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quinta-feira, 27 de agosto de 2020

A VIDA AMARGURADA DE RAIMUNDO DE OLIVEIRA

Obra de Raimundo Oliveira ,  de 1965
Já conheci muitos artistas nesses mais de  30 anos convivência e sempre me deparei com pessoas fantásticas, sonhadoras, criativas, amigas, e também com outras muito ansiosas e até depressivas. Algumas tão amarguradas, devido algum trauma de infância, juventude ou mesmo  na vida adulta não conseguem ou não conseguiram  levar uma vida normal enfrentando as dificuldades que nos chegam dia a dia. Pessoalmente não conheci o artista feirense Raimundo  de Oliveira, mas pelo que li sobre sua vida e ouvi de algumas fontes primárias, que tiveram o privilégio de  conhece-lo, o descrevem como uma pessoa que tinha  alguns problemas de convivência e que talvez até algum complexo por não ter um corpo dentro dos padrões de beleza que a maioria elege. No entanto , em várias fotos que manuseei ele aparece com um sorriso largo, mostrando ser  uma pessoa aparentemente feliz. Vejam como a aparência esconde sentimentos . 
Segundo uma fonte primária ,que tinha acesso ao apartamento do pintor, ele montou uma espécie de cabana na sala onde colocou seu cavalete . Para trabalhar abria uma bíblia e ficava lendo e pintando. De quando  em vez cantarolava alguma coisa. Suas  roupas de preferência eram escuras , principalmente de cor  preta. Colhi outro depoimento de uma pessoa que tinha um escritório no edifício Shalom, que fica na Avenida Sete de Setembro, trecho do Rosário, onde também morou o artista , que me disse que o Raimundo de Oliveira tinha realmente um comportamento estranho. Várias vezes quando a noite ia caindo ele se vestia de preto e saía cantarolando umas cantigas indecifráveis. Como não o conheci pessoalmente fico  com estes depoimentos de pessoas que mantiveram contatos com este artista singular.
Raimundo e seu  largo sorriso no   atelier
em São Paulo. Foto de  Gerard Loeb.
Raimundo  deixou um legado importante, e sua produção artística é conhecida e valorizada não apenas no Brasil como também no exterior. Uma arte marcada por sua religiosidade que lhe foi transmitida por sua mãe d. Santa, com a qual tinha uma ligação muito forte.
Escreveu o saudoso professor Edvaldo Boaventura , conterrâneo e contemporâneo em Feira de Santana, no livro Raimundo de Oliveira, editado em 1982, o qual me foi presenteado pelo  amigo e grande artista Washington Sales. Vejam: "Habituei-me desde muito cedo, ao tempo em que criança morava na Praça da Matriz a ver Raimundo, sempre de calça e paletó escuros e aparentando mais idade do que realmente tinha, a passar bem devagar conduzindo pelo braço de D. Santa. Vinham mãe e filho pelo Beco de Santana, atravessavam o largo em cadência lenta e ritmada e entravam na Matriz pelo portão da frente". Em 1954 sua mãe faleceu ,o que representou uma grande perda para ele.  

Sua participação nos movimentos de arte em Salvador começam a aparecer. Em 1951 integrou algumas coletivas ; do III Salão Baiano de Artes Plásticas e do 1º Salão Universitário Baiano. Sua primeira exposição em Salvador foi na Galeria Oxumaré e ele imprimiu alguns cartazes em preto e branco que foram colocados na Avenida Sete de  Setembro anunciando a sua mostra. Isto até hoje é uma coisa inédita. Nunca vi cartazes expostos nas ruas de uma exposição. Nesta mostra apresentou desenhos e pinturas e agradou aos críticos de arte  da época. Em 1954 sua mãe faleceu , o que representou uma grande perda para ele.

Os Israelitas volta a Jerusalém.
Mas, se recuperou parcialmente, e em 1955 recebe o prêmio Menção Honrosa no Salão Baiano de Belas Artes; em 1956 expõe no Belvedere da Sé, e ainda em 1956 participa de uma coletiva na Galeria Oxumaré; do V Salão Nacional de Arte Moderna, no Rio de Janeiro e do VI Salão Baiano de Belas Artes, dentre outras. Em 1968 vai para São Paulo .Faz algumas exposições e participa do IX Salão Paulista de Arte Moderna, onde recebeu uma Medalha de Bronze; do X Salão Paulista de Arte Moderna ,em 1961;expõe de 1961 a 1964 na prestigiada Galeria Astreia; da VI Bienal de São Paulo, em 1963; expõe na famosa Galeria Bonino, no Rio de Janeiro, em 1963;em Buenos Aires, em 1964, e em 1965 no Musée d"Art Moderne de la Ville de Paris e de uma coletiva na Galerie Jacques Massol, também em Paris. Portanto, teve o reconhecimento de sua arte nacional e internacionalmente.

Raimundo nasceu em 24 de abril de 1930 na cidade de Feira de Santana . Já adulto veio  morar no Rio Vermelho, depois na Avenida Sete, e finalmente no Hotel São Bento, no Largo do mesmo nome onde foi encontrado morto três dias depois no dia 16 de janeiro de 1966. Segundo o laudo policial  teria se suicidado, aos 36 anos de idade. 

Raimundo sofreu provações como alguns  personagens de suas pinturas bíblicas. Ele  enfrentou  problemas psíquicos que sempre levam as pessoas acometidas dessas doenças ao sofrimento e falta de perspectiva. Embora filho de um comerciante de boa situação econômica e nem mesmo sua religiosidade foram capazes que vencer a depressão. Portanto, Raimundo Falcão de Oliveira partiu com sua arte mística de traços largos e cores às vezes escuras e  vibrantes. Deixou uma arte inconfundível .

Obra atribuída a Raimundo Oliveira.
Quando fez sua exposição em Paris o crítico francês Jacques Lassaigne escreveu :"O caso mais estranho é talvez o do jovem Raimundo de Oliveira, que prova que não é somente para os homens de antigamente que o recurso ao passado é fecundo. Ele se inspirou nas lendas religiosas e inventa uma espécie de Bíblia historiada em miniatura dignas dos manuscritos e os bordados coptos e, entretanto , de  absoluta modernidade".

Lembro que o artista Hansen Bahia esteve na Etiópia com o Imperador  Haile Selassié  . Sua coroaçãofoi um evento esplêndidoe contou com a presença de autoridades do mundo todo.  O Imperador foi homenageado com uma música de Bob Marley. Hansen trouxe alguns tecidos com estampas  e outros materiais onde apareciam figuras bíblicas bem parecidas com as que Raimundo de Oliveira pintou, e também o próprio Hansen esculpiu , em algumas de suas xilogravuras. Selassié dirigiu a Etiópia de 1916 a 1974. Ele nasceu em 1892 e foi assassinado em 27 de agosto de 1975. É até hoje reverenciado pelos rastafáris que acreditam no Deus Jah. 


quarta-feira, 19 de agosto de 2020

O PINTOR DE GRANDES MURAIS E PAINÉIS


    Esta é a segunda versão do painel feito em tinta óleo sobre madeira  .A primeira foi destruída no incêndio em 1978.
Vou falar hoje de um pintor modernista baiano que se notabilizou por ter um desenho refinado, talvez o que melhor desenhava entre os modernistas daqui, que construiu um universo onírico com sua técnica apurada do realismo mágico. Ele transformava seus modelos muitas vezes em anjos e duendes e criava uma atmosfera única. Seu nome de batismo é Carlos Frederico Bastos, que nasceu em 12 de outubro de 1925, no bairro boêmio do Rio Vermelho, em Salvador, Bahia. Foi criado pelos avós  e seu dom vem de seu avô João Correia Soares de Araújo  que gostava de pintar. Ele faleceu aos 79 anos em 12 de março de 2004.
Carlos Bastos tem uma obra grandiosa e reconhecida em todo o país e até fora daqui . Mas, sua carreira artística começou com uma exposição na Biblioteca Pública, que ficava na Praça Municipal, e alguns de seus quadros foram vandalizados  . Produziu 46 painéis e 18 murais, sendo que 10 deles foram destruídos e dois estão inacabados por divergências religiosas, além de centenas de outras obras . Quanto aos painéis três estão em locais desconhecidos.  Entre os mais conhecidos destruídos estão o painel da Assembleia Legislativa devorado por um incêndio em 1978 e os murais do Bar Anjo Azul.

Este é o belo mural que está escondido por trás de prateleiras de remédios de uma farmácia .

NOSSO MURALISTA E PAINELISTA
Ainda neste texto falo  sobre a arte do muralismo, para destacar o nome deste  artista  que é um grande mestre desta técnica que foi o pintor Carlos Bastos. Ele deixou murais e painéis 
memoráveis como aquele da Assembleia Legislativa, cujo primeira versão foi destruída num incêndio ocorrido em 1978 . No painel  A Procissão do Senhor  dos Navegantes  o artista pintou 142 personalidades dentro da galeota que leva a imagem do Senhor  no dia 1º de Janeiro. O painel foi refeito  e entraram novas personagens na Galeota, totalizando 170.
Um dos grandes problemas do muralismo é a falta de conservação e respeito pela obra do artista. Aqui em Salvador temos vários exemplos de murais destruídos, abandonados ou ultrajados. Um deles é de autoria de Carlos Bastos, que ele fez sob encomenda para um banco BBVA, na Cidade Baixa .Este  mural está ainda lá no prédio onde hoje funciona uma farmácia , e a obra fica completamente comprometida por prateleiras de remédios. O dono não teve a sensibilidade de respeitar os limites da obra, talvez por falta de conhecimento da sua importância. Ele deveria utilizá-la como mais um atrativo  para seu comércio , tal a beleza da obra ( Foto ao lado)
Famoso mural no Bar Anjo Azul que foi um point importante de intelectuais , artistas
e boêmios na década de 60 em Salvador.
A ARTE DO MURALISMO
Desde os tempos imemoriais que o homem sentiu a necessidade de se expressar e para isto utilizou das paredes de cavernas ou pedras para deixar ali marcadas algumas de suas atividades. Conhecemos desde os primeiros anos ginasiais as pinturas rupestres onde o homem primitivo pintava árvores, animais e cenas de caça. O tempo foi passando e o homem descobriu novos pigmentos e que as paredes emassadas e ainda frescas eram ideais para fazer suas pinturas. Ai surgiu o muralismo que é uma pintura feita diretamente sobre uma parede  . Portanto, é diferente de outras maneiras de pintar porque está muito ligada à arquitetura. A técnica mais usada é a do afresco que nonsiste na aplicação de pigmentos de cores diferentes , diluídos em água, sobre a argamassa ainda umedecida.
Civilizações antigas como as grega e romana usaram muito do muralismo e podem ser apreciados nas ruínas de Pompeia e Herculano,na Índia nos murais das Grutas de Ajanta e na China feitos na dinastia Ming.
No século XIII Giotto impulsionou a técnica do muralismo , e no Renascimento surgem as obras-primas  com os afrescos da Capela Sistina, no Vaticano, por Michelangelo e a Última Ceia , de Leonardo da Vinci. Depois com o aparecimento dos vitrais e tapeçarias os murais ficaram em desuso.
Porém, os pintores modernos Picasso, Matisse, Léger, Chagall e Miró dentre outros, pintaram murais, além dos pintores muralistas mexicanos  Diego Rivera (1886-1957), David Alfaro Siqueiros (1896-1974) e José Clemente Orozco (1883-1949),que usaram seus murais para passar mensagens revolucionárias para o povo. Mas, antes deles na era pré-colombiana já se faziam murais.
Em Portugal surgiram os murais de azulejos. Aqui conhecemos em nossas igrejas barrocas baianas a arte do muralismo através dos grandes e belos murais de azulejos com composições simples e também com cenas inteiras de momentos históricos trazidos pelos portugueses. A título de curiosidade existe um desses painéis que retrata a cidade de Lisboa, antes do terremoto, no claustro da Igreja de São Francisco de Assis, no Terreiro de Jesus, em Salvador, Bahia. Lá existem muitos murais  de azulejos portugueses que grande beleza e valor histórico. Vale a pena visitar.
Já os painéis são mais comuns porque o artista pode realizar sua obra no conforto do seu atelier e depois ser transportado e fixado na parede escolhida pelo cliente. Este painel pode ser feito sobre tela, madeira, alvenaria e outros materiais. Geralmente tem grandes dimensões, como acontece com os murais, e são muito apreciados, e mais conservados porque podem ser removidos e fixados em outro local.
Mural Vida de São João Batista, óleo sobre parede de 274 x 708 cm no Parque da Cidade,RJ

PRINCIPAIS MURAIS E PAINÉIS
Vamos aqui relacionar e falar ligeiramente sobre os principais murais e painéis criados pelo grande pintor baiano Carlos Bastos, que deixou uma obra digna de ser apreciada e mais valorizada , inclusive pelo mercado tal a qualidade do seu traço, suas composições e pinturas.
No livro Carlos Bastos, editado pela construtora Odebrecht no ano 2000 estão lá os principais murais e painéis, com belas ilustrações e textos de vários críticos, escritores e jornalistas inclusive dois de minha autoria escritos em 1985 e 1996.
1- O primeiro painel foi realizado em madeira no ano de  1947 sobre o Centenário de Castro Alves, no Clube Bahiano de Tênis, e posteriormente  destruido. 
2-Murais no bar Anjo Azul chamados de Alegoria ao Anjo , óleo sobre parede com 230 x 600 cm, também destruídos.
3-Painel  Jogos Infantis ,óleo sobre madeira 259,5 x 254,5 cm, na Escola Parque em 20 de agosto de 1949.
4-Painel A Salvação , óleo sobre madeira 250 x 600 cm ,no Hotel Royer Collard, em Paris, localização atual desconhecida, realizado em 1950.
5-Mural Cortejo para São Sebastião , feito em 1951 óleo sobre parede de 350 x 450 cm o atelier do artista ,no Rio de Janeiro, atualmente coberto por uma camada de tinta.
6-Painel - em forma de biombo Alegorias, óleo sobre madeira, no Rio de Janeiro, coleção particular, em 1953.
7-Painel Mercado Modelo em Salvador, óleo sobre madeira Rio de Janeiro, 1953.
8-Mural - Chegada de uma Nobre Família Portuguesa à Bahia no século XIX, óleo sobre parte  de 400 x 800 cm , destruído,feito em 1953.
9-Mural Casal de Namorados , óleo sobre parede 250 x 300 cm , destruído,coleção particular, Salvador 1953.
10-Painel para Ruth de Almeida Prado, óleo sobre madeira , Rio de Janeiro, 1954.
11-Painel na Capela particular de Nelson Parente,Rio de Janeiro,1954.
12-Painel em forma de biombo Alegorias, óleo sobre tela de 170 x 150 cm, Salvador, 1954.
13-Mural - A Vida de Dom Quixote,restaurante Cervantes, destruído, Rio de Janeiro 1955.
14-Painel - Bahia, coleção poeta Augusto Frederico Schimidt, Rio de Janeiro, 1955.
15-Mural Casarios da Bahia, óleo sobre parede , de 350 x 450 cm pintado sobre o mural anteriormente feito pelo artista  Cortejo para São Sebastião,Copacabana, Rio de Janeiro, 1957.
16-Mural A família Bastos 350 x 1500 cm, na Fazenda Quixaba, Itaberaba, Bahia , em 1958.
17-Mural Flutuador de 250 x 1700 cm óleo sobre parede na sede da Associação Atlética da Bahia, Salvador, de 1958, destruído.
18-Mural A vida da Cidade no princípio do século XIX, óleo sobre madeira 500 x 207 cm hall do edifício Big, Praça da Inglaterra, Salvador , 1959.
19-Mural restaurante árabe ,rua Guedes de Brito, Salvador , destruído, 1959.
20-Mural no Hotel Thêmis, óleo sobre parede, destruído, de 1960.
21-Painel A Feira de Água de Meninos , óleo sobre madeira de 170 x 220 cm , coleção Maria Emília Bastos Ribeiro, Salvador, 1960.
22-Painel Ascensão de Santa Luzia , óleo sobre madeira de 300 x 250 cm , Hospital Santa Luzia, Salvador, 1960.
23-Mural  Alegoria no teto do Solar da Jaqueira, em Salvador, destruído, de  1960.
24-Painel As Quatro Estações , óleo sobre madeira coleção de Maria Aparecida Pinto Aleixo, Rio de Janeiro, 1960.
25-Mural Comércio no Porto de Salvador no Princípio do século XIX, óleo sobre parede de 410 x 2100 cm ,no Banco Bilbao Vizcaya,Salvador, 1961.
26-Mural no teto da sacristia do Convento de Santa Tereza. Óleo sobre madeira de 800 x 300 cm, de 1961 destruído.
27-Mural da sala de banho no Solar da Jaqueira , óleo sobre madeira, 300 x 250 cm , Alegoria ao Brasão da Jaqueira, destruído, Salvador, Bahia, 1961.
28-Painel Vista da Cidade do Salvador, óleo sobre madeira 110 x 221 cm , Banco Nacional, Av. Estados Unidos, Salvador, 1963.

29-Painel A Procissão óleo sobre madeira 206 x 920 cm , edf Martins Catharino, rua da Ajuda, Salvador, 1964.( Foto acima)
30-Painel O Gaúcho e a Baiana , óleo sobre madeira, Banco da Lavoura e Mercantil do Rio Grande do Sul, localização atual desconhecida, 1965.
31-Painel Natureza Morta, óleo sobre madeira 094 x 143 cm Coleção Murilo Leite, 1965.
32-Painéis Conde dos Arcos,Maria Quitéria I, Caramuru e Thomé de Souza, óleos sobre madeira de 240 x 170 cm .agência Banco Itaú, Piedade, Salvador, 1965.
33-Painel Auto-Retrato com Amigos, óleo sobre madeira 073 x 220 cm , Museu de Arte de Feira de Santana, Bahia, 1966.
34-Painel Ascensão de Cristo, óleo sobre madeira 240 x 170 cm ,Coleção Manual Tanajura, Salvador, Bahia, 1966.
35-Painel Anjo com Tocheiro , óleo sobre madeira, 300 x 200 cm Coleção Virgílio Motta Leal, Salvador, 1966.
36-Painel A Feira , óleo sobre madeira de 120 x 220 cm , Coleção Itazil Beneício dos Santos, Salvador, 1967.
37-Painel sobre biombo Baianas com Anjo, óleo sobre madeira 180 x 320 cm , de 1967, Coleção Delfim Chamadoira Vilan, Salvador.
38-Painel Piquenique à Noite, óleo sobre madeira de 111 x 222 cm, Coleção Ângelo Calomn de Sá, Salvador, 1967.
39-Painel - A Ceia de Cristo, óleo sobre madeira 120 x 220 cm Coleção Fernando Spínola, Salvador, 1967.
40-Painel Era Uma Vez , óleo sobre madeira 114 x 220 cm , Coleção do artista, Salvador, 1968.
41-Painel - O Anjo Hippie , óleo sobre madeira, 120 x 220 , localização desconhecida, 1968.
42-Mural - no teto da residência de Dilton Portela Lima, óleo sobre madeira, de 1969.
43-Painel O Cristo, óleo sobre madeira, 80 x 220 cm , Coleção Juracy Magalhães, Rio de Janeiro, 1971.
44-Murais Vida de São João Batista, óleo sobre parede 274 x 708 cm, inacabados , Capela Parque da Cidade, Rio de Janeiro, 1972.
45-Painel Casamento Hippie, óleo sobre tela 170 x 320 cm , Coleção Humberto Balby, Rio de Janeiro, 1972.
46-Painel A Procissão do Bom Jesus dos Navegantes, óleo sobre fibra de vidro, retratando 142 personalidades que levou dois anos para ser pintado, e foi destruído num incêndio em 11.11.1978, no Plenário da Assembléia Legislativa da Bahia.
47-Painel O Beijo , óleo sobre madeiram 160 x 660 cm, no Iate Clube da Bahia, 1973.
48-Painel Mosteiro de São Bento, óleo sobre madeira , 080 x 220 cm , Mosteiro de São Bento, Salvador, 1974.
49-Painel Trompe-l'oeil, óleo sobre parede, do qual resta apenas um detalhe, Galeria 13, rua Alfredo Brito,Pelourinho, Salvador, 1977.
50-Painel Auto-Retrato , óleo sobre madeiram de 220 x 160 cm, Coleção do artista, Salvador 1977.
51-Painel  Retrato de Martha Vasconcelos, óleo sobre madeira 160 x 220 cm , Coleção de Martha Vasconcelos, 1977.
52- Painel A Chegada dos Orixás na Bahia, óleo sobre tela colada sobre madeira de 293 x 480 cm, no Centro Empresarial Iguatemi, Salvador, 1979.
53-Painel O Anjo  óleo sobre tela de 110 x 210 cm, Coleção Milton Martinelli, Salvador, 1979.
54-Painel Retrato de Conceição Nunes Brook, óleo sobre tela 169 x 114 cm, Coleção Rosalva Nunes,Salvador, 1981.
55-Painel A Chegada de D. João VI na Bahia em 1808, óleo sobre madeira, 220 x 800 cm , Memorial da Faculdade de Medicina da Ufba, Salvador, de 1982.
56-Painel  A Pregação de Moisés, óleo sobre tela 169 x 114 cm, Coleção Marcus Kertzman, Salvador, 1982.
57-Painel Santo Antônio da Irmã Dulce, óleo sobre madeira, 220 x 160 cm , Salvador, 1983.
58-Painel Em Busca da Paz, óleo sobre madeira, Biblioteca Central da UFBA, campus de Ondina, Salvador,  de 180 x 160 cm, de 1983.
59-Painel Salvador Presente e Futuro, óleo sobre madeira de 80 x 220 cm, consta que estaria na Prefeitura Municipal, Salvador, mas não consegui localizar, de 1984.
60-Painel Retrato de Jorge e Zélia Amado, óleo sobre tela de 114 x 169 cm , Fundação Casa de Jorge Amado, no Pelourinho, Salvador, 1985.
61-Painel O Encanto da Sereia, óleo sobre madeira de 160 x 220 cm , Coleção Paulo José Montanha Goulart, Salvador, de 1986.
62-Painel As Quatro Estações , óleo sobre madeira , Condomínio Lac Leman, Jardim Apipema, Salvador, de 1989.
63-Painel Ascensão de Cristo, óleo sobre madeira de 440 x 160 cm , Igreja da Ascensão, Centro Administrativo da Bahia, Salvador, de 1992.
64-Painéis  São Francisco de 220 x 160 cm, Imaculada Conceição de 220 x 80 cm e São Benedito de 220 x 80 cm, todos em óleo sobre madeira, Capela de São Francisco de Assis, Fundação Garcia D'ávila, Praia do Forte ,em Mata de São João, Bahia, de 1993.
65-Painel O Presente , óleo sobre madeira 207 x 80 cm , Coleção Particular, de 1993.
66-Painel A Procissão do Bom Jesus dos Navegantes , óleo sobre madeira  1000 x 1600 cm , retratando 170 personagens no Plenário da Assembléia Legislativa da Bahia, Salvador,de 1994.
67-Painéis Os Quatro Elementos da Natureza: A Água, O Fogo , O Ar e a Terra, óleos sobre madeira  com 110 x 170 cm , Coleção do Artista, de 1966.



 






domingo, 2 de agosto de 2020

O CRIADOR DA TAPEÇARIA-MURAL NO BRASIL

        Mural que você pode apreciar no restaurante no Hotel da Bahia. Uma obra que merece ser vista por todos os baianos.
É bom sempre lembrar das pessoas que em vida construíram um legado importante, não de riqueza,  mas de arte e beleza. Num desses acasos da vida me chegou às mãos através do amigo e artista conceituado Justino Marinho  um farto material sobre a vida e obra de um dos artistas baianos mais consagrados que é o Genaro de Carvalho. Artista emblemático que já teve textos escritos enaltecendo sua criatividade por Jorge Amado,os poetas Manuel Bandeira , Augusto Frederico Schmidt e Ferreira Goulart, além de inúmeros críticos de arte importantes dentre eles o  Clarival Prado Valadares . 
Portanto, é de certa forma uma ousadia falar sobre ele depois de tantos elogios feitos por estes grandes intelectuais . Mas, aprendi durante algumas décadas de atividade jornalística diária a conviver com muita gente de alta linhagem intelectual , até mesmo de poder político e econômico. Assim, me sinto estimulado a escrever algumas palavras sobre Genaro, contribuindo para manter sempre viva a sua arte rica em cores do nosso micro universo tropical.
O artista Genaro de Carvalho
Ele nasceu num pedacinho de terra privilegiado de nossa Salvador, na Gamboa de Cima, exatamente na rua Newton Prado, 59,casa esta debruçada sobre o mar da Baía de Todos os Santos, no dia 10 de novembro de 1926, e foi batizado como Genaro Antônio Dantas de Carvalho. Aos quatro anos de idade deu uma clara demonstração que trazia consigo a vontade de criar. De posse de uma caixa do tônico , conhecido na época o Glefina ,  recortou e fez uma montagem tentando reproduzir a Ilha de Itaparica, que se descortinava no horizonte. Utilizou ainda do Azul de Metileno para colorir a sua "obra" infantil e dar-lhe mais beleza.
Em março de 1944 viaja para o Rio de Janeiro  e vai  estudar Desenho na Sociedade de Belas Artes, com o professor Henrique Cavalheira, enquanto paralelamente  cursou o  científico no Colégio Andrews. Tendo entrado em contato com a arte feita naquela época no sul do país, e mesmo no exterior, já em setembro do mesmo ano integra o grupo de artistas baianos que decidiu romper com o academicismo que tinha a Escola de Belas Artes como guardiã. Foi ai que juntamente com Carlos Bastos e Mário Cravo Jr começou a mostrar sua arte com elementos do modernismo. Depois de realizar duas exposições no Rio de Janeiro , só no ano de 1947 expõe pela primeira vez individualmente na Bahia, na Biblioteca Pública de Salvador, e no ano seguinte na icônica Boite Anjo Azul.
Os tapetes de Genaro são
inconfundíveis.
Ganha uma bolsa de estudos e vai para Paris  sendo aluno de André Lhote e da École National de Beaux Arts de Paris. Ao terminar a bolsa decidiu percorrer a Itália para ver de perto os clássicos. Voltando assinou uma coluna no então Jornal da Bahia  chamada de Pintura onde discorreu sobre importantes artistas entre eles Van Gogh ( 1853-1890),(Winslow Homer,(1836-1910) Paul Cézanne ( 1839-1906), Maurice Utrillo ( 1883-1955), Georges Rouault,(1871-1958), Georges  Braque (1862-1963), e Paul Gauguin,(1848-1903) dentre outros .
Foi nesta viagem à Europa que descobriu os tapetes e em particular a tapeçaria-mural. Mostrou seu primeiro tapete ainda em Paris na Galeria Mai denominada Plantas Tropicais. 
Em 1950  ao regressar participou da 1a. Bienal de São Paulo, e pintou em afresco seco, os murais do Hotel da Bahia, que denominou de Festas Regionais de 200 metros quadrados , que lhe consumiu dois anos e meio de trabalho.
Fez dezenas de exposições aqui e no exterior e tem obras espalhadas em vários museus brasileiros  e de outros países , além de estar presente em coleções particulares importantes.
Está na coleção Plásticos da Bahia editado pelo professor Junot Silveira, na época Diretor da IOB, que editava o Diário Oficial da Bahia, e depois se transformou na Empresa Gráfica da Bahia. A apresentação é de Jorge Amado que à certa altura escreve : "Estamos diante de um artista em plena maturidade criadora ou seja , no instante do completo domínio de seu ofício, quando tudo se torna mais difícil,mais duramente conquistado, quando a obra se realiza numa complexidade de buscas e de soluções. " E em outro trecho diz : "Sua tapeçaria nasce da pintura , uma pintura que é a luz da Bahia e sua sabedoria popular".
 
                          ENCONTRO
Desenho de Dona Flor
Num domingo pela manhã saí com a família para dar uma volta no Campo Grande. Nesta ocasião morava na Rua Sabino Silva, no bairro do Chame Chame . Depois de apreciar a beleza do monumento da Independência da Bahia, conhecido por monumento ao Caboclo, resolvemos ir até o Passeio Público. Ao chegar nas imediações do Hotel da Bahia, na calçada do lado oposto, avistamos uma casa que estava com as portas abertas e nas paredes muitos pequenos quadros expostos. Resolvemos entrar e ninguém menos estava ali sentado com uma pequena faca nas mãos e uma batata. Era o artista Genaro de Carvalho que naquele momento estava fazendo suas pesquisas para criar uma nova tapeçaria. Conversamos alguns instantes e ele sempre calmo e disposto a explicar para aquelas pessoas estranhas e curiosas , embora não conhecessem quase nada da arte da tapeçaria. Se este encontro tivesse ocorrido recentemente certamente estaria aqui publicando algumas fotos.Mas, na época poucas pessoas dispunham de máquina fotográfica, e claro o celular não existia.
Outra curiosidade sobre Genaro é que  tinha muito cuidado em preservar as mulheres da Ilha de Itaparica que teciam os seus tapetes. Alguns dizem que ele mantinha um certo mistério e não gostava muito de falar sobre elas para evitar que outras pessoas as procurassem para tecer  tapetes. Mas, um galerista famoso na época descobriu o "segredo" e passou a fazer tapetes e procurou as tecelãs da Ilha.
Não se sabe o desfecho final, mas o galerista, e também tapeceiro, continuou sua jornada. Porém, os
Tapetes com frutos e
folhas.
tapetes de Genaro de Carvalho têm uma marca própria pelas suas composições e cores especiais. É fácil reconhecer um tapete de sua autoria pelos desenhos de folhas, flores ,borboletas e outros elementos tropicais, é é claro pela composição e o colorido . Até hoje é o melhor e mais famoso tapeceiro do Brasil.
Também, é bom lembrar que  fazia suas pinturas em cartões que enviava para as tecelãs e costumava acompanhar o trabalho com muito zelo. Muitos destes originais  emoldurava e colocava nas paredes de sua casa. Além disto Genaro era um exímio desenhista , e para finalizar algumas palavras do artista que estão no catálogo da exposição que fez na Galeria Astréia, em São Paulo :"A arte que faço é uma arte de amor,sempre foi.Faço porque gosto, e desejo que outros gostem também.Nunca foi nem será uma arte hermética,não é uma arte de revolta nem uma arte de protesto,mas isso não quer dizer que esteja de acordo com as dores do mundo contemporâneo".Isto foi em dezembro de 1968.