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quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A ALEGRIA DA VOLTA DE LEONARDO ALENCAR - 20 DE JANEIRO DE 1980


Leonardo Alencar volta
com força total.
JORNAL A TARDE, SALVADOR, 20 DE JANEIRO DE 1980

Seus cavalos cavalgam em pradarias imaginárias com elegância

A ALEGRIA DA VOLTA DE LEONARDO ALENCAR

Fiquei feliz quando recebi o catálogo da  exposição que o artista sergipano Leonardo Alencar está realizando na Galeria Grossman. Feliz por dois motivos: primeiro porque teremos neste início de ano, um acontecimento importante principalmente pela qualidade da obra de Leonardo e em segundo lugar pela volta do amigo que estava trabalhando em Aracaju longe do nosso convívio e do nosso meio plástico.
Leonardo é sem qualquer exagero um dos principais artistas que surgiram no cenário das artes na Bahia. Um artista voltado à natureza de onde flui a temática de sua obra pictórica. Excelente gravador, bastando lembrar as belas mulatas e os cavalos que hoje enriquecem as coleções particulares e oficiais.
Nasceu em 1940 na cidade de Estância, no vizinho Estado de Sergipe. Em 1961 chega à Bahia contratado como bolsista da antiga Biblioteca Pública, na gestão de Péricles Diniz Gonçalves, que foi um dos grandes incentivadores das artes plásticas nesta terra e que muita gente esqueceu não lhe dando o seu verdadeiro valor.
O barco e o peixe, uma
relação de sobrevivênci
a
Aqui chegando, amplia seu círculo de amizade e integra-se totalmente no metier artístico. E, já em 1966, participava como organizador da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, ao tempo em que realizava ilustrações para jornais e revistas e inclusive decora a velha Salvador. Para suas festas populares. Fez filmes documentários e desenhou cenários para diversos espetáculos. O magistério consegue atraí-lo e passa a ensinar como colaborador na Escola de Belas Artes.
Em 1969 é escolhido coordenador geral do grupo de trabalho que estuda a implantação da Fundação Cultural Ernest Tevês, a qual não teve prosseguimento.
No ano seguinte a convite de Tevês segue para a Europa onde fez algumas viagens de estudo, aproveitando para realizar algumas exposições individuais.
Ganha nos anos seguintes vários prêmios aqui e em outros estados como cenógrafo, desenhista, projeto para um Presépio de Natal, decoração da cidade para o Carnaval e até um de cinema: Prêmio do Foto Cine Club Bandeirante para o seu curta-metragem “Nosso Tempo de Pesquisa”, que executou juntamente com Hunald. Já em 1968 seu filme “A História de Helinho” é premiado e posteriormente escolhido para compor o acervo do Instituto Nacional do Cinema.

EXPOSIÇÕES

Falar das exposições individuais e coletivas que realizou Leonardo Alencar seria cansativo tal o número. É por isso que preferi destacar algumas delas: em 1962 expôs no Museu de Arte Moderna da Bahia. Em 1964 na Galeria Goeldi, no Rio de Janeiro. Em 1966 expõe no Instituto Panamenho de Arte, no Panamá. Três anos depois realiza uma individual na Galeria Voltaico, no Rio de Janeiro. Em 1971 expõe na Galerry Petit, em Londres, Inglaterra e também na Galerie Ghardin em Paris, França.
Participa de vários salões entre os quais: Artista do Nordeste, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em 1963.
Do Salão de Arte Moderna de Belo Horizonte, Minas Gerais, em 1964. Do Salão Paulista de Arte Moderna, em São Paulo, 1964. Do Brazilian Festival of Art, em Philadelphia, USA. De uma mostra na Casa da Brasil em Madrid, Espanha, em 1965.
Do Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro, 1966. Da I Bienal Nacional de Artes Plásticas, em Salvador, em 1967 e finalmente em 1969 do Salão Nacional de Arte Moderna. Também no Rio de Janeiro.
Integra a Enciclopédia Delta Larousse com um verbete; o Dicionário das Artes Plásticas no Brasil, de Roberto Pontual; Quem é Quem nas Artes e nas Letras do Brasil, obra do Ministério das Relações Exteriores, Departamento Cultural e de Informações e da obra Quem é Quem no Brasil, de autoria de Afrânio Coutinho.
Seus trabalhos estão em coleções particulares do Brasil, Uruguai, Argentina, Panamá, França, Holanda, Inglaterra, Alemanha, Estados Unidos, Bélgica e Itália.

O peixe pronto para defender sua integridade 
SUA LIGAÇÃO BAIANA

Em 1972 Leonardo escrevia - " Completo agora, 11 anos de Bahia. Morei em três diferentes locais desta cidade mágica. Agora, do alto de Amaralina, a um passo da Pituba e a um gesto do mar, cada manhã desponta com o sol e sinto fluir em mim a mesma vontade, a mesma força vital, já agora temperada pelas três vidas da Bahia que acumularam em mim."
Hoje, aos 40 anos de idade, o Leonardo Alencar conserva toda a vitalidade de seus sentimentos artísticos e sua obra está cada vez mais amadurecida e enriquecida pelo sofrimento e dissabores que passou. Um artista sofrido, que esquece no momento da criação tudo isto, dá uma volta por cima e reaparece como que numa ressurreição conduzindo seus cavalos coloridos que cavalgam em terras de fantasia e também seus peixes, que somados resultam em cardumes excepcionais.
Isto sem falar nas paisagens e nas marinhas também belas e cheias de alegria.

Frente ao papel, a madeira, a tela, Leonardo é um homem de potencial criativo iluminado. É um artesão que sabe manejar as técnicas, os instrumentos e segurar sua temática rica e mágica. É um eterno aprendiz de si mesmo,um aprendiz que tira partido do seu vivencial e consegue realizar uma obra plástica de grande valor.
O mestre Clarival Prado Valadares escreveu um dos catálogos de Leonardo Alencar o seguinte: “Em primeiro lugar um inequívoco processo inventivo.Não faz referência demasiada ao mundo fenomênico em borá proceda de suas motivações”. Noutro trecho diz: A linha, para Leonardo, é um componente da trama e esta é o componente da forma proposta (objeto da invenção). Seus trabalhos forçam o observador à leitura da minudência e à contemplação do todo. Não concedem traduções referenciadas. “Ao contrário, incitam a percepção estética comparável àquela da musicalidade”.

DOIS PINTORES BRASILEIROS NA MOSTRA 
1980 THE ECLECTIC AGE


Com uma recepção para o mundo artístico, político e social dos Estados Unidos, a Galeria Zoma foi inaugurada em Nova Iorque, apresentando a exposição intitulada “1980, a década eclética”. Os dois pintores brasileiros, que fazem parte do grupo, são Hely Lima e Manfredo de Souza. Lima, baiano de nascimento, vive nos Estados Unidos há quase 10 anos, já expôs em várias cidades americanas, inclusive no Museu de Arte de Birmingham, em Alabama. Recentemente, ele participou com grande sucesso de uma coletiva na Galeria Jean-Pierre Lavignes, de Paris, para onde vai voltar com uma individual, no outono de 1980.
Manfredo de Souza vive na França há cinco anos, já expôs em Paris e tem trabalhos em vários museus da Europa. Ele está estreando em Nova Iorque com a Zoma, para onde vai voltar com uma individual, na primavera de 1980. Além dos dois pintores brasileiros, vários americanos e estrangeiros fazem parte do grupo, tais como John Day, que tem trabalhos no Museu Metropolitano de Nova Iorque e no Centro de Arte George Pompidou, de Paris, Jean-Claude Meynard, da França, Milo Lazarovic, da Iugoslávia e outros.
Nenhum representante do consulado brasileiro ou da Missão do Brasil na ONU compareceu para prestigiar o acontecimento, talvez por se tratar de uma galeria completamente americana, sem nenhum laço com a colônia brasileira.
Contudo, presentes no vernissage estavam o conselheiro da Missão dos Estados Unidos na ONU,
Sr. Herbert Reis, a atriz Sílvia Miles, o representante do prefeito de Nova Iorque e outras personalidades.

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