Translate

sábado, 29 de junho de 2024

JOSE IGNACIO REVERENCIA A NATUREZA E AS DIVINDADES AFRICANAS

O escultor Jose Ignacio armando 
Iemanjá com seus assistentes.
As obras do artista chile-baiano Jose Ignacio Suarez Solis ou simplesmente Jose Ignacio têm uma pulsação que nos impulsiona ao campo da contemplação e do espanto. Suas pinturas nos encantam pela harmonia das cores e as esculturas algumas pela sensualidade e as mais recentes pelo impacto que causam nas pessoas.Conversarmos sobre sua trajetória artística  e de imediato senti através da sua voz que era uma dessas pessoas que está transbordando energia para criar e gosta de dialogar sobre sua arte. Pode servir de exemplo para alguns artistas não tão talentosos quanto ele e que ficam se esquivando por razões que prefiro não abordar. Quando terminamos a nossa conversa me escreveu uma mensagem que ouso publicar: “Muito obrigado pela visita de hoje. Me senti diante de alguém que queria realmente entender algo a respeito da complexidade que forma parte de um indivíduo que decide contra toda prova em contrário, acreditar na arte como o caminho da redenção do espírito humano! Foi uma Educação. Arq. Ignacio Solis”.

Pinturas em acrilica sobre tela onde o
artista mostra habilidade e criatividade
ao se inspirar  nos bambus que povoam
 o entorno do seu ateliê.

 Não estou diante de um criador aleatório, mas consciente com base no arcabouço intelectual que acumulou através dos anos em suas andanças pelo exterior e sua formação de arquiteto. Seus pais deixaram Cuba na década de 1960 e foram para a cidade de Valparaíso, no Chile, porque seu pai Daniel Solis era engenheiro mecânico e administrador e ficou encarregado de acompanhar a construção de vários hotéis da cadeia Sheraton na América Latina. E foi exatamente no Chile que nasceu em vinte e quatro de novembro de 1967 o Jose Ignacio. Aconteceu que seu pai saiu da empresa do grupo Sheraton e foi trabalhar na Fundação Ford como professor de Economia. Em 1970 a família desembarcou no Brasil passando pelo Rio de Janeiro, São José dos Campos, em São Paulo e finalmente a Bahia onde se estabeleceu. Do Rio de Janeiro tem poucas lembranças apenas que ficava da janela do apartamento no bairro do Botafogo admirando a formação do Pão de Açúcar. Vieram morar na Ladeira da Barra, em Salvador-Ba e quando jovem recorda que pescava e nadava com seus amigos que moravam nos bairros da Barra, Graça e no Corredor da Vitória nas águas que contornam a escarpa que limita todo o trajeto do local. Disse Jose Ignacio que naquele tempo encontrava alguns pescadores profissionais e amadores e poucos que se aventuravam. Hoje o local se transformou num parque público com centenas de pessoas frequentando diariamente nadando, pescando, andando de caiaques, barcos a vela e a motor, de pranchas de Surf Soft board e praticando outros esportes náuticos. 


Todo o seu tempo de estudante foi no Colégio Antônio Vieira, que fica no bairro do Garcia, em Salvador-Ba. Porém, em 1986 decidiu juntamente com seu pai que queria viajar e assim foi morar no estado da Virgínia Ocidental ou West Virginia, nos Estados Unidos, que fica na chamada Costa Leste. É um dos cinquenta estados americanos e foi colonizado pelos britânicos e depois por outros povos que vieram da região do Mar Báltico. Diz a Wikipedia que “A Virgínia se estende desde a Baía de Chesapeake até os Apalaches, com um longo litoral no Oceano Atlântico. Ela é uma das 13 colônias originais, com monumentos históricos como Monticello e a famosa plantação de Charlottesville, do pai fundador Thomas Jefferson. O Assentamento de Jamestown e Colonial Williamsburg são museus de história viva que reencenam a vida das eras colonial e revolucionária.” Disse Jose Ignacio que é o estado mais pobre dos Estados Unidos e lá ele ficou na casa de seu padrinho Miguel Rourra, que era porto-riquenho e trabalhava numa das minas de carvão. Lembra que as pessoas

Ori Guerreira Tamoya, acrílica
sobre tela, de 2022.
andavam ostensivamente armadas e que seus padrinhos eram pobres. Também seu padrinho era de poucas palavras e que esta sua permanência na Virginia lhe serviu muito como aprendizado de vida. Passou por Nova Iorque e Syracuse em 1987. Morou em 1990 em Copenhague e estudou na University of Copenhagen, teve contato com o desenho e a aquarela, começando a produzir jornais de croquis, quando conheceu os costumes e a cultura dos escandinavos, e destacou  que eles valorizam muito o fazer com as mãos. “Todas essas informações que vivenciei por onde passei estão dentro de mim e isto me ajuda a criar as minhas obras. Por exemplo o cuidado que tenho quando estou realizando uma pintura ou escultura e este amor em trabalhar com minhas mãos", disse Jose Ignacio. Em seguida escolheu estudar arquitetura nos Estados Unidos exatamente em Oregon, na Universidade do Estado de Oregon que fica na Costa Oeste. Fez sua primeira exposição em Oregan em 1992, e em 1993  se formou em arquitetura.

“O seu primeiro projeto arquitetônico foi a casa de seus pais na encosta da Baía de Todos os Santos, em 1991. Em 1994, o artista instalouse numa fazenda de café na Chapada Diamantina onde desenvolveu a prática do desenho e da pintura com maior regularidade. Frequentador do ateliê de Carybé, foi influenciado pela prática escultórica envolvendo o uso de ferro batido. Como arquiteto, José Ignacio foi gerente de projetos no setor hoteleiro, realizando diversos trabalhos juntamente com seu pai por toda América Latina o que lhe permitiu o aprimoramento de sua pesquisa e uma maior circulação de sua obra, integrando coleções particulares espalhadas pelos lugares em que habitou. Em 2004 fez residência artística em Helsinki, Finlândia, ressignificando o uso de sua paleta.

 

                                          EXPOSIÇÃO DE PINTURAS

 

Voltou para a Bahia trabalhou com arquitetura desenvolvendo alguns projetos e começou a pintar. Em 2019 fez sua primeira exposição de pintura na Bahia e deu um nome sugestivo “Dentro do Mato na Borda do Mar, no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal, em Salvador-Ba com curadoria de Alejandra Muñoz que escreveu "O verde que eu vejo em cores. / Exercício cotidiano da natureza viva dentro de uma Urbis metropolitana brasileira. / Licuris são autóctones. Bambus e coqueiros, não./ Mas minha pele respira essas peles, esses troncos dos quais me aproprio erudita e popularmente./ Mimetismo impresso em grafismos de cores que vibram./ Contemplações de primeira viagem, sempre aspiro o sublime./ De uma touceira de bambus, extraio um espaço eterno./ Extraio esse espaço instantâneo da fugacidade no tempo de nossa existência./ Quero texturas que pulsem e vibrações que desestabilizem./ Busco um ritmo descontrolado de pinceladas, cheio de energia para ir e vir./ O convencional pode ser inquietante e o aleatório, um desafio./ Me permito seduzir por este espaço que quer ser sereno, mas muitas vezes claustrofóbico./ Eu, nômade./ Nessa síntese formal entre planos de luz, troncos e folhagens.”

Falei de nome sugestivo porque o ateliê de Jose Ignacio fica na Vila Brandão

Jose Ignacio com duas esculturas em seu
 ateliê na Vila Brandão, em Salvador-Ba
que é um enclave de moradias localizadas na encosta entre o Largo da Vitória e o Yatch Clube da Bahia. Portanto em plena encosta onde temos uma faixa de densa de vegetação e o mar. Ele me mostrou um jacarandá e um jatobá que plantou e estão vigorosos com mais de três metros de altura e copas frondosas. Quando fui ao seu ateliê o Jose Ignacio me recebeu no Largo da Vitória e seguimos num jipe Suzuki numa verdadeira aventura de poucos minutos. É que para se chegar ao galpão que compõe o seu ateliê temos que percorrer uma pequena estrada com piso de cimento em estrias horizontais para que o carro não patine. É uma ladeira apertada, muito íngreme que lembra àquelas montanhas russas onde as pessoas vão alegres  e no trajeto começam a gritar desesperadas de medo. Confesso que fiquei apreensivo enquanto ele dirigia fazendo curvas fechadas e olhando do meu lado direito a pirambeira que se descortinava a cada curva. Felizmente o trajeto é curto. Só pensava se o carro iria conseguir subir no retorno. Felizmente saímos sãos e salvos. Ufa!

Falando de sua exposição de pinturas Alejandra Muñoz escreveu: “A exposição Dentro do Mato, na Beira do Mar” apresenta uma fartura das telas que contém um processo de desmontagem das formas que conhecemos para instaurar uma dimensão diferente do visível. Fragmentos de coqueiros, licuris e bambus vemos grafismos que podem evocar uma escrita. A sintaxe que resulta do processo da pintura é um texto não verbal. Os ritmos do gesto da pincelada e a composição dos intervalos entre formas podem ser apreendidos como uma partitura de harmonia inaudíveis, uma melodia que apenas o artista em seu fazer escuta, mas que pode nos fazer ouvir nosso interior.”

 

                                        MOSTRANDO SUAS ESCULTURAS

Ori Guerreira na Luz, escultura feita com
 madeira , ferro batido e pedras  do mar .
Na exposição que fez em 2023 também no Centro Cultural da Caixa Econômica Federal em Salvador intitulado Oris Tupinambás além das esculturas também mostrou algumas pinturas da sua produção recente. Mas com certeza o que causou mais impacto foram as esculturas representando as divindades africanas que são os Oris que ele criou com suas cabeças de pedras coletadas na beira mar da praia que contorna a escarpa do Corredor da Vitória onde tem o seu ateliê. Para fazer as cabeças bastaram alguns troncos de madeira , pequenos cortes nas pedras  e noutras apenas posicionar sobre as velhas engrenagens de máquinas industriais ou domésticas e mesmo de veículos que ele utiliza para dar forma às suas esculturas, cortando, soldando e lixando num trabalho além de criativo que exige também muita disposição física. Disse José Ignácio que este panteão de divindidades é uma homenagem à diáspora afroamericana, da ocupação da etnia Tupi que ocupou a faixa da Mata Atlântica do Maranhão ao Espírito Santo há  dez mil anos atrás. Segundo os arqueólogos e etnógrafos que trabalham com este tema eles tinham a Jaci, deusa  das águas já existia há cerca de quatro mil anos atrás. 

Nesta mostra a Ticiana Lamego escreveu: “Sua linguagem inicial é

Ori Guerreira Tupinambá
feita com madeira,bronze 
e ferro batido, 2018-2023.
bidimensional, a pintura acrílica em tela, observando as matas que resistem na Cidade. Troncos de licuris, folhagens, touceiras de bambus. Organicidade e geometria numa paleta vívida que anseia romper barreiras e transitar por esferas de outros ritmos, por um habitar de outros anos. A vegetação é tema constante para o artista e ela surge aqui como elemento de ressignificação. Introduzindo agora a figura humana com marcante protagonismo, suas pinturas anunciam um ato antropofágico em que, por fim, a carne vira mata e a mata vira carne. Homem-e-mata e mata-e-homem se tornam parte de um mesmo corpo. Ainda que a sua relação com a história e a memória se dê de forma rigorosa, Jose Ignacio anseia um diálogo aberto o suficiente no sentido de honrar uma existência e ao mesmo tempo rematerializar outras permanências. Um cacique tupinambá, uma guerreira goitacá, uma chac-mool Maya. Qualquer distância entre eles deixa de fazer sentido. Todos habitam o universo onírico de Jose Ignacio.”

Voltando a trajetória artística de Jose Ignacio depois das pinturas ele desembarcou no mundo da escultura e sua primeira experiência foi criar um panteão com a representação das entidades que ocupou todo o continente sul americano o Ori, que é uma palavra do Yoruba que significa cabeça, o espírito, a sabedoria. Daí ele fez suas esculturas compostas de peças que  consegue nos ferros velhos da Cidade. Disse com orgulho que conhece todos os ferros velhos e vai procurando e separando as coisas que lhes interessam. Enquanto as cabeças foram feitas deste grupo de esculturas com pedras que  recolhe na praia que fica na borda da encosta. São esculturas muito pesadas e quando visitei a sua última exposição no ano passado em companhia do professor da Faculdade de Arquitetura, da Universidade Federal da Bahia, Marcelo Silva, ficamos intrigados como o Jose Ignacio conseguiu colocar nas salas àquelas esculturas que tinham algumas que pesavam mais de uma tonelada. Foi quando a indagar durante a entrevista como ele conseguia transportar suas esculturas pesadas do ateliê para o local da exposição ou mesmo para entregar ao

Pinturas do artista dos Oris africanos. .
colecionador o artista revelou   que as peças são encaixadas de tal forma que podem ser removidas e recolocadas como um jogo de armar. Para evitar que ocorra alguma mudança o Jose Ignacio costuma desenhar suas esculturas e assim vai seguindo um script. Outras vezes ele confia na sua intuição criativa, no seu olhar e vai armando peça por peça de acordo com sua visão estética. Presenciei ele e seus assistentes terminando de armar uma escultura de madeira e ferro que ele denominou de Iemanjá. A obra   tem numa das extremidades um pedaço de tronco de madeira que lembra a cauda da Rainha do Mar e mede mais de dois metros de altura. Para armar é um verdadeiro quebra cabeça porque tudo tem que estar ajustado como imaginou o artista. Ele me disse que está trabalhando com esta escultura há quase um ano até chegar neste ponto que presenciei.

Falando de sua rotina de trabalho artístico disse que  todos os dias levanta cedo e vai para seu ateliê. Cada vez mais está se dedicando às suas esculturas, mas que recebeu recentemente uma proposta para trabalhar no Paraguai gerenciando a obra de um complexo hoteleiro que será construído e ele decidiu  passar uma temporada no país vizinho. De repente volta a falar de como é envolvente o trabalho escultórico e que este envolvimento intelectual também exige muitas vezes esforço físico. É verdade, o Jose Ignacio é um homem alto e forte e vi o esforço que empreendia para manipular e encaixar as pesadas peças de ferro em sua Iemanjá. Assisti até o momento que foi colocada a cabeça, que é uma peça de ferro arredondada. Ficaram faltando alguns ajustes, a limpeza e o lixamento de algumas peças que compõem a escultura.

Ao fundo a obra que fez inspirado na Divina
Comédia, de Dante Alighieri.
Durante nossa conversa ele falou algumas vezes sobre uma pintura que fez e está logo atrás de sua mesa no ateliê que representa os juizes da Cúria Romana que julgaram com severidade o Dante Alighieri  exilando e confiscando os bens do autor da famosa Divina Comédia. O Jose Ignacio disse que foi ler a obra e ficou encantando porque com poucas palavras o autor deu personalidade e vida aos seus algozes. Foi então que pintou o quadro em vermelho lembrando da cor do Inferno que a obra épica trata através de seus versos  rimados. É uma obra famosa da literatura universal de fantasia escrita no início do século XIV que trata das vissistudes do ser humano.

Falando do mercado adiantou que o mercado baiano não o recebeu bem até agora, mas que tem conseguido vender suas obras para o sul do país, principalmente para o mercado paulista graças às postagens que faz nas redes sociais. Mantém contatos com colegas arquitetos que indicam suas obras para seus clientes. Disse que a maioria dos colecionadores é composta

Escultura Almira feita de madeira,
pedra do mar e ferro.2022-2023.
de pessoas jovens que ascenderam intelectualmente e financeiramente e assim entendem e apreciam a sua arte. Geralmente eles têm casas na Bahia, e gostam de manter contato direto com o artista e também conseguem estabelecer  uma empatia e até com isto conseguem comprar por um preço mais acessível, justo.

Quando lhe perguntei como se sente diante da reação das pessoas ao olhar uma de suas esculturas que não têm normalmente uma forma conhecida e não são facilmente palatáveis por leigos. Ele contou que fica feliz quando vê pessoas espantadas diante uma de suas obras. “Eles dizem: Ignacio não estou entendendo nada! O que é isto? E completam geralmente dizendo que estão gostando. Este espanto e essas indagações dos espectadores lhes deixam satisfeito. Explicou  que não se trata de medo, e sim de espanto e que isto é fruto do impacto que as suas esculturas causam nas pessoas. Isto para ele é muito salutar porque mexeu com a sensibilidade das pessoas e assim este questionamento tende a causar interesse pela obra de arte.

 


                             EXPOSIÇÕES


 

INDIVIDUAIS: 2023 – Caixa Cultural Salvador, Bahia; 2019 – Caixa Cultural Salvador, Bahia ; 2006 – Galeria Norton Helsinki, Finlândia ; 2004 – Galeria Art &Design Helsinki, Finlândia; 2003 – Sala de Arte Bahiano, Salvador Bahia e em 1998- Galeria ACBEU, Salvador-Bahia
COLETIVAS - 2023 – Galeria Pivô; 2004 – Galeria Art &Design Helsinki,Finlandia;2002- Bienal do Recôncavo, São Felix, Bahia ;2000- Salão Regional de Artes Plásticas de Porto Seguro; 1999- Associação Latino Americana, Pelourinho, Salvador, BA ; 1997- Bienal do Recôncavo, São Felix, Bahia;1996- Universidade Católica de Santiago, Chile; 1992- Universidade do Oregon, USA. Ao lado Escultura Ori Guerreira Tupinandacaru II,madeira pedra do mar e chapa de zinco. 2019-2023.

 

 

 

sábado, 15 de junho de 2024

ALMIR BINDILATTI FOTOGRAFA FAZENDO POESIAS

Almir Bindilatti fotografado por mim 
durante a entrevista sobre sua
trajetória profissional.
O fotógrafo Almir Bindilatti é natural de Tupã, cidade que dista cerca de quinhentos quilômetros da capital paulista, e conhecida por integrar a Alta Paulista  região agrícola onde nasceu em oito de julho de 1960.Vem de uma família de artesãos. Seu pai Dorival Bendilatti era marceneiro e sua mãe Elvira Vieira Bindilatti costureira. Junto com mais dois irmãos seu pai fundou uma marcenaria que se desenvolveu e se transformou numa próspera indústria de móveis a Fábrica de Móveis Paulista e depois mudou o nome para Fábrica de Móveis Irmãos Bindilatti. Este dom de trabalhar com madeiras foi herdado do seu avô, que transmitiu para seu pai e os três tios. Além de fotografar o Almir Bindilatti gosta de escrever poemas e pequenos textos que publica nas redes sociais acompanhando suas fotos. Todas as fotos que faz e publica têm um título com uma pegada poética.  Portanto, hoje vamos conhecer um pouco deste fotógrafo que vem desenvolvendo uma produção de fotos artísticas e diferenciadas especialmente em preto e branco. Por muitos anos trabalhou em Salvador fotografando para as agências de publicidade e garanto que muitos de vocês já viram alguma foto aérea que ele tirava da Cidade do Salvador e de outros locais o que na época era uma verdadeira epopeia. O fotógrafo pegava um avião monomotor com a porta aberta e se amarrava com cintos de segurança, colocava as pernas para fora e assim o piloto ficava indo e voltando em voos baixos, quase rasantes para ele fotografar. Almir Bindilatti e outros colegas também usavam helicópteros quando o cliente tinha mais condições financeiras e o projeto era de grande porte, porque os voos de helicópteros eram mais caros. Hoje os drones de alta tecnologia fazem este trabalho com menores riscos, menos custos e até mesmo com melhor qualidade, a depender do equipamento, da capacidade e sensibilidade do fotógrafo que o manipula.

Campo de futebol em plena floresta perto
de Recife. Esta foto foi premiada.
O Almir Bindilatti trabalhou muitos anos para a construtora Odebrecht onde fotografava as obras que a empresa fazia aqui, em outros estados e até fora do Brasil. Também para os livros de arte e do patrimônio histórico que a empresa editava e distribuía entre seus clientes, instituições, autoridades e amigos. Os livros editados pela Odebrecht eram verdadeiros documentos, uns “tijolões” como se diz uma conversa mais íntima, basta dizer que o editado sobre o Convento de São Bento de Salvador  pesa cerca de cinco quilos! Recebi alguns deles inclusive uns escritos pelo professor Clarival Prado Valadares, o qual o conheci quando participamos de grupos jurados de alguns salões de arte aqui realizados. Essas publicações portentosas são verdadeiras raridades bibliográficas e documentos que devem ser preservados para servir de consulta a estudiosos e historiadores. Hoje o Bindilatti  tem uma grande produção fotográfica e é considerado um dos mais importantes fotógrafos brasileiros, já tendo produzido durante sua trajetória profissional imagens de alta qualidade para empresas e editoras destacando-se fotos para revistas, relatórios corporativos e livros de arte.

                                                    
                                                    TRAJETÓRIA


Vaqueiros no município de Acari , Rio
Grande do Norte.
OAlmir Bindilatti estudou o primário no Grupo Escolar Bartira e depois foi fazer o segundo grau no Instituto Estadual Índia Vanuire. Em sua cidade natal Tupã quase tudo recebe um nome indígena. Sua família era de origem humilde, mas com a união dos irmãos a simples marcenaria se transformou numa próspera indústria de móveis e passaram a ter uma vida mais confortável. Porém, não durou muito. Anos depois ele e seus irmãos tiveram que trabalhar porque a indústria de seu pai e tios foi à falência. Vocês sabem que o país tem enfrentado anos a fio de altos e baixos na nossa economia, inclusive com a inflação alcançando altos patamares levando a população ao empobrecimento e milhares de empresas à falência, e em consequência deixando milhões de trabalhadores desempregados. Não chegou a concluir o colegial em Tupã. Diante deste quadro de dificuldades ele e seus quatro irmãos tiveram que  procurar ganhar algum dinheiro. Em Tupã tinha uma empresa de fotografia chamada de Hirano de propiedade de  um japonês que  fazia álbuns de bailes de debutantes, casamentos e formaturas em todo o Brasil. O slogan era Tupã – A Capital Nacional da Fotografia. A empresa dava um curso ao fotógrafo que pretendia ingressar e em seguida o contratava. Eram muitos jovens fotógrafos e assim Almir Bindilatti iniciou profissionalmente a sua carreira viajando por este Brasil afora para fotografar debutantes, casamentos e formandos nas universidades. Começou a viajar muito cedo e lembra que a empresa tinha uma grande estrutura avião, ônibus e uma frota de carros. 

Meninos brincando de carrinho.
A primeira vez que ele pisou em Salvador foi numa viagem que fez num monomotor com mais outros colegas para fotografar uns formandos da Universidade Federal da Bahia. Ficou uns oito dias porque além da solenidade eles foram fotografar o tradicional baile de formatura. De posse deste material voltaram para Tupã com os filmes que depois foram revelados e as fotos selecionadas. Aí entraram em campo os vendedores que vieram à Salvador para vender os álbuns aos novos bacharéis. Esta sua permanência na Hirano lhe proporcionou aprender a revelar filmes, copiar e ampliar fotos. Ficou um ano e meio na empresa e conheceu muitas capitais e cidades do interior.  Enquanto isto seu pai tentou abrir uma empresa de despachante de automóveis, mas ele não tinha expertise e não deu certo. Terminou seus pais se mudando para o Mato Grosso do Sul onde um tio tinha uma pequena fábrica de móveis na cidade de Nova Andradina. Finalmente o Almir Bindilatti saiu da Hirano e foi para São Paulo e lá vendeu assinaturas de revistas, aplicou questionários de pesquisas, etc. Foi trabalhar no laboratório da Agência F4 considerada a primeira agência de fotografias jornalísticas do Brasil. Esta agência cobriu no final da década de 70 e nos anos 80 os principais movimentos políticos e sociais. Seus fundadores foram Nair Benedicto, Ricardo Malta, Delfim e seu irmão Juca Martins , que são nomes importantes da fotojornalismo brasileiro. Era uma cooperativa de fotógrafos fundada em 1979 nos moldes da agência francesa Magnum,contou com vários colaboradores e encerrou suas atividades em 1991.

Monges beneditinos orando,
Salvador-Ba.
Quando saiu da Agência F4 estava andando na rua em São Paulo e reencontrou um amigo seu que estava trabalhando num Studio de fotografia publicitária no bairro de Santa Cecília. Conhecedor de sua história na Hirano perguntou se não queria ser seu assistente. Imediatamente aceitou e aí que descobriu que a fotografia seria a base de sua vida profissional. “Na Hirano era apenas um trabalho”, ressalta Almir Bindilatti. O Studio era do fotógrafo Windson Borges, uma pessoa solitária, muito talentoso especializado em fusão cromática, ele fazia isto na época da fotografia analógica. Hoje existe software que faz num piscar de olhos. Na época era trabalhoso e exigia habilidade do profissional da fotografia. Windson trabalhava para grandes empresas, e o Almir Bindilatti lembrou que a Honda era uma de suas clientes. Foi um aprendizado essencial. Trabalhou cerca um ano e meio. Foi quando seu amigo Iroã Simões, conterrâneo de Tupã juntamente com outro fotógrafo abriram um Studio no bairro de Pinheiros, em São Paulo e lhes convidaram a fazer parte da equipe. Aceitou e tempos depois o Studio foi para o bairro de Vila Mariana. Disse que os dois sócios eram talentosos, mas a administração da empresa era fraca. Então o nosso personagem decidiu de 1985 a 1986 ir trabalhar em restaurantes em São Paulo como garçom, barman e num deles chegou a gerenciar que foi o charmoso Sabor da Moda, que pertencia a duas jornalistas que trabalhavam na Revista Vogue. Foi quando recebeu em 1986 um
Foto 1-"O Menino que Escrevia Sonhos",
Equador, 2008. Foto 2 -"Um Pedaço do
Mundo", Paraíba.Foto 3-"Comportamento
Estético", Trancoso-Ba,2008.Foto 4-
"O Infinito Começa Aqui", Itália,2018.
convite para organizar o cardápio do Bar Ad Libitium
, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador, que era um bar e restaurante de propriedade de treze sócios todos músicos de jazz, entre eles Sérgio Benutti,Roni Scott, Mu Brasil, Zeca Freitas e outros.  Lá conheceu muita gente e fez um net work muito bom e conheceu um fotógrafo do Rio de Janeiro chamado Henrique e lhe contratou para ser seu assistente. Depois o Henrique decidiu voltar para o Rio de Janeiro. Mas, o Sérgio Benutti que é músico de jazz e também fotógrafo de agência de publicidade e na época era exclusivo da Agência Propeg o convidou para ficar. Para esta foto ao lado "O Menino que Escrevia Sonhos", que fez em 2008, numa escola em Portoviero, no Equador, o Almir Bindilatti escreveu este poema:"Desenhando as letras/Caligrafando sentidos/Compreensão bordada/A mão, fiel sonhadora. /Ao sabor do/ pensamento/ Sabedoria de Aprendiz/A arte da compreensão/Em alinhavos de ideias./Enquanto o mundo gira /A história dita o tempo / Conhecimento despido/ Fora de qualquer perigo.
Porém tempos depois juntamente com o fotógrafo paulista Élcio Carriço abriram uma empresa de fotografia que passou a funcionar numa casa no Caminho de Árvores, em Salvador. Tinham um Studio grande, bem montado e passaram a atender as empresas de publicidade como a D&E, DM9, Publivendas, dentre outras. Isto durou de 1987 até 1991, quando desfizeram a sociedade. Como tinha feito muitos trabalhos para a Odebrecht que estava montando um núcleo de comunicação  para atender as demandas internas continuou atendendo integrando este núcleo da empresa até 2014 fografando 
No campo o trabalho começa cedo.
  para os relatórios corporativos, livros e outras publicações. Paralelo a esta atividade vinha desenvolvendo sua parte de fazer fotografias artísticas, e mesmo quando viajava para a Odebrecht sempre procurava fazer suas fotos particulares. A empresa Criou o prêmio Odebrecht de Pesquisa Histórica Clarival do Prado Valladares e todos os anos premiava um projeto e editava o livro. O prêmio era conferido anualmente a um projeto de pesquisa que tenha contribuído para um maior entendimento da formação econômica, sociopolítica ou artística brasileira. Ele considera este período um salto na sua carreira profissional. 'Eu fiz um livro A Bahia Vista do Céu, da Editora Corrupio, juntamente com outros fotógrafos",lembra Bindilatti.

"Manequins a postos."
Com a chegada da Lava Jato perdeu seu grande cliente que era a Odebrecht e migrou para Portugal  passando a fazer a fotografia que sempre queria fazer que é a fotografia autoral, e é o que tem feito inclusive realizando alguns projetos pessoais. Fez uma exposição em Nova Iorque e em outros locais e assim continua tocando sua vida profissional. Quando lhe pedi para falar da arte da fotografia Almir Bindilatti me mostrou um pensamento que ele cunhou que é este: “No que pese a compreensão a fotografia não cumpre a função de elucidar, mas sim de redimensionar o pensamento”. Em seguida mostrou outros escritos e estes versos tudo gira em torno de sua atividade de fotógrafo: Vejamos: “É pelo olho que a vida acontece / O que fingimos o que vigiamos / A indecifrável linguagem da alma / Também nasce do que vemos / Escape do labirinto interior / Instrumento da verdade / Angular apetite da beleza / Carrasco incólume da tristeza. / Todas as lágrimas cabem no olhar/ Todas as vidas se despem ao olhar / Todos os sonhos se inventam de olhar / E nada é real sem que o olhar dê fé / O que vemos extrai tudo o que a nós cega."

                                    PRÊMIOS E PUBLICAÇÕES


Meninas e uma boneca.
Entre os prêmios e reconhecimento que recebeu, destacam-se o New York Festival International Advertising Awards, de 1999, do qual foi finalista, e o do concurso Leica Brasil, em que obteve a segunda colocação na categoria Cor, da edição 2010, e Honra ao Mérito nas edições 2007 e 2009; 2023 ganhou o Prêmio da 16ª edição do REFLEX – Prémio de Fotografia CAIS Novo Banco, em Portugal. Em  2012 produziu um extenso material na região do Baixo Sul da Bahia para a exposição individual  “Étnico Olhar”, na Fortaleza do Morro de São Paulo, Bahia; 2013, foi um dos convidados para participar da Exposição coletiva de fotógrafos Brasileiros em Xangai, na China; 2022 participa da exposição coletiva da Casa de Castro Alves em Salvador, com o projeto “Distorces”, um conjunto de dez fotografias de temática urbana com recursos de distorção das imagens e  é um dos artistas contemplados na terceira  edição da New York Latin American Art Triennialno The Clemente Soto Vélez Cultural & Educational Center, com a exposição “Territory of Absences” um retrato dos costumes e paisagens rurais do sertão brasileiro.

Capa do livro Photo Bahia.
Em 2008, publicou juntamente com o fotógrafo Luciano Andrade, o livro Photo Bahia, uma viagem pela vasta cultura humana e natural do estado. Também são de sua autoria as fotos dos livros Mosteiro de São Bento da Bahia (430 anos) organizado por Dom Gregório Paixão e   Um Sertão entre Tantos Outros, de autoria de Natália Diniz. Almir Bindilatti participou ainda, como fotógrafo ou editor de imagens, dos seguintes livros “Cinquenta anos de urbanização – Salvador da Bahia século XIX”, de Consuelo Novais Sampaio; História e cultura da Ilha de Tinharé, de Antônio Risério; A Bahia vista do alto, da editora Corrupio; Entre amigos Carybé e Verger, da editora Solesluna ;Igreja e convento de São Francisco da Bahia, de Maria Helena Flexor e Frei Hugo Fragoso;  Edgar Santos e  a reinvenção da Bahia, de Antônio Risério;  100 fotógrafos focam o Brasil, produzido por Dell’Artes Produções Culturais.

 

 

 

 

 

 

 

 

sábado, 8 de junho de 2024

ANTONELLO L'ABBATE E SEU ENCANTAMENTO PELA BAHIA

Antonello em sua casa  onde vemos uma
composição com o Forte de São Marcelo.
Depois de alguns anos fui ao reencontro do artista ítalo-brasileiro Antonello L’Abbate que nasceu em Roma, na Itália, em vinte e seis de junho de 1943. Ele tem uma ligação muito verdadeira com a Bahia e um encantamento especial pelo Forte de São Marcelo, o qual já pintou e fez gravuras com variadas composições. Quando indaguei sobre este encantamento me disse de pronto “que é a construção mais importante e mais bonita da Bahia.” E arrematou: “não foi por acaso que o grande escritor Jorge Amado chamou o Forte de São Marcelo de o umbigo da Bahia”. Vocês devem lembrar que o Forte foi construído no século XVII com o objetivo de defender a Bahia das invasões de estrangeiros. É também chamado de Forte do Mar, e antes era conhecido por Forte de Nossa Senhora do Pópulo.É o  único forte circular do Brasil, e por coincidência ou não deste encantamento ele foi inspirado no Castelo de Santo Ângelo que fica na Itália e na Torre do Bugio,em Portugal. Foi construído sobre um pequeno banco de arrecifes a cerca de trezentos metros da costa e fica completamente dentro das águas da Baía de Todos os Santos. 
A primeira vez que Antonello L’Abbate desembarcou no Brasil ele tinha onze anos de idade isto foi no ano de 1954 e aqui já residiu em várias cidades. Nasceu, portanto, no final da Segunda Guerra Mundial e seu país de origem tinha sido destruído pelos bombardeios e foi palco de batalhas sangrentas entre os Aliados, inclusive brasileiros, que bravamente lutaram para libertar os italianos do jugo dos nazistas e fascistas. Seus pais Gianetto L’Abbate era natural de Roma, que fica no centro-oeste da Itália e sua mãe Argia Battistutta L’Abatte, era de Udine, cidade ao norte do país. Eles enfrentaram muitas dificuldades para criar os três filhos do casal, dois homens e uma mulher. Como o pós guerra foi muito difícil, tinha racionamento de alimentos, toda a infraestrutura do país estava colapsada e o desemprego era grande e o seu pai Gianetto foi obrigado a trabalhar em vários serviços e locais procurando angariar recursos para manter a família até que ingressou numa companhia de gás.
Igreja do Santo Antônio da Barra e casa,
 óleo sobre tela.
 Neste período seu pai morou em muitos locais na Itália como Roma, Milão, Nápoles, Florença e devido a essas mudanças constantes o Antonello L’Abbate recorda que não criou amizades durante sua infância.  Aqui dizemos nas conversas particulares que ele “não criou raízes”, ou seja, não conseguiu fazer fortes amizades durante sua infância e juventude. Fez o seu curso  primário até o quarto ano em diferentes cidades da Itália. Aos nove anos seu pai lhe ensinou a pintar porque herdou o talento e um cavalete, tintas e telas de sua mãe Ana Ricci. “Ela foi professora de pintura e  uma boa pintora embora não tenha feito sucesso”, diz Antonello sobre sua avó paterna. Em seguida mostra alguns quadros pintados por ela onde podemos constatar que realmente era uma boa artista. Já no ano de 1954 seu pai foi convidado para trabalhar numa companhia de gás no Brasil. O Giannetto aceitou, deixaram a Itália e desembarcaram no Rio de Janeiro, e depois vieram para a Bahia. O contato aqui foi com Jorge da Silva Freitas Simões que era irmão do jornalista  Ernesto Simões Filho, fundador do jornal A Tarde, que morava num
Retrato pintado durante seus estudos na
Academia di Belle Arti di Brera, Itália.
belo casarão localizado na Ladeira do Bonfim, em Salvador, e inicialmente eles ficaram hospedados ali. Meses depois seu pai foi transferido pela companhia de gás para São Paulo, e como já estava no meio do ano letivo o Antonello L’Abbate foi internado no Colégio Antônio Vieira até o final do ano. Ao concluir o ano letivo embarcou para Santos-SP e quem ficou responsável por ele durante a viagem de navio foi o jornalista Ernesto Simões Filho. Lembra Antonello que numa noite o dr. Simões como era chamado, apareceu todo de smoking para o jantar. Desembarcaram no porto de Santos e seus pais foram buscá-lo. Foi estudar no Instituto Dante Alighieri e depois no Colégio Paes Leme, localizado na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta. Seu pai foi transferido novamente em 1968 desta vez para Porto Alegre-RGS onde ficaram oito anos. Estudava e passou a fazer cartazes e vitrines de lojas gaúchas.  Ganhou um bom dinheiro foi quando comprou seu primeiro carro que naturalmente era um Fusca. Também continuava fazendo suas pinturas. Não fez nenhuma exposição em Porto Alegre.

                                        VIAGENS DE ESTUDOS

Outra pintura onde o artista ressalta a
 beleza e a grandiosidade do Forte de
São Marcelo.
O Presidente do Grupo Ultra, Pery Igel onde seu pai trabalhava sabendo que o Antonello L’Abbate gostava de pintar lhe ofereceu uma bolsa de estudos para ir estudar na Itália. Foi assim que em 1969 foi para Milão estudar na Accademia di Belle Arti di Brera recebendo orientação do professor Domenico Cantatore. Ele era pintor, mosaicista e ilustrador italiano, pintava retratos e temas históricos sob a influência de Cézanne e Matisse. Foi segundo L’Abbate “um deslumbramento da arte clássica e moderna. Uma época muito linda. A gente entrava em todos os museus e não pagava nada. Lembro que quando visitávamos a Pietá, de Michelangelo, eu passava a mão na escultura. Hoje está tudo protegido e você vê à certa distância por causa do fluxo de gente e também dos vândalos.” E continuou “esta vivência me fortaleceu muito como artista. Na academia tinha uma modelo, que posava nua ao vivo, e a gente desenhava o corpo humano a manhã inteira. Tínhamos que entregar um trabalho a cada mês. Era para eu ficar quatro anos, porém chegou o momento que tinha obrigatoriamente que servir ao Exército na Itália, aí resolvi interromper a bolsa e voltar para o Brasil.”

Mosaico de Antonello L'Abbate na Avenida
Contorno, em Salvador, Bahia.
Meses depois o mesmo presidente da Ultragás, sr.  Pery Igel ofereceu novamente
uma oportunidade para estudar nos Estados Unidos. Era o ano de 1971 e o Antonello L’Abbate embarcou para Nova Iorque e ingressa na Art Student's League, que fica na Rua 57, e foi fundada em 1875. Ao se apresentar a diretora da instituição  pediu que lhe trouxesse uma obra pintada por ele. Antonello não tinha trazido nada do Brasil. Comprou uma pequena tela, pincéis e tintas e pintou a tela no hotel e no dia seguinte apresentou . O seu objetivo era aperfeiçoar e desenvolver estudos nas técnicas de pintura e gravura. Foi então encaminhado para receber orientação dos professores Robert Brackman, pintor de nascionalidade ucraniana e naturalizado americano conhecido por suas grandes obras figurativas, e com Roberto De Lamonica que era brasileiro, natural de Ponta Porã, no Mato Grosso do Sul, onde nasceu em 1933 e faleceu em Nova Iorque em 1995. Era gravador, pintor e professor. Daí surgiu sua atração maior pela gravura para expressar a sua arte.

Antonello L'Abatte em seu ateliê, em
Stella Maris, Salvador, Bahia, 2024.
Retorna ao Brasil em 1972 e realiza sua primeira exposição individual no Auditório Itália, em São Paulo. Depois vieram várias exposições individuais e participa de coletivas em espaços públicos e privados entre os quais no Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAMSP, Museu de Arte de São Paulo-MASP, Museu de Arte Moderna da Bahia- MAMBA, Caixa Cultural, em Salvador-Ba, dentre muitos outros. Ministra aulas aqui e no exterior, sendo responsável pela criação e coordenação de algumas oficinas de impressão e exposição, além da criação de clubes de gravuras em algumas cidades brasileiras. Diria que o Antonello L’Abbate embora tenha sua formação familiar e cultural de origem europeia ele se adaptou bem ao Brasil onde anualmente passa seis meses e outra metade do ano em seu país de origem . O entrevistei às vésperas de viajar em seu ateliê localizado em sua residência no bairro de Stella Maris, em Salvador, Bahia. Tem outro ateliê em sua casa na cidade de Trentinara, província de Salermo, no sul da Itália. Lá tem uma exposição permanente na ex-capela de San Nicola, que foi desativada e transformada numa galeria de arte. Também promove exposições
Mosaico da cidade de Trentinara, região de
Milão,na Itália onde tem casa e ateliê.

de outros artistas da região. Atualmente o Antonello L’Abbate trabalha em várias técnicas em seus ateliês como desenho, gravura em metal e xilogravura, aquarela,cerâmica, pastel, mosaico e pintura. Vemos que é um artista versátil e muito criativo e às vésperas de completar oitenta e um anos se mostra disposto a enfrentar novos desafios. Os clubes de gravura que criou, inclusive o daqui no ano de 1995 mostra que ele é um artista que procura agregar  pessoas e tem uma especial abertura de procurar repassar suas habilidades como artista múltiplo que é porque ele pinta e grava em várias técnicas,trabalha com cerâmica e mosaicos. Também contribuiu quando aqui chegou para fortalecer a Gravura na Bahia. Segundo ele o Clube da Gravura “é uma forma de as pessoas colecionarem obras de arte autênticas por um preço acessível. Ele formou um grupo de dez pessoas pagando cada uma naquela época R$15,00 por mês, e recebiam seis gravuras de artistas consagrados, uma a cada  mes. Também ministrou aulas em vários museus e outras institucionais em cidades brasileiras

                               EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS E COLETIVAS

Três gravuras de jarros com
flores, Iemanjá e  paisagem.
O artista Antonello L’Abbate já fez dezenas de exposições individuais e coletivas e ministrou aulas aqui, em outros estados e na Itália. Em 2022 fez quatro exposições sendo duas individuais de pastel chamadas de Natura Silente, ou seja, Natureza Silenciosa e Mostra di Pastelli, e uma mostra coletiva de Pintura e outra de gravura que eles por lá chamam de incisioni. Em 2021 fez uma exposição de mosaicos doando à Prefeitura de Trentinara um mosaico da Festa Del Pane e fez outros mosaicos da praça e da cidade de Trentinara, que é uma pequena vila localizada perto de Salermo. Em 2019 participou de uma Exposição de Bules, no Cafelier, no centro histórico de Salvador-Ba  que reuniu um total de cem artistas; nas Oficinas de Arte da Escola Municipal Adroaldo Ribeiro Costa, em Salvador promoveu uma Oficina de Mosaico com crianças ;em 2015 ilustrou o livro Sociedade Baiana, de autoria de Margarida Luz e fez a exposição Sugestão de Trentinara com obras em óleo sobre tela, gravuras pintadas a guache e gravuras em metal; 2014 – ilustrou a nova edição do livro Sociedade Baiana de Margarida Luz e participou de várias exposições coletivas
Antonello L'Abbate é  mestre na arte da 
gravura em todas as suas vertentes.
com gravuras e pintura a óleo s/ tela; 2013 – uma exposição individual no Instituto Antônio Carlos Magalhães sobre Saveiros da Bahia onde apresentou obras a óleo s/tela e gravuras; 2012 - fez duas exposições individuais sendo uma no Arte Hotel Cristal, em Igatu, na Chapada Diamantina, na Bahia e outra na Galeria Arte & Memória também em Igatu e ilustrou a edição anual do livro Sociedade Baiana e Margarida Luz; 2011 - expôs no Atelier do Empório Michelangelo, em São Paulo, na coletiva Olhares Impressos ; 2010 – fez algumas exposições individuais e coletivas a capa do catálogo do Espaço Cultural dos Correios, em Fortaleza-Ceará com pinturas a óleo s/tela e gravuras; 2009 – doou um quadro para o Centro Cultural de Barra de Estiva, na Bahia e participou do Circuito das Artes, em Salvador-Bahia; 2008 – fez uma exposição individual na Galeria Moacir Moreno, no Teatro XVIII, no Centro Histórico de Salvador com a exposição Fortes, e participou das coletivas na Galeria do Instituto Goethe e do Primeiro Mercado de Arte Confraria da Terra; 2007 – Uma individual na Galeria do Forte de São Marcelo, em Salvador-Ba, com obras a óleo s/tela, gravuras e cerâmicas, fez a capa da Agenda Cultural Viva Salvador, da Fundação Gregório de Matos, e participou das coletivas Encontro pelas Águas, realizado pelo Superintendência de Recursos Hídricos - SRH; da mostra Afetos Roubados no Tempo, na Caixa Cultural, Salvador-Ba; exposição Pequenos Formatos, com sessenta artistas na Galeria Prova do Artista, Salvador-Ba; e do Circuito das Artes, com 150 artistas em nove galerias e museus da Vitória -Salvador Ba; 2006 – fez quatro individuais na Galeria Arte e Memória de Igatu-Ba, na Passarela das Artes, no Colégio Antônio Vieira, na Clínica São Lázaro, ambas em Salvador,  e no Espaço Cultural dos Correios, em Fortaleza, no Ceará. Participa de coletivas no Centro Cultural CUCA, em Feira de Santana-Ba; ilustra a nova edição do livro Sociedade Baiana, de Margarida Luz, monta uma Oficina de Gravura na Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, no shopping Iguatemi -
Vemos três cartazes de exposições.
Salvador-Ba e ministra um Curso de Gravura nas Oficinas de Expressão Artística, do Museu de Arte Moderna da Bahia; 2005 – execução de mosaico na Fundação Pierre Verger, Salvador-Ba; Ilustra a capa do livro O Cordel da Vida, de Edivaldo Boaventura e a capa da Revista Alpha Vida, segunda edição, Salvador-Bahia; Participa de três coletivas da Exposição Afetos Roubados no Tempo, na Galeria do ICBA, da Exposição São Francisco de Assis , no MAM-BA e da Art For Today, todas em Salvador-Ba; 2004- Fez uma exposição retrospectiva na Galeria do Conjunto Cultural da CEF, em Salvador e em São Paulo; executou um mosaico de 45m x 3 m na Faculdade Jorge Amado e outro na Pedra do Sal, em Itapuã- , Salvador-Ba; ilustra o cartão de Natal Fluxo, o livro Sociedade Baiana, de Margarida Luz e a Agenda Tecom e ministra Curso de Gravura no MAM-BA ; 2002 – expõe na Galeria de Arte e Memória de Igatu-Ba, executa dois murais em acrílico em Itapuã, faz ilustrações para o CRA e o Núcleo de Estudos Aplicados ao Meio-Ambiente -NEAMA , Salvador-Bahia e ministra curso de gravura no MAM-BA; 2002 – executa mosaico na clínica Labaclen, no bairro de Roma, Salvador-Ba, ilustra a Revista Tecbahia e doa uma tela para o Museu Regional de Feira de Santana-Ba e participa da mostra Arte Arte, na Galeria da Cidade  e continua ministrando aulas no MAM-Ba; 2001 - executa um mosaico de 15m  x 5 m na Avenida Contorno e, comemoração aos 500 anos da descoberta da Baía de Todos os Santos; expõe no V Congresso de História da Bahia, no Instituto Geográfico e Histórico da Bahia e  participa da exposição coletiva Arte Arte, em Macau, Lisboa e Guimarães, em Portugal; 2000 - expõe na Galeria do Solar do Ferrão, Salvador-Bahia e executa uma escultura de concreto na Rua Calasans Netos, em Itapuã, Salvador-Bahia, participa da ilustração do livro do professor Luís Henrique Tavares e ministra cursos de mosaico no Alagados e de gravura nas oficinas do MAM-BA; 1999 – fez uma exposição individual no Shopping Barra, Salvador-Ba e ilustrou o livro Trajetória de Uma Universidade , de Edivaldo Boaventura .Participou das coletivas A Cidade da Bahia no Olhar dos Artistas – 450 Anos, no Museu de Arte da Bahia, e da mostra Mercado Latino Americano
Flores do Campo, óleo sobre tela. 
em Salvador-Ba e foi premiado duas vezes na Itália com o Prêmio Velletri Itália e Prêmio Internazionale di Arti Visível e Plasticche Antonio Canova, em Roma; 1998 – expõe individualmente obras em pastel seco na Galeria do Instituto  Dante Alighieri, Salvador-Ba e participa do Projeto Salvador Porto e Mar, da CODEBA, onde executou um Mural, e das coletivas de gravuras na Dante Alighieri, mostra A Bagagem no Museu Geológico da Bahia, no Corredor da Vitória, do Projeto Arte Arte Salvador 450 anos, no Museu de Arte da Bahia e da Sob o Sol  Latino Americano, no Shopping do Pelô, todas em Salvador-Ba. Ministrou curso de gravura do MAM-Ba e montou ateliê de gravura no Museu de Arte da Bahia – MAB, no período da Exposição Espanhola; 1997 - Individual na Galeria Prova do Artista e das coletivas na ACBEU expondo cerâmicas na mostra Um Brinde ao Café, da mostra 12 Artistas Brasileiros, em homenagem a Carybé, em Feira de Santana-Ba; participa da Casa Cor 97 com duas obras, ilustra texto de Francisco Senna, na revista RB e monta ateliê de gravura no Museu de Arte da Bahia-MAB
Natureza morta  em pastel, de Antonello.
durante a exposição de Piranese ; 1996 – Expõe no Hotel Sofitel Quatro Rodas, participa do Segundo Festival de Artes Visuais , no Pelourinho, ambas em Salvador-Bahia; doa retrato do escritor para a Fundação Jorge Amado e continua ministrando Curso de Gravura no MAM-BA; 1995 - expõe individualmente no Restaurante Companhia das Índias e no Hotel Resort Praia do Forte e participa das coletivas  Segunda Mostra de Arte Brasileira em Aveiro, Portugal, e da Bahia Arte Atual, na Fundação Gregório de Matos, Salvador-Ba; 1994 – Cria o Clube da Gravura em Salvador, e em seguida lança uma coletânea de gravuras assinadas por dez artistas, faz curadoria das exposições  de gravuras de trinta e cinco artistas no Espaço Tríade e da mostra Aquarelistas na Bahia, no mesmo espaço ; 1993 -individuais no Natal Shopping Center e na Biblioteca Câmara Cascudo, ambas em Natal, no Rio Grande do Norte, e ministra um curso de gravura na Universidade Federal do RGN; participa das coletivas Mostra de Arte Brasileira , em Aveiro, Portugal; da Bandeira de São João na Fundação José Augusto, da Galeria ConvivArt, no campus da UFRGN e no Espaço Cultural Babilônia, também em Natal; 1992 - Fez três individuais em Natal, no Rio Grande do Norte a saber: Natal Mar, no Hotel RR; na Galeria ConvivArt-NAC e no Novotel. Ministra curso de Quatro Técnicas das Artes Plásticas, na UFRGN -1990 – individuais na Galeria Arte Própria, na Casa da Cultura de Santana do Parnaíba,
Mosaico na Faculdade Jorge Amado, em Salvador, Bahia.













 no Casarão em Joaquim Egídio e no Hotel Holiday Crown Plaza, todas em São Paulo; 1989 – ministra Curso de Xilogravura na UNAERP,  e Curso de Gravura em Metal, na Oficina Cultural Cândido Portinari, ambas em Ribeirão Preto-SP; 1988 – expõe na Galeria O Cavalete, em Salvador-Ba e na Galeria do Sol, em São José dos Campos-SP e integra o corpo de jurados no Primeiro Salão de Artes Plásticas de Mogi Mirim-SP; 1987 – expõe na Galeria de Arte Correa, em Curitiba, Paraná; na Galeria Sol, de São José dos Campos-SP e no Muro das Artes Gráficas, no Museu de Arte Moderna de São Paulo; participa da coletivas na Galeria de Arte Contemporânea em Mato Grosso do Sul, Campo Grande , do Projeto Cor Banespa, no Museu de Arte de Santa Catarina e na Galeria de Arte 
Cerâmica criada pelo artista Antonello.
Correa, em Curitiba -PR, ministra Cursos de Xilogravura, na Estação da Sé, do Metrô de São Paulo , Curso  de Xilogravura , no Museu Hans Staden, em Ubatuba-SP e de Desenho, no MAM-SP;1986 -expõe no Museu de Belas Artes de Santa Rosa, na Argentina; na Galeria de Arte Contemporânea, em Campo Grande -MS e no Paço das Artes  em SP; 1985 – expõe na Livraria Ameríndia, em Santa Rosa, Argentina e na Galeria de Arte  Rastro-SP. Ministra Curso de Gravura, na Escola de Belas Artes de Santa Rosa, na Argentina e no Departamento de Artes Gráficas do MAM-SP;1984 – expõe no Museu Casa Anhanguera, Santana do Parnaíba e na Galeria Rastro, ambas em São Paulo e participa de coletivas; 1980 – Cria o Ateliê de Gravura Atual juntamente com a artista argentina M Perez Sola e ministra cursos e faz palestras e  exposições na Alameda Ministro Rocha Azevedo -SP; 1978 – Cria o Ateliê Impressão Atual, em Itapecerica da Serra-SP e participa de coletivas; 1977 expõe na inauguração da agência da Avenida Faria Lima-SP, da Caixa Econômica Federal, com obras a óleo s/tela ; participa das coletivas Panorama da Arte Brasileira, no MASP-SP com gravuras; Exposição de Artes Plásticas, no Centenário da Cidade de Itapecerica da Serra, do Quarto Encontro Jundiaiense de Arte, em Jundiai-SP e da Exposição, no Anfiteatro Cacilda Becker, São Bernardo do Campos e do VI Salão de Arte Contemporânea , no Passo da Artes, em São Paulo.1974 – individuais na Galeria O Cavalete ,Salvador-Ba, Centro Cívico de Santo André-SP e na Fundação de Artes Plásticas,
Outra obra tendo o Forte de São
Marcelo como tema.
de São Caetano do Sul. Foi premiado no Décimo Salão de Artes Plásticas de Embu-SP com o Prêmio Câmara Municipal, e no Sétimo Salão de Arte Contemporânea de Santo André com o Prêmio Cidade de Santo André, e participou da mostra no Museu Nacional de Belas Artes, em Santiago do Chile; do Quinto Salão Paulista de Arte Contemporânea no MAM-SP e do Ateliê Vivo , na Bienal Nacional-SP; 1973 -individuais na Galeria Ponto das Artes, em Porto Alegre-RGS onde expõe óleos s/telas, do Club SAPT, em Torres-RGS , cria o Ateliê de Gravura junto com Peres Sola, onde ministra aulas de Gravura e Desenho. Participa das coletivas nas Olimpíadas do Exército, em Recife-PE, do Quarto Salão de Arte Contemporânea, em Santo André-SP, do Segundo Encontro de Gravura, da Fundação das Artes de São Caetano do Sul-SP e da Exposição de Gravadores, da Prefeitura de Presidente Prudente-SP.

   VISÃO DE CALASANS NETO

Obra por concluir que começou a pintar
 antes de viajar para Trentinara, Itália. 
Na exposição que fez na Prova do Artista em 1997 o grande gravador Calasans Neto escreveu: “Antonello L’Abbate nesta sua exposição cria um neo paisagismo da Cidade, onde numa nova visão brinca com as angulações urbanas distorcendo como vistas por fenômenos óticos produzidos por prismas e lentes de grande abrangência. O efeito é surpreendente e vai desfilando a magia de Salvador como um explodir de pirotecnia saindo tudo de uma mágica que só os fogos de artifício conseguem dar. Tudo circunda o seu epicentro temático o Forte de São Marcelo, majestoso e soberano da Baia de Todos os Santos. Encanto azul da vida da Bahia.”

Em outro trecho escreveu: “Estão aí presentes gravador e pintor nas linhas procura a forma na cor acha a grandiloquência do seu trabalho meticuloso, como só os gravadores conseguem ser, e na mistura de linha e cor neste aproximamento é que vai surgindo esta Cidade amada entrando por este mar tão azul e aconchegando a inspiração amorosa que é a Baía de Todos os Santos e sua filha querida, esta ilha tão encantada e encantadora”. Ele mantinha uma forte relação de amizade com o artista Calasans Neto e imprimiu muitas obras para o gravador baiano.