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quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

IBERÊ CAMARGO É MAIS UMA VÍTIMA DA VIOLÊNCIA URBANA - 08 DE DEZEMBRO DE 1980.


 JORNAL A TARDE, SALVADOR, 08 DE DEZEMBRO DE 1980. 

IBERÊ CAMARGO É MAIS UMA VÍTIMA DA 
VIOLÊNCIA URBANA
Guache de Iberê Camargo,que foi exposto na
década de 70 em São Paulo.
Um triste episódio envolve um dos mais importantes artistas deste país: Iberê Camargo. Alguns consideram Iberê mais uma vítima da violência desenfreada que invade as cidades brasileiras. Iberê Camargo foi quase que obrigado a sacar de uma arma para defender-se da violência de um cidadão que investira contra ele. De físico avantajado, pois era halterofilista, (e Iberê já conta com 66 anos de idade), o homem derrubou facilmente o artista que correu e foi perseguido até que retirou seu revólver da capanga deflagrando contra o agressor. Não estou aqui para justificar o crime de Iberê e muito menos para defender aquela posição de fazer justiça com as próprias mãos. Sei, no entanto, que em determinadas circunstâncias qualquer um de nós pode envolver-se com pessoas agressivas e terminar assassinando - como aconteceu com Iberê ou assassinado - , o que é pior ainda.
Todos que acompanham as artes plásticas no Brasil conhecem o trabalho de Iberê Camargo. Ganhador de vários prêmios inclusive de melhor pintor brasileiro na VI Bienal de São Paulo. Este homem, nascido em Restinga Seca, pequenina cidade do Rio Grande do Sul, jamais pensara na fama e muito menos em envolvimento de tal envergadura. São mais de 40 anos de arte. Quem vê sua pintura pensa ser uma artista impulsivo, apaixonado, romântico, que pinta sofregamente com gestos largos  intempestivos. Nada disto, Iberê pinta com calma e sua pintura é demorada e apurada.Não podemos deixar de lembrar que foi um dos principais expoentes da arte abstrata neste país. Nascido em 1914, Iberê viveu  a época abstrata intensamente, embora fosse forte opositor ao abstracionismo construtivo, “por não ter nada a ver com a geometria ou a matemática (sobre os quais repousou também o concretismo)
De temperamento arredio. Iberê sempre está trancafiado em seu atelier que é o “meu submarino”. Dizia ele, em 1972: “Aqui é meu submarino.Quando pressinto o barulho, fecho as escotilhas e afundo  ". E mais adiante:
O artista Iberê Camargo, falecido
“Quando pinto, não posso parar: é uma coisa compulsiva. Enquanto tenho munição, estou na guerra”. O atelier de Iberê Camargo servia também para isolar o artista do mundo conturbado. As portas, por exemplo, contém uma camada de Eucatex entre duas pranchas. As paredes são duplas, com um espaço vazio de dez centímetros no meio. Os vidros das janelas são de cristal belga com 8 milímetros de espessura.
Na mesma entrevista, Iberê dizia a Marinho de Azevedo que “o fantástico do homem é escrever do nada. Mas, daqui a um milhão de anos, que importância vai ter isso? Acho que vivemos num universo que é o resto de uma grande fogueira e que as estrelas são suas últimas brasas". E o destino quis que Iberê deixasse o seu submarino em pleno centro do Rio de Janeiro e saísse com sua secretária, desprotegidos, para enfrentar o caos urbano.
Agredido e humilhado, reagiu. Agora, amarga sua atitude que deve ser considerada dentro de todo um contexto social e econômico adverso àquelas pessoas civilizadas e tranqüilas.

BAHIA ENCERRA UM CICLO DE 13 ANOS DE TRABALHO DE MÁRIO CRAVO NETO

No próximo dia 11, Mário Cravo Neto estará lançando no Salão Nobre da Reitoria da Universidade Federal da Bahia o livro Bahia com texto de Jorge Amado, onde ele evidencia os traços e aspectos culturais do povo que habita a Bahia de Todos os Santos. O lançamento tem o patrocínio da Rhodia S/A, que é mais uma empresa que ajuda o desenvolvimento das artes e por isso merece aplausos.
Sobre as fotografias de Mário Cravo Neto, tenho falado em outras ocasiões, principalmente sobre aquelas que enfocam a cor, a forma e os movimentos de nossa gente. Diz o artista que há muitos anos vinha tentando concretizar este sonho, o qual seria dar, através do seu trabalho, uma resposta “de agradecimento a uma cidade e a um povo do qual faço parte”. Neste momento ele vê seu sonho concretizado e esta procura encerra um ciclo e uma vivência de 13 anos. Espero que o livro Bahia seja o início promissor e marco para outros ciclos e outros livros tão belos e ricos como este.
Que Mário Cravo Neto continue procurando, através de suas fotografias, paz, quietude e a solidão dos personagens que enchem e esvaziam estes espaços.
O escritor Jorge Amado disse: “Cravo Neto, com suas fotos, nos dá uma das chaves do segredo mágico da Bahia: paz, quietude e solidão, palavras do próximo artista, ás quais eu acrescento: vida, povo e amor”.

NEM ATLAS SUPORTA O PESO DAS TORRES DE PETRÓLEO

Este desenho de George Shaffer ilustra a capa da revista econômica Impact, número 31, mês de novembro passado, vai aqui reproduzindo pela sua qualidade gráfica. Como todos observam, representa o Atlas segurando o globo terrestre onde aparecem as torres de petróleo. O Atlas da mitologia grega recebeu o castigo de segurar o globo depois de uma revolta.
Pertencente ao ciclo das divindades marinhas, conhecido também por Homero ter-lhe atribuído o conhecimento de todos os abismos do mar, ele suportou com garlhardia todo o peso dos céus.
Mas, o fardo parece que está pesado demais. São as torres que se multiplicam nos desertos e nas áreas abissais dos oceanos. Estão valendo peso de ouro. O negro sangue que jorra das entranhas da Terra representa um forte peso para as economias mundiais. Elege e derruba governos, cria pacotes econômicos, gera falências e, enriquece califas e intermediários, transforma subdesenvolvidos em donos do dinheiro. Mas, tudo isto parece deixar alheios, nossos economistas e, o artista George Shaffer esqueceu apenas de colocar o mapa de nosso próprio país, que já está com uma inflação que rompeu a casa dos 100 e ruma para os 200. O sangue negro continuará jorrando das entranhas da terra. Os preços continuarão aumentando e as torrinhas se multiplicando nos desertos e oceanos para o bem daqueles que souberam pesquisar ou quem sabe, foram beneficiados por um deus qualquer. Atlas é que não o foi.















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