JORNAL A TARDE, SALVADOR, 14 DE SETEMBRO DE 1980.
QUATRO
TALENTOS EXPONDO NO MUSEU DE ARTE MODERNA
Os quatro artistas:Humberto Vellame,Murilo,Bel Borba e J. Cunha |
Murilo e os sentimentos |
Dos
quatro, apenas Murilo e Bel Borba frequentaram a Escola de Belas Artes. Murilo
é um artista completamente dedicado à sua oficina de trabalho e tem uma força
criativa nata, pois desde criança que mexe com tintas. Além de pintor de
quadros é bom de cenário e figurinos. De Murilo posso dizer ainda que é uma
criatura preocupada com os conflitos e dramas do homem contemporâneo, fala de
perto da massificação e também do abuso de poder tão comum em todas as
comunidades.
Suas
figuras tristes mostram de perto o choque entre a zona rural e a cidade grande,
as neuroses, a violência das calçadas e o ridículo da vida.
Bel Borba e as estruturas |
Confesso
que gostei muito da fase que denominou Avestração, a dos pássaros geométricos
que em forma de módulos, peças e objetos flutuavam. Sempre seguindo uma linha
de trabalho, agora Bel nos apresenta a fusão de suas experiências anteriores,
sendo que os pássaros deram lugar às estruturas que cortam espaços e projetam
sombras.
Os
trabalhos de Humberto Vellame também já são conhecidos pela sua linguagem
descontraída. Os que nos apresenta agora são fruto do aproveitamento do chamado
lixo urbano ou da sociedade consumista que vivemos. Ele trabalhou com palhas de
coqueiro,papéis, latas e tudo que pode pegar. Fez a transformação do lixo e
convida a todos os que tiverem oportunidade de visitar a exposição que repensem
sobre este material que está ao alcance das mãos.
Finalmente,
J. Cunha que o conheci com trabalhos que seguiam a linha de cordel, nos mostra
um trabalho calcado em suas origens com a utilização de símbolos indígenas e
outros elementos da cultura afro. Eles estão expondo no Museu de Arte Moderna
da Bahia, no Conjunto do Solar do Unhão.
CRÍTICA NECESSITA DE DEMOCRACIA PLENA PARA
SER BEM EXERCIDA
SER BEM EXERCIDA
Sob
a coordenação de Vicente Jair Mendes foi realizado, em Curitiba, a semana
passada, o Encontro Nacional de Críticos de Arte, quando lá estiveram figuras como Mário
Schenberg, Frederico Morais, Aracy Amaral, Fábio Magalhães, Geraldo Edson de
Andrade, Mário Barata, Marc Bercowitz, e, os baianos, Ivo Vellame e Matilde
Mattos.
Os
críticos discutiram, no que foi chamado Encontro Nacional de Críticos de Arte –
alguns temas importantes como A Arte Brasileira na Década de 70; Perspectiva
para a Arte Brasileira e A Arte Brasileira no Contexto Latino-Americano. Foram
discutidos ainda teses subordinadas com os temas Consciência da Realidades
Versus Realidade da Consciência, de Alberto Bersttenmuller; Função da Crítica
de Arte na América Latina: um ponto de vista, de Aracy Amaral; Realismo de
Estudo sobre Arte de Vanguarda Brasileira dos anos 70, de Francisco
Bittencourt;A Produção Artística e a Crítica de Arte, de Frederico de Morais e
Colonização Cultural, de Olney Kruse, dentre outras.
Segundo
Ivo Vellame , o encontro teve êxito total diante do que foi lá discutido e colegas, além de
conhecer artistas da nova geração, do Paraná, como Bia Wouk, Zimmermann, Isabel
Bakker e muitos outros.
IMPORTANTE
Porém, o mais importante foi, certamente a
Declaração de Curitiba que publico na íntegra para que seja refletida por todos
aqueles que trabalham na produção artística, quer sejam criadores,manipuladores
ou mesmo encarregados da política cultural de entidade públicas ou privadas.
Vejamos;
Declaração de Curitiba
“
Os participantes do Encontro Nacional de Críticos de Arte, reunidos em
Curitiba, Estado do Paraná, entre 04 e 06 de setembro de 1980, por convocação
da Fundação Cultural de Curitiba para debater questões atinentes à sua
atividade e frente à situação do País, vêm proclamar e manifestar que, sem
existência de uma democracia plena, não é viável o exercício da crítica. Não há
convivência possível entre bombas e crítica., uma vez que esta é o exercício da
contestação no terreno das idéias. Por isso mesmo, manifestamos nosso repúdio
aos atos de violência e terrorismo, e transmitimos a nossa solidariedade às
vítimas e mártires dos recentes atentados-resquícios de intolerância que
deverão ser imediatamente extirpados da vida do país. No decurso dos debates em
torno das relações entre a crítica, o artista, o mercado de arte e o poder
público, tornou-se evidente que:
I- Agora, mais do que nunca , o
crítico deverá ficar atento à maneira pela qual vem sendo conduzida a política cultural
do País, principalmente, no que se refere às artes visuais, uma vez que, nas
suas decisões e planejamento, a classe nem sequer é consultada;
II- É intolerável o confisco de obras de arte,
sendo imprescindível que os órgão de segurança devolvam aos artistas as obras
apreendidas a qualquer título;
III- São condenáveis as manipulações do mercado de
arte que, extrapolando às suas funções específicas, influem em órgãos
governamentais na aquisição de obras de arte. Os críticos, como profissionais,
e os museus enquanto instituições culturais não podem ser caudatários do
mercado de arte;
IV- A criatividade manifestada na arte de diferentes
regiões do País exigirá, cada vez mais , do crítico de arte o reconhecimento e
a avaliação dessa contribuição, além dos eixos tradicionais da cultura
brasileira;
V – Somente em clima de livre discussão, tem a
crítica possibilidade de atuação em escala que
corresponda à responsabilidade ética de suas funções, sem cujo exercício as especulações teórico-culturais não poderão obter o empenho
correspondente ao interesse do povo e o aperfeiçoamento de sua cultura”.
ARTISTA QUERIA PINTAR MONTANHA
Ostersund, Suécia – Ao verem helicópteros levando
tinta e mais tinta para a montanha , perto da cidade de Valadalen, os moradores
locais, sabendo que lá não existe casa alguma, ficaram intrigados e foram
descobrir o que ia ser pintado.
Projeto
artístico foi elaborado pelo pintor em conjunto com os produtores de um
programa de televisão sueca que pensavam em filmar Lindstrom
trabalhando. A televisão pagou o equivalente a CR$23.240,00, por hora, para
alugar durante uma semana os helicópteros, para transportar três toneladas de
tinha à montanha.
Não se soube que cor, Lindstrom planejava pintar a
montanha, talvez de preto.A resposta foi simples: a montanha . O artista
sueco Bengt Limndstrom, de 55 anos, decidiu parar de pintar montanhas em suas
telas e pintar a própria montanha.
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