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terça-feira, 27 de novembro de 2012

O MAR DA BAHIA NA OBRA DO MARINHEIRO JOSÉ PANCETTI - 16 DE ABRIL DE 1984


JORNAL A TARDE SALVADOR, 16 DE ABRIL DE 1984

O MAR DA BAHIA NA OBRA DO MARINHEIRO 
Ilma Pancetti. ao lado de uma tela do seu pai,
 no MAMB
JOSÉ PANCETTI
Só um velho marinheiro é capaz de entender os mistérios de mar, em toda sua grandiosidade. E, ninguém melhor que um velho marinheiro pintor para retratar a sua beleza e magia. Especialmente, quando se trata do mar da Bahia, com seu azul intenso e suas ondas suaves a beijar a areia branca das praias da Barra, Piatã e Itapuã. Mas, o fascínio do marinheiro pintor não ficou limitado apenas ao mar. Ele viajou pelas águas escurecidas e misteriosas da lagoa do Abaeté, retratando as lavadeiras que enfeitam suas margens com as roupas coloridas. E, os coqueiros, que surgem como marinheiros vigilantes, revelando com a postura de sua copa se o vento está soprando forte, indicando sinal de perigo, ou se é tempo de calmaria e de lançar a jangada no mar. Esta intimidade com as coisas, do mar e da Lagoa de Abaeté nos são agora apresentadas numa importante exposição com 34 telas de autoria do marinheiro José Pancetti, pintadas ao longo da década de 50. A exposição está sendo realizada no Museu de Arte Moderna da Bahia e todas as telas foram adquiridas por Clemente Mariani, e hoje, integram o acervo do Banco da Bahia investimentos S/A (BBI)
Esta coleção só era conhecida pelo que visitavam as salas de diretoria do Banco da Bahia Investimentos em Salvador, no Rio e em São Paulo, e agora o grande público tem oportunidade de conhecê-la graças aos dirigentes desta instituição financeira. Além, disto o BBI editou um álbum de excelente gráfica, dos 34 quadros, com projeto do artista Wesley DukeLee.

PANCETTI
Auto-retrato do artista
Foto de Pancetti

Filho de imigrantes italianos José Pancetti nasceu em 1902, na cidade Campinas. Aos 11 anos de idade foi para a Itália morar com seus avós. Entrou para a Marinha Mercante italiana, onde ficou durante um ano. Retornou ao Brasil em 1920 e alistou-se, em nossa Marinha de Guerra, dois anos depois.
Aqui foi “saudado”, com um artigo do crítico Sérgio Milliet falando de suas influências adquiridas em museus europeus e para surpresa, o marinheiro Pancetti respondeu através de uma carta que “o único que visitei foi o de Arte Contemporânea em Lisboa, e isto porque o navio fundeou no porto de uma capital onde havia museus”.
Mas aos 31 anos estava matriculado no núcleo Bernadelli, o mesmo que integrou o nosso mestre José Rescália, que era formado de um punhado de dissidentes da Escola Nacional de Belas Artes que reunia ainda Milton da Costs, Takaoka, Campofiorito e outros.
Era assim Giuseppe Gianinni Pancetti ou José Pancetti, este homem que teve momentos de coragem, como por exemplo, em 1944 quando classificou a atitude de alguns reacionários em Belo Horizonte que depredaram quadros dos modernistas como de “um ato de inveja desses que, desesperados com a queda do fascismo, navalham nossas telas”. Pancetti aproximou-se dos comunistas. Era muito amigo de Niemayer, mas não deixou de criticar o hotel projetado para Ouro Preto pelo arquiteto, e até hoje criticado por destoar completamente daquele conjunto arquitetônico colonial.
Tinha consciência de que sua obra era importante e que permaneceria depois de sua morte, e uma prova insofismável disto é que chegou a desenhar uma figura dentro de um caixão de defunto, levado por quatro marchands, antevendo assim a exploração comercial de suas telas. E, certamente esta visão é hoje uma realidade, porque suas telas são muito valiosas.
Esta ano estamos comemorando os oitenta e dois anos de nascimento deste pintor, que amou a Bahia e os 26 anos de sua morte.
Esta exploração organizada no Museu de Arte da Bahia na vitória, tão bem dirigido por Luís jasmim, ficará aberta ao público até o próximo 06 de maio, de segunda a domingo, das 14 às 18 horas. Esteve presente à inauguração a filha do pintor Ilma Pancetti e vários artistas baianos.

APAIXONADO

Numa matéria publicada em Manchete, o crítico Flávio de Aquino conta um fato curioso que presenciou. Tendo conseguido um pequeno óleo do artista retratando o Passeio Público, no Rio de Janeiro, foi até seu apartamento tentando trocá-lo por uma obra mais atual. Lá chegando, encontrou-o em frente a uma garrafa de uísque consumida pela metade. Foi bem recebido e o pintou se prontificou a trocar por outro pintado em Cabo Frio. Na frente da tela, havia um trigal em cores vivas e uma estrada; no verso, o nome da musa com um coração sangrando e as palavras: “Hoje é 1.º de outubro de 1955. Vou votar em JK”.
A paisagem era muito grande e ricamente emoldurada. Flávio ponderou que a troca estava lhe favorecendo. Ele não gostou; e disse: “Você não está gostando é da minha pintura”. Tomou-lhe o quadro, arrancou a moldura e jogou-a pela janela. Quando ia jogar a tela foi contido por Flávio. Ainda furioso, foi ao quarto, abriu as gavetas jogando pela janela as roupas da sua amada.
Eram calcinhas, soutiens que “voaram”, e muitas pessoas foram atraídas por aquela cena.
Uma reação do artista diante do amor não correspondido. Seu desespero era tanto que atiçara também pela janela a única chave do apartamento. Vieram os amigos e beberam uísque pela janelinha da porta principal do apartamento. Eles foram buscar um serralheiro, e outra chave foi providenciada. Pancetti continuava chamando por sua Stela, e esbravejava contra o mar. Era o mar que se espraiava e se descortinava da janela do seu apartamento na Praia do Leme. Assim, o mar que ele tanto amou durante sua vida foi xingado.
Uma reação de desespero de um amante abandonado, e só quem foi perdidamente apaixonado por alguém e não foi correspondido, é capaz de compreender a extensão da sua dor naqueles momentos.
O Flávio de Aquino saiu com os demais amigos, deixando-o com ás lágrimas a escorrer por sua face rude, mas que demonstrava um coração frágil, capaz de partir-se em pedaços. Foi este sentimento que Pancetti soube transportar poeticamente para seus poemas e principalmente para suas paisagens.
Pancetti não é apenas um dos maiores de nossos paisagistas, mas principalmente o que melhor soube transportar para a tela o mar. E suas telas são testemunho de um tempo que já passou, onde a calmaria de nossas praias permitia que marinheiro-pintor permanecesse horas e horas sentado num banquinho captando os detalhes para fazer suas composições sem ser incomodado. E revelam também as mudanças verificadas em sua obra depois do contato diário com as luzes e as cores vibrantes do litoral baiano. Sua presença na Bahia, e conseqüentemente, o enriquecimento de sua obra com a introdução de luzes e cores vibrantes deu-se por volta de 1948, quando aqui aportou a convite de Odorico Tavares, um grande incentivador da arte. Mas, foi em 1950, ao receber a Medalha de Ouro no Salão Nacional de Belas Artes, que ele veio e ficou. Porém, como todo marinheiro que não gosta de demorar muito no porto, ele fez ao chegar, algumas observações que provocaram desagrados. Confidenciou a amigos que não passaria por aqui mais que oito dias. Mas, o porto baiano, as praias com suas cores tropicais e a magia da Lagoa de Abaeté souberam cativar o coração deste viajante incansável. Pancetti ficou. Um ano e meio depois já se confessava um seduzido. Homem viajante e de tantas paixões estava apaixonado, e assim disse a Odorico Tavares, em dezembro de 1951. “Não saio mais da Bahia”. Suas amizades iam se sedimentando, seu amor crescendo de intensidade. Ele reconhece seu amor dizendo que “ano e meio nesta terra e as raízes crescem dia a dia. Vim para dois meses, se tanto, e o resultado é este. Estou aqui e vou ficando”.
O mar de Itapuã foi mais forte, aliado à magia de Abaeté. Foi assim que a partir de 1952 ele vai morar em Itapuã, e posteriormente numa pequena casa próxima a Lagoa de Abaeté, de onde só saiu muito doente para Campos do Jordão, e depois para o Rio de Janeiro, falecendo no Hospital Central da Marinha, em 10 de fevereiro de 1958.

FORAM SETE ANOS
O mar da Bahia nesta tela Gamboa de Baixo.              Nesta obra destacam-se as figuras imóveis  

 Foram sete anos de Bahia. Tempo suficiente para se viver um grande amor. Foi muito importante enquanto pôde durar este amor entre o pintor e a sua musa. Além das belas marinhas surgiram excelentes retratos, naturezas-mortas e paisagens, frutos deste amor que vieram engrandecer a arte brasileira.
Quantas vezes ficou horas e horas diante do espelho retratando seu rosto ossudo, com olhos ferozes e outros detalhes que revelavam ser um marinheiro destemido, que cansado de enfrentar tanto mar bravio aportou, sem querer, numa “ilha” de paz rodeada de areias brancas beijadas por ondas mansas. Esbravejou que ficaria no máximo oito dias. E ficou até o momento que sua saúde permitiu. Desta vivência surgiram não apenas suas telas, mas também poemas, e no diário que escreveu, em seus últimos dias, e no costume de marinheiro de sempre dar notícias em cada porto, resultou uma farta correspondência que nunca interrompeu.


HÉLIO BASTO ESTÁ DOENTE E AFASTADO DAS GALERIAS -23 DE ABRIL DE 1984

JORNAL A TARDE, SALVADOR, 23 DE ABRIL DE 1984.

HÉLIO BASTO ESTÁ DOENTE E AFASTADO DAS GALERIAS

Esta bela mulata pintada por Helio Basto
A Bahia é uma terra pródiga em gerar excelentes artistas de teatro, cinema, música, literatura e artes plásticas. Porém, a capacidade que possui para criá-los não funciona para mantê-los em seu solo e dar-lhes o verdadeiro reconhecimento. É o caso do artista plástico Hélio Basto, um dos indiciadores da corrente modernista na década de 50, movimento que revolucionou as artes plásticas baianas, até então ainda presas ao academicismo provinciano.
Afastado das galerias de arte desde 77, Hélio Basto dedica-se atualmente a realizar trabalhos para clientes, depois de passar por um período difícil, em que esteve doente. O pintor vive hoje num apartamento alugado de um único vão em São Pedro, no centro da cidade, cercado de tintas, pincéis, telas e muitos discos. Nas paredes úmidas devido à infiltração de água, apenas três de seus quadros. Poucos móveis compõem o ambiente.
O artista revelou, no entanto, que sua situação atual não é circunstância, e sim opção: “dá para sobreviver, não tenho ambição de dinheiro. O apartamento é alugado propositalmente. Já tive um próprio, mas não gostei da idéia e me desfiz. Os pintores preferem ostentar status, e eu sempre gostei de morar em oficinas, de viver autenticamente como um artista”. A não ser quando não está trabalhando, o que faz até altas horas, raramente sai de casa. Disse se sentir recompensado, sobrevivendo a 25 anos da profissão, embora não se considere realizado, “porque um homem nunca se realiza”.

FASE SURREALISTA
Hélio Basto nasceu em Salvador em 1934. Começou a dar os primeiros traços aos 16 anos. Freqüentou a Escola de Belas Artes da UFBa., a qual não chegou a concluir por não achar o ensino satisfatório. Em 56, participou da mostra Artistas Modernos da Bahia, na Galeria Oxumaré, que renovou totalmente a pintura acadêmica baiana. Era o auge do movimento cultural na Bahia, sob o incentivo constante de Edgard Santos. Apesar do movimento já ter acontecido em São Paulo na Semana de 22, os baianos não aceitaram a pintura moderna, a ponto de rasgar quadros na exposição. Como não era uma pessoa polêmica, Hélio preferiu se isolar, seguindo para o Sul, onde seria aceito.
Na capital paulista fez cursos no Museu de Arte Moderna com os professores Walter Levy e Berko Udler, desenvolvendo uma fase surrealista-existencialista entre 56/60. Nesta época, seus quadros retratavam a atmosfera de sofrimento silencioso e a devastação da morte, com uma significação densa e profunda. A revista Habitat, sobre pintura e arquitetura, escreveu: “a série de quadros surrealistas que ele realizou achamos importantíssima e significativa, mesmo para a História da América Latina e Católica”. Desta fase possui dois quadros no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, que pertenceram ao crítico de arte Theon Spanudis. São eles: Ruínas (55) e Busto (57).

FASE RETRATISTA

Seguiu-se de 60 a 63 a sua fase retratista, sobre a qual discorreu Jorge Amado no livro Baía de Todo os Santos: “seu mundo é poético, quase irreal, mundo de criança desabrochada em espanto diante da vida. No silêncio translúcido, Hélio Basto traz uma flor na mão, sobrevoa um velho quarteirão da cidade”.
Nesse período, realizou uma mostra individual no Museu de Arte Moderna do Texas, nos Estados Unidos, em 61, e Grandes da Bahia, em 69, no Rio. De passagem pela Bahia, o famoso Arthur Hailler, autor da série de livros e filmes Aeroporto adquiriu dês de seus trabalhos. Fez um retrato de manequim Veruska, que possui 25 quadros de sua estória em sua casa de Roma.
Realizou ao todo 28 exposições, a última na Galeria Credicard, em 77. Interrompeu a fase de retratista evoluindo para uma pintura interessada pela forma, cor e ritmo.
Hélio Basto com um gato e duas telas de sua fase surrealista
Atualmente sua atividade está centrada em enormes painéis para empresas particulares como o Bamerindus, que tem trabalhos seus no acervo da sede do Paraná. O pintor revelou que não possui prêmios porque, por temperamento, “nunca fui de buscar, concorrer em salões de arte. Meu prêmio é a evolução da minha pintura e a continuidade dela”.

ARTISTA INDEPENDENTE

A importância da presença de Hélio Basto nas artes baianas está sendo resgatada pela professora de História da Arte da UFBa,. Vânia Carvalho, que prepara um livro sobre vida e obra do pintor. No seu entender, “trata-se de um artista independente. Não está ligado a grupo ou tendência, mostrando uma coerência incrível. Sentimos sua evolução dentro da linha de continuidade. Ele sempre se manteve da arte com dignidade, sem fazer concessões”. Informou que Hélio é um nome conhecido nacional e internacionalmente, tendo iniciado o modernismo juntamente com Carlos Bastos, Mário Cravo, José Pedreira e o pessoal que freqüentava a boate Anjo Azul, na Rua do Cabeça.
Segundo Vânia Carvalho, o trabalho do artista hoje mostra um grau de maturidade onde se caracteriza uma tendência construtiva com certo geometrismo, inclusive com relação a espaço e forma. Tudo harmonicamente equilibrado com o colorido das linhas.
Como homem, ela acredita que o pintor “se sente meio desambientado da Bahia de hoje, angustiado com a imagem de sua terra que não é a mesma de tempos passados. Como se a Bahia tivesse perdendo a sua alma."
Como artista sensível, ele se preocupa e ao mesmo tempo é vítima da nossa realidade desumana. “Nessa desumanidade, a Bahia não reconhece seus verdadeiros valores”.
Para a artista plástica Yedamaria, uma de suas grandes alegrias é ter um retrato seu pintado por Hélio, há 20 anos, “uma pessoa que estimo e admiro por seu trabalho coeso”.
Afirmou que depois do modernismo, nada mais aconteceu em termos de respeito aos artistas que foram surgindo. Na sua opinião, “isso dificulta o aparecimento de novos valores. As pessoas saem da cidade para fazer respeitar o seu trabalho” (Colaboração de Eduardo Jasmim Tawil.)

          UMA EXPOSIÇÃO DA INFLUÊNCIA PORTUGUESA

Para organizar os seis grupos de estudos que vão fazer a pré-seleção das obras de artes brasileiras a serem incluídas na exposição Circulação das Formas na Arquitetura dos Países de Expressão Portuguesa, no período de 1557 a 1816, promovida pelo Ministério da Cultura da França, esteve no Brasil o professor Pierre Leglise-Costa, catedrático da História da Arte do Brasil e de Portugal.
Antes de viajar a Paris, Leglise-Costa, um francês, filho de brasileiro, que morou em Portugal 15 anos e atualmente radicado na França, explicou que em nosso país foram criados grupos de estudos em São Paulo, no Rio, em São Luiz, em Salvador e em Belo Horizonte que vão apontar os objetivos, as peças artísticas, as maquetes, as fotografias e o material iconográfico que junto com os de Portugal, da África, da Índia, da China e da Malásia vão reconstituir a história da dominação portuguesa do século XIV ao XVI.
“A nossa idéia”- acrescentou, é a de mostrarmos ao público francês uma noção exata do que foi a denominação de Portugal e a influência que este país teve em séculos passados, assunto, que sabemos, é completamente desconhecido dos estudantes e até de alguns estudiosos franceses. “A exposição, que deverá ser itinerante vai ser montada, primeiro, na capela de Salpetriere, uma construção do século XVII, em Paris”.
Segundo ele, a exposição vai mostrar, também, a influência do mundo ocidental no oriental e vice-versa: “Escolhemos 1557 porque a partir deste ano, que coincide com a fundação de Macau e com a morte do rei D. João III, o império português já estava consolidado e sua cultura influenciava decisivamente todas as colônias. E resolvemos abranger o período até 1816, que é o ano da chegada ao Rio da Missão Francesa e o da morte de D. Maria I”.
A exposição, que vai se tornar possível graças a uma proposta apresentada pela Associação para o Desenvolvimento de Estudos e da Cultura de Portugal e do Brasil, em França.

   OBRAS DE JEAN COCTEAU SÃO EXPOSTAS EM PARIS

Paris (AFP) - Execrado em vida pelos mais intransigentes “enciclopedistas” do momento, Jean Cocteau, uma das grandes figuras do parnasianismo francês deste século, renasce das suas cinzas em Paris com uma exposição gráfica de suas obras que é, ao mesmo tempo, uma original e desconhecida visão do mundo das artes e das letras.
Auto-retrato de Jean Cocteau
No entanto, o interessante desta exposição - Jean Cocteau e as Artes Plásticas -  realizada no Pavilhão das Artes do Centro Pompidou, não são os seus afrescos ou os seus cartazes para os ballets russos de Diaghilev, mas a história do começo de sua carreira, lá por volta de 1910, em modestas revistas ilustradas da época.
E quando, por exemplo, Cocteau dedica-se a poesia, ao jornalismo a edição e a música, freqüenta Catulo Mendes, Apollinaire e Max Jacob e, dispensado pelo exército na Primeira Guerra Mundial, escreve O Discurso do Grande Sonho fundando com Paul Iribe a revista A Palavra, onde assina seus desenhos e cartuns com os pseudônimos de Japh e Jim. Cronologicamente, Cocteau nasce antes para o desenho do que para a poesia, apesar de em suas primeiras obras o peso específico da prosa ou dos poemas parecer desbancar o desenho. “Os poetas, dizia em álbum intitulado exatamente Desenho, não desenham, desatam a escrita para em seguida reatá-la de forma diferente”.
Em Ópio, relato ilustrado de uma de suas curas de desintoxicação, ele confirma a sua notória pré-disposição pelo desenho e pelo expressionismo e seu marcantes gosto pelo insólito e pelo fantástico, muito antes de abordar a arte mural que será finalmente a expressão plástica dos últimos 15 anos de sua vida. Édipo e Orfeu são as duas maiores figuras de sua mitologia pessoal, não é provavelmente por influência da Grécia do que da do surrealista italiano Giorgio de Chirico, mas são indubitavelmente os seus desenhos eróticos os que mais impressionam e atraem o público, notoriamente interessado no lado pecaminoso de sua vida.
Durante 12 anos, de 1951 até a sua morte no dia 11 de outubro de 1963, Cocteau escreveu o dia-à-dia de sua vida, que festivamente chamou O Passado Definido. Antes, num relato autobiográfico que escreveu sem maiores pudores, embora não o tenha assinado, o autor de O Sangue dos Poetas, assumiu perante si e a sociedade a sua condição de homossexual.






domingo, 25 de novembro de 2012

RAMIRO FIXA NAS GRAVURAS SEUS MOMENTOS PSÍQUICOS - 26 DE MARÇO DE 1984.


JORNAL A TARDE , SALVADOR, 26 DE MARÇO DE 1984.

RAMIRO FIXA NAS GRAVURAS SEUS MOMENTOS PSÍQUICOS


O artista Ramiro ao lado de uma gravura de sua autoria, durante sua exposição na Galeria MAB.
As gravuras expostas na Galeria MAB, de Ramiro Bernabó, são expressões fixadas em composições que nos revelam momentos psíquicos. São trabalhos por vezes difíceis de uma leitura mais apressada. É preciso vê-los com calma descobrindo os muitos elementos que os integram.
A obra de Ramiro é uma busca constante, uma demonstração da cobrança cotidiana que ele faz de si próprio. São muitos questionamentos, inclusive, sobre o papel do artista numa sociedade onde ele enxerga grandes desníveis e outras necessidades mais urgentes, e também, sobre a função da arte. Ramiro não está preocupado simplesmente com a parte técnica ou estética do seu trabalho. Deseja o reconhecimento público da sua obra, mas que aconteça como uma coisa natural, e tendo por base a qualidade.
É preciso que o artista carrega consigo um grande peso por ser filho de artista famoso e ter escolhido a mesma profissão do pai. Aliás, isto tem provocado muitos problemas em jovens filhos de pessoas famosas, porque a sociedade passa a fazer cobranças e exigências absurdas. Muitos inclusive têm renegado sua própria paternidade ou maternidade procurando um distanciamento da família.
Ramiro tem uma grande virtude. Embora seja filho de Carybé, que é um artista consagrado, e que tem um estilo inconfundível e forte,não sofreu influência de seu pai. Ao contrário, seu trabalho segue por outro caminho e não existe qualquer relacionamento quer seja no traço, temática ou técnica. Ramiro, embora carregue consigo alguns problemas existências, procura superá-los através de sua arte que tem a marca de sua própria personalidade. Ao meu ver, este é um dado importante, porque está buscando a sua própria identidade artística.
Como disse acima, é difícil ser reconhecido profissionalmente quando já se tem um pai famoso.Mas, perto de nós está o exemplo dos Cravo.Mariozinho, o fotógrafo, é tão reconhecido no mercado de arte quanto seu pai,. Mário, o escultor. E isto vem demonstrar que Ramiro pode, e certamente será reconhecido se continuar insistindo e trabalhando com afinco em suas gravuras. Os obstáculos, quer sejam de mercado e de técnica, serão superados, porque posso afiançar, que não lhe falta talento.
Ele ainda está descobrindo materiais para o seu trabalho artístico. Tem uma preocupação com o artesanal,  com a impressão bem feita,com o resultado final de tudo que faz.Usa vários tipos de materiais, alguns até encontrados nas ruas e no lixo industrial, os quais são levados para seu atelier como um achado importante. Ali estuda a textura e os imprime várias vezes em busca de resultados mais emocionantes. E, quase sempre, surgem no papel impressões curiosas e que funcionam perfeitamente. É a procura do seu estilo próprio, e também, da função, que determinados objetos, considerados por nós imprestáveis, tem e que ele realça. Assim esses objetos ganham a nobreza de uma matriz, de um elemento importante dentro de uma composição plástica. São pedaços de pneus velhos, de eucatex, tecidos, lixas e tudo que realmente ele seleciona pela textura, com bons resultados ao serem impressos.
Existem na obra de Ramiro altos e baixos. Evidente que isto depende dos momentos psíquicos. Mas, estes altos e baixos são também presença constante na obra de muitos artista que já estão consagrados. Em qualquer exposição onde são apresentados 30 quadros, quase sempre encontramos dois ou mais que fogem totalmente em qualidade do conjunto. Muitas vezes até destoam, e os espectadores quase sempre são unânimes em reconhecer este fato. Em Ramiro esta ocorrência dá-se como reflexo de sua perplexidade, que se estabelece diante das muitas perguntas que faz a si próprio. O artista é muito exigente com seu trabalho e quando não tem uma resposta que lhe satisfaça ou o reconhecimento imediato, fica mais inquieto.Mas, é preciso que entenda que o reconhecimento público é coisa que demanda tempo, e é um processo um pouco demorado, e que depende além do talento, que não lhe falta, e muito trabalho e muitas circunstâncias. É preciso cuidar da organização, da divulgação e, principalmente, trabalhar muito. Se trilhar por este caminho, dentro de alguns anos sua obra será reconhecida e festejada.


LASAR SEGALL E SONIA  BRUSCKY NO SOLAR DO UNHÃO

Lasar Segall – 1891-1957 – O escultor não é menos notável  que o pintor e o gravador; esse é, decerto, extraordinário em todas as técnicas., Segall não foi um pintor que gravava – como Malfatti ou mesmo Portinari – e sim um gravador autêntico, alguém que, em todos os momentos de sua carreira, bem compreendeu as leis peculiares à gravura, e soube elaborar , obediente a elas, uma obra pessoal.
Quantitativa e e qualitativamente, essa obra gravada é importante. Acrescente-se a tal a circunstância de ter sido Segall, cronologicamente , dos primeiros a fazer gravura no Brasil – entregando-se com idêntica maestria à litografia, à xilografia e à gravura em metal – e se há de chegar à conclusão lógica de que,na história da gravura brasileira, esse artista merece lugar no primeiro plano.

Sonia Von Brusky é carioca , pintora,escultora e desenhista. Sobre o seu trabalho a crítica se manifestou através de nomes como : Adonias Filho, José Roberto Teixeira Leite, Frederico Morais, Carlos Drummond de Andrade , dentre outros.
Sonia e alguns de seus trabalhos  no Solar do Unhão
Sonia tem o seu trabalho inserido dentro da nova figuração; ela se manifesta na dimensão do surreal “porém sua genialidade está no feliz achado de um objeto  que simboliza toda a nossa necessidade de afeto, carinho, contacto, a nossa fome de comunicação: a carta postal. São cartas ( envelopes) com endereços, selos e carimbos, cartas escritas por gente humana e entregues ao Correio, jogadas em suas pinturas irregularmente num espaço vazio, cercado e semi fechado por varas mecânicas de uma arquitetura ocasional.O colorido, as formas , as variadas formulações de alto nível plástico e estético mostram a artista plenamente amadurecida e realizada”.


AINDA ESTÁ PARA SER IMPRESSO O VERDADEIRO CATÁLOGO DO MAMB

Não sei qual foi o critério da escolha das ilustrações do Catálogo do Museu de Arte Moderna da Bahia.Mas,como interessado no assunto, posso dizer sem medo de errar que não usou um critério justo. Para afirmar isto consultei a lista das obras que integram o acervo e passei a examinar detalhadamente o catálogo. Cheguei à conclusão que houve interferência política ou afetiva. Não justifica a omissão nas ilustrações dos artistas que iniciaram o movimento de vanguarda na Bahia há décadas passadas entre eles Floriano Teixeira,Carybé e Jenner Augusto dentre outros. Isto é a demonstração que no momento em que as pessoas estão com o poder, na situação privilegiada de decidir, pendem para critérios duvidosos. Gosto dos trabalhos de João Grijó, César Romero, Sérgio Veloso e outros aí incluídos, exageradamente, com páginas inteiras no referido catálogo, em detrimento de artistas que têm uma vinculação maior , inclusive, com a própria história do Museu de Arte Moderna da Bahia. É uma falha irreparável que inclusive revela o surgimento das famosas “igrejinhas”. Criticam que existem “igrejinhas entre os artistas mais consagrados e cometem o mesmo erro. Acho uma coisa terrível este tipo de comportamento. E, posso falar e escrever de alto e bom som porque, além de não pertencer à geração dos artistas omitidos, não tenho qualquer vinculação com grupos. O que me interessa é o talento, é a obra do artista. E pelo talento e a obra não se pode esquecer o papel que esta gente desempenhou e desempenha no cenário artístico baiano.
Sei que este comentário pode gerar alguns problemas pessoais com alguns artistas.Mas ele traduz o que as pessoas ligadas à arte na Bahia estão falando nos museus, nas galerias e em todos os locais onde é lembrado o catálogo do MAMB, que chega com 25 anos de atraso e não reflete o conteúdo do seu acervo como deveria. Alguns irão perguntar: por que o Reynivaldo não falou logo sobre isto? Exatamente porque não adiantaram meus esforços em conseguir antes uma prova para que pudesse fazer uma avaliação. Só consegui a capa que publiquei na coluna na semana passada. Agora, de posse do catálogo, verifico que houve manipulação, prejudicando-o.
O verdadeiro catálogo do MAMB ainda está para ser feito! Enfocando e ilustrando com as principais obras dos artistas que tiveram importante papel no movimento artístico baiano e participaram ativamente da fase áurea do Museu de Arte Moderna da Bahia. Faltou critério e principalmente, isenção de ânimos para relevar outros interesses em benefício da própria cultura. Não desejo polemizar. Mas registro aqui a minha discordância para não pecar por omissão.

JEAN MARC FARÁ SUA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO DIA 15 NO MÉRIDIEN - 27 DE FEVEREIRO DE 1984.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 27 DE FEVEREIRO DE 1984.

JEAN MARC FARÁ SUA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO DIA 15 
NO MÉRIDIEN

O jovem artista francês Jean Marc Pigot , que se encantou pela Bahia , com obras de sua autoria
Foi uma paixão à primeira vista. Uma velha senhora de quase 435 anos conquistou um jovem loiro, o francês Jean Marc Pigot. A velha senhora , cheio de mistérios, magia e plasticidade, derramou seu feitiço irresistível. De repente, o jovem resolveu retratá-la com todos os seus encantos, com toda a sua beleza secular. Foi este dengo cultivado entre pessoas de cor, misturado num só ambiente onde surge o sincretismo , a miscigenação e outras fórmulas mágicas onde não existe lugar para radicais e segregadores.
Tudo acontece com esta velha senhora – a Cidade do Salvador – e embora desprezada por quem deveria zelar por sua integridade e suas belezas ainda é capaz de seduzir . E um dos últimos  seduzidos é o francês Jean Marc, natural de Paris. Salvador arrebatou de sua co-irmã, também secular e cheia de encanto e luz, este jovem que agora transfere para o papel os contornos de suas igrejas, de suas ruas e do casario, testemunhos de uma época de fausto e religiosidade.
Porém , vamos falar um pouco do jovem conquistado. Jean Marc Pigot nasceu no ano de 1957 em Paris. Desde os tempos de colégio que demonstrou uma grande inclinação para o desenho e, à medida que ia crescendo, saía desenhando nas ruas, nos boulevards, no metrô e em outros locais públicos.
Tudo que é exposição Jean Marc comparecia, sempre interessando em captar a técnica e a maneira de abordar os objetos . Realiza algumas exposições na França, uma das quais na Escola Nacional Superior de Artes Aplicadas, e ilustra um livro de crianças.
Em 1977 estuda Ciências Econômicas na Universidade de Pantheon , Sorbonne. Em 1980/81 serviu na Cavalaria. Em 1982, devido a seu gosto por descobrir novidades , veio para o Brasil trabalhar no Clube Mediterranée, em Itaparica. Esteve no Haiti, Sicília, Espanha, Martinique, Guadalupe e alguns países da Europa. Mas , foi no Mediterranée que teve a oportunidade de trabalhar como cenógrafo. Depois de muitas e muitas viagens, aconteceu  o encontro com a velha Salvador que, sendo uma mulher experiente conseguiu conquistar o jovem francês . E, seus desenhos a bico-de-pena são frutos desta paixão. Os mínimos detalhes de suas igrejas são ressaltados por traços
Curtos e expressivos. Jean usa o bico-de-pena como um objeto mágico que capta toda a ambientação dos monumentos centenários. E nos traz de volta àqueles tempos calmos, longe da violência urbana, onde vendedores de vassouras , baianas de acarajés saíam e desciam as ladeiras sem qualquer preocupação. Seus trabalhos nos trazem uma espécie de nostalgia, de saudade de um tempo que passou mas que não está muito longe. Jean Marc fará sua primeira exposição em Salvador no próximo dia 15 de março, no Hotel Méridien , onde mostrará vários de seus trabalhos.

             LUÍS JASMIM NO TELHADO DE VIDRO

Com lançamento previsto para o próximo dia 29, às 21 horas , no Museu de Arte da Bahia, o livro Telhado de Vidro, de Vera Matos e Sérgio Nobre, que foi enriquecido com as belas ilustrações do artista Luís Jasmim. Ele soube captar o clima do realismo mágico e a dose de erotismo dos poemas. São ilustrações feitas a bico-de-pena  e revelam uma sensualidade incomum, sem chocar. Uma sensualidade muito suave e as figuras dão prazer quando as observamos em seus movimentos de carícia. Jasmim é um dos bons artistas deste país e sabe usar com muita singeleza o desenho. São traços que vão formando os volumes dos corpos , com suavidade. Mas, que revelam a firmeza de um artista que conhece o desenho e coloca em seu devido lugar as emoções emanadas de suas composições.

      BEL BORBA PROCURA NOVAS ALTERNATIVAS

“Produzi estes cartões sem lançamento festivo. Distribuição homem a homem ou na Literarte”. Este é um pequeno trecho do bilhete que recebi de Bel Borba, referente a dois cartões-postais que nele produziu. No primeiro, trata do último instante deste século. É a chegada do ano 2000, cheia de previsões catastróficas. O medo do apocalipse, que todos nós torcemos para que não aconteça, para que tenhamos sempre um ia seguinte. É exatamente esta expectativa sempre positiva de mais um dia seguinte que nos dá força para continuarmos, sempre lutando. Mas voltando ao postal de Bel Borba, ele fixa neste segundo, tido como o último entre alguns crentes, ou seja, 11:59’59’ de 31 de dezembro de 1999. e interfere sobre uma fotografia do Pelourinho. Como uma mira telescópica de uma arma invisível e ameaçadora, capaz de destruir todo aquele patrimônio que levou tantos e tantos anos para ser construído e ganhar aquela imagem, que só a pátina do tempo consegue dar.
Esta mira telescópica, que Bel nos mostra, pode ser de um fuzil, de um canhão ou falando numa linguagem destruidora, mais atual, de um míssel ou de uma nave vindos de um céu galáctico.
O segundo postal é um prolongamento do seu trabalho de interferência urbana, onde o artista imaginou grossos vergalhões de aço tornando a Praia do Porto da Barra uma das mais procuradas pelo povão, num local quase que privado. Aliás, uma prática condenável, mas que vem acontecendo, especialmente nas praias do litoral do norte da Bahia.
O que posso dizer é que Bel Borba, como todos os artistas modernos, vem utilizando-se de espaços alternativos para veicular sua arte. Ele espera lançar mais quatro cartões em abril e não pretende parar. Acredito também que Bel Borba encontre e utilize de outras formas alternativas para expandir sua arte, que tem o espírito de contemporaneidade, e que sejam valorizados outros espaços que muitas vezes passam despercebidos. Inclusive, está nos seus planos a utilização muros, painéis, adesivos e outdoors, sendo que, para este último, espera conseguir algum patrocínio “porque é oneroso”.

WASHINGTON MENEZES  MOSTROU 25 TELAS NA MAB

Washington Menezes Silva, pintor sergipano, realizou uma exposição na Mab Galeria de Arte, à Rua Guanabara, Pituba. Foram 25 quadros, óleo sobre tela com o tema predominante, as marinhas. Atualmente o artista está pesquisando as figuras humanas, lançando ainda, nesta mostra, três trabalhos sobre este novo tema.
Dizendo gostar de desenho desde menino, Washington começou a pintar em 1962, em Aracaju, onde trabalhou anteriormente com fotografias. Ainda em Sergipe, expôs na Galeria Álvaro Santos e foi detentor do 1.º e 2.º prêmios na inauguração da Galeria Acauã, em 1966. Já foi também, escolhido entre os jovens do Nordeste, cujo trabalho deveria figurar em uma folhinha do Banco do Nordeste do Brasil. Em Salvador, além de participar de uma coletiva na extinta Galeria Antunes, em 1974, no Corredor da Vitória, Washington já é conhecido do público baiano por uma exposição na Eucatexpo e participações em leilões de arte da Kattya Galeria de Arte.

WILSON ROCHA EXPLICA A SELEÇÃO DAS ILUSTRAÇÕES - 2 DE ABRIL DE 1984


JORNAL A TARDE SALVADOR 2 DE ABRIL DE 1984

WILSON ROCHA EXPLICA A SELEÇÃO DAS ILUSTRAÇÕES

Vendedor de Passarinhos
de  Portinari, do Mam-Ba
Nunca perco a oportunidade de dizer que este espaço não pertence a mim, e sim, às manifestações artísticas e as pessoas envolvidas nelas. É um espaço democrático! Foi com esta intenção que entrei em contato com Wilson Rocha, meu amigo, para que explicasse quais os critérios utilizados na seleção das obras reproduzidas nas páginas do tal catálogo do MAMB. E, ele gentilmente nos atendeu. Evidente, que não concordo com algumas afirmações do Wilson, mas defendo que ele tem todo o direito de externar suas opiniões. Por falar em Wilson Rocha ele também é uma das vitimas do famigerado catálogo, porque três linhas de seu texto foram simplesmente cortadas e quando percebeu, exigiu que o mesmo saísse completo nos demais exemplares. As três linhas cortadas não eram de agrado dos burocratas instalados nas tetas da Fundação Cultural do Estado da Bahia , vejamos: “Razões por demais relevantes, no entanto, fazem-nos estranhar a inexplicável ausência no acervo do MAMB de artistas baianos da importância de Raimundo Oliveira, ou Carlos Bastos e Lygia Sampaio, pioneiros do modernismo local”. Portanto, não é só o catálogo que precisa ser refeito, mas também o acervo do MAMB precisa ser reforçado com obras significativas destes artistas. Mas deixemos que Wilson explique suas razões e teremos nossas conclusões:
“O Catálogo do MAMB, memória e vanguarda da nossa contemporaneidade”.
“A respeito de inferências e ilações equivocamente suscitadas pela publicação do catálogo do Museu de Arte Moderna da Bahia, cuja reavaliação do acervo na atualidade e a seleção das obras reproduzidas em suas páginas estiveram sob a nossa inteira responsabilidade do MAMB, Francisco Liberato, não poderíamos agora deixar de atender de bom grado a solicitação tão delicada e o gesto tão cordial com que nos foi dirigida pelo nosso velho amigo e estimado cofrade Reynivaldo Brito, no sentido de esclarecer tais equívocos por parte da opinião pública e também por um grande número de artistas locais.
Ora acontece que a Bahia tem hoje uma população de artistas, como queria há trinta anos passados o critico e saudoso amigo José Valadares.
Uma população tão numerosa de artistas não caberia no espaço limitado de um catálogo que é apenas uma primeira tentativa, que há de ser corrigido e aperfeiçoado sempre que em vias de esgotar-se, e que está aberto a receber novos procedimentos e novas linguagens, já que há de refletir a vida e tendências de um museu moderno de arte. Não nos foi possível esquecer isso, esquecer o problema de um mundo abundante de artistas baianos, quando fomos procurados pela artista plástica Zélia Nascimento, tão dedicada ao MAMB a ponto de ter uma boa idéia de se lançar em busca da realização de um catálogo pioneiro do acervo riquíssimo do nosso museu, conseguindo concretizar o seu sonho graças à receptividade e sensibilidade que as suas gestões encontraram no apoio cultural da empresa baiana Odebrecht, de tantos e inestimáveis serviços prestados à cultura nacional editando obras de maior importância, como, por exemplo, Nordeste Histórico e Monumental, de Clarival do Prado Valladares.
Com 21 reproduções a cores de artistas já falecidos e 64 em preto e branco, incluídas aqui algumas das notáveis produções das oficinas de Expressão Plástica do MAMB, sua grande maioria compõe-se de valores da nova geração, de artistas emergentes da Bahia e do Nordeste. Evidentemente, não deixa de ser estranha, por exigüidade de espaço e limitação de recursos, a ausência de tantos artistas do nosso ambiente, integrantes do acervo, da massa do conjunto de obras que constitui o patrimônio do museu, artistas, muitos dentre eles afamados, grandes artistas como: Edson da Luz, Antônio Rebouças, Sérgio Rabinovitz; Humberto Vellame, Jamison Pedra, Chico Liberato, Leonardo Alencar, Riolan Coutinho, Calasnas Neto, Carybé, Floriano Teixeira, Jenner Augusto, Rescala, J. Cunha, Zélia Nascimento, Pasqualino Magnavita, Noélia de Paula, Rino Marconi, Maria Adair, Stela Macedo, Denise Pitágoras e Leonel Mattos, que, sem “.dúvida, teriam enriquecido grandemente o nosso catálogo do MAMB.
Outras ausências inapeláveis e inexplicáveis que devemos lamentar é a de outros dos nossos artistas importantes que não fazem parte do acervo do MAMB, alguns de grande importância nacional, como Raimundo de Oliveira; outros da maior projeção local, como Carlos Bastos; Carlo Barbosa, Justino Marinho, Arlindo Gomes, Luiz Fernando Pinto, Antonio Brasileiro, Anísio Dantas, Maso, Ademar, Valtério, Ramiro Bernabó, Osmundo, Rita Moraes, Solange Gusmão, Madalena Rocha, Clara Melro, Célia Azevedo, Vera Lima, Ivonete Dias, Conceição Lima, Fernando Coelho, Elisa galeffi, Edson Calmon, Edvaldo Gato, Fred Schaeppi, Ângelo Roberto, Sólon Barreto, Lygia Milton, Zélia Maria, Rosa Cabral, José Arthur e outros. E o que dizer dos nossos artistas ínsitos, representados no catálogo apenas pelo grande João Alves e por Emma Valle, quanto seria maravilhoso encontrarmos em suas páginas as pinturas fascinantes de Aurelino, Pedroso, Cardoso e Silva e Nair de Carvalho, entre tantos outros.
De fundamental importância, como fator de ruptura com a longa tradução do objetivismo visual da pintura na Bahia, foi nascimento bastante retardado do nosso modernismo, quando já se tratavam os últimos combates da Segunda Guerra Mundial, por volta de 1944. Seus pioneiros foram três dos maiores artistas que o Brasil já produziu.
Dentre aqueles valorosos combatentes , o primeiro a erguer a bandeira da resistência foi o  escultor Mário Cravo Jr, seguido de dois grandes pintores, Rubem Valentim e Raimundo de Oliveira. Foi exatamente isso o que objetivamos registrar no catálogo do MAMB, a protohistória, a memória e vanguarda da nossa contemporaneidade”, Wilson Rocha.

BAIANOS INTERPRETAM O DIÁLOGO ENTRE GOYA E  MAJA DESNUDA

O grande pintor da guerra e do amor, mas também de belas mulheres, é alvo de uma homenagem singular na Bahia. Seu quadro A Maja Desnuda que tanta celeuma causou na época, inspirou o professor Remy de Souza a elaborar uma peça com o mesmo título da tela e agora será levado ao palco do Teatro Castro Alves.
Leonel Nunes interpretará a figura de Goya e Helena Ignez a própria  A Maja Desnuda. É uma tentativa de recriar o diálogo entre o criador e a criatura, desnudando assim, um pouco do ideal feminino  que “todo homem carrega dentro de si”, segundo explicam seus idealizadores. Também, traça um paralelo entre a degeneração física do pintor e o crescimento qualitativo.
Para falar desta homenagem a Goya deixo que o diretor da peça Rogério Sganzeria exponha sua visão:
“Quem foi o Goya? Difícil, senão impossível, separar o homem do artista. Quem é esse homem? O artista não explica a obra antes complica-a; qual o mistério de sua existência?
Significativamente, Francisco de Goya Y Lucientes (1746/1828 nasceu em Fuente de Todos (Aragão), um povoado modesto como as suas raízes. Em um país de fidalgos, que em sua maioria não tinha maiores fontes de subsistência a não ser o título apesar do império colonial espanhol abranger quase toda a América do Sul, domínio onde o sol nunca se punha..., era preciso estar bem relacionado com os poderosos para se produzir arte. Depois de insucessos iniciais na carreira, marcado pelos concursos sujos e amores contrariados, Goya torna-se pintor real e seus retratando toda a nobreza espanhola para depois concentrar-se em seus murais e gravuras como intérprete da alma popular, reprimida pelas guerras de ocupação...
A obra A Maja Vestida, de Francisco Goya
Época conturbada como poucas pelo gênio militar de Napoleão, quando a Espanha estava sujeita ás vontades de uma rainha atrevida e sensual, sobretudo de seu amante, um arrivista (Godoy) que proibiu as corridas de touros, foi condecorado com a insígnia de “Príncipe da paz” e segundo certas fontes, teria mandado envenenar a Duquesa de d”Alba, modelo e amante do grande pintor, para interceptar duas telas que escandalizaram a conservadora sociedade de seu tempo: A Maja Desnuda e A Maja Vestida”(1797 e 1799).

Sabe-se que Godoy foi justiçado por seu povo ao tentar fugir com essas telas, disfarçado de colecionador, foi preso e apedrejado na fronteira...
Ao contrário dos artistas modernos, Goya foi pintor de reis mas não os bajulava... definindo-se como um repórter da inquietação de sua época. Realizou 45 cartões para a tapeçaria real que são fiel reflexo da Espanha de então, superando todos seus mestres.

Não teve discípulos, mas incluía, entre seus orientadores, Velásquez, Rembrandt e a ...natureza.
Impossível estabelecer a origem da pintura: sabe-se que durante séculos, esta arte foi simplesmente ornamental e vegetou como mero aditamento da arquitetura. Os exemplares mais antigos que se conhecem são as pinturas paleolíticas, dentre as quais se destacam as de Altamira na Espanha. São manifestações diversas da arte cristã, inexiste um nexo que as vincule direta ou indiretamente, já que as pinturas rupestres são exteriorizações de vivências anímicas dos homens das cavernas. Teria algo a ver com desenvolvimentos ulteriores ou com a pintura decorativa?
A tela a A Maja Desnuda, também de Goya
A pintura de cavalete é mais moderno do que muitos suspeitam, confirma o autor de um ensaio clássico sobre Goya, intitulado “El Hombre y El artista”, Leonardo Estarico, 1942, observando que a “prática do afresco evidência a exatitude da afirmação. A difusão do quadro de cavalete foi a conseqüência do emprego da tinta óleo que tornou possível a expressão pictórica por meio do “claro-escuro”, cuja sistematização parte de Giotto (1267/1337). Segundo esse autor, Goya é um descendente direto, na arte dessa concepção denominada, com justeza, de plástica”..
Ao mesmo tempo, pronuncia o impressionismo francês de Renoir em diante passando por Monet e indo até Picasso, prenunciando toda arte moderna.
Seu compromisso é com o sonho e a linguagem do transe, especialmente importante para decifrar os claros enigmas da fome e da repressão. Por isto, os surrealista reivindicam o acervo de Goya como componente fundamental á compreensão do subconsciente coletivo, na linha de um Bosch, de quem aliás, Goya assimilou muita coisa. Ambos rompem com o naturalismo e o realismo convencional, reivindicando maior profundidade ao tratamento do ser e da natureza na pintura mural e nos afrescos monumentais que surpreendem até hoje por serem cada vez mais atuais.
É importante a distribuição de informações sobre artistas quinta essenciais verdadeiros cidadãos do mundo, como Goya por exemplo. É o que pretende a encenação de um espetáculo na Cidade do Salvador, tendo como texto o diálogo imaginário escrito pelo professor Remy de Souza entre o pintor e sua criatura, o pincel e a tela, Goya e a “Maja desnuda”, título da peça a ser estreada na Bahia, onde há uma forte colônia hispânica, com Helena Ignez e Leonel Nunes, sob minha direção e cenários de Raul Willian. No palco do teatro, poderemos saber quem foi Goya e quais as suas atribulações, êxtases, devaneios.
“Goya é austero e suntuoso como a Espanha”, dizem alguns. “Representante de um momento drástico, marcado por rebeliões e tragédias coletivas”, analisam outros. No entanto Goya é a Espanha com toda a sua força atávica, suas desigualdades abissais, sua vegetação agressiva e sua gente dura, robusta, orgulhosa, espanhola: “Goya é povo” (de Rogério Sganzela).



CLÁUDIO TOZZI EXPÕE NO DIA 23 NA O CAVALETE -20 DE FEVEREIRO DE 1984


JORNAL A TARDE,SALVADOR, 20 DE FEVEREIRO DE 1984.

CLÁUDIO TOZZI EXPÕE NO DIA 23 NA GALERIA O CAVALETE

A exuberância das cores da fauna brasileira na obra de Cláudio Tozzi.
Pinturas e serigrafias de Cláudio Tozzi serão mostradas a partir do dia 23 na Galeria O Cavalete. Umas das preocupações do artista é de levar a arte a um maior número possível de pessoas. E os trabalhos em serigrafia e gravuras possibilitam esta determinação de Tozzi porque são múltiplos. Ele nunca ficou conformado com sua arte enjaulada nas salas refrigeradas dos gabinetes nas grandes metrópoles. Como arquiteto e professor preocupa-se em repassar suas experiências e sempre está buscando o aprimoramento técnico para que possa expressar melhor as suas emoções. Acredita no papel da crítica, acha importante e que deve ser exercida “para que possa haver debate em torno dos trabalhos. A mesma critica não é uma coisa maléfica”.
O artista Cláudio Tozzi
Disse quando de sua exposição em São Paulo, no ano passado:“Mesmo quando um trabalho nosso é visto com ressalvas por um critico, só o fato de publicar suas opiniões acaba despertando a curiosidade do público e ajuda a exposição, transformando-a num acontecimento, no mínimo polêmico. Surgem debates e o trabalho deixa de ser passivo para se transformar numa coisa viva, dinâmica, com movimento. Agora, quando um critico critica sem ao menos ter visto a exposição e baseia seus comentários no que viu impresso num catálogo, é lamentável!”
Realmente estas observações do Cláudio Tozzi são importantes. Porém, não podemos esquecer que os críticos acompanham de perto toda a trajetória dos principais artistas deste país. Embora não tenha lembrança de exposição individual aqui realizada por Cláudio Tozzi conheço de perto a sua obra através de exposições que visitei em museus e galerias em outros estados e das publicações que tenho lido e guardadas em meu arquivo. Concordo que não é justo que alguém comente uma exposição  pelo catálogo e é por esta razão que vou aguardar a abertura da sua mostra para tecer alguns comentários sobre as obras que serão expostas.
A apresentação desta sua exposição baiana é de Fábio Magalhães que destaca :"A paisagem urbana de Cláudio Tozzi não se dá no compromisso com a arquitetura bem como urbanismo mas segue o desenvolvimento de sua pintura nas alterações que cada nova temática propicia, mantendo a mesma técnica no emprego do rolo pontilhado.A cidade aparece tomando toda a superfície do quadro, numa visão aérea, num voo rasante, mostrando, através de recortes seus edifícios apinhados."

A cidade é uma geometria, uma escala colorida, para ser vista a distância, onde os pontos de cores sobrepostos formam os matizes; o tom se altera dentro dos ângulos retos dos retângulos edificados.
Os recortes urbanos lembram São Paulo e foram montados através de diversas fotos da cidade, num procedimento similar a sua série de paisagens com coqueiros, montadas a partir de sobreposições de fotografias de paisagens do litoral pernambucano e paulista.
A imagem de Tozzi da cidade embora tirada da realidade cria um clima de ficção e a visão do conjunto sugere uma situação nova, inquietante, do espaço em que vivemos”.
Alguns dados sobre o artista:Nasceu em São Paulo em 1944. Inicia sua carreira em 1963, recebendo o primeiro prêmio de cartazes para 11.º Salão Paulista de Arte Moderna.
Participou de várias exposições coletivas, entre as quais: Bienal de São Paulo; Vanguardia Brasileña no CAYAC, em Buenos Aires; de Sistemas em América Latina (Institute Of Contemporany Art Londres); Bienal de Veneza; Bienal Americana de Artes Gráficas, em Cali ,na Colômbia; Latin American 76, na Fundación Juan Miró, em Barcelona ;Trienal Latino Americana Del Grabado, em Buenos Aires; Bienal de Paris; Bienal de Medelín , na Colômbia.
Realizou várias exposições individuais em galerias tanto no Brasil como no exterior.Recebeu vários prêmios, entre os quais: Prêmio da Crítica (APCA), Objeto em 1973; Prêmio da Critica (ABCA), de Viagem ao Exterior, em 1975; Prêmio de Viagem ao Exterior no Salão Nacional de Arte Moderna (MAM), em 1979.
Realizou painéis em espaços públicos: painel Zebra na lateral de um prédio da Praça da República, em São Paulo, painel para o Centro Recreativo do SESI, em Ribeirão Preto, painel para o SESC, Vila Nova em São Paulo; painel para a Estação Sé do metrô de São Paulo e conjunto de painéis para o Club A em New York.
Tem trabalhos nos principais museus de arte do Brasil e em importantes coleções no Brasil e no exterior. Curso de pós-graduação e título de mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. É citado em obras especializadas e em inúmeros textos críticos publicados em revistas e colunas de arte da imprensa diária, bem como em dicionários de artes plásticas.

A TRIGÉSSIMA EXPOSIÇÃO DE BANDEIRA

Sua última mostra fora de Salvador, foi em 1981, no 62.º Congresso Internacional de Odontologia, no Hotel Nacional, Rio de Janeiro. Os seus trabalhos foram muito apreciados e adquiridos pelos colegas, alemães, japoneses, venezuelanos e brasileiros. Este ano fará sua segunda exposição na Galeria Comendador Alberto Bonfigliori, na Rua Augusta, São Paulo, que será a sua 30.ª mostra individual.Bandeira já pintou marinhas, casarios, vias-sacras, queimadas e palafitas.
Agora são paisagens de salvador vistas do mar, Como se estivesse dentro de um navio. Quando trabalhava no porto, constantemente se deslocava para Ilhéus. Ele relembra com alegria da sua primeira viagem àquela cidade. Após cumprir suas tarefas, foi passear no cais do Porto. Como era princípio de uma tarde de domingo, ficou a pensar se retornava naquele dia ou na segunda-feira pela manhã. Nesse ínterim, dois dos seus chefes desceram do rebocador de volta da visita a um navio cargueiro sueco que estava ancorado longe do porto e um deles lhe disse que só voltaria naquela tarde se quisesse. Bandeira ficou eufórico com o oferecimento, pois nunca havia viajado de navio, principalmente estrangeiro! À noite já se encontrava conversando com a tripulação.
São imagens e emoções que ficaram retidas e agora são transformadas em belas composições que transbordam carregadas de ingenuidade. Aliás, os pintores primitivos são frutos do próprio meio. Mas, Bandeira sendo de formação universitária é um contraste.

    TRÊS JOVENS ARTISTAS NO SOLAR DO FERRÃO

Trinta trabalhos entre desenhos, gravuras e pinturas de três jovens artistas baianos, Edgard Mesquita de Oliva Júnior, Ives Quaglia e Luís Eduardo Alves Correia Santos, estão expostos na Galeria Solar Ferrão ,do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC). A mostra, promovida pelo (IPAC), através do Setor de Divulgação Cultural (Sedic), foi aberta no dia 16 de fevereiro e prosseguirá até o dia 9 de março.
É a primeira vez Edgard Oliva, Ives Quaglia e Luís Eduardo se reúnem para mostrar os seus trabalhos, porém, não se limitam a uma temática. Cada um exibe o que sua imaginação e criatividade determinaram. Natural de Jequié, Edgard tem 27 anos de idade e participa da exposição com 10 obras. Sua pintura explora muito a cor e a forma, não se pretendo a qualquer tema específico, sendo caracterizada como surrealista. Ives Quaglia é o mais novo dos três ,tem 24 anos, e expõe desenhos e gravuras, enquanto Luís Eduardo apresenta também pinturas. A coletiva do trio poderá ser apreciada de segunda a sexta-feira, das 9 às 12 horas e das 14 às 17 horas, quando a Galeria Solar Ferrão (Rua Gregório de Mattos, número 45, Pelourinho).

OS SETENTA ANOS DO HOMEM QUE SABE CANTAR A BAHIA - 30 DE ABRIL DE 1984.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, 30 DE ABRIL DE 1984.

OS SETENTA ANOS DO HOMEM QUE SABE CANTAR A BAHIA
 Caymmi volta à Lagoa do Abaeté muitos anos depois em 1978  , levado por mim, que o fotografei
Cabelos brancos, fez morena e barriga saliente. Quando fala deixa fluir o dengo e a magia desta Bahia que sabe cantar como ninguém nos seus versos enaltecendo o mar, os jangadeiros, a morena e o João Valentão. Este é um retrato do Dorival Caymmi que estamos acostumados a ver e ouvir nos seus discos e nos programas de rádio e televisão.
João Valentão, de Caymmi
Porém, quando o conhecemos pessoalmente passamos a amá-lo e surge a vontade de preservá-lo como uma figura mágica, um homem que espalha felicidade e principalmente doçura. E Caymmi é isto! Lembro-me que em 1979 tive a felicidade de juntos percorrer os pontos mais tradicionais de Salvador: Itapuã, Abaeté, Bonfim, Amaralina, Mercado Modelo e a praça com seu nome em Itapuã, quando ele reencontrava a gente simples que lhe cumprimentava com um carinho especial. Não era a abordagem pura e simples de um fã que encontrava um cantor de sucesso do momento. Mas, abordagem era diferente. Doce e fraternal! E o velho de cabelos brancos, com sua tradicional camisa listrada, na horizontal, salientando mais ainda sua vasta barriga, abraçava-os e conversava como conhecesse há muito tempo àquela gente que lhe estimava.

Milagre, de Caymmi
Embora tenha quase vinte anos de jornalismo e tenha entrevistado e convivido com muitas personalidades artísticas, políticas, etc., aquele dia que encontrei Caymmi ficou marcado como um dia terno e gratificante. Suando muito ele cantarolava, ficava aborrecido com os maus tratos que estava relegada a sua lagoa do Abaeté, que tornou-se famosa graças a seus versos “Na Bahia tem uma lagoa escura/ arrodeada de ária branca”. Falou da puxada de rede, do xaréu que vinha em grandes cardumes beijar a praia e eram presas fáceis dos pescadores. E, reencontrou Biriba, ex-jogador do Bahia que naquele dia estava em seu trabalho diário ajudando a tirar a rede do mar. De violão em punho não se conteve e cantou para aqueles que tanto lhes inspiraram em seus versos inesquecíveis.

Mas, vamos falar de Caymmi setentão. È seu aniversário e devemos apagar simbolicamente as setentas velas com carinho e torcer para que continuemos por muitos anos festejando o dia 30 de abril. Sua doçura e dengo geralmente confundidos com preguiça, pode ser atestado se olharmos a sua produção musical. E, agora, mais recentemente, a sua decisão de pintar, de passar o papel as imagens daqueles personagens como a morena Marina, musa pele morena e o João Valentão, que existe em cada esquina de malandragem.
Auto-retrato de Caymmi
Evidente que o executivo tipo paulista de gravatinha surrada e pasta 007, com segredo, não tem tempo de conviver com este mundo. Ele está mais preocupado com o horário do escritório e com o sanduíche e um suco de laranja que vai consumir na hora do almoço. Caymmi é de outro mundo, de um mundo de paz onde se tem tempo suficiente para olhar as estrelas e construir personagens eternos e puros! Caymmi é de um mundo de poesia. E é por isto que atendendo a um apelo de Jorge Amado todos foram abraça-lo...”Venham todos pois o dia é de festa, de festa maior. Traga os atabaques, convoque os afoxés, os mestres de capoeiras, os ogans e os ekedes e as Yaôs, o povo dos candomblés, os nagôs e os gêges , os angolas e os congos, não se esqueça dos malés!. O dia é de festa. Vamos saudar o nosso poeta, aquele que cantou o raiar da aurosa, o deslumbre de Janaína e a força do povo pobre!”.
E diz mais Jorge Amado : “É a festa de Bento, de João Valentão e Chico Ferreira, hoje é a festa daquele que chama o vento e comanda os saveiros do mar, do namorado de Inaê e de todas as moças da Bahia, aquele que as fez mais belas e dengosas”.
Portanto, Caymmi é o homem que conversa com o mar, com os peixes e ama os pescadores. Um homem que tem 44 anos de vida conjugal com a sua Stela, e desta união surgiram mais três artistas: nana, Dori e Danilo. Além de cantor, compositor, artista plástico, o velho Caymmi ainda brindou este país com seus filhos, três excelentes artistas.

LEILÃO DE 120 OBRAS NO SALVADOR PRAIA HOTEL


Paisagem Campestre, de Alberto Valença
|Cento  e vinte obras de artistas brasileiros representantes da pintura contemporânea, serão leiloados hoje pelo Escritório de Arte da Bahia, no Salão  Monte Pascoal do Salvador Praia Hotel. Será o terceiro Grande Leilão de Arte da Temporada,  e marcará o primeiro ano de existência da galeria, conforme informou seu proprietário Paulo Darzé.
O pregão está marcado para as 20 horas, numa noite única, com lances livres. Mais uma vez  afirmam os promotores do leilão, estarão reunidos os mais importantes nomes da pintura nacional, colocando-se lado a lado diversos estilos e os mais variados quadros de tradicionais pintores baianos.
Entre os nomes da Bahia estarão Rescála, Alberto Valença, Emídio Magalhães, Carybé, Jayme Hora e Raimundo Oliveira, todos pertencentes a colecionadores baianos e que vem despertando grande interesse como “ Marinha” e “Paisagem Campestre”, de Alberto Valença, avaliados em cerca de três milhões cada tela. “Estarão reunidos qualidade e bons preços”, comentou Louis Caetano Queirós encarregado de realizar o pregão.
Marinha, também do professor Alberto Valença
O próprio Luís Caetano tem se mostrado empolgado com o leilão do Escritório de Arte da Bahia . No seu entender , a reunião destes artistas nacionais “ é algo para se ver independente da compra, diante da diversidade de estilo que vai do clássico ao moderno, passado pelo acadêmico”. O leilão foi antecedido de uma exposição ontem “ é uma verdadeira coletânea da pintura contemporânea brasileira”, completou.
A exposição começou às 10 horas do domingo, dia 29, indo até às 23 horas no Salão Monte Pascoal.
Também durante o pregão as 120 obras ficarão expostas .Entre elas, pinturas de Alberto Valença. Raimundo Oliveira, Rescála, Jayme Hora, Carybé, João Alves, Jenner Augusto, Lobianco, Aldemir Martins, Carlos Bastos e muitos outros.