JORNAL A TARDE, SALVADOR, 20 DE ABRIL DE 1980.
O COELHINHO DA MENINA E A INSENSATEZ DA MESTRA
Ela
é uma menina de nove anos de idade, de temperamento inquieto e cheia de
indagações. Não tem inibição e é incapaz de ficar calada quando acha que tem
razão. Uma marca registrada do seu temperamento, e assim poderá enfrentar
melhor a vida, que a cada dia está mais difícil para os inibidos, que sofrem
calados.
Juntamente
com seus coleguinhas foi avisada que
haveria um concurso de desenho na escola ode estudam. Em casa todas treinaram
para o grande dia... Elaborou alguns desenhos e um deles ganhou forma especial
num clima de ingenuidade que reflete o próprio universo que gravita.
Ficou
um a manhã inteira bolando desenhos e o coelhinho saiu bonito. Por conta
própria, pegou dois chumaços de algodão, uma fita azul e outro laço de tamanho
maior, também de cor azul-claro. De posse desses objetos passou à ação. Pegou
uma folha de caderno e desenhou o coelho, inspirada nu símbolo da Páscoa. Ao
lado desenhou algumas borboletas e com lápis de várias cores coloriu-as. Em
seguida, com uma cola prendeu em cada uma das orelhas de “seu” coelho os
chumaços de algodão. Ao terminar o trabalho saiu mostrando pela vizinhança e
todos “acharam lindo”.
Sentindo-se
apta e confiante seguiu para a escola. Mas que decepção! A deficiência da
professorinha encarregada de educá-la, aflorou.. Numa atitude condenável, a
professora resolveu adotar um critério injusto. Num pré-julgamento, escolheu
apenas cinco crianças para participarem do concurso levando em consideração o
bom comportamento e porque sabiam desenhar bem. Nossa personagem que não é das
mais bem “comportadas” e com elas dezenas de outras colegas foram excluídas por
antecipação, ficando impossibilitadas de mostrar seus talentos. Excluídas pelo
critério injusta da professora. Mas, agora está aí o desenho do coelhinho que
ela elaborou como “trino” para o concurso, do qual não deixaram participar. A
professora marcou um tento! Conseguiu entristecer várias crianças... num só
gesto.
VERDADEIRO
Este exemplo, que é verdadeiro, serve para alertar às escolinhas que existem por esta Bahia afora, que contratam professoras despreparadas, as quais provocam marcas irreparáveis na personalidade das crianças.
A
falta de habilidade em lidar com as crianças, e a falta de conhecimento nos
mínimos critérios de Educação Artística e da Psicologia da Criança podem ser
constatados nos inúmeros exemplos que as mães poderiam nos dar.. Tudo é falho
Bastaria passar ás vistas no livro de Educação Artística, de Glorinha Aguiar,
que a professora da menina encontraria na página IV o seguinte: “O produto
final, o resultado objetivo do trabalho do aluno, não é importante para nós. O
que realmente nos interessa é o processo, isto é, os meios que o educando
emprega para se desenvolver. Assim, não pretendemos obter desenhos perfeitos,
músicas bem executadas, peças de teatro bem montadas. Pretendemos, isto sim,
fazer com que o aluno vença a inibição, participando livremente das atividades,
com espontaneidade e entusiasmo”.
Analisando a atitude da menina, notamos que
ela preencheu todos os requisitos que fala Glorinha Aguiar. Além do mais, o seu
desenho tem criatividade, inclusive a presença de vários elementos como o
algodão e os dois tipos de fitas, além das borboletas.
Um
mundo de fantasia, própria de sua idade.
Uma
atitude digna de registro por parte de sua professora. Mas, coitada, a pobre da
professora não conhece (como muitas outras que existem por aí) as mínimas
normas de Educação Artística. Agiu embasada em preconceitos. Cortou
o barato da menina e de suas coleguinhas e preferiu as “bem comportadas e que
sabiam desenhar bem...”
Que
fique com elas!
FORMADA
COMISSÃO DE ARTE PARA ESCOLHER
OS MELHORES
OS MELHORES
Foi
realizada no Salão Nobre de Funarte, a solenidade de lançamento do evento
cultural “Hilton de Pintura, que vai escolher, através de uma
comissão formada por críticos de arte de todo o país, os dez pintores que mais
se destacaram na década de 70 no Brasil.
Os
nomes dos pintores escolhidos, segundo o diretor executivo da Funarte, Roberto
Parreira, serão conhecidos publicamente no dia 05 de maio. As obras serão
apresentadas em exposições itinerantes por algumas cidades brasileiras e
doadas, posteriormente, ao Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro.
OBJETIVO
O
objetivo principal dos Destaques Hilton de Pintura, evento cultural promovido
pela Companhia Souza Cruz com o apoio da Funarte, é o de realizar um
levantamento e avaliação da pintura brasileira na última década em um trabalho
documentado bem apresentado. Para isso, foram convidados a participar da
iniciativa profissionais de notória responsabilidade na pintura brasileira.
Os
críticos de arte, que apontarão os dez pintores que mais se destacaram na
última década, são os seguintes: Alberto Beutten Müller, Cassimiro Xavier de
Mendonça, Jacob Klintowitz, Adalice Araújo, Maristela Tristão, Clarival do
Prado Valladares, Antônio Bento, Walmir Ayalia, Alcídio Mafra e Lélia Coelho
Frota.
Os
quadros escolhidos como Destaques Hilton de Pintura participarão de três exposições
itinerantes pelo país, assim programadas: de 25 de junho a 06 de julho, na
Fundação Cultural do Distrito Federal, em Brasília; de 14 a 27 de julho, no Museu de
Arte Moderna de São Paulo; e, finalmente, de 4 de agosto a 17 do mesmo mês, no
Museus de Arte Moderna do Rio de Janeiro. A promotora do evento vai adquirir
todas as obras e doá-las ao Museu de Arte Moderna do Rio, reconstituindo, dessa
forma, o novo acervo de arte contemporânea brasileira daquela instituição.
Reproduções dos quadros que integrarão os “Destaques Hilton de Pintura” serão
produzidas, a cores, e distribuídas durante as exposições no Rio, Brasília e
São Paulo.
HANSEN BAHIA EM CACHOEIRA
A Fundação Hansen Bahia está promovendo uma exposição deste que é um dos nomes mais representativos da gravura no Brasil.
A Fundação Hansen Bahia está promovendo uma exposição deste que é um dos nomes mais representativos da gravura no Brasil.
A
exposição foi aberta ontem, às 20 horas, na cidade monumento de Cachoeira, para
a qual ele deixou grande parte de sua obra, e onde viveu seus últimos dias de
vida. A programação incluiu a entrega da Coleção Cachoeira e Navio Negreiro com
xilogravuras do artista, doação da Universidade Federal da Bahia.
A
edição especial do Jornal de São Félix sobre Hansen, inauguração da biblioteca
do museu com 25 livros de arte, editada na Europa e livros raros de arte e de
um retrato do artista. Já às 19 horas, foi aberta ao público a sua exposição de
óleos e em seguida houve um coquetel e com samba de roda e números executados
pela Filarmônica da Cidade.Parabéns aos organizadores desta homenagem a Hansen
Bahia, este alemão baiano que gostava tanto desta terra, que adotou em seu
próprio nome. Conheci de perto e privei da sua amizade. Era uma pessoa de
grande sensibilidade que escondia por trás de uma aparente rudeza a
grandiosidade de um artista inato e muito humano.
LEONEL
MATOS EXPÕE NA GALERIA PANORAMA
Aqui
temos um pintor figurativo que através de uma sensibilidade instintiva vai criando
seu mundo imaginário ou real. Universo marcado pela ausência de técnicas
pictóricas mais apuradas e desconhecimento das regras clássicas e elementares do desenho. Pinta como
sente. E, Leonel Matos é um desses jovens primitivos que está perseguindo o seu
alvo desde 1971, quando fez a primeira exposição na Primeira Feira de Arte da
Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. De lá para cá
participou de coletivas e fez outras individuais. Sua temática é bem popular e
esta foto de um de seus quadros a óleo, que está exposto na Galeria Panorama,
reflete o clima e a ligação deste artista com a sua gente. Não poderei dizer
que é um grande artista, um artista pronto. Apenas um jovem que consegue captar
a essência de sua gente jogando-a em suas telas. O colorido é forte e as
figuras humanas e de santos preenchem os espaços em boas composições plásticas.
MURAL
DE MURILO NA FACULDADE DE ODONTOLOGIA
Convidado
pela Direção da Faculdade de Odontologia da Universidade Federal da Bahia para
elaborar um mural na sala de espera no setor de odontopediatria o artista
Murilo fez um trabalho digno de registro.
Utilizando
a temática de suas telas a óleo, os palhaços e os espantalhos , Murilo soube
levar para as paredes a graça e a beleza dessas figuras tão presentes na
fantasia das crianças.
O
mural ocupa duas paredes, em forma de L, e tem um colorido forte. Ele quase não
teve tempo de pintar. O convite foi feito quase às vésperas da inauguração e
Murilo trabalhou mais de 12 horas por dia. Mas, a pressa não prejudicou a
qualidade do trabalho, ao contrário parece que funcionou como estimulante e a
Cidade ganha assim mais um mural e a criança a possibilidade de um contato com
a arte.
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