacias do
MEC e secretarias da Educação e Cultura
O
III Salão Nacional de Artes Plásticas está aberto a brasileiros e também, aos
estrangeiros que comprovarem permanência de, no mínimo, cinco anos em nosso
país. Todos deverão ter realizado, nos últimos dez anos, pelo menos uma
exposição individual ou participado de duas coletivas. Os artistas poderão
concorrer com trabalhos feitos em grupo, desde que um se responsabilize pela
obra na ficha de inscrição.
EXPOSIÇÃO PIER
E OCEANO
No
famoso museu de arte moderna holandês, Krõller-Müller, junto à cidade de Arnhem,
terá lugar uma interessante exposição intitulada Píer e Oceano, cuja
concepção se deve ao artista Von Graewentz. Ele limitou as bases desta mostra
aos anos 70.
Foto do parque das esculturas do museu |
A
ARTE PLUMÁRIA DO BRASIL
Será
inaugurada, na próxima terça-feira, a exposição de Arte Plumária do Brasil.
Trata-se de tentativa pioneira para a qual a Secretaria da Cultura do Estado
está dando seu apoio e patrocínio.
Além
da finalidade estética- nossa principal preocupação- a mostra tem assessoria
científica de destacados pesquisadores do campo específico, garantindo, também,
seu aspecto didático e cultural. O MAM espera que os professores das escolas de
1º e 2º graus dêem seu apoio, também, divulgando entre os jovens esta
importante mostra.
Serão
apresentadas partes importantes de coleções de museus- como o Museu Paulista da
USP, Museu Paraense Emílio Goeldi, do Pará, Plínio Ayrosa da USP e Museu
Nacional da UFRJ- e muitas peças que serão expostas pertencem a coleções
particulares.
Além
de uma festa visual onde mais de 300 peças de diferentes grupos tribais serão
expostas, dar-se-á, ao grande público, a possibilidade de conhecer mais um
aspecto importante e pouco divulgado da riqueza e criatividade do início
brasileiro. Mas, esta exposição não é aqui e sim em São Paulo , onde as
coisas acontecem...
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