JORNAL A TARDE, DOMINGO, 21 DE SETEMBRO DE 1980.
ARTISTA ALEMÃO IRONIZA OS DIREITOS HUMANOS
Convidados pelo institutos Goethe do Brasil para excursionar por várias cidades brasileiras, o artista plástico Benistoph Meckel já expôs os seus trabalhos
Autor
de 25 publicações que incluem poesia, prosa, contos e um romance, o “Bockshon”,
Meckel, em junho deste ano esteve colocado em primeiro lugar na lista dos dez
melhores livros mensalmente selecionados pela Rádio Sudoeste da República
Federal Alemã com o livro “Suchbild/uber meinen Vater”.
“Os
direitos humanos são aqueles direitos e liberdades inerentes, inalienáveis e
invioláveis do indivíduo. O direito natural é a base filosófica do Estado e do
Direito. Os direitos humanos são garantidos pelas mais modernas constituições
como direitos básicos, como por exemplo na República Federal da Alemanha,
através do Art. 1 da Constituição. Um dos objetivos das Nações Unidas é a
proteção dos direitos humanos, proclamados e adotados pela Assembléia Geral da
Nações Unidas a 1.º de dezembro de 1948. Depois de tão histórica medida, a
Assembléia solicitou, a todos os países membros, que publicassem o texto da
Declaração Universal dos Direitos Humanos, e é a partir destas fundamentações
que Meckel apresenta suas 31 gravuras, todas carregadas de um tratamento
irônico a que a própria realidade factual conduz.
Dentro
do contexto de engajamento social do artista e escritor, os temas como “a
opressão da mulher pelo homem, o descaso do poder estatal pela liberdade e
dignidade humanas, bem como os abusos cometidos contra a garantia de
propriedade distorcida pelo capitalismo”, são parte de sua crítica.
No
MAMB, dia 12 passado, Meckel realizou uma palestra para os baianos, sobre suas
experiências tanto como artista plástico quanto como escritor, com apresentação
de slides.
CINCO
ARTISTAS MOSTRARAM A MODERNA ARTE DO CHILE
Tela de Franulic,conhecido pintor chileno,integrou a mostra |
A
arte no Chile tem sua origem já no período colonial, isto é, nos meados do
século XVI. Os jesuítas, incansáveis colonizadores, estabeleceram imensos
ateliês em todas as suas missões, nas quais obras religiosas eram recriadas no
novo espírito barroco americano. Além disso, havia, também, desde os primórdios
da vida urbana,guildas patrocinadas pelos conselhos municipais, obedecendo à
tradição medieval. A academia de San Luís foi fundada em 1797 e, com a abertura
das fronteiras americanas, no início do século XIX, foram para o Chile
numerosos contingentes de artistas estrangeiras adeptos do movimento romântico,
os quais influenciaram grandemente o mundo artístico. O interesse da classe
dominante favoreceu o estabelecimento da Academia de Belas-Artes. Mais tarde,
foi criada, paralelamente a Academia de Escultura, tendo ambas sido
incorporadas à Faculdade de Belas –Artes da Universidade do Chile.
As
exposições nacionais realizadas bienalmente, bem como as mostras do Congresso
de Santiago, em que o termo “escola chilena” foi usada pela primeira vez, muito
incentivaram as artes. O Salão Nacional considerado o certame oficial mais
antigo das Américas, teve sua origem naquelas exposições. Os dois grupos mais
representativos dos artistas no país são a Sociedade de Belas Artes e a
Associação Chilena de Pintores e Escultores. A criação da Escola da Escola de
Belas-Artes da Universidade do Chile e o estabelecimento do Prêmio Nacional de Arte, além do Prêmio Honorifíco
do Salão Nacional, que já se fez tradição, foram os eventos mais importantes e
que maior influencia exerceram sobre a arte chilena neste século.
OS
ARTISTAS
Alejandro Goycootea - Se inspira na figura humana, aliando a ela traços abstracionistas que proporcionam à obra em todo marcante e expressivo. Há quatro anos no Brasil, é formado em Arquitetura e Urbanismo e cursou a Faculdade de Belas-Artes da Universidade Católica do Chile.
Seus
quadros revelam a figura humana segmentada pelo fundo arquitetônico de sua
tendência. No início da carreira, sofreu a influência do professor Mário Toral,
da Faculdade do Chile. Hoje, já liberto, utiliza técnicas variadas como o óleo,
pastel, o grafite e tinta acrílica. Transpondo à tela a sua transfiguração do
real, através do sonho, do abstrato de seus nus, na sua subjetiva visão
pessoal.
Flor
Marla Kocher- Gravadora, desenhista e pintora, radicada no Brasil há vários
anos, estudou na Escola de Belas Artes do Chile, em seguida, desejando
pesquisar e conhecer novos tipos e costumes, viajou pela Bolívia, Peru, Uruguai,
Argentina e finalmente, Brasil, Sua integração no meio artístico brasileiro se
deu quando frequentou a escola Panamericana de Artes, onde conheceu alguns
artistas que a ajudaram a desenvolver seu relacionamento. Perez Sola fala de
sua obra: “A obra gráfica de Flor Maria, aparentemente simples, mas mística e
profunda, nos traz um suave sopro dos Andes. Escolhe uma das técnicas mais
difíceis na qual já se fez muito, e há tanto por se fazer. Há tempo acompanha
sua luta em transformar um pedaço de metal ou madeira em sua mensagem sensível,
real mas profundamente latino-americana para oferecer-nos hoje o início do seu
canto em forma de gravura”.
Ali
Argandonã- Ao ser chamada de abstracionista ou cubista por alguns críticos, diz
que prefere não ser rotulada por nenhuma escola ou tendência-“Minha arte é
livre, pinto o que me fala à alma, como a transparência das cores, o reflexo do
sol, as cores límpidas dos mares” Participou de inúmeras exposições do Chile,
Rio de Janeiro e São Paulo. Radicada no Brasil há três anos, teve como grande
incentivadora a Sra. Habuba Farah Ricetti, que é membro do Comitê Brasil da
Unesco e com quem estudou a teoria da cor e estética da arte, durante um ano.
Floreal Arias - As cenas do cotidiano de sua gente, de seu povo, são a inspiração deste
artista chileno, que traz em sua obra o traço acadêmico e neo-clássico.
Preocupado com o modo de vida dos mais carentes, retrata com fidelidade os
aspectos e momentos de um povo simples e sofrido. Realizou várias exposições
pela América Latina, fixando-se no Brasil há vários anos. De inspiração
folclórica, seus quadros mostram um figurativo com registros da realidade de
sua concepção de vida.
Franulic-
Radicado no Brasil há muitos anos, participou de inúmeras exposições pelo
Brasil e pelo mundo. Pintor e escultor de renome mundial, abandonou a figura,
deixou de lado a pintura figurativa, descritiva e narrativa, optando por formas
cosmológicas em que surge uma nítida procura de linguagem artística, um diálogo
com as formas e as cores, cujo ponto final não é um impasse de criação, mas ao
contrário, uma colocação direta do que quer dizer. Franulic é liberto de
modismos e escolas, procura, isto sim, interrogar as formas e as idéias que
estão acumuladas em sua memória. E tanto as idéias particulares como as
universais acabam por materializa-se em obras de arte.
250
ANOS DE ALEIJADINHO
O
governo de Minas decidiu ignorar as dúvidas históricas sobre o ano de
nascimento de Aleijadinho e declarou através do decreto, “o período de 29 de
agosto de 1980 a
29 de agosto de 1981 o ano de Antônio Francisco Lisboa”, durante o qual
promoverá eventos comemorativos dos 250 anos de nascimento do escultor.
O
decreto estabelece que as comemorações serão realizadas em Ouro Preto , onde
Aleijadinho nasceu e foi enterrado, Mariana e Congonhas do Campo, cidade em que
está o mais volumoso acervo escultórico do artista mineiro. As comemorações
serão programadas e promovidas por uma comissão especial, composta pela
coordenadoria de cultura.
Uma
diferença de oito anos separa as duas versões sobre o ano de nascimento de
Aleijadinho, no dia 29 de agosto, no Bairro Bom Sucesso, da antiga Vila Rica.
Ao decidir comemorar agora os 250 anos de nascimento do artista, o governo de
Minas preferiu a versão de uma certidão de idade, encontrada pelo deputado e
professor Rodrigo José Ferreira Bretãs, na igreja matriz de Nossa Senhora da
Conceição de Antônio Dias. Por este documento, Aleijadinho nasceu em 1730, mas
sua autenticidade é colocada em dúvida, por registrar Manuel Francisco da Costa
como pai do artista em vez do arquiteto Manuel Francisco Lisboa.
OS
CABOCLOS DE BELY
Depois dos nus que embelezam as paredes de vários colecionadores, a artista francesa Bely está pintando baseada numa temática ligada a nossas origens. Agora, Bely aaba de concluir um quadro com
PINACOTECA
PAULISTA É DESTAQUE COM EXPOSIÇÃO TODOS OS MESES DO ANO
Todos
os meses a Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo promove a exposição de
peças de sua pinacoteca e sempre destaca uma artista a cada mês. Nos três
últimos, foram escolhidos Sérgio Milliet (julho) Enrico Vio (agosto) e neste
mês corrente, José Antônio da Silva. De Sérgio Milliet que nasceu em São Paulo em 1898 e
morreu em 1966,foi mostrada uma tela Paisagem de São Vicente, que retrata os
arredores de São Paulo. Sabemos que, as cidades praianas e os arredores foram
um dos mais cultivados temas dos pintores paulistas dos anos 30 e 40. Como "pintor
de domingo” que Milliet deixa transparecer nesta tela a falta de conclusão.
Formado em
Ciências Econômicas e Sociais em Genebra, Suíça e integrou o
Movimento de 22. Foi crítico literário e de arte, ensaísta, poeta e tradutor.
Enquanto
o Enrico Vio nasceu em Veneza, na Itália em 18774 e morreu em 1960 em São Paulo. Dele
foi exposta Velhice Tranqüila, tema que nos reporta à temática similar,
corrente no século XVII, na Holanda.
Contudo,
Vio tratou o tema com expressividade em pinceladas mais amplas, além de
valorizar os elementos pela luminosidade.
José
Antônio da Silva ou simplesmente Silva é um dos bons primitivos e sua tela
Caminho da Festa nos apresenta o cavalo a passo largo, a picada na mata, o
bicho entre os arbustos, o passarinho pousado na árvore ao lado do ninho, o
urubu à espreita, extenso matagal e o sol ao alto.
Como
disse Rubem Braga, Silva conhece a fundo “os milagres simples da composição e
com um notável “senso de cores”.
Deixando
de lado sua origem no trabalho rural ele fixou-se em 1946, em São José do Rio Preto, em São Paulo , dedicando-se
à pintura como autodidata, foi descoberto numa exposição de artistas locais,
pelos críticos Paulo Mendes de Almeida e Lourival Gomes Machado, participou da
I Bienal de 1951.
Recebeu
um prêmio pelo Museu Arte Moderna de Nova Iorque; da II Bienal
Hispano-Americana de Havana, em 1954, e as bienais de Veneza de 1952 e 1966.
Foi editado um livro sobre sua obra, com textos de Theon Spanudis, em 1977. O
curioso é que Silva é autor de romances também ingênuos, quanto a sua pintura.
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