JORNAL A TARDE, SALVADOR, DOMINGO 10 DE
NOVEMBRO DE 1980
OS TRAÇOS GESTUAIS DE SÉRGIO, NO
MUSEU DE ARTE
Sérgio
Rabinovitz fez sua primeira individual na Mini Galeria Acbeu, em 1975, e depois
esteve estudando nos Estados Unidos. Dos jovens artistas baianos, Sérgio é um
dos poucos que dispõe de informações necessárias para uma conscientização do
trabalho plástico.
Sérgio com uma de suas obras |
Quem
faz a apresentação é Mário Cravo Neto, também um jovem artista, o qual
afirma”que traços caligráficos, símbolos visuais de uma intensa claridade
definem a forma ancestral de expressão e comunicação”.
Esta
forma de expressão de Sérgio realmente nos faz relembrar os traços gestuais dos
homens das cavernas. A espontaneidade que brotou daqueles homens que procuravam
abrigo nas cavernas e lá deixaram sua expressão. As manadas de búfalos, veados
e alguns ursos solitários. Outros, apenas, traçaram riscos sem um significado
maior. Mas, Sérgio vai mais longe, quando idealiza seus traços e escolhe suas
cores, visando uma comunicação com o homem do século XX. Sua arte, sua gravura
tem contemporaneidade. Vamos deixar que o próprio Sérgio fale do que pretende
mostrar na Galeria da Pousada.
Disse
ele que desde que surgiu a ideia para a realização da exposição, há pouco mais
de um ano, que vem trabalhando na sua concretização.Levou
em consideração o vasto recinto, as imensas paredes grossas e o altíssimo pé
direito do imóvel e daí formulou um trabalho que vai interagir, pois as
gravuras são de grande porte. Para Sérgio, este grupo de trabalho segue a mesma
linha gestual e caligráfica os anteriores, só que perdeu o caráter intimista da
mostra que realizou tão logo retornou de Nova Iorque. É um trabalho reintegrado
com a nossa paisagem.
XII
PANORAMA DE ARTE ATUAL BRASILEIRA,
NO MAM PAULISTA
NO MAM PAULISTA
O
Museu de Arte Moderna de São Paulo, Parque Ibirapuera, vai inaugurar no dia 13
o seu décimo-segundo Panorama de Arte Atual Brasileira. A mostra anual,
organizada em rodízios, apresenta pintura, desenho e gravura, escultura e
objeto. Neste ano, o MAM exporá desenhistas e gravadores.
Neste
vasto território a ninguém é dado conhecer os muitos artistas com qualidade
para participarem do Panorama. Esse fato incontestável motivou a abertura do
Panorama/80 a quantos ele quisessem participar, submetendo-se a júri da
seleção. Pareceu à Comissão de Arte ser essa medida democrática, capaz de
preencher ausências apontadas pela crítica e de admitir o talento jovem menos
difundido. Conseqüentemente, convidou artistas em menor número, para abrigar em
seu espaço os inscritos aceitos; gravadores: 25 convidados, 16 inscritos
aceitos. Ao todo 110 artistas, com 330 obras.
A
Caixa Econômica Federal, no seu tradicional empenho de colaborar para difundir
cultura, patrocinou os prêmios: Prêmio MAM, Desenho/80, cem mil cruzeiros; Prêmio MAM, Gravura/80 , cem mil cruzeiros; Prêmio C.E.F., Desenho/80, cinqüenta mil cruzeiros; Prêmio C.E.F, Gravura/80, cinqüenta mil cruzeiros.Esses
prêmios serão atribuídos nos próximos dias de entregues na data da inauguração.
AS MÃOS DO CRISTO DE MÁRIO CRAVO
Não
são as mãos de um pianista esculpidas em ferro. Trata-se de
um detalhe do Cristo que o escultor Mário Cravo fez para a Cidade de Vitória da
Conquista, o qual reinará eternamente com seus braços amarrados e abertos
abençoando aquela cidade. Porém, antes de deixar Salvador, o Cristo foi
fotografado por Carlos Santana, de A Tarde que conseguiu este detalhe de grande
força plástica. O cravo quase desaparece e as mãos parece movimentar-se numa tecla
de um imenso plano. Na verdade, são as mãos cravejadas e sofridas do Cristo,
que até hoje continua, como símbolo, sendo cravejado pelos gananciosos que
esmagam aqueles que tem as mãos calejadas e as barrigas vazias.
O
RECORDE DO PINTOR ARGENTINO EMÍLIO PETORUTTI
Obra O Quinteto, de Petorutti |
Uma
obra cubista do pintor argentino Emílio Petorutti foi adquirida em Nova Iorque
por 190 mil dólares - CR$11.400,00 ,estabelecendo um recorde no preço
alcançado por uma obra individual de um artista latino-americano, por uma obra
de arte Argentina e por uma obra de Petorutti, segundo informou uma porta-voz
das galerias Aquavella.
A
obra O Quinteto , de 1927,foi posta à venda pelo Museu de San Francisco, e foi
adquirida pelas galerias Aquevella ,de Nova Iorque em um leilão na casa especializada Sotheby’s
que recebeu a soma sem precedentes de 1.699,250 dólares ou seja CR$101.955.000,00.
Segundo
a porta-voz , foram leiloadas 113 obras de artistas latino-americanos entre
elas seis pinturas da coleção particular do falecido Nelson Rockfeller.No mesmo
leilão também foi quebrado o recorde de preço alcançado pela obra do mexicano
Julio Castellanos, com a compra de O Dia de São João por 46 mil dólares - CR$2.760.000,00.
O
recorde anterior pelo preço alcançado por uma obra de um artista
latino-americano foi estabelecido em maior deste ano, também em leilão pela
Sotheby’s quando um quadro com o título de Modesta, do pintor mexicano Diego
Rivera foi arrematado por 120 mil dólares - CR$7.800.000,00.
UMA
CASA DE ARTE E A POLUIÇÃO
Esta
coluna não é somente minha, mas também de todos aqueles que desejam movimentar
este mercado, falar dos valores e de tudo que diz respeito às artes visuais.
Hoje, público este artigo de meu amigo Wilson Rocha sobre a atuação de uma casa
de arte onde ele faz algumas considerações sobre o comportamento do nosso
mercado. Vejamos:
“O
problema crítico das vanguardas, a decadência e morte dos salões e das bienais
e os grandes descalabros mundanos da manipulação mercadológica estão
promovendo, principalmente nas grandes cidades, uma enorme dispersão na própria
arte, de quem cria e de quem olha. A crise de energia e as outras grandes
crises generalizadas, que em decorrência disso estão debilitando a economia de
todos os países, representam uma séria ameaça à sobrevivência das instituições
oficiais de cultura. E, por sua vez, os efeitos da contracultura
lamentavelmente está conduzindo a maioria dos artistas jovem a uma exploração
equívoca das raízes da arte popular, num reaproveitamento falso, em que nada permanece da autenticidade da
arte popular genuína.
Na
Bahia dos últimos anos, tem sido visível a todos os que se encontram mais ou
menos ligados à produção e ao consumo das artes visuais, incluindo o teatro e a
dança, a desoladora realidade de não se poder afastar a impressão do
mediocridade do ambiente de província, sem confronto e sem crítica, e onde os
mentores da vida cultural vivem os dias de um delírio turístico ou continuam
dormindo um interminável sono burocrático. E já não é mais possível falar em
tradição, porque tradição tornou-se sinônimo de mola propulsora para atrair o
turismo, a maioria das vezes, num esquema tão artificial que não reside à menor
análise ética nem estética. Improvisados e apressados marchands de
subúrbio -mercadores espertos manipulando
compradores desavisados-transformaram Salvador em uma Cidade de muito
artista e pouca arte. A poluição pictórica, repleta de folclorismos e
ingenuismos comerciais, surrealismos e até vanguardismos surrados, Aliciou
multidões de marginais da arte- vira-latas da pintura, acadêmicos, pintores de
domingo e até falsificadores ridicularizados por uma pretensiosa e delirante
supervalia, perigosamente reunidos e montados em tristes vernissagens.
“Mas,
outras idéias felizmente surgiram e se impuseram desde logo, a tal ponto esse
interesse se acentuou de três anos para cá, como constatamos agora preenchendo
o vazio e a insipidez dos programas dos nossos modorrentos museus e absurdas
galerias de arte, o aparecimento, em 1977, de uma casa de arte que vem
confirmar o crédito de confiança e apoio que tem granjeado junto ao público
verdadeiramente interessado na apreciação e no consumo das artes plásticas- a
Teresa Galeria de Arte, localizada entre o Teatro Maria Bethânia e o Hotel
Meridien, num belo casarão centenário, provavelmente a mais antiga mansão do
bairro do Rio Vermelho, primeiro passo para uma cidade mais humanizada pela
arte, idéia plausível e corajosa e uma experiência gratificante de sua
diretora, a senhora Teresa Freitas. Um exemplo de uma promoção de cultura
apoiada em bases empresariais, um
projeto integrado de diversos departamentos, amplas salas de exposição, loja de
material de arte, molduraria de classe superior, pioneira no uso de madeiras
finas de lei, com emprego de pátinas, ouro velho e restaurações, além de
setores de gravura, desenho e decoração e o Café Concerto Strike 1878,
agradável ponto de encontro entre os artistas e o público.
“N
o acervo da galeria- considerado um dos melhores do país em pesquisa realizada
em 1978 pela Revista Arte Hoje-, encontram-se obras de artistas renomados, como
Picasso, Salvador Dali; Lasar Segall, Portinari, Djanira, Scliar, Iberê
Camargo, Mário Cravo Jr., Emmanuel Araújo, Genaro de Carvalho, Vasco Prado,
Clóvis Graciano, Teruz, Bianco, Bustamante, Augusto Rodrigues, Zoravia Bettiol,
Clara Melro, Juarez Machado, Fernando Coelho, Bel Borba, Nair de Carvalho, e
muitos outros. A galeria, que mantém um escritório de arte me Londres e um
convênio com o Trevo Galeria de Arte, do Rio, tem realizado notáveis exposições
de artistas de São Paulo, Rio e Bahia e promove mostras periódicas especiais e
individuais, sem ônus para o expositor, se impressão de catálogo- o Salão do
Mês, que recentemente mostrou-nos a energia da cor e a força da obra de Edval
Ramosa, artista brasileiro com larga vivência na Itália. Muito simpática, ainda
a atuação da primeira galeria local a se interessar por mostras individuais de
artistas da fotografia, como Júlio Angeleri Valente”.
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