BIENAL DE VENEZA: POLÊMICAS E
PINTORES
Obra da artista polonesa Magdalena Abakanowicz autora de Objetos Esféricos Com Tela e Saco |
A Bienal intitula-se A Arte dos Anos 70 .
Um
programa que fala do que aconteceu num decênio e que provavelmente não deixará
de fazer um apanhado do que acontecerá no próximo. Uma exposição histórica e
crítica organizada com amor e sem exageros, ordenada e tranquila. Um grande
retorno à tradição que alguns aceitam de bom grado e outros contestam.
Mas
a contestação, como se dizia antes,é praticamente uma instituição na Bienal de
Veneza. Tudo começou em 1895 com a grande agitação causada pelo pintor Giacomo
Grosso, com o seu Supremo Encontro. Efetivamente o encontro era sobre o
ataúde de um D. Juan e os convidados, cinco lindas mulheres nuas, apoiadas
sobre o caixão: “Tela de ousada composição fantástica”, definiram-se na época
os mais conciliadores, “A pedra do escândalo para a imprensa clerical”. “Uma
concepção eticamente moral”, rebatiam os liberais. As discussões foram ferozes
e o público foi atraído por uma curiosidade quase doentia, dizem os
comentaristas da época. As polêmicas de agora são de outro tipo, e o alvo, em
geral, é o responsável do setor Artes Visuais da Bienal de Veneza, Luigi
Carluccio, que por sua vez chama a atenção dos críticos e pintores dizendo: “A
bienal deve ser um encontro e não um desencontro”.
Cerca
de 50 artistas escolhidos como os mais representativos do último decênio,
expõem no pavilhão central dos jardins do castelo. Um dos organizadores deste
setor, Achiles Bonito Oliva diz que a arte recuperou um impulso e uma
consciência do seu próprio valor que pareciam perdidos com a embriaguez
ideológica dos últimos anos.
Os
italianos chamados a representar esta década são: Giovanni Anselmo, Alighiero
Boetti, Píer Paolo Calzolari, Luciano Fabro, Jannis Lounellis, Mário e Mariza
Merz, Giuseppe Penone, Giulio Paolini, Gilberto Zorio. Faltam, certamente,
alguns e não faltarão os protestos dos excluídos e sobretudo as polêmicas.
Carluccio já as espera e defende-se dizendo que a seleção tinha de ser feita à
força.
A Segunda Exposição em ordem de importância desta Bienal será Projeções 80 e terá como sede os
armazéns do sal, no sugestivo âmbito de Le Zatere como se chama esta parte de
Veneza que faz frente com a Ilha da Giudeca e as três igrejas do Palladio. Os
armazéns do sal serviram da sede o ano passado à Bienal de Fotografia e o ano
precedente à da Arquitetura.
Para
as Projeções 80 exporão os italianos Luciano Castelli, Sandra Chia, Francesco Clemente, Mimmo
Palardino, Ernesto Tatafiore e outros. Trata-se de pintores muito jovens. Os
mais velhos têm apenas 30 anos e a polêmica aqui é cadente. Ninguém lhes nega
méritos mas não faltam as acusações de favoritismos.
Mas,
o principal encontro é com Baltus (o pintor francês Balthazar Lossowski) na Escola Grande de São João Evangelista.
Os
responsáveis da Bienal dizem que escolheram Balthus porque é o único inédito em
Veneza e porque e porque a matéria e o sentido da sua pintura têm ligação com a
obra de Piero Della Francesca. Escolheram-no, dizem:“Por
sua arte diferente, refinada, aristocrática e ao mesmo tempo popular”. E porque
se fala muito de Balthus, mas viram-no muito pouco.
O
pintor das “claridades mozartianas” e dos “nus ambíguos”, estará em Veneza com
23 obras, incluídas as três mais recentes: grandes telas pintadas em ter 1978 a 1980. O pessimista
Carluccio, contudo, também não exclui as polêmicas sobre Balthus. Há os que
dirão certamente-afirma Carluccio- que se trata de uma escolha reacionária.
HELY
LIMA TEM OBRA DIVULGAA EM LIVROS
A
original arte de Hely Lima, pintor baiano ,que nunca exibiu no Brasil, mas que se
tornou sucesso nos Estados Unidos, vai ser publicada em dois livros. Um deles,
que deve estar pronto para a abertura da exposição do pintor em Paris no mês de
setembro vindouro, é inteiramente dedicado à arte, co pouco texto. O segundo, o
qual ainda não tem o fixa para lançamento, é sobre a vida do pintor, sua vida
América, suas observações sobre o povo americano. Aliás, o segundo livro
representa a transformação, em palavras de
e comentários sociais, que o pintor já faz há muito tempo em seus
quadros.
Lima
acabou de fazer uma individual na Galeria Zoma New York, na Avenida Columbus.
Segundo o produtor cinematográfico Billy Baxter, Lima é um bom investimento, e ele adquiriu onze trabalhos do pintor, quase que um terço de uma de suas
exposições no ano passado. Dieter Bock, Frankfurt, Alemanha, adquiriu duas
peças e tem opção para adquirir mais duas na exposição da Galeria Jean-Pierre
Lanes, de Paris, em setembro vindouro. Michael Ryan de Vancover, Canadá, também
adquiriu dois trabalhos e reservou direitos para a escolha de mais dois na
próxima exposição de Livros, em
New York , em setembro.
Segundo
Jean-Pierre Lavignes, proprietário da Galeria Paris, os 30 trabalhos que Hely
vai expor em setembro serão todos vendidos antes mesmo da abertura oficial.
Jean-Pierre que representa Lima em toda a Europa e Ásia, já marcou exposições
para o pintor em Monte
Carlo , Cannes, Londres, Amsterdam, Düsseldorf, Bale e Tóquio.
Além
dos livros, cujos direitos pertencem à Galeria Zoma de New York, e à Galeria
Jean Pierre Lavignes, de Paris, A tiragem de 50 mil cartazes, 50 mil catálogos
de 16 páginas em cores, um calendário para 1981 e 100 mil cartões postais serão
colocados á venda no mercado internacional, no mês de agosto. Também em
processo, um documentário para o Canal 04 de New York para exibição de costa a
costa. Indiferentemente tudo isto, aloof como se diz na América, o que mais
preocupa o pintor, no momento, é o retorno à sua vida normal são muitos
compromissos. Ele trabalha 16 horas por dia o que deixa, muitas vezes, em estado
de profunda fadiga.
Satirizar
celebridades é um dos pontos fortes dos trabalhos de Hely Lima. Em Chuva na 8ª
Avenida, trabalho baseado na peça da Somerset Maugham, do mesmo nome, L transfere a ação para 8º Avenida e colocou Ed
Koch, prefeito de New York como o reverendo Davidson, Ed Kock foi à Galeria
Zoma, viu o trabalho em exibição e exclamou:-Genial, outra obra, “O sonho”,
Jackeline Onassis é retratada dentro de uma lata de lixo fugindo de uma
inundação. Na mesma peça, Nixon e Bete Davis aparecem nas mais estranhas
situações. Segundo Lima, um sonho não faz sentido e igualmente o seu trabalho.
Já Ronald Reagan, sob o nome de Ro Clairol aparece em Campanha Política com
um horroroso anjo da guarda em suas costas. O que intriga mais o americano é a
visão aguçada de Hely Lima para satirizar principalmente por ele ser estrangeiro
e estar vivendo há apenas anos na América. Para os críticos, o modo que ele
capta é muito original e por isso surgiu a ideia dos livros a respeito os
quais, segundo experts, vão se tornar best sellers.
JOÃO
AUGUSTO BONFIM
Ele
chegou abafado. Trazia debaixo do braço dois quadros embrulhados e um
classificador cheio de convites. O jovem forte e mulato tinha uma “cara
conhecida”. Inicialmente, entregou-me um envelope branco e nele um bilhete de
um amigo comum solicitando que desse uma força ao jovem pintor. Fiquei
procurando lembrar de onde conhecia este rapaz. Não tive coragem de perguntar,
de fazer aquela pergunta indiscreta e desconcertante: de onde lhe conheço?
Pergunta tão comum entre aqueles que iniciam uma conversa. Não era evidente o
caso . abri o catálogo que me entregara minutos antes, e lá encontrei a
apresentação de Matilde Matos. Estava identificado. Trata-se do filho de Manoel
Bonfim, do conhecido escultor da Iemanjá que recebe carinhosamente milhares de
fiéis na praia do Rio Vermelho. Do mesmo Manoel Bonfim , que saiu da Bahia aborrecido
com tantas injustiças, mas que voltou e nos encontramos em 2 de fevereiro deste
ano, Dia de Festa no Mar estava abafado, igual ao seu filho em véspera de
exposição. O Bonfim buscava uma casa para alugar e hoje está instalado no mesmo
bairro do Rio Vermelho, na Rua Fonte do Boi,. E não poderia instalar-se em
outro barro porque ali está sua Iemanjá para protegê-lo e espantar os
aborrecimentos e injustiças. Identificado, pedido a João Augusto Bonfim que
abrisse o pacote para que visualizasse os dois quadros que trazia debaixo do
braço. Tive a sensação de um jovem que , nascido no Rio Vermelho, só poderia
pintar coisas relacionadas com o mar ou mesmo com a cultura afro, tão bem
representada pelo seu velho pai. Os quadros mostram barcos, pescadores e o mar
azul. Evidente, que não apresentam uma linguagem definida. É um jovem pintor
que começa a trilhar os caminhos difíceis em busca de uma linguagem plástica.
Não é um pintor pronto. Mas, merece o respeito e o incentivo porque tem uma
ferrenha vontade de vencer, de realizar um trabalho que se identifique com a
sua personalidade. É preciso, no entanto, que procure novas informações para
que saia do meio termo entre o primitivismo e outros caminhos menores.
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