Segundo uma fonte primária ,que tinha acesso ao apartamento do pintor, ele montou uma espécie de
cabana na sala onde colocou seu cavalete . Para trabalhar abria uma bíblia e ficava lendo e pintando. De quando em vez cantarolava alguma coisa. Suas roupas de preferência eram escuras , principalmente de cor preta.
Colhi outro depoimento de uma pessoa que tinha um escritório no edifício Shalom, que fica na Avenida
Sete de Setembro, trecho do Rosário, onde também morou o artista , que me disse que o Raimundo de Oliveira tinha realmente um comportamento estranho. Várias vezes quando a noite ia caindo ele se vestia de preto e saía cantalorando umas cantigas indecifráveis. Como não o conheci pessoalmente fico com estes depoimentos de pessoas que mantiveram contatos com este artista singular.Raimundo deixou um legado importante, e sua produção artística é conhecida e valorizada não apenas no Brasil como também no exterior. Uma arte marcada por sua religiosidade que lhe foi transmitida por sua mãe d. Santa, com a qual tinha uma ligação muito forte.Foto de Raimundo com largo sorriso em seu atelier em São Paulo, fotografado por Gerard Loeb.
Escreveu o saudoso professor Edvaldo Boaventura , conterrâneo e contemporâneo em Feira de Santana, no livro Raimundo de Oliveira, editado em 1982, o qual me foi presenteado pelo amigo e grande artista Wasghinton Sales. Vejam: "Habituei-me desde muito cedo, ao tempo em que criança morava na Praça da Matriz a ver Raimundo, sempre de calça e paletó escuros e aparentando mais idade do que realmente tinha, a passar bem devagar conduzindo pelo braço de D. Santa. Vinham mãe e filho pelo Beco de Santana, atravessavam o largo em cadência lenta e ritimada e entravam na Matriz pelo portão da frente".Em 1954 sua mãe faleceu ,o que representou uma grande perda para ele.
Sua participação nos movimentos de arte em Salvador começam a aparecer. Em 1951 integrou algumas coletivas ; do III Salão Baiano de Artes Plásticas e do 1º Salão Universitário Baiano.Sua primeira exposição em Salvador foi na Galeria Oxumaré e ele imprimiu alguns cartazes em preto e branco que foram colocados na Avenida Sete de Setembro anunciando a sua mostra. Isto até hoje é uma coisa inédita. Nunca vi cartazes expostos nas ruas de uma exposição. Nesta mostra apresentou desenhos e pinturas e agradou aos críticos de arte da época.Em 1954 sua mãe faleceu ,o que representou uma grande perda para ele.
Raimundo nasceu em 24 de abril de 1930 na cidade de Feira de Santana . Já adulto veio morar no Rio Vermelho, depois na Avenida Sete, e finalmente no Hotel São Bento, no Largo do mesmo nome onde foi encontrado morto três dias depois no dia 16 de janeiro de 1966. Segundo o laudo policial teria se suicidado, aos 36 anos de idade. Foto "Os Israelitas volta a Jerusalém",col Oswaldo Chateaubriuand, de 19
Raimundo sofreu provações como alguns personagens de suas pinturas bíblicas. Ele enfrentou problemas psíquicos que sempre levam as pessoas acometidas dessas doenças ao sofrimento e falta de perspectiva. Embora filho de um comerciante de boa situação econômica e nem mesmo sua religiosidade foram capazes que vencer a depressão. Portanto, Raimundo Falcão de Oliveira partiu com sua arte mística de traços largos e cores às vezes escuras e vibrantes. Deixou uma arte inconfundível .
Quando fez sua exposição em Paris o crítico francês Jacques Lassaigne escreveu :"O caso mais estranho é talvez o do jovem Raimundo de Oliveira, que prova que não é somente para os homens de antigamente que o recurso ao passado é fecundo. Ele se inspirou nas lendas religiosas e inventa uma espécie de Bíblia historiada em miniatura dignas dos manuscritos e os bordados coptos e, entretanto , de uma absoluta modernidade".Lembro que o artista Hansen Bahia esteve na Etiopia com o Imperador Hailé Selassié .Sua coroaçãofoi um evento esplêndido e contou com a presença de autoridades do mundo todo,e foi homenageado com uma música de Bob Marley. Hansen trouxe alguns tecidos com estampas e outros materiais onde apareciam figuras bíblicas bem parecidas com as que Raimundo de Oliveira pintou, e também o próprio Hansen esculpiu , em algumas de suas xilogravuras. Selassié dirigiu a Etiopia de 1916 a 1974. Ele nasceu em 1892 e foi assassinado em 27 de agosto de 1975. É até hoje reverenciado pelos rastafáris que acreditam no Deus Jah. Foto obra da col de Reynivaldo Brito.
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