JORNAL A TARDE SALVADOR, 11 DE MAIO DE 1980
MINHA TERRA, MINHA GENTE
Cinquenta
fotografias compõem a mostra do artista norte-americano Arthur Rothstein, que
os baianos verão durante o mês de maio no Salão de Exposições do Museu de Arte
Moderna da Bahia, Solar do Unhão. È uma promoção da Fundação Cultural do Estado
com a colaboração da USICA, Agência de Comunicação Internacional, dos Estados
Unidos.
Arthur Rothstein
Americano,
nascido em 1915. Formado pela Universidade de Columbia. Membro da Associação de
Segurança Agrícola, de 1935 a
1940.
Fotografo
da equipe de LOOK, em 1940, deixando a revista logo a seguir para unir-se à
Seção de Informação Bélica e depois ao Exército. Serviu como fotógrafo chefe da
Administração de Reabilitação e Assistência das Nações Unidas, na China.
Em
1946, retornou à Revista LOOK como diretor técnico de fotografia, sendo nomeado
diretor de fotografia em 1969. Tornou-se editor da Revista INFINITY, em 1971;
consultor de recursos visuais da Agência de Proteção Ambiental dos Estados
Unidos e do Instituto Americano de Aço e Ferro. Membro da Faculdade da Escola
de Graduação em Jornalismo da Universidade de Columbia, desde 1962. desenvolveu
o processo Xograph D-3, por um período de mais de treze anos. Colunista
constante da revista especializada US CAMERA. Atualmente, é editor associado de
PARADE, semanário dominical. Fundador e membro da Sociedade Americana de
Fotógrafos e Revistas.
EXPOSIÇÕES
Smithsonian
Institute, Washington, D.C. Museu internacional de Fotografia, New York; Museu
de Arte Moderna, New Iork; Sociedade Real de Fotografia; Biblioteca do
Congresso, Washington, D.C.
Coleções
Principais:
Biblioteca
do Congresso; Instituição Smitsonian; Real Sociedade de Fotografia; museu
Internacional de Fotografia e no Museu de Arte Moderna, New York
LIVROS
Creative Color, 1963;
Photo-journalism, 1956; Look at with William Saroyan, 1967 e Color photography
Now, 1970.
Arthur
Rothstein realizou uma obra-prima, quando foi enviado a documentar a condição
dos fazendeiros, cujas terras tinham sido assoladas pela seca. De todas as
imagens do grupo de Dustbowl
fotografado por Rothstein, a que mais chama a
atenção é a do fazendeiro juntamente com os filhos correndo em direção a seu
casebre em meio a uma tempestade de areia, em Címaron, Oklahoma. São vistos a
meia distância, apenas, mas, independentemente do valor pictórico, esta bela
fotografia aparenta possuir os princípios que influenciaram as pinturas tanto
de Thomas Eakins como do mais recente artista de Philadelphia, Walter Stumpfig. Também
de grande impacto é o instantâneo do fazendeiro desempregado e desesperançado
do futuro. Sua
mulher, obviamente, grávida e sua crescente família participam da miséria
geral.
Os
Fotógrafos Compassivos trouxeram de volta a fantasmogórica evidência da intensa
batalha do homem contra a natureza no que ela tem de mais cruel, mas ninguém
foi melhor do que Rothstein para mostrar áreas abertas, jogos de baseball,
rodeios, bandas de música em marcha e colheitas de algodão; fotografou também
John Marin, Salvador Dali, alguns papas, homens bem humorados, membros do
Exército da Salvação em trabalho, os encapuçados da Ku-Klux-Klan,
acontecimentos e personalidades relevantes do mundo atual. Ele documentou a
Conferência de Quebec, na qual foi planejada a invasão da Europa, durante a
Segunda Guerra Mundial, a guerra na China, a assistência a flagelados da fome
na China em 1946, e Cabo Kennedy. Arthur Rothstein diz do seu trabalho: “A
câmara é o meio pelo qual eu transmito aos outros um significado, um estado de
espírito, ou uma sensação.
Gosto
de pensar que meus esforços são primariamente uma forma de comunicação.
MAMB
VAI MOSTRAR O QUE HÁ DE MELHOR NAS ARTES PLÁSTICAS
Desde
o dia 06 de maio, no Solar do Unhão, que o baiano está conhecendo trabalhos
originais de Salvador Dali, Folon, Sônia Delaunay, Valadié, Poliakoff, Leonor
Fini, Maria Helena Vieira da Silva, Van Don Gen, nas 25 gravuras que constituem
a mostra desta exposição francesa, que é uma promoção conjunta da Aliança
Francesa e da Fundação Cultural do Estado da Bahia.
Dali , tendo ao fundo uma obra de sua autoria |
Salvador
Dali, pintor espanhol, sofreu a influência do Impressionismo, e posteriormente
do Cubismo, tornando-se surrealista a partir de 1928. Para alguns o ponto de
referência sobre Dali são os seus bigodes em forma de pára-raio, o que de forma
nenhuma pode se separar dos seus trabalhos, pois para ele este seu ornamento
piloso é o seu centro imperial, e em lugar de atrair raios, tem a propriedade
de atrair dólares e ouro. Mas será que alguém, realmente, acha que conhece
Dali? Ele próprio já renunciou a medir a extensão do seu “poder cósmico”, de
sua “fecundidade transcendental” e de sua “inspiração fantástica-parabólica”.
Um exemplo: Paris, 1927, dali tem 22 anos, mas quando aluno da Escola de Belas
Artes de Madri, apresentou duas exposições.
Acontece
que Picasso já tinha visto em Barcelona uma de suas telas, e falou com seu
“marchand”, impressionado.
Neste
ano dá-se o encontro dos dois e dali disse: “Soube imediatamente que os dois
botões de jade de seus olhos me reconheceram. Eu sou o outro. Eu era o único
capaz de lhe dar a réplica. Em verdade, agora sei que o mundo era um pouco
pequeno para nós dois”.
Jean
Michel Folon, abandonou seus estudos de arquitetura pelo desenho, mas suas
composições continuaram marcadas por elementos estruturais. Os seus desenhos
humorísticos, sempre em cores, inspirados principalmente pelo último absurdo do
destino, tornou-se uma de suas características.
“O
humor”, diz ele, “é a recusa de falar tragicamente de coisas trágicas”. É assim
que numa cidade, numa metrópole, um desastre cósmico, não declarado, não
registrado (civilização?) destruiu tudo, menos os imóveis de funcionários, os
sinais do tráfego, uma árvores sem folhas. Neste vazio desesperador de uma
absurda complexidade, um grupo silencioso de sobreviventes erra sem objetivo.
Canalizados para uma existência sem alma, através de um caos de setas, eles
sobem escadas que não levam a nenhum lugar, carregam caixas que nada contém,
fixam palavras ilegíveis.
Não
são bons nem maus. Não são nem mesmo vítimas.
Folon
pintou a desesperança deste mundo solitário, com precisão, paciência e uma
surpreendente delicadeza. Suas imagens não fazem sorrir. Mas quando as olhamos
temos um inexplicável sentimento de otimismo. Talvez não sejam nem pinturas,
nem desenhos de humor, mas panfletos que se deixam cair no labirinto de
gargantas de cimento armado, indicando a todas as pessoas uma saída secreta,
que os conduz aos espaços verdes e ao céu azul.
Sônia
Delaunay, apesar de ter a sua obra ligada ao seu marido Robert Delaunay,
falecido em 1941, apresenta posteriormente caminhos próprios. Por volta de 1925
lança os “tecidos simultâneos”, cujas cores vivas e formas nítidas passam a
construir uma revolução na indústria têxtil. Nas vésperas da guerra de 1939, o
atelier dos Delaunay em Paris é um verdadeiro centro de abstracionismo, e as
suas reuniões tornam-se o local onde Robert Delaunay explica longamente sua
concepção da arte abstrata e ajuda jovens artistas a encontrar o seu caminho
como aconteceu a Serge Poliakoff.
Lá
onde o passado deixa de existir, onde ele é apenas o ponto de partida de uma
realização nova, está a pintura de , Serge Pollakoff, pontificada pelos seus
excepcionais dons de colorista. Seus trabalhos conseguem ultrapassar a frieza
da abstração geométrica, indo contra a ordem pré-estabelecida das formas. Com
esta sua reação ele consegue seu objetivo, apoiando-se inteiramente na cor. Nas
suas composições nenhuma linha enrijece as formas, delimitando-as. Somente o
vaivém do pincel é que as limitam, ao mesmo tempo em que lhes dá cor, e como é
esta a exposição frontal ( e mural) que o pintor quer acusar, ele sempre
utiliza e se serve dos tons vizinhos. Cada nuance torna-se assim a extensão que
a vista sente prazer em percorrer.
Leonor
Fini, nasceu em Buenos
Aires , mas trabalhou sobretudo na França. É autora de
numerosos retratos, de temas fantásticos, de cenários e vestimentas de teatro,
onde ela alia sua inspiração surrealista com uma postura clássica.
Entre
os pintores que trabalham em Paris, é preciso colocar á parte uma artista que
elaborou o estilo pessoal muito forte. Ela é Maria Helena Vieira da Silva. A
evolução de sua pintura a partir de 1947 permite ver como o tema representado
se afasta progressivamente de seu aspecto real, e em seu afastamento, enquanto
as formas unem-se umas ás outras, surge uma angústia que repercute na técnica.
As cidades e suas ruas, e o seu indeslindável emaranhamento, são os elementos
favoritos desta pintora para quem nada terminou, nem nada começa.
PROPOSTA
80
OS
COMPROMISSOS COM A CONTEMPORANEIDADE DA ARTE
Para
o Diretor do Museu de Arte Moderna da Bahia, Francisco Liberato, a Exposição
Proposta – que o Mamb realiza no Solar do Unhão – incluiu-se numa estratégia de
trabalho proposto pela entidade na busca de uma maior identificação da relação
museu-artista. Essa estratégia, segundo ele, é orientada no sentido de evitar o
preconceito em relação a novas propostas e a posicionamentos de novos valores
estéticos.
A
Exposição Proposta é na opinião do diretor do MAMB, uma mostra aberta a todas
as manifestações das artes plásticas na Bahia e uma consequência imediata da
primeira sondagem feita pelo Museu de Arte Moderna, através da Exposição
Cadastro, realizada em outubro do ano passado.
“Naquela
ampla amostragem – diz Francisco Liberato – pudemos sentir o que estava
acontecendo com as manifestações de artes plásticas na Bahia. Partimos para o
segundo estágio do processo, onde se estabeleceram alguns critérios, o
principal deles possibilitado pela visão resultante da Cadastro, a partir da
qual convidamos alguns artistas.
CONTEMPORANEIDADE
Segundo
Liberato, o Mamb ainda não pode se arrogar a critérios de julgamento por
qualidade, por estar engajado no momento a um processo que visa estabelecer a
identificação de novos valores da expressão plástica no Estado. Destaca, no
entanto, como critério mínimo para a participação de artistas na Exposição proposta
a preocupação com a contemporaneidade.
-
A exposição continua, praticamente, impondo como única limitação que os
artistas nela incluídos se expressem de acordo com nossa época. Uma prova é que
ela reunirá cerca de 113 artistas convidados.
Para
o diretor do Mamb, a mostra servirá, principalmente, para a discussão das
atividades mais consequentes, para despertar o interesse da comunidade,
levantar os problemas que os artistas plásticos enfrentam em suas atividades e
para tentar encontrar os meios de uma melhor abordagem para a verdadeira relação entre o museu, o artista e a
comunidade.
Um
dois itens incluídos na programação da Exposição Proposta é a escolha de
critérios para a seleção de 10 projetos a serem produzidos pela Fundação
Cultural do Estado e que representarão as artes plásticas baianas no encontro
nacional que se realizará no mês de novembro em Salvador. Este encontro,
segundo Liberato, deverá ser repetido anualmente e terá como característica
principal a reunião das manifestações mais significativas do momento
brasileiro.
-
Para o encontro deste ano, além dos 10 artistas baianos selecionados no
Concurso de Projetos, virão artistas premiados nos diversos salões realizados o
País, tomando por base o último salão de cada estado. Serão discutidos a
validade destes salões e seus regimentos, na tentativa de imprimir maior
dinâmica e atualização aos mesmos.
PROGRAMAÇÃO
PARALELA
Diversas
tendências e estilos estarão incluídos entre os trabalhos presentes na
Exposição Proposta, desde os ligados às raízes e fonte culturais até tendências
geométricas, arte conceitual, ambientação e integração de expressões artísticas
através de trabalhos de equipe. Um dos trabalhos mais originais é o da dupla
Orlando Vareda e Júlio Valverde, que apresentará um Video-Arte.
Dentre
outros artista, participarão Juarez Paraíso, Edson Luz, Bel Borba, Humberto
Vellame, Chico e Alba Liberato, Zivé, Murilo, Chico Augusto e o Grupo
Comunicação – Carlos Petrovich, Sônia Rangel, Eckenberger, Chico Diabo, Zélia
Martins e Juracy Dórea.
Paralelamente
à Exposição Proposta, o Mamb promoverá uma mostra de litografias originais
promovida pela Aliança Francesa com a participação, entre outros de trabalhos
de Salvador Dali e Vieira da Silva. Haverá ainda,uma exposiçãode gravadores
brasileiros do Projeto Arco-Iris, da Funarte, e uma mostra de cartazes da
Embaixada Norte-Americana, além da apresentação de shows musicais pelos
integrantes do Projeto Mutirão ( de Béu Machado)
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