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sábado, 22 de fevereiro de 2025

MIKE SAM COM SUA ARTE RECRIA CENAS DOS JOGOS ELETRÔNICOS

 Mike Sam tendo ao lado as caixinhas
com pinturas eróticas . Abaixo vemos 
 figuras de estudantes com uma 
máquina de fliperama.
A arte criada por Mike Sam é uma crônica visual sobre os jogos de fliperamas que eram uma verdadeira coqueluche da juventude nas gerações dos anos 70 a 90. As máquinas coloridas, bem iluminadas e cada uma com seu som especial atraíam jovens e pessoas de várias idades que curtiam apertar aqueles botões ou acionar as alavancas e quando as luzes piscavam freneticamente sem parar anunciavam que alguém era o vencedor. As luzes coloridas faziam parte deste cenário piscavam quando a bolinha seguia sua trajetória enlouquecida pela força que o jogador desprendia procurando acertar o seu alvo ou fazer mais pontos. Elas traziam ainda nos seus mostruários desenhos também interessantes que contribuíam para criar aquele clima lúdico e de alegria. Enormes salões chamadas de Arcades com dezenas de máquinas, especialmente nas cidades onde os jogos de azar campeavam especialmente as estações hidrominerais como Poços de Caldas, em Minas Gerais; Caldas de Cipó, na Bahia; Lindoia, em São Paulo. 

Também ele  utiliza  imagens históricas 
 nas  suas crônicas pictóricas  das 
máquinas de fliperamas.
Também nas cidades médias e capitais dos estados existiam salões ou mesmo as máquinas estavam presentes em pequenos bares e cabarés por este Brasil afora. Até que em 1946 o então presidente Eurico Gaspar Dutra proibiu em todo o Brasil os jogos de azar. Foi através de um decreto a proibição que também ocasionou a decadência nas estâncias hidrominerais que recebiam turistas de todo o mundo para curtir suas águas e jogar. Diz o Mike Sam em sua dissertação acadêmica que essas máquinas surgiram em sua cidade natal de Poços de Caldas na década de 40 e que esses jogos eletrônicos denominados de Arcades povoaram a sua adolescência e juventude. Os salões com as máquinas coloridas e barulhentas eram locais de liberdade, onde os estudantes e mesmo muitos adultos podiam se expressar com todas as forças dos seus corpos cheios de energia e vibrar quando ganhavam. As máquinas eletrônicas sobreviveram à investida de Dutra contra os jogos de azar e ainda é possível encontrar alguma funcionando por aí. Tem um programa de televisão onde antiquários até hoje ficam buscando objetos antigos inclusive máquinas de fliperamas, muitas vezes sem funcionar, para comprar, recuperar e vender para colecionadores.
Eduardo L. Marras pintando.
Quem trouxe essas máquinas dos Estados Unidos para Poços de Caldas, em Minas Gerais a partir de 1940 foi o pintor ítalo-argentino Eduardo Luciano Marras, segundo as pesquisas feitas por Mike Sam para sua dissertação de Mestrado da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. O pintor nasceu na Itália e estudou artes na Argentina,  viajou por vários paises fazendo retratos. Era um amante da arte cinematográfica e construiu um cinema em Poços de Caldas e na sala de espera expunha os retratos feitos por ele a tinta a óleo.
Já o Mike Sam  fez uma reconstrução visual do espaço das máquinas com o objetivo de reconstruir a memória afetiva através da prática artística.   Quando aqui chegou em 2001 encontrou fliperamas na Rua Carlos Gomes, na Avenida Sete de Setembro, na região de São Bento, no Politeama, Lapa e Largo Dois de Julho. Portanto, reacendeu aquela vontade de frequentar as Arcades, e seus desenhos e pinturas passaram a representar esses ambientes . Incluiu  personagens principalmente jovens estudantes vestidos em calças jeans e camisas brancas e carregando nas costas suas imensas e às vezes pesadas mochilas cheias de livros e grossos cadernos. Depois de produzir pinturas e desenhos realizou exposições com este material entre os anos de 2007 a 2014.
 Pintura de Mike Sam de uma cena do 
 codidiano de estudantes conversando
.

Portanto, ele nos transporta como disse seu colega Edgard Oliva para este ambiente do cotidiano de jovens estudantes em busca de se expressar com mais liberdade. “O Mike tem além de um domínio absoluto sobre a técnica da pintura a óleo, um primoroso desenho ricamente elaborado a partir da observação in loco do seu sujeito. Utilizando-se desses domínios, o artista consegue transportar-nos para o plano das suas memórias através de uma poiesis - palavra grega que significa criação ou produção - rica em detalhes e que chega a beirar o Art-Nouveau, denotado, principalmente, pelo conjunto de elementos com os quais ele elabora sua pintura.”

Casal de jovens namorados. Mike Sam além 
da pintura escreve umas legendas criadas
com lembranças desses encontros .
Foi em suas idas e vindas com o professor Onias Vieira Camardelli, quando aluno da Escola de Belas Artes que costumava levar seus alunos para a Praça Dois de julho, mais conhecido como Campo Grande para  fazer os croquis da praça com suas árvores centenárias, o belo monumento dos heróis do Dois de julho. Mike e seus colegas desenhavam  os estudantes e outras pessoas que frequentavam o local. Esses croquis serviram de base para o Mike Sam que os introduziu em seus desenhos e pinturas dos fliperamas. As pinturas apresentam cores mais suaves e os desenhos têm uma especificidade que lembram antigas peças publicitárias que eram veiculadas em jornais das décadas de 40 a 60. Lembro que trabalhei algum tempo numa pequena agência chamada Ética, que funcionava no Edifício Themis, Praça da Sé, e seu proprietário me parece que se chamava Edgard, fazia uns desenhos para anunciar cursos de Inglês, datilografia e mesmo para lojas de varejo que tinham os desenhos com os traços que lembram os de Mike Sam.

                                        QUEM É

O Mike Sam falando sobre sua obra .
O Mike Sam Chagas nasceu em Poços de Caldas, Minas Gerais, no dia quinze de agosto de 1977. Seus pais Luiz Claudio Chagas e Maria De Lourdes Chagas e sua irmã Anne Kelly Chagas já faleceram. Ele foi criado com um tio. Aos  dezessete anos inicia seus estudos no curso de Artes do Conservatório Municipal, em Poços de Caldas,MG. Realiza suas primeiras exposições em fins dos anos 90 e em paralelo à pintura, trabalha como desenhista e ilustrador de revistas e livros didáticos infantis

Estudou o primário na Escola
Estadual do Lions Clube e o ginasial e Colegial no Colégio David Campista. Lá começou cedo a desenhar e a pintar a óleo paisagens e outras cenas rurais que eram muito apreciadas pelos moradores da cidade. Fazia também algumas ilustrações e assim ganhava algum dinheiro, mas disse que não gostava de fazer as paisagens rurais. Queria fazer algo mais criativo.Em 2001, aos vinte e três anos, muda-se para Salvador, onde reside atualmente. No ano de 2002, ingressa na Escola de Belas Artes da UFBa, no curso de Desenho e Plástica .Por sua condição econômica ser muito precária conseguiu uma vaga para morar na Residência Universitária a R-1 que ficava no Corredor da Vitória. Concluiu o curso em 2007 e lembra que passava a maior parte do seu tempo dentro da escola procurava fazer algo ligado à sua arte. Fez algumas exposições e passou a dar aulas de Desenho e Artes Plásticas.
Algumas cenas eróticas que o 
artista coloca nas caixinhas.
Resolveu juntar os motivos dos jogos eletrônicos com os personagens dos croquis que desenhou no Campo Grande.  Passou a usar cores como os lilases, o azul turquesa, laranjas, os amarelos e vermelhos mais claros. Quando conheceu a produção do artista Jamison Pedra  passou a observar as cores que ele usava em suas obras. "Isto foi muito inspirador para mim entre os anos 2005 a 20015 . Como houve uma boa aceitação desses meus trabalhos então continuei sempre procurando inovar e criar novas cenas focadas nos fliperamas e nos personagens jovens que tinha desenhado durante minhas aulas ao ar livre." Disse que teve muita sorte porque as artes plásticas estavam num bom movimento e que assim pode participar de várias exposições quando recebeu alguns prêmios com as suas obras. Foi quando resolveu voltar para Poços de Caldas a fim de desenvolver uma pesquisa histórica mais profunda sobre os fliperamas que se tornou o objeto de sua tese de Mestrado.

Quando resolveu fazer a pós Graduação por incentivo de sua esposa e coincidentemente encerrou a fase de pintar os estudantes e adolescentes .  Criou algumas máquinas, uns brinquedos. e passou a pintar esses objetos. O que mais teve aceitação foram as caixinhas que fez onde você gira e escolhe qual a imagem quer deixar na parede. Passou a trabalhar com tinta guache ao invés de óleo e sua ideia agora é trabalhar com esses objetos que vão ser o tema do doutorado que pretende fazer.  Inclui nesses objetos cenas eróticas e também de Salvador. "Pretendo construir uma espécie de mini parque de diversões com as imagens que vou desenhar e pintar. Esses objetos possibilitam que as pessoas interajam escolhendo qual a pintura quer ver. ", adianta Mike Sam. 
Vemos o monumeto ao Dois de Julho  e
 estudantes.Esta pintura é inspirada no
croquis feito por Mike Sam nas aulas 
ministradas por Onias Camardelli .
 
Mas, nem tudo foi tranquilo porque quando ele pintou uns objetos e incluiu as cenas eróticas de estudantes e foi expor no Centro Cultural ,em Feira de Santana-Banhia, um pastor de uma igreja local denunciou à polícia e a exposição foi fechada dois dias antes do prazo previsto. O pastor chegou a ameaçar que “ia jogar umas coisas para espantar os diabos que estavam na exposição”. Diz Mike Sam que isto aconteceu porque coincidiu que na época estava muito na mídia a questão de uma exposição em Porto Alegre. Isto aconteceu em agosto de 2017 com a exposição patrocinada pelo Santander onde tinham  obras de sexo explícito envolvendo questões de gênero. Eram 270 obras de 85 artistas e foram consideradas inadequadas e gerou muitas polêmicas na época. Este fato influenciou e terminou com o fechamento da exposição do Mike Sam.

 EXPOSIÇÕES E PRÊMIOS

Em 2016 -  Galera, Projeto Arte-SESC, Galeria do Centro de Atividades SESC/ Rua Chile, Salvador/BA; 2015, -  Matinê, exposição individual itinerante, Circuito Saladearte Galerias Cine Pasco e Cine UFBA, Salvador/ BA ; Arcaldas, uma Coreografia dos Fliperamas em Poços de Caldas,MG ;  Galeria Cañizares, Salvador/BA ; Eu Vim da Bahia: Desenhos, Shopping Barra, Salvador/BA ; 2014-  Coleção Matilde Matos, Palacete das Artes/ Museu Rodin-Bahia, Salvador/BA ; Arte de Passagem, Casa de Castro Alves, Salvador/BA ;
Esta pintura retrata um hipotético final 
nos jogos de fliperamas .
2013 -  Poéticas do Reencontro, Galeria Parede, Salvador/BA ; 50 Anos de Arte na Bahia, Caixa Cultural de Salvador/BA ; Esquizópolis, Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM), Salvador/BA ; Circuito das Artes, Galeria Aliança Francesa, Salvador/BA ; 2012 - Salões de Artes Visuais da Bahia, Menção Honrosa, Centro de Cultura ACM, Jequi-Ba ; 2011, Crônicas de Fliperama, , Caixa Cultural de Salvador/BA ; Circuito das Artes, Galeria Aliança Francesa, Salvador/BA ; Pintura Nova, Galeria ACBEU, Salvador/BA ; 2010 - Circuito das Artes, Galeria ACBEU, Salvador/BA ; 2009 - Grandes Artistas em Pequenos Formatos, Museu Regional de Arte de F de Santana – BA ; 2008- Doce Arcade, Prêmio Cultura e Arte Banco Capital, Galeria Prova do Artista, Salvador/BA ; VII Bienal do Recôncavo, Prêmio de Aquisição, C. Cultural Dannemann, São Felix- Ba ; 2007 -  Coleção Taito, Prêmio Portas Abertas para Artes Visuais ,  Galeria do Conselho, Salvador/BA; 2006 -  V Bienal do Recôncavo, C. Cultural Dannemann, São Felix- Ba ; 2005- Megafônicas, Centro de Convivência da UFBA, Salvador/BA 2004-           Artografias, exposição individual, Biblioteca Central da UFBA, Salvador/BA ; 2003
Pintura mostra estudantes e máquinas 
de fliperamas.
- Semana Cultural das Residências Universitárias da UFBA , Salvador/BA ; 02 de Fevereiro, Espaço Cultural Malabares, Salvador/BA ;
2002 - Perfis, Galeria Moacir Moreno / Teatro XVI, Salvador/BA ; 2001 -  Oficinas do MAM, Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador/BA ; 2000  -  Manhãs de Outono,  Foyer Câmara Municipal de Poços de Caldas/MG ; 1999 - IV Panorama de Artes Plásticas de Poços de Caldas, Instituto Moreira Salles, Poços de Caldas/MG; 1995 -  Oficinas do Conservatório, Foyer Caixa Econômica Federal, Poços de Caldas/MG.





 

sábado, 15 de fevereiro de 2025

MILI E TINNA UMA IMERSÃO PELO TEMPO E A ANCESTRALIDADE

Foto 1 - Tinna Pimentel e  Mili Genestreti.
Foto 2- Mili com um díptico de sua autoria.
Foto 3- Tinna na exposição de 2016.
Ao entrar no escritório onde as artistas Mili Genestreti e Tinna Pimentel estão trabalhando vejo o famoso livro vermelho do psiquiatra suíço Carl Jung que foi um dos mais respeitados pensadores do seu tempo. Fundador da psicologia analítica ele acreditava que o tempo fixo e o espaço não existem em si, mas são produzidos pela consciência de cada indivíduo. Elas procuram trabalhar com memórias, imagens e intervenções em locais onde estão gravadas em suas pedras, paredes e vivências o tempo passado, os ensinamentos e observações de Jung servem como uma luz no horizonte que indicam um caminho embora elas não saibam onde começa ou termina. É uma viagem pelo inconsciente da criatividade que se manifesta inesperadamente indicando alguma solução ou mesmo apresentando perguntas que nem sempre são respondidas a contento.  

Foto 1- O Homem Choca o Próprio
Ovo.Foto 2 - Anlage. Foto 3- Siderado
e Aterrado.Foto 4- Entre o Exílio
e o Reino.  
Na exposição da Mili Genestreti em 2007, no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, intitulada Memorabilia, ela apresentou uma série de objetos que recolheu e trabalhou na fazenda de seus ancestrais mostrando uma força criativa que ultrapassa os limites do feminino. Num poema inserido no catálogo diz “Me inquieta o tempo / Que me espera / Os dias que não conheço / E que me interpelam. /Onde se deu a morada,/ Ninho de uma linhagem,/ Encontrei a convicção instintiva /Da finitude e da impermanência da vida.?Vasculhei memórias,/ Recolhi lembranças,/ Envoltas em tempo e poeira? Para criar objetos depurados,/ Quase biográficos,/E refaço o caminho/ No tempo que se pospõe ao tempo."  Ela  recolheu lembranças envoltas no tempo e na poeira para criar esses objetos com ferro, vidro, algodão, veludo e outros materiais de que lançou mão para se expressar. Acima vemos quatro objetos de Mili feitos em aço inoxidável, madeira, vidro, veludo e ovo de avestruz, integrantes exposição Outopos que realizou em 2022, em Igatu , na Galeria Arte Memória de Marcos Zacarias.

Quatro  fotos feitas em Angola com 
mulheres em seus afazeres.

J
á Tinna Pimentel em sua exposição Eikon, na Galeria do ICBA, em 2008, também em Salvador, expôs uma série de fotografias de qualidade e deu este título a uma cidade imaginária.  Ela faz uma relação entre as cidades de Luanda, em Angola, e Salvador, na Bahia. Os fazeres e a presença maciça das mulheres nos mercados populares e na vendagem de mercadorias em barracas improvisadas, as marisqueiras do nosso Recôncavo e as de lá mostram esta ligação umbilical da nossa gente com os africanos que hoje compõem o povo baiano e brasileiro graças a miscigenação que ocorre espontaneamente e cada vez mais presente. Dizem que Salvador é a cidade mais negra do país e nós baianos nos orgulhamos disto. Tinna escreveu “Era outono quando “vi” essa cidade pela primeira vez, estava envolta em uma cor acinzentada. Não vi pôr do sol mais belo, o seu reflexo fazia com que a luz surgida no céu, parecesse mais dourada”. E continua a sua visão poética dizendo: “Ao caminhar pelas ruas não se sabe, ao certo, onde está. Há a cidade-matéria, feita de edifícios, avenidas, pessoas, carros, engarrafamentos, antenas, palácios, igrejas e lixo. A outra é a cidade-imagem, feita de símbolos e signos, risos, cheiros, também feita de medo e fome”.

Antes elas participaram durante uns seis anos de um grupo que se reunia no atelier da artista Viga Gordilho, no Corredor da Vitória. Os participantes deste grupo eram: Viga Gordilho, Luiz Mário, Terezinha Dumet, Tinna Pimentel, Mili Genestreti, Nanci Novais e Walter Ornellas. O grupo não tinha um nome específico e eles se tratavam chamando dona do Tempo era a Mili; Dona da Luz era a Tinna Pimentel; já Luiz Mário era Dono do Traço, tinha a Dona da Terra, etc. Ficaram próximos  até 2009/2010 porque uns foram fazer Doutorado, outros e trabalhar em ocupações diversas  e ficaram sem tempo, e assim o grupo se desfez.

                                                         TINNA PIMENTEL

Quatro belas pinturas abstratas de Tinna
Pimentel feitas com  técnica apurada de
transparências e combinações de cores.
A artista Tinna Pimentel é arquiteta de formada pela Faculdade de Arquitetura, da Universidade Federal da Bahia, em 1976, e depois foi  trabalhar na profissão em escritórios especializados. Em seguida montou seu próprio escritório com sua irmã e cunhado, que também são arquitetos. Decidiu entrar para a Escola de Belas Artes, da UFBA, em 1981. Artista estudiosa, multimídia e pesquisadora em Poéticas Visuais com experimentações práticas/conceituais em linguagens diversas, pintura, fotografia, vídeo, instalação e objeto, tendo o ser humano e o tecido urbano como referência.

Seu nome de batismo é Ernestina Maria Filgueiras Pimentel, nasceu em seis de outubro de 1954, em Salvador, filha de Luciano Sena, de quem ela disse ter herdado o dom artístico porque seu pai gostava de cantar na noite e em programas de televisão . Disse que tanto o primário como também o ginásio e o colegial estudou em escolas públicas de boa qualidade. Fez o primário na Escola Castro Alves, localizada na Cidade Baixa, onde moravam, e depois seu pai que era funcionário federal do Ministério do Trabalho foi transferido para o Rio de Janeiro e depois para São Paulo.  Ao retornarem para Salvador estudou o colegial no Colégio da Bahia, o conhecido Central. Em 2002 começou a estudar pintura com a Disciplina Pintando Com a Luz, ministrada pela professora e artista Graça Ramos. É casada com o engenheiro Otávio de C. A. Pimentel, tem quatro filhas e netos e após fazer  o mestrado seu esposo foi transferido para Luanda, em Angola. Disse que  “a arquitetura ainda permanece em mim, vi as fotos do fotógrafo Sérgio Guerra . Decidi  continuar  com fotografias e vídeos que fiz lá e relacionando com as que fiz aqui. Deixei a pintura um pouco de lado, mas para mim é terapêutica, é cura.”

Foto 1- Intervenção na Chiesa San Salvatore,
Firense, Itália.Foto 2- Hospital Psiquiátrico
San Girolano, Volterra ,Toscana, Itália.
 Foto 3 -Serrat International Residence, El
Bruc, Catalunha, Espanha.Foto 4- Biblioteca
Medicea Laurenziana, Firenze,Toscana,Itália.
“Coincidentemente eu e a Mili fomos fazer em 2015 uma Residência Artística do Art Studio Ginestrelli que é uma instituição cujos objetivos visam promover a arte contemporânea em todas as suas diversas formas num contexto internacional, estimular a criatividade através do contato direto com a natureza e do respeito ao meio ambiente, estabelecer uma troca de ideias dentro de várias disciplinas da prática artística contemporânea, estabelecer oficinas, exposições e eventos de arte ao ar livre no Parque Regional do Monte Subasio, Assis. “Nossos trabalhos individuais são muito diferentes.” Mas, elas tem em comum uma boa amizade e entendimento para realizar trabalhos artísticos de qualidade a quatro mãos e duas cabeças pensantes.

                                                            EXPOSIÇÕES E SALÕES

Mercado Livre em Luanda . As mulheres
têm presença dominante nas feiras.
Participou de diversos Salões de Arte e Bienais, recebendo da Fundação Cultural do Estado da Bahia (FUNCEB) o Prêmio Matilde Matos pela obra Eikon (2008). Fez residências artísticas na Espanha (2016) e na Itália (2015). Realizou mostras individuais e coletivas em diversas cidades no Brasil, Itália, Angola, Espanha, México, Bolívia, Uruguai e Argentina. Em suas pesquisas atuais, busca um olhar reflexivo sobre aspectos sutis da existência humana na sua necessidade de individuação, de autoconhecimento e de transver o mundo. A individuação  que falou a Tinna Pimentel, refere-se ao processo psicológico defendido por Carl Jung que permite que uma pessoa se torne um indivíduo completo e único. Em outras palavras é a autorrealização ou o renascimento psicológico. Já o transver é uma palavra inventada que significa  “ver o mundo com os olhos, a memória e a imaginação. É uma expressão que convida à renovação.” 

Exposições IndividuaisEm 2009 - Eikon (fotografias e vídeo instalações, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Centro de Cultura Camillo de Jesus Lima. Vitoria da Conquista- BA; Mulheres (fotografias), no Goethe- Instituição Cultural Brasil Alemanha, Salvador-BA; 2008 - Eikon , (fotografias e videoinstalações),  Goethe-Instituto Cultural Brasil-Alemanha. Salvador-BA; 2007 - Espelhos (fotografias e videoinstalação), na Galeria Celamar, Luanda, Angola; 2006 - Marisqueiras (fotografias), Galeria Celamar, Luanda, Angola; 1991 - A Reinvenção dos Búzios, Galeria ACBEU, Salvador-BA.

Exposições ColetivasEm 2023 - À Si Mesmo (fotografias),  Cinco,  Galeria Arte Memória, Igatu,-BA; 2022 - A Caverna (fotografia),  Saramago 100 Anos, no  ME Ateliê de fotografia, Salvador- BA; 2018 - Redenzione (fotografias e instalação, na Chiesa San Nicola , Trentinara, Provincia de Salerno, Itália; Doppio Senso (livro de artista),. Associazione Culturale Vittorio Rossi, Libri, Liberi, Firenze, Itália; 2015 - Redenzione (fotografia), Arte Studio Ginestrelle, International Contemporary Art Exhibition , Galleria Le Logge, Assis, Perugia, Itália; 2011 - Tempus, tempuranu (videoinstalação). Mostra: Tramas, Tramas e 

Uma pintura de Tinna que mostra sua
habilidde em lidar com as formas.
Tramas, Instituto Feminino da Bahia-BA;  Espelhos (vídeo), Mostra Miradas de Mujer- Muestra de videoartistas Iberoamericanas. Centro Cultural España, México; Tempus, tempuranu (vídeo). Mostra AGregadoS LaB,   Bolívia ; 2010 - Tempus, tempuranu (vídeo). Congresso Arte y Tecnologia Promovido pela Universidade Politecnica de Valencia, Espanha; 2009 - Eikon (fotografia) - Mostra coletiva: Mulheres em Movimento 2, Galeria Cañizares, Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, Salvador-BA; Só Deus que Sabe (vídeo) – Mostra de videoarte: Cidades do Mar,  Instituto Cervantes - Salvador -BA; 2008 – Espelhos  (vídeo). Festival Tercer Ciclo Video Arte Latino Americano, IVAM Institut Valencia D´Art Modern – Valencia, Espanha; Só Deus que Sabe – Seminário Videoarte, no Centro Cultural de España de Montevideo ,Uruguai; Só Deus que Sabe - Conferencia-Proyección sobre Videoarte, Facultad de Arquitectura y Diseño de la Universidad de Buenos Aires , Argentina; 2006 - Afetos (objeto).  Mostra Itinerante Afetos Roubados no Tempo 2, Universidade Federal da Bahia e GOETHE- Instituto Cultural Brasil Alemanha, Salvador-BA; Fronteiras InVisíveis (instalação). Ruinas Fratelli Vita, PPGAV da Escola de Belas Artes -UFBA, Salvador-BA; Tenra Infância (fotografia), Galeria Celamar ,Luanda, Angola; Mulheres Africanas (fotografias),  Mostra Viva Maria,  Instituição VIVA MARIA - Hotel Pestana Salvador-BA;  Só
Tinna em seu ateliê  pintando , 2006.

Deus que Sabe(vídeoinstalação),  Guardadores  PPGAV da EBA-UFBA, Salvador-BA; 2004 -Entre Imagensvídeoinstalação),  Mostra Assentos: Lugares de Ausência, ACBEU- Associação Cultural Brasil Estados Unidos, Salvador-BA; Oco Caboclo (fotografia),  Mostra Art & amp; Sale , ACBEU-Associação Cultural Brasil Estados Unidos, Salvador-BA; 2003 - Luzir
(pintura),  Mostra Artes Voisuais na Bahia, Gabinete Português de Leitura - Academia de Letras e Artes do Salvador-BA; De Menino Pra Menino: Uma Instalação Interativa, Catedral Basílica de Salvador-BA ; Cristais (pintura),  Galeria Arte Memória, Igatu-BA; 2002 - Em busca do eu (instalação),  Bienal do Recôncavo, Fundação Danemann - S. Félix -BA ; Cristais (pinturas), FIB –Faculdades Integradas da Bahia, Salvador-BA; Espirais de Luz (objeto), Mostra Internacional Pasagem-Pass(A)gem, GOETHE - ICBA Instituto Cultural Brasil Alemanha, Salvador-BA;  2001 - Santo Antônio é Luz (objeto),  Mostra Santo Antônio,  Atelier Luiz Mário, Salvador-BA; 1995 - Cristais (pinturas),  Espaço Cultural da Câmara dos Deputados de Brasília, Brasília-DF;1993 - Cristais (pinturas), Salão de Artes Litoral Norte, Prefeitura de Lauro de Freitas-BA; 1992 - Urbanos (pinturas), Coletiva de maio. Teatro Atheneu, Aracajú- SE; Urbanos (pinturas), Mostra Janelas, Espaço Cultural do Banco do Brasil, Porto Seguro-BA; 1991 - Urbanos (pinturas), Espaço Cultural da Caixa Econômica Federal, Aracajú- SE;  Búzios (pinturas),  Bienal do Recôncavo, Fundação Danemann , S. Félix-BA; 1990 - Búzios (pinturas),  SUAV – Salão Universitário de Artes Visuais ;Universidade Federal da Bahia, Salvador-BA.

                                                     MILI GENESTRETI

Expressiva escultura de Mili que 
mantém em seu acervo pessoal.
A artista Maria Emília Uzeda Genestreti, a Mili Genestreti, como assina suas obras nasceu em Salvador em 4 de março   de 1958. É filha de Waldemar Neves Uzeda e Hilda Maria de Lima Uzeda Uzeda , casada, com o médico geriatra   Décio Mello Genestreti, tem dois filhos adultos, um mora em Dubai e a moça no México.  Estudou o primário na Escola Nossa Senhora da Conceição, no bairro de Brotas, morava com seus pais e o ginásio no Colégio de Aplicação, que funcionava na Avenida Joana Angélica juntamente com a Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas. Neste prédio hoje funciona o Ministério Público Instituto Social Estadual. Em seguida foi fazer o colegial no Instituto Social da Bahia, que funcionava no bairro de Ondina, e que recentemente foi fechado e suas instalações demo- lidas. Em 1979 fez o vestibular para Fisioterapia e chegou a trabalhar em alguns hospitais de Salvador. Depois aos 39 anos de idade já casada e com filhos decidiu que não era aquilo que lhe faria feliz e foi fazer o vestibular em 1997 para graduação na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Não fez o vestibular antes para a EBA por imposição de seus pais que não viam futuro naquela carreira. Ao terminar a graduação continuou estudando e em 2006  fez o Mestrado em Artes Visuais. Brincando lembrou que seus colegas tinham as idades de seus filhos.

Foto 1- "De Alma Lavada", instalação.
Foto 2-"América ", cimento e ferro.
 Foto 3-"Dis Alter Visum", madeira de
 demolição. Foto 4 - sem titulo,técnica
mista s/ tela.Foto 5- "Tudo Misturado",
objeto, ferro, resina, fios de cobre.

Falando de seu processo criativo disse que começou com o Tempo e a Memória e tratava do tempo que passa na superfície das coisas deixando impressas suas marcas em manchas, limo, ferrugem e rachaduras. Tempo da memória dos meus avós. Depois Os Desatinos de Margie, que era uma boneca que tinha quando estava com uns nove anos de idade. Nesta exposição trabalhei as angústias, os medos e desejos desta menina e da sua relação com a Margie. Trabalhei muito com os casulos. Em seguida veio a exposição o Tempo dos Sonhos. Este tempo é um tempo extra e tratei da impermanência da vida. Agora é o Tempo da Consciência que juntamente minha colega e amiga Tinna Pimentel estamos desenvolvendo conjuntamente. Este tempo por ser circular não tem fim. É um trabalho baseado nos estudos do Carl Jung. Elas estão colocando suas ideias num livro que está em elaboração sobre as residências que fizeram na Itália, em 2016 em El Bruc, na Espanha; em Trentinara, na Itália onde fizeram uma exposição sob a curadoria de Antonello L’abatte, também estiveram fazendo uma intervenção num manicômio em Volterra, na Itália e lá colocaram umas imensas camisas se referindo as camisas de força que os doentes eram vestidos para conter suas crises. Em Igatu, na Chapada Diamantina fizeram vários casulos pequenos e um grande. Nessas residências artísticas elas fizeram intervenções e outras ações utilizando duzentos metros de gaze, portanto um tecido transparente feito de algodão.

Exposições Individuais - E2022-Outropos -Galeria Arte & Memória, lgatu-BA; 2010-Os Desatinos de Margie - Galeria Arte & Memória, lgatu-BA; 2008- Os Desatinos de Margie – Galeria ACBEU - Salvador –BA; Memorabília - Galeria Arte & Memória lgatu- BA ; 2007- Memorabília - Caixa Cultural, São Paulo –SP; Memorabília - Caixa Cultural, Salvador-BA;  Memorabília A - Caixa Cultural, Brasília – DF;  2006 -Sulle Rive di Coqueiros - Sala del Cirgolo Signa –Itália; Sulle Rive di Coqueiros - Palazzo Dei Priori Voltera – Itália; Sulle Rive di Coqueiros Libarlboerd Libreria- Firenze – Itália; 2004- Revelare - Galeria Arte e Memória –BA; Baiano-BA ; 2003 -O Tempo e o Silêncio - Galeria Arte & Memória Įgatu, Chapada Diamantina-BA

Obra "Consciência Encarnada ".
Desenho sobre Papel Fine Art.

Exposições Coletivas - E2006 - Salão Regional de Alagoinhas – BA; Quatro por Quarenta - Arte Concreta Galeria de Arte; Projeto Paisajes,- Buenos Aires, Argentina; Por que Sonia? - Galeria Cañizares-BA; 2005 - Corpus Solus - EBEC Galeria de ArteCasa 401 - Aliança Francesa da Bahia, Salvador- BA; Afetos Roubados no Tempo, Instalação Processual ltinerante - ICBA-BA; Visualidades – Galpão; Tecido do Corpo Social – Instituto Feminino da Bahia - Museu do Traje e do Têxtil, Salvador-BA ; 2004 - De Menino pra Menino – Catedral Basílica de Salvador-BA ; Assentos Lugares de Ausência no Museu Carlos Costa Pinto, Salvador – BA; Assentos: Lugares de Ausência na Galeria ACBEU. Salvador – BA; 2003 - O Banquete - Museu Henriqueta Catarino. Salvador – BA; 2002 -- A Filosofia na Construção - Studium, Art; 2001- Princípios Vitais - Caixa Cultural; 2000 a 2004 - Antônio, Tempo, Amor e Tradição-BA; 2000 - Certo olhar, Museu de Arte Sacra-Ba.

 

 

 

 

 

 

sábado, 8 de fevereiro de 2025

DAVI CARAMELO QUESTIONA COM SUA ARTE AS RELAÇÕES INTERPESSOAIS

Davi Caramelo trabalhando na sua
prancheta num novo desenho
.
O artista Davi Caramelo integra uma nova geração que vem trilhando pelo caminho da arte contemporânea se expressando com o uso de ferramentas múltiplas que hoje estão ao alcance de muitos profissionais das artes plásticas e visuais. É um artista multimídia e sua obra sempre busca questionar as relações humanas e suas contradições através de pinturas, desenhos, colagens , intervenções  e esculturas. Davi além do talento tem a característica de sempre estar buscando se expressar com essas ferramentas refletindo sob a condição humana diante de suas observações pessoais e vivências cotidianas. Algumas de suas obras têm contornos definindo as figuras e espaços noutras  apenas os volumes chapados com o fundo branco e preto. Ele usa o nanquim e por ter habilidade com o desenho brinca com os espaços e situações levando as pessoas a refletir com a vulnerabilidade das coisas. Algumas dessas figuras do Davi Caramelo lembram os recortes de Matisse que estão reproduzidos no livro de Gilles Néret chamado Matisse Recortes e na página dez disse o artista: “O papel recortado permite-me desenhar diretamente na cor.  Trata-se para mim de uma simplificação. Em vez de desenhar o contorno e de colocar aí a cor, desenho diretamente na cor, que tem já medidas tão precisas que não necessitam de ser transpostas. Esta simplificação assegura uma exatidão na junção de dois meios que produzem efeito em um... Não é um ponto de partida, mas sim um resultado”. O grande pintor francês fazia seus recortes em cores variadas e usava muito   a cor  preta para suas imagens e o branco do papel como fundo.

Os humanoides que remetem à nossa
condição humana.
Talvez por ter   formação em arquitetura o Davi Caramelo tem comportamento meio cartesiano, tudo é organizado, tudo está no seu devido lugar. O talento é que o diferencia  e também a sua dedicação.  Não adianta ter talento e não trabalhar com assiduidade e persistência buscando se expressar cada vez mais deixando registradas pelos caminhos e trilhas percorridos as pegadas de sua trajetória criativa. Quando ele chegou para nosso encontro trazia algumas sacolas e dentro delas obras e documentos tudo devidamente protegido por plástico bolha para que nada fosse danificado. Foi retirando um a um das sacolas, e eu de longe a observar, estranhando, porque na maioria das vezes os artistas não são tão organizados. Tem artistas de muitos anos de carreira, que nem possui sequer um currículo atualizado.

Ele divide em três partes o seu tempo trabalhando na criação de peças publicitárias para uma agência de publicidade a qual presta seus serviços, produzindo suas obras artísticas e ajudando sua esposa a padaria artesanal Ahorita que eles mantem no bairro do Rio Vermelho. Na nossa conversa contou que desde criança  gosta de desenhar e pintar. O seu pai o conhecido arquiteto Antônio Caramelo sempre o incentivou a prosseguir presenteando com cadernos de desenhos, lápis de cor e outros objetos ligados a arte. Disse que quando criança sua mãe chegou a deixar um dos quartos do apartamento onde moravam para ele riscar e pintar as paredes com seus desenhos e garatujas. Esta liberdade e compreensão dos pais com certeza foram importantes para que Davi Caramelo prosseguisse o seu caminho até sua escolha pessoal do que queria fazer em sua vida profissional.

                                                                 QUEM É

Essas são pinturas mais recentes.
O artista Davi Caramelo Magalhães Vasquez nasceu no dia seis de março de 1987 em Salvador. É filho de Antônio Caramelo Vasquez e Iara Maria Magalhães Vasquez, e tem mais uma irmã e um irmão todos formados em arquitetura. Fez o curso primário na Escola Mater Dei, no bairro de Ondina, o ginásio no Colégio PHD, que funcionava na Praça Marconi, na Pituba e o colegial no Colégio Nobel, no bairro do Itaigara, todos em Salvador. Ao terminar o colegial se submeteu aos vestibulares da Escola de Belas Artes da UFBA e da ESAMC, para o curso de Publicidade. Após a conclusão desses cursos de graduação em 2017 entrou como portador de diploma para a Faculdade de Arquitetura, da UFBA, graças a insistência de um amigo chamado Hiram Gama que estudava lá. Davi concluiu o curso de arquitetura e seu amigo incentivador e que também é artista desistiu de cursar no meio do caminho. Quando se encontram o Hiram sempre diz que vai retornar, mas até agora nada. Hoje o Davi Caramelo trabalha no turno da manhã em home office como Diretor de Arte da Morya Comunicação que é uma empresa de publicidade do publicitário Cláudio Carvalho. Durante os turnos vespertinos vai tocando as outras atividades.

Uma das  pinturas feitas 
 pelo artista em 2010.
Lembrou que um dos primeiros desenhos que fez foi de uma mulher em Paris, que ele disse ser representação de sua mãe na Cidade das Luzes. Também fez questão de lembrar o apoio que teve no início de sua carreira do artista Leonel Mattos que o convidou para participar de suas primeiras exposições. Em 2011 fez sua primeira individual chamada de Casulos, Castelos e Outras Ilusões, na Galeria RV Cultura e Arte, localizada no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Nesta mostra seus desenhos e pinturas focavam sentimentos os mais diversos com sua visão particular sobre o que observa nas pessoas e nos espaços por onde anda. Davi tem uma leveza no seu traço e uma facilidade em criar elementos figurativos para ilustrar o seu discurso que  traz algo de inovador e ao mesmo tempo de crítico embutido em cada desenho ou pintura. Revela por fim seu espírito criador de infinitas possibilidades.

Em setembro de 2013 volta a expor na RV Cultura e Arte algumas obras inspiradas no livro  da jovem escritora Ludmila Rodrigues fazendo um breve relato com desenhos, pinturas e colagens construindo uns imagináveis encontros que intitulou A Mão Invisível do Destino. Numa das pinturas sem título ele reproduziu um trecho da escritora que diz: “O remédio para lembrar que ainda estilhaçam o peito doídas, de tão lembranças para pessoas que, uma vez estiveram e lugares e tempos que não mais existem há de estar em tão somente fechar com força a caixa funda e obscura do pensamento”. É sabido que nunca devemos voltar aos locais onde fomos felizes um dia para não nos frustarmos . A gente não mais se reconhece naqueles lugares.

Painel de Iemanjá  no porto de Salvador.

Em 2023 voltou a expor desta vez na Galeria Ativa Atelier, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, e num texto crítico a Priscila Miraz denominou de "Nossos Olhos São Anfíbios com o subtítulo “A Beleza Que Lhe Segue Brilha Nas Sombras." Expôs quarenta e dois desenhos e onze pinturas todos criados no ano de 2023, onde o Davi Caramelo brinca com a luz, sombra e a espacialidade. Como podemos ver a sua produção artística além do aspecto visual nos transporta a pensar sobre a vida em seus vários momentos. Suas obras tanto os desenhos , pinturas, e colagens precisam ser observadas com certa parcimônia para fazermos nossas próprias leituras tentando decifrá-las e chegar mais próximo possível do que o artista deseja expressar. Evidente que a obra de arte permite infinitas interpretações, algumas mais cheias de sofisticações e outras mais simples e objetivas. Tudo vai depender da intensidade que aquela obra de arte impactou em cada um de nós e das informações que dispomos.

Tecido com estamparia dos
desenhos de Davi Caramelo.
Em 2015 ainda fez uma exposição em Buenos Aires, na Argentina, que durou apenas um final de semana chamada de Gente Estranha. Foi seu retorno aos recortes e colagens que também gosta de fazer. Em 2017 expôs na RV Galeria de Arte com um conjunto de obras que denominou de Psicoativas propondo “um mergulho na dicotomia das relações interpessoais, agravadas agora pela dualidade e a polarização presentes cada vez mais no nosso cotidiano”. Ele trabalhou apenas com duas cores o branco e o preto para construir suas formas . Como diz um texto que acompanha a mostra o que o Davi nos apresenta são “construções tomadas pela natureza selvagem, figuras humanoides que se mesclam com a vegetação abundante fluindo e transpassando os planos, rompendo superfícies. Edificações frias e fora de escala subvertem a noção de proporcionalidade, adequação e conforto, rompendo com o papel de abrigo pressuposto da arquitetura.” Ele cria uma tensão, e tudo parece não combinar, não dialogar ou mesmo não ter alguma função ou significado. Cria edificações frias fora dos padrões normais e desconstrói a ideia de abrigo que uma edificação possa ter, que normalmente é sua principal função.

                                       APRENDIZADO

Davi brinca com as formas
e as cores nos seus desenhos,
pinturas e colagens.
Em 2023 participou do Grupo de Orientação em Processos Criativos, ministrada por Lanussi Pasquali, na Ativa Atelier, Salvador, Bahia, Brasil ; 2018 a 2022 - Arquitetura e Urbanismo, Faculdade de Arquitetura, Universidade Federal da Bahia, UFBA, Salvador, Bahia, Brasil ; 2019 - Oficina de Estamparia ministrada por João Oliveira, Ativa Atelier Livre, Salvador, Bahia, Brasil;  2012 - Oficina Novos Recursos da Pintura ministrada por Leda Catunda, Paço das Artes, São Paulo, Brasil ; 2010 - Curso Livre de Escultura ministrado por Celso Cunha Neto, Escola de Belas Artes, UFBA, Salvador, Bahia, Brasil; 2006 a 2009 - Comunicação Social e Publicidade e Propaganda, Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação, ESAMC, Salvador, Bahia, Brasil.

EXPOSIÇÕES

INDIVIDUAIS - Em 2023 - “A Beleza que te Segue Brilha nas Sombras”,  Galeria Ativa Atelier, Salvador, Bahia, Brasil; 2018 - “Psicoativas”, Galeria SDB, Shopping da Bahia, Salvador, Bahia, Brasil ; 2017 - “Psicoativas”, Galeria RV, Salvador, Bahia, Brasil; 2015 - “Gente Estranha”, Galeria A, Buenos Aires, Argentina; 2013 – “A mão invisível do destino”, RV Cultura e Arte, Salvador, Bahia, Brasil; 2011 - “Casulos, Castelos e Outras Ilusões”, RV Cultura e Arte, Salvador, Bahia, Brasil.

Há de Viver,e por isso caber
por Inteiro",  da
mostra A Beleza que Te
Segue Brilha nas Sombras.
COLETIVAS Em 2023 - “Expo 10 Anos  USK Salvador” Galeria Cañizares, Escola de Belas Artes-UFBA, Salvador, Bahia, Brasil; 2021 - “2 de Julho” Bohemia Puro Malte, Estação de Metrô Pirajá, Salvador, Bahia, Brasil ; 2020 - “Benção”, Casa Rosa, Salvador, Bahia, Brasil ; 2019 - “Circuito de Arte e Moda”, Salvador Shopping, Salvador, Bahia, Brasil;  2017 - “Pertencentes”, Museu de Arte Moderna da Bahia, MAM Bahia, Salvador, Bahia, Brasil; - “Arte Brasil CCBM 2017”, CCBM, Embaixada do Brasil, Cidade do México, México ; 2016 - “Só Cabeças”, Museu de Arte Moderna da Bahia, MAM Bahia, Salvador, Bahia, Brasil ; - ”M.U.R.A.L. - Movimento Urbano de Arte Livre”, Trevo Produções, Painel Yemanjá - 6 x 12 metros - Porto de Salvador - Bahia – Brasil; 2013 – “Salvador - Paris”, Aliança Francesa, Salvador, Bahia, Brasil; “S/Título”, Galeria Senac Pelourinho, Salvador, Bahia, Brasil; Artes Festival Mundo, Usina Cultural Energisa, João Pessoa, Paraíba, Brasil; 2012 – “6764, 257km”, Ó! Galeria, Porto, Portugal; 2011 - Acción Arte Itinerante, No Lugar, Quito, Ecuador; Acción Arte Itinerante, Centro Cultura y Artes Bolivianas, La Paz, Bolívia ; 2010 - ERROTICA, Exposição Virtual, Galeria Virtual Fora do Tempo, Brasil; Bem-te-vi Recife, Espaço MUDA Santo Amaro, Recife, Brasil; Acción Arte Itinerante, Casita Colectiva Araña Galponera, Mendoza, Argentina; 2009 - Arte Comestível, Centro de Cultura Amélio Amorim, Feira de Santana, Bahia, Brasil; 2008 - Sala Aberta, G. Buffone Arte Contemporânea, Salvador, Bahia, Brasil.

Outra  obra com   humanoide.
CIRCUITOS E SALÕES - Em 2015 - Circuito das Artes, Instituto Cervantes, Salvador, Bahia, Brasil; 2013 – Circuito das Artes, Instituto Cervantes, Salvador, Bahia, Brasil; 2012 – Salão de Artes Visuais da Bahia, Irecê, Bahia, Brasil; Circuito das Artes, Galeria ICBA, Salvador, Bahia, Brasil; 2010 - Circuito das Artes, Galeria ACBEU, Salvador, Bahia, Brasil. FEIRAS - 2018, 2017 e 2016 - Feira PARTE, Clube A Hebraica, São Paulo, Brasil;  2014 - Feira PARTE, Paço das Artes, São Paulo, Brasil ;2013 - Affordable Art Fair, New York, EUA; Feira PARTE, Paço das Artes, São Paulo, Brasil ; 2012 - Salão de Arte, Clube A Hebraica, São Paulo, Brasil.

 Criou capas para os livros em 2023 para   Mateus Torres, “Não Podemos Ver a Carga que Carregamos nas Costas”,  Salvador, Bahia: Editora 7 Letras; 2022 - Anne Stern, Drei Tage em August,  Berlin, Alemanha: Auflage Aufbau TB; 2018 - Maria Luiza Maia, Algumas Histórias Sobre a Falta, Salvador, Bahia: Mondrogo; 2017 - Insônia - Livro de Artista, Salvador, Bahia: Publicação do autor; 2016 - Zéu Britto, Amor de Montar, Ilustrações, São Paulo, São Paulo: Panacum Artes e 2013 - Antologia Rabisco #1, Publicação de Arte e Artistas, Salvador, Bahia: Edição Independente.