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sábado, 29 de julho de 2023

LÍGIA AGUIAR A ARTISTA DE MUITAS EXPERIÊNCIAS

Foto 1. Lígia Aguiar em foto atual. Foto 2. -
Lígia em 2010 quando fez 40 anos de arte.
Foto 3. Lígia nos anos 80.
Estou diante de uma artista multimídia que transita com maestria em diferentes segmentos da arte. Usa várias linguagens para se expressar como a cenografia, o figurino, a fotografia, instalação, vídeo arte, desenho gráfico, pintura e até a escultura. Tem experiência em televisão e em 2007 produziu seu primeiro vídeoarte recebendo o prêmio de Melhor Filme Experimental, no Percepções - Festival de Cinema e Vídeo de Muriaé, Minas Gerais. Enfim, uma artista que tem uma produção de qualidade e profícua e continua criando sem parar. Basta dizer que há oito anos vem fotografando o pôr do sol da janela de seu apartamento para depois escolher e realizar uma exposição dessas fotografias. Seu nome é Lígia Aguiar nasceu no Pelourinho, formou-se em Belas Artes em 1981 e de lá para cá vem trabalhando com muita disposição e vitalidade. Trabalhou mais de uma década no teatro produzindo cenários e figurinos. Lamenta ter se afastado do teatro porque as dificuldades de remuneração dos que produzem peças teatrais é muito complicada porque sempre há falta de dinheiro. Na sua opinião não existe um apoio de empresas e mesmo governamental para patrocinar como deveriam as produções teatrais. Foi proprietária da Galeria de Arte Abaporu de 1993 a 1998, no Pelourinho, na casa número 7, onde morou depois e por muitos anos funcionou o Cartório de Registro Civil do Paço do qual seu pai era titular. De 1986 a 1988 chefiou o Núcleo de Cenografia da Tv Educativa da Bahia, onde fez cenários, figurinos, clips poéticos e depois dirigiu programas 5 Minutos e TV Revista até 1995.

Duas obras da série Viva o Povo Brasileiro.
Participou de várias exposições aqui em outros estados e países entre os quais França, Espanha, Alemanha e Estados Unidos.  Casou-se e foi morar em Ilhéus e depois vieram morar em Salvador. Sua mãe e a sogra a incentivaram a se inscrever no vestibular de Jornalismo sem comunicar ao marido, que estava fazendo um curso no Rio de Janeiro, promovido pela Petrobras, empresa onde trabalhava. Se inscreveu, mas infelizmente teve que abandonar porque o marido ficou muito aborrecido e não permitiu que continuasse estudando. Trabalhou quando jovem no cartório do pai transcrevendo as certidões e outros documentos "por isto que até hoje tenho uma letra bonita". Como tinha algum conhecimento de Inglês fez um teste no IURAM, que era um órgão ligado à Secretaria de Planejamento, do Governo do Estado. No Governo de Roberto Santos (1975-1979) trabalhou na Secretaria de Transportes e Comunicações do Estado com o então engenheiro Wellington Figueiredo, que acabara de chegar de uma especialização nos Estados Unidos e foi convidado a assumir a pasta. Só em 1976 depois de se divorciar conseguiu ingressar na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. "Foi aí que vi que era meu meio." Recebeu dois  prêmios com os viodeoartes Água, que aborda o desperdício da ágiua no país,  no Festival de Muriaé, em Minas Gerais, e  Re-Produzidas , no Festival de Cinema Internacional se Arraial D'Ajuda , na Bahia, em 2010. Ela reconhece que estas premiações foram importantes porque abriram muitas portas .

                                                                   QUEM É 

Lígia durante a entrevista em seu apartamento na Amaralina.
Ligia Aguiar faz questão de dizer que "sou menina do Pelô porque nasci na casa de número 8, e o cartório que meu pai era titular ficava na de número 7, defronte e .  Nasceu em 12 de outubro de 1950 e viveu sua infância no Pelourinho juntamente com seus oito irmãos. Lembra que seus padrinhos Eduardo Fahel e sua esposa d. Alzira moravam ali também, eram árabes, e tinham uma loja de miudezas localizada nas imediações da igreja da Conceição da Praia. Tinham muitos imigrantes árabes, italianos e até russos morando no Pelourinho. Diz que vivia neste meio e lembrou do nome da russa d. Clara. Eram muitos imigrantes que aqui chegavam sem quase bens nenhum fugindo da guerra e aqui se estabeleciam. Mostra uma cicatriz que adquiriu de uma queda que tomou na infância e bateu com o nariz numa pedra que tem no Pelourinho marcando o lugar onde era fincado um poste de madeira para  os escravos serem presos e açoitados durante a triste página da escravidão em nosso país. Lembrou também do seu vizinho sr. Tanure que vendia comidas árabes e com isto em sua casa sua mãe aprendeu a fazer e lá comprava um docinho que chamava de açúcar cândi, que ela encontra todas às vezes que vai à São Paulo e visita o Mercadão.  Este açúcar cândi ainda é comercializado e consiste num pequeno tablete quadrado, duro, que vai se dissolvendo lentamente e liberando sua doçura, e é ideal para adoçar em cafés e chás. Estudou na escola da professora Epifânia da Silva, que funcionava nas dependências da igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos. Ela
Foto 1. Galeria Abaporu  e sua fachada.
Foto 2. Uma visão interna da galeria.
Foto 3. Detalhe do convite padrão .

usava uma palmatória para castigar os alunos desobedientes e que faziam alguma traquinagem. Lembra que era uma senhora mulata "usava uma peruca que parecia uma bucha e saia rodada". Quando estava aborrecida costumava girar com sua saia rodada.  Depois os pais mudaram da Casa número 7, no Pelô, para no Santo António Além do Carmo, próximo a Cruz do Pascoal, e fui estudar na Escola Olímpio Cruz. Fez o exame de Admissão, que na época era exigido para entrar no ginásio .Como tinha apenas dez anos não pode entrar porque só entrava com 12 anos completos. Foram morar na Avenida Sete de Setembro, e  estudar no Colégio Ipiranga, que funcionava na Ladeira do Sodré, e depois estudou no Colégio Nossa Senhora da Salete. Disse que a madre diretora do colégio ficava na entrada sentada numa cadeira e quando as meninas iam chegando eram obrigadas a fazer uma circunflexão e dizer Bon jour ma mère. Segundo ela a madre era tão rígida que depois de muitas reclamações das famílias foi mandada de volta para a França, seu país de origem.

Paisagens feitas em nanquim sobre tela.
Como foram morar na Avenida Sete de Setembro ela conheceu o seu futuro marido que era da turma da Piedade. Naquela época em cada bairro ou localidade formavam as turmas que eram muito unidas e sempre faziam arruaças e brigavam. A turma da Piedade saia para brigar no Campo da Pólvora, a da Ribeira com a da Baixa do Bonfim, e assim por diante. No Campo da Pólvora tinha o famoso Berereco e na Piedade o Habib, e na Ribeira o Carmel. Os três eram bons de briga e muito respeitados nas turmas. Foi aí que seus país não aceitavam o relacionamento com "um moleque da Piedade", mas ela insistiu e se casou. Entre namoro, noivado e casamento o relacionamento durou dezessete anos, e não tiveram filhos. Como Ligia Aguiar insistia em estudar o desentendimento chegou ao limite e se separaram, o ex-marido já faleceu.  Disse que certo dia foi com sua mãe na Rua Carlos Gomes, em Salvador, e entraram numa loja que vendia tintas para pintura. Ela perguntou a um vendedor quais os materiais que necessitava para começar a pintar. Ele separou pincéis, tintas e outros materiais e sua mãe comprou e ela começou a desenhar com mais afinco. Lembra que quem primeiro a incentivou foi uma colega do curso de ginásio chamada Deise de Castro, que sabia desenhar . Tem uma imensa gratidão ao artista Paulo Rufino eacrecenta que "foi ele quem me introduziu no mundo das artes meensinando e falando sobre a História das Artes  etc."

Cartão de Natal que fez para
a Secretaria de Transportes.
Lígia fez um teste e foi trabalhar na Secretaria de Transportes e Comunicações secretariando o titular Wellington Figueiredo, e em 1976 é aprovada pela Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Ele permitiu que ela estudasse e na época virou hippie. Para trabalhar pediu ao secretário uma farda e assim quando ia para a secretaria passava por uma verdadeira transformação. Prendia os cabelos, usava um conjunto de saia e blusão e sapatos altos. Logo que chegava à Escola de Belas Artes soltava e assanhava os cabelos, vestia roupas de hippie e pegava sua bolsa de couro. Conta dando gargalhada. Outra lembrança foi que durante alguns anos ela e a colega Sonia Regina Caldas sugeriram fazer os cartões de Natal de algumas secretarias e outros órgãos do Estado com desenhos inéditos e relacionados com cada uma das instituições. A sugestão foi  aceita e segundo Lígia Aguiar " na época ganhamos  um bom dinheiro". Disse que o pai trabalhava no Cartório  e era amigo do escritor Jorge Amado, do psiquiatra Rubim de Pinho e outros comunistas da época e que chegou a ser preso. Os amigos interferiram e conseguiram que o cartório ficasse sendo tocado por uma irmã que era de menor idade enquanto o pai estivesse  preso para sustentar  sua mãe e os nove filhos . Durante o governo de Antônio Carlos Magalhães os cartórios passaram a ser do Governo do Estado e mais recentemente voltaram a ser particulares, porém, sua irmã chegou à idade limite teve que se aposentar, e perdeu o dominio do Cartório. 

                                                    EXPOSIÇÕES

Catálogo da Exposição nos Correios comemorando
os seus quarenta anos dedicados às artes.
Já fez dezenas de exposições individuais e participou de mais de noventa entre elas a  saber: 2010 - Ligia Aguiar 4.0 , no Centro Cultural dos Correios, em Salvador; 2010-selecionada para a X Bienal do Recôncavo, com o videoarte RE-Produzidas; 2009 - Exposição 2.234 -Movimento pela Paz, no Casarão Santo Antônio, Salvador; 2009 - Participação da Mostra Artefacto, ambiente arquiteto Décio Viana; Participação Mostra Morar Mais com Menos ,em Salvador; Participação no Festival Nacional de Curtas Metragens do Vale do São Francisco, no Centro de Cultura João Gilberto, em Juazeiro, na Bahia; Exposição Arte Comestível em Feira de Santana, Bahia, no Centro Cultural Amélio Amorim; 2008 - Exposição A Mão Afro da Bahia, painel de pinturas em pequenos formatos, no Teatro do IRDEB, em Salvador; 2008 - Selecionada para participar do Eco Bahia - Festival Internacional de Audiovisual Ambiental, com seu videoarte Água; 2008 -Selecionada para o I Mostra Nacional de Cinema Ambiental e Eco Cidadania, nas cidades do Crato e Juazeiro do Norte, no Ceará; 2008 - Exposição Arte Comestível na Galeria Buffone Arte Contemporânea; Exposição Grandes Artistas Pintam a Bahia em Pequeno Formato, coletiva no Museu Regional de Feira de Santana, Bahia; Exposição coletiva em Prol do Artista Chico Diabo, no EBEC Galeria de Arte; 2007 - Prêmio melhor vídeo Experimental no Percepções - Festival de Cinema e Vídeo de Muriaé - Minas Gerais; Coletiva Circuito das Artes na ACBEU; Coletiva Mulheres em Movimento, comemorativa dos 130 anos da Escola de Belas Artes; Exposição em homenagem ao cineasta Agnaldo Siri Azevedo; Exposição Afetos Roubados no Tempo, exposição itinerante ,reunindo 730 artesãos e artistas de diversos países da CEF Cultural em Salvador; Coletiva em homenagem a Matilde Mattos, no EBEC; 2006 - Participação no Painel Sobre a Peça Teatral Murmúrios ,;Participação do Painel na Sede do Detran, Bahia; 2005 - Coletiva em Homenagem ao Dia Internacional da Mulher em Lauro de Freitas, Bahia; P2004 - Participação na IV Mostra de Banheiros  - Banho de Arte, em Salvador; 2003 - Exposição Nós Mulheres, na EBEC Galeria de Arte; 2002 - Coletiva o Sol do Vila, comemorativa dos 4 anos do novo Teatro Vila Velha; 2002 - Coletiva em Prol do Hospital Martagão Gesteira, em Salvador; 2001- Coletiva Itinerante 70 Artistas , em Porto, Portugal; 2201 - Coletiva Gestos de Paz, Salvador; 2000 - Participação Painel 80 artistas Plásticos Baianos, Salvador; 2000 - Coletiva Galeria Cuca, em Feira de Santana, Bahia; Coletiva no MAM em Prol da Casa da Criança com Câncer, em
Pintura de uma gordinha , 1986,
de sua exposição em Brasília.
Salvador; 1999 - Coletiva 100 Artistas Baianos , no Museu de Arte Sacra, em Salvador; Exposição Arte-Arte Salvador 450 anos, no Paço Imperial, no Rio de Janeiro Anos  e no Museu de Arte Moderna da Bahia, comemorativa aos 450 anos da Cidade do Salvador; 1998 - 1ª Exposição de Arte Contemporânea , no Espaço Cultural do Forte de Monte  Serrat, em Salvador; 1998- Exposição no Espaço Cultural Bonna Pizza, em Salvador; 1998 - Instalação Altares de Santo Antônio na Escola de |Belas Artes, Salvador;1998 - Coletiva Tropicália no Museu de Arte Moderna da Bahia ; 1997 - Coletiva de Verão na Galeria de Arte Abaporu, em Salvador; Exposição Um Brinde ao Café , no Espaço Cafelier, em Salvador; 1997 - Instalação Pão de Santo Antônio! na mostra Tempo , Amor e Tradição, na Galeria Cañizares, Salvador; 1997 - Exposição Quando a Pizza é Arte, no Espaço de Arte Bonna Pizza, em Salvador; 1997 - Exposição Bahia de Todas as Cores  ,em Goiânia, Goiás ; 1996 - Coletiva Pinte no Pelô , no Segundo Festival de Arte do SEBRAE, em Salvador; 1996 - Coletiva na Galeria Abaporu, em Salvador; 1995 - Coletiva de Verão na Galeria Abaporu, Salvador; Sala Especial, Introdutória à Exposição sobre Candomblé no Musée de Art Naif de L'ille de France, Paris, França; 1995- Coletiva na Empresa Thomson, Paris, França; Participação no I Festival de Artes Visuais no Pelourinho, Salvador; Coletiva Artistas Pintam a Primavera, na Galeria Abaporu, em Salvador;1995 - Coletiva Nossa Senhora da Boa Morte, na Casa Jorge Amado, em Salvador; 1994 - Individual Le Sacré et Le Profane, no Aquarela - Bistrô Brésilien, Paris, França; 1994 - Coletiva  no Dia Internacional da
Foto 1 - Trípico Cabeças I, II e III. Foto 2 - obra em
nanquim sobre tela . Foto 3 - Paisagem -em nanquim.

Mulher, Fundação Gregório de Mattos, Salvador; Coletiva Brasil, Pequenos Formatos, Poucas Palavras, Galeria Documenta, São Paulo; Coletiva de Inauguração da Galeria de Arte Abaporu, Salvador; 1988 - Projeto Verão no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador; 1988 - Coletiva Galeria Fazarte, Salvador; 19988 - Coletiva A Criança na Visão do Adulto, no foyer do Teatro Castro Alves, Salvador; 1988 - Coletiva no Espaço Xis, Fundação Cultural da Bahia, Salvador; 1988 - Participação no Painel nas Dependências da Fundação Cultural da Bahia; 1987 - Coletiva na Galeria Fazarte, Salvador; 1986 - Exposição Individual Desenhos & Pinturas, no Instituto do Livro, em Brasília; Exposição de Desenhos & Pinturas na Galeria de Eventos Bonvivant, em Salvador ; 1983 - Mostra no Encontro de Lojistas do Norte e Nordeste, em Salvador; 1983 - Leilão de Arte promovido por Luiz Caetano Queiroz, no Hotel Meridien, em Salvador; 1982 - Coletiva da Oficina de Gravura do Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador; Exposição no III Congresso de Desenho e Plástica, em Salvador; 1982 - Exposição Desenhos, na Galeria O
 Cavalete, Salvador; 1981 - Mostra coletiva Desenho & Óleo, em Itabuna, Bahia; Exposição no Congresso de Cores, no Centro de Convenções da Bahia; 1981 - Coletiva Bahia de Todos os Santos, no Museu de Arte Moderna da Bahia, em Salvador; 1981 - I Leilão de Arte da Galeria O Cavalete, no Clube Bahiano de Tênis, em Salvador; 1980 - Festival de Arte da Bahia, na Galeria Cañizares, em Salvador; 19980 - Exposição Coletiva Eparrei, na Galeria do Instituto Mauá, em Salvador; 1979 - Coletiva Simbiose, na Galeria Eucatexpo, em Salvador; 1979 - I Salão Universitário de Feira de Santana, Bahia; 1979 - Coletiva Seres , no Instituto Cultural Brasil - Alemanha, em Salvador; 1979 - Exposição Coletiva Cadastro, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Salvador;1978 - I Semana Experimental de Arte, na Escola de Belas Artes, da UFBA, Salvador;1977 - Exposição Didática, na Escola de Belas Artes da UFBA, Salvador; 1976 - I Exposição de Arte Experimental, na Escola de Belas Artes da UFBA, Salvador; 1971 - II Salão de Estreantes, na Galeria Panorama, em Salvador ; 1970 - I Salão de Estreantes, na Galeria Panorama, Salvador.

                                                             REFERÊNCIAS

Obra Adão e Eva  em nanquim
sobre papel, de 1976
.
Entre muitas referências de críticos e outros intelectuais transcrevo algumas delas e um poema escrito por seu pai em 1970 para ela. Vejamos: “À Uma Autodidata, foi o título do soneto de Aloísio Aguiar: “Executas em tinta? / Pintas em musica? / Do Tempo, na tela a pátina / se rendilha, musica. / Ritmo próprio, num crescendo de poesia. / Que sabes de tinta, Lígia / e tão íntima dela te mostra? / Desenho, composição, não / Imposição.../ da cor, tom e valor. / Mesmo que mudes a rota ou te baste / A singeleza inicial, adulta / o toque tema da manhã, ah, / Todo por de sol tem algo de auroral.”

 O Diretor de Teatro Márcio Meireles escreveu em abril de 1986: "Somos sempre obcecados por uma das faces de um dos espelhos que nos refletem: namoramos sempre a mesmas pessoas ainda que mudemos constantemente de parceiro, seguimos sempre os mesmos passos, contamos sempre, infinitamente, a mesma história. A nós, artistas foi dado o privilégio de colocar essa face do espelho que reflete a nossa alma, de frente para a plateia, tornar pública nossa obsessão. Assim encontramos nossos irmãos, os que se perderam de nós na torre de Babel, mas que ainda falam nossa língua primitiva. Generosamente também permitimos, no nosso espelho particular, o reencontro do mundo. O reagrupamento das partes num todo novo. Ligia Aguiar talvez seja um pouco mais generosa, ela se dá. Se mostra nuinha nas gordinhas sensuais, que desenha como quem sorri, que pinta como quem desenham que mostra como quem diz que as coisas podem ser mais fáceis. É só tentar. Nesse espelho, em que Lígia se reflete, poderíamos nos perder em fantasias, não fosse tão claro o caminho que ela mostra. Um caminho que, cansado de ser moderno, prefere a eternidade. E na eternidade dos colos, com cheiro de manga, de suas criaturas e criadora nos embala. "Ai, quem me dera...". É o que nos restas suspirar!"

Capas  de sua autoria de livros de amigos escritores.
Já seu amigo e colega Paulo Rufino em 2008 escreveu: "Utilizando-se do bico de pena, uma técnica de difícil domínio, ainda mais, sobre tela, Lígia Aguiar consegue desenvolver um trabalho forte, expressivo e original. Por sua particular sensibilidade, aliada a um apuro técnico, ao lado de um grande exercício plástico, as formas surgem delineando um trabalho incomum, na utilização das cores e nas referências à história da arte, verdadeiro na sua contemporaneidade".

O artista e psiquiatra César Romero escreveu em também em 2008 com o título Fragmentos da Vida: "De todo coração Ligia Aguiar reúne quarenta anos de seus guardados e os põe a exposição pública. Nesta nudez mostra sua pluralidade como artista, entendendo que o ofício não se restringe a uma só linguagem, nem escolas. Pode o artista se notabilizar por uma ou outra técnica, mas a essência são as possibilidades do fazer sensível. Diz-se de Picasso um pintor, mas foi capaz de construir uma trajetória com inúmeras técnicas, sendo magistral em todas. Era um artista. O mais importante do Século XX. Uma produção imensa, que nunca diminuiu seu valor de mercado. Lígia numa postura contemporânea trabalhou em desenho, aquarela, pastel, pintura, gravura, azulejo, escultura, fotografia, vídeo, cenografia e figurino. Versátil. Na formatação e sua trajetória referências do barroco pop-art, cubismo, surrealismo, abstracionismo. Este acúmulo de técnicas e escolas, lhe permitiu experimentos. O todo da carreira de um artista, são os fragmentos. Nas adições e adoções Lígia Aguiar realiza sua trajetória de segura pessoalidade ".....

 

sábado, 22 de julho de 2023

ANA MARIA VILLAR A PROTETORA DAS OBRAS DE ARTE

Foto 1. Ana Maria Villar em foto .
atual . Foto 2 . Numa exposição .
 Foto 3 - Em 1989
.
Manter e conservar o patrimônio e bens culturais requer do seu proprietário ou gestor público sensibilidade e conhecimento da importância que representam para si e para a sociedade, porque é através deles que conhecemos a história e tudo que a envolve.  Isto pode ser feito com a arte, as tradições, e os saberes disseminados entre a população. Portanto, é de suma importância a preservação e valorização desses elementos históricos e culturais para preservar viva a identidade do povo daquela localidade ou país. É o exercício da cidadania e para isto é preciso atentar para a necessidade muitas vezes de intervenções que venham restituir e prorrogar a existência daquele patrimônio. É imprescindível que seja restaurado através de intervenções pontuais que são feitas por especialistas devidamente treinados e capacitados, como é o caso de Ana Maria Villar Leite que há anos vem se dedicando a salvar o nosso patrimônio histórico e cultural. As intervenções objetivam dar ao objeto do restauro suas características originais, sempre mantendo a identidade da época em que foi concebido e adaptando a um contexto atual quando necessário.

Fotos 1 e 2 -monumento Riachuelo que foi
restaurado. Foto 3. Equipe de restauração
 em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
A artista Ana Maria Villar foi responsável juntamente com sua equipe da qual faz
parte seu filho e arquiteto Álvaro Villar pela restauração do majestoso monumento a Riachuelo que fica em frente ao prédio da Associação Comercial da Bahia, na Cidade Baixa, em Salvador, de várias igrejas, de prédios e obras de arte aqui, em Petrópolis, no estado do Rio de Janeiro; Penedo, em Alagoas, e em outros estados. Aqui restaurou vários monumentos pertencentes a Cúria Metropolitana onde trabalhou vários anos. Por outro lado, ensinou algumas disciplinas na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, da qual foi diretora, e paralelamente continuava produzindo sua arte e fazendo algumas exposições. Durante a pandemia aproveitou para fazer uma série de aquarelas de flores e barcos as quais revelam o seu talento e a sua sensibilidade .

                                                                 QUEM É 

Ana Maria com obra da artista  Maria Polo .
A Ana Maria Villar Leite, ou Ana Maria Villar nasceu em Salvador em 23 de abril de 1942, filha de Adir Alves Leite e Margarida Villar Leite. Estudou seu curso primário e ginasial no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, conhecido como o Colégio d. Afrísia Santiago fundado por ela em 1927, que funcionava naquele casarão que ainda existe e foi restaurado e ocupado pelo Ministério Público Estadual, bem no alto da Ladeira da Fonte Nova. Ao terminar o ginásio foi fazer o teste para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, sendo diplomada em 1957, que funcionava num belo casarão na Rua 28 de Setembro, que hoje pertence a Prefeitura e está sendo usado como depósito de materiais. Lembra que conhecidos e parentes censuravam que ela tão jovem estava indo estudar na Escola de Belas Arte - EBA localizada numa rua frequentada por prostitutas e malandros. Disse que as vezes a pressão era tão grande que chorava, mas que permanecia firme com seu ideal de fazer Belas Artes. Já formada fez o concurso público para professora da EBA para a disciplina Conservação e Restauração de Bens Culturais. Disse que fez a prova e foi aprovada. Teve como professores  Newton Silva, Raymundo Aguiar, Alberto Valença, professor de modelo vivo, dentre outros . “Trabalhávamos com carvão e aprendíamos muito a desenhar e depois subíamos para o ateliê. Era hora de pintar. Tudo isto era realizado num ambiente muito respeitoso e só entravam os alunos e professores porque era aula de modelo vivo.” Fez a pós-graduação em Especialista em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis na Escola de Belas Artes concluindo em 1980. Tem vários diplomas de cursos de restauro ministrados por especialistas italianos, americanos aqui e no exterior.

Detalhes de aquarelas de barcos de Ana Maria.
Ministrou aulas no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da UCSAL; na
UNIFACS no curso de Graduação Gestão e Design da Moda, a disciplina História da Arte e no Curso de Graduação Educação Artística com Ênfase em Composição Gráfica a disciplina Teoria e Técnica de Pintura. Na Escola de Belas Artes da UFBA ensinou as disciplinas Teoria e Técnica de Pintura, História da Arte Universal e História da Arte no Brasil. Ministrou o curso de Reciclagem de profissionais graduados em Restauração de Tela e obras de Arte em Papel para atuarem no acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia - MAMB, em 1994. Aposentou-se da Escola de Belas Artes em 1992. Ministrou aulas no Centro Educacional Sophia Costa Pinto de 1954 a 1979, no Instituto Valença de 1957 a 1970 e no Colégio Nossa Senhora do Carmo de 1959 a 1973.

Lembrou que seu pai era muito previdente e como não tinha cursado o segundo grau, pois naquela época não era exigido pela Escola de Belas Artes foi aconselhada a cursar. Então foi fazer o científico no Colégio Ypiranga. Neste ínterim casou e teve quatro filhos e um dia encontrou-se com a colega Yeda Maria que lhe informou que haveria concurso para professor da Escola de Belas Artes. “Resolvi procurar juntar meus títulos e outros documentos e me inscrevi”, adiantou Ana Maria Villar. Disse que a prova era feita dessa forma. “Era sorteado um ponto que você mesma tirava num recipiente onde estavam todos os pontos na presença dos demais candidatos e professores e alguém da banca examinadora anunciava o ponto que você ia escrever. Depois tinha que ler o que escreveu para apreciação da banca examinadora. Tirei uma boa nota na parte técnica, embora nos títulos não tenha me saído muito bem. Examinar durante o concurso uma obra com raios ultra vermelhos, ultravioleta onde se consegue ver se a obra já foi ou não restaurada, e com raio X onde você enxerga até o desenho que o artista fez para pintar aquela obra. Aí me saí muito bem na parte técnica”, disse Ana Maria Villar.

Detalhes de Flores de autoria de Ana Maria.
A restauradora e artista Ana Maria Villar acrescentou que para usar o Raio X muitas vezes eles precisam conseguir junto a Faculdade de Medicina para que possam restaurar com mais precisão uma obra de arte. Ela revelou “que é um trabalho muito técnico e de responsabilidade porque muitas vezes estas obras têm um valor monetário, histórico e cultural muito expressivos. Com o Raio X de uma imagem por exemplo, a gente vê onde o cupim estragou e assim podemos traçar a estratégia de como devemos proceder para restaurá-la com precisão. Isto é muito importante”. É  exigente em seu trabalho e reclama que às vezes resolve não participar de determinados editais de concorrências que se baseiam em menor preço porque não permitem um trabalho de qualidade na restauração e uma remuneração justa. Aí exemplificou que “as igrejas baianas têm a presença de ouro nas suas ornamentações e este ouro é de 23 quilates. É muito cara uma folha deste material. Ela é tão fininha que a gente evita respirar para não a danificar. Quando participo coloco o ouro de 23 quilates, como deve ser, e assim muitas vezes saio em desvantagem porque com o menor preço às vezes não dá para cobrir os preços dos materiais, da mão de obra e a remuneração justa do nosso trabalho. Aí tenho me recusado a participar de algumas concorrências. Uma das coisas que Ana Maria Villar chama a atenção é que os bens culturais feitos em metais são muito atacados pela ferrugem e que é importante cuidar logo porque a ferrugem destrói o bem, que muitas vezes fica muito difícil restaurar e voltar ao seu estágio anterior.

Ana Maria Villar trabalhando num restauro.

 O trabalho técnico e o uso dos materiais adequados são muito relevantes na restauração de um bem histórico e cultural", afirma Ana Maria Villar. Ela documenta tudo que vai fazer no seu trabalho de restauração e à medida que vai avançando vai fotografando e documentando e no final entrega ao cliente um volume grosso contendo tudo que foi usado e feito naquele imóvel, estátua ou mesmo numa tela. Vi que ela está restaurando uma tela da artista plástica Maria Polo, pertencente a um galerista baiano. É um trabalho meticuloso, cuidadoso e que exige muita técnica e paciência. Esta artista nasceu em Veneza, na Itália em 19-11-1937 e faleceu no Rio de Janeiro em 23 -21-1983. Era uma artista moderna. Estudou no Instituto de Arte de Veneza, entre 1949 e 1955. Quatro anos depois, vem para o Brasil, fixando residência em São Paulo, onde inicia os trabalhos para realizar uma mostra individual, a convite de Pietro Maria Bardi, fundador do Museu de Arte Moderna, paulista. Na década de 70, começa a trabalhar com azulejos e execução de vitrais. Participou, entre outras, das seguintes mostras coletivas: 1963-67 – Bienal de São Paulo, São Paulo; Salão Nacional de Arte Moderna, Rio de Janeiro; Bienal da Bahia, Salvador, BA e da Bienal de Córdoba, Argentina, 1973 .

                                              EXPOSIÇÕES 

Ana com  aquarela de barcos de sua autoria.
E
m maio de 1989 Ana Maria Villar fez uma exposição intitulada Marinhas, na Casa Brasil, na Barra, em Salvador, quando escreveu no catálogo "Sinto-me mais livre na minha obra hoje do que ontem, talvez por me sentir mais consciente dos elementos com que trabalho e do próprio ato de fazer criativo. 
Compreendo a arte como o princípio ordenador do caos, busco a ordenação primeiro no meu cosmo interior fazendo, criando e nessa busca utilizo-me das cores essencialmente do verde nos seus mais diversos tons ou nuances e das manchas dos barcos, das velas, do mar e do céu como uma forma de captação e transfiguração da realidade".

Já o saudoso professor Ivo Vellame escreveu: "Por mais que a figuração continue sendo uma intrometida nas obras mais recentes de Ana Maria, ela se dirige cada vez mais para a abstração. Nessa amostragem, a despeito da observação feita anteriormente, um tema se impõe - os barcos, tema que ela domina como poucos dos nossos artistas. São barcos que teimam em recuperar as suas formas estruturais, porém a artista faz prevalecer a sua vontade criadora, o desenho faz-se cor, o gesto é algumas vezes privilegiado e o estilo, se interessa ao espectador encontrá-lo, não é outra coisa, senão essa harmonia entre tons sombrios e a alegria dos "taches" brilhantes - sensíveis traços de luminosidade. São barcos antológicos, que se distanciam, carregados de lembranças, de formas fugidias como acontecidos reencontrados".

O professor Carlos Eduardo da Rocha, escreveu: "Ana Maria, professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, livre das obrigações da diretoria que exerceu brilhantemente, pode agora voltar ao seu ofício de pintora com mais liberdade para a criação. Já tem pronta uma coleção dos seus novos trabalhos, desta vez uma bela exposição de aquarelas com características muito próprias e pessoais porque foge aos efeitos e recursos tradicionais das tintas de água, da suavidade dos coloridos e das transparências luminosas. Com sua experiência de mestra da Restauração em contato com os diversos gêneros de arte, com materiais e suportes variados Ana Maria pode com a maior segurança fazer as dosagens de tintas e tirar dos suportes utilizados novos recursos no caso das suas aquarelas , um papel especial e sujeitos a preparativos prévios. O resultado são os efeitos impactantes das suas cores nas marinhas, onde céus e mares, mastros e velas estão bem construídos com valores puramente pictóricos. Uma pintura de sentimento como não poderia deixar numa artista que sabe com maestria manejar cores e pincéis com tanta desenvoltura e beleza".

Capa do catálogo da exposição
 Marinhas, de aquarelas, em 1989
.

Teve sua vida profissional mais voltada para o restauro de monumentos e obras de artes plásticas. Fez duas exposições individuais. A primeira em 1978 na Galeria Cañizares e a segunda em 1989 na Casa Brasil, ambas em Salvador. Por outro lado participou de muitas mostra coletivas a saber: 2001 - No Centro de Memória e Cultura dos Correios;2001 - na Casa de Cultura Oikos; 1997 - Exposição na Abertura da Escola Baiana de Artes Plásticas, no Caminho das Árvores, em Salvador; 1986 - Exposição em Homenagem à Mulher, na Galeria da Câmara Municipal de Salvador; 1986 - Exposição comemorativa da Visita do Presidente de Portugal Mário Soares, no Gabinete Português de Leitura, em Salvador ; 1987- Exposição Arte da Bahia, em Salvador; 1987 - Exposição Pós-Moderna de Artes Plásticas, em Salvador ; 1985- Coletiva 18 Anos de Galeria , na Panorama Galeria de Arte, em Salvador ;1984 - Exposição Mulheres Artistas, no Shopping Iguatemi, em Salvador; 1982 - Salão de Arte José de Dome , na Galeria José Inácio, recebeu o Título de Menção Honrosa, do Governo de Sergipe; Exposição no I Congresso Nacional das Cores, no Centro de Convenções da Bahia, em Salvador; 1981 - Exposição Retrospectiva dos Processos Artísticos de Presciliano Silva aos dia atuais, na Galeria Cañizares, em Salvador; 1978 - Exposição na Galeria de Arte Kompasso, Salão Funcisa; 1977 - Exposição do Centenário da Fundação da EBA, na Galeria Cañizares; 1970 - I Salão de Arte e Folclore da Bahia em Petrópolis , Rio de Janeiro; 1957 - I Salão Universitário Baiano de Arte Moderna, premiada em Terceiro Lugar: 1956 - VI Salão Baiano de Belas Artes; 1956 - V Salão Universitário de Arte de Minas Gerais, premiada em Terceiro Lugar, com Medalha de Bronze

 

 

 

 


 

 

 

 

sexta-feira, 21 de julho de 2023

TRÊS ARTISTAS HOMENAGEADOS NO MAFRO

Edmundo Simas rindo e Reginaldo Bonfim.
 Três artistas permaneceram durante suas existências à margem das principais galerias da época em que viveram e produziram: Reginaldo Bonfim e Edmundo Simas e Gil Abelha, todos falecidos,  que agora estão sendo homenageados com uma exposição coletiva organizada pelo artista e galerista Washington Silva intitulada de Identidades até o próximo 20 de agosto, no Museu Afro-Brasileiro da Universidade Federal da Bahia, que funciona no prédio da antiga Faculdade de Medicina, no Terreiro de Jesus. A exposição conta com obras dos homenageados Reginaldo Bonfim e Edmundo Simas, além de Leonel Mattos, Enock Silva, Raimundo Bida, Menelaw Sete, Francisco Santos, Chico Vieira, Samuel Gomes, Marcos Costa (spray Cabuloso), Anunciação e Carlos Kahan. Viviam no Centro Histórico entre botequins e os pardieiros, que não tinham qualquer conservação, até quando assumiu o governador Antônio Carlos Magalhães que convocou uma equipe competente e entregou a parte de pesquisa e cultural ao etnógrafo Vivaldo Costa Lima. O Centro Histórico foi restaurado, e hoje é motivo de orgulho, embora tenha passado por momentos de abandono por parte de alguns governadores que os sucederam. Foi neste ambiente do Centro Histórico que estes dois artistas talentosos viveram e produziram em condições muito difíceis, agravada pelos temperamentos e comportamentos de ambos. Sofriam de distúrbios mentais e isto foi um elemento importante para que houvesse uma certa discriminação, porque é difícil viver com alguém que tenha algum problema mental. Apenas o saudosos Deraldo Lima, da Galeria 13, que funcionava no Centro Histórico, e o RAG, que abriu sua galeria na orla exatamente numa casa em frente ao mar, perto da ponte, na Boca do Rio. Os dois galeristas acolhiam esta gente marginalizada e assim eles tinham onde frequentar e muitas vezes pintar. 

Foto 1. Cartaz da mostra Identidades. Foto 2 - Leonel Mattos
e Washignton Silva. Foto 3. Chico  Vieira e sua obra.
Foto 4 - Obra de Raimundo Bida
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Não tive quase aproximação com o Reginaldo Bonfim, que  nasceu em  Salvador no ano  1950  e faleceu aqui em 2007,  mas tive uma convivência com o Edmundo Simas, chamado de Super Boy. Era um entusiasta das histórias em quadrinhos e de quando em vez se arvorava de ser um desses heróis retratados nas revistas que vendiam muito nas bancas de jornais de então. Tem uma história, não sei se é verdadeira, de que certava vez improvisou umas asas e pulou de um prédio e foi cair num monte de areia que alguém estava utilizando na reforma ou construção. Todos se assustaram, mas ele teria escapado ileso. Verdade ou não, o fato é que o Super Boy seria mesmo capaz de façanhas como esta. Ele trabalhou no jornal A Tarde, se não me engano tirando as férias de alguém. Ficou por pouco tempo devido ao seu temperamento inquieto que logo com o passar dos dias começou a se tornar incompatível e foi dispensado. Consta que   fez duas exposições na Biblioteca Pública  em 1969 e 1971.Participou de outras mostras coletivas e até de salõesSeu nome completo era Edmundo Luiz da Silva Simas, nasceu Ubaitaba no ano de 1941, na Bahia,  vindo depois pra Salvador  também chegou a morar em São Paulo.

Já o Reginaldo Bonfim tive muito pouco contato. Sabe-se que nasceu em Salvador em 1950 e veio a falecer no ano de 2007. Gostava de pintar desde a infância e chegou a fazer um curso livre de pintura na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia. Tinha uma grande facilidade em pintar, inclusive com temas e técnicas variadas de algumas escolas de arte. Devido a sua habilidade chegou a ir ao Rio de Janeiro para se apresentar num programa de televisão no Rio de Janeiro mostrando a sua arte, foi quando teve uma crise nervosa e teve que retornar.

Gostava de pintar à noite e conversando sozinho como estivesse discutindo com alguém as cores e as formas que estava deixando ali registradas na tela ou em outro suporte qualquer que conseguisse para expressar a sua arte. Usava um macacão que alguns consideram sua armadura para se defender do mundo externo, bem diferente do que vivia em suas crises de esquizofrenia. Dizem que sempre era internado e lhe medicavam muitos remédios para controlar a doença mental.

Gil Abelha com uma obra sua.

O Gildásio Feliciano Costa, o Gil  Abelha trabalhou algum tempo com publicidade e era um artefinalista e layoutista conhecido. "Layout é uma palavra inglesa, muitas vezes usada na forma portuguesa leiaute, que  significa planoarranjoesquema
designprojeto." Lembro quando estava no jornal A Tarde as agências de publicidade mandavam a arte final que já era o layout finalizado e aprovado pelo cliente para ser fotografado, e ai surgia o fotolito que era depois transferido para uma placa de metal sensibilizada que ia para a rotativa para imprimir a página do jornal. Sua arte tinha uma grande influência regionalista e enaltecia a cultura afro-brasileira. Fjundou a Associação dos Artistas |Populares do |Centro Histórico de Salvador, Bahia, e chegou a catalogar mais de 200 integrantes. Desde 1983 que se lançou no segmento das artes plásticas ,onde obteve algum destaque. Seu ateliê funcionava na Rua do Carmo , número 3, em Salvador, Bahia. Nasceu em 1955 , já faleceu em 2008.

O RAG não era um galerista de formação ou alguém que tivesse algum conhecimento de arte. Ele veio de Valença, e aqui chegando, não sei a razão, resolveu se envolver com o mercado de arte. Sua galeria parecia um depósito com obras amontoadas por todo canto. Eram centenas delas e estes artistas que pintavam compulsoriamente como Edmundo Simas e Reginaldo Bonfim encontraram um local onde podiam pintar e deixar ali suas obras para serem comercializadas. Muitas vezes o RAG comprava as obras e ficavam ali empilhadas. Eu cheguei a dizer a ele que recebesse as obras em consignação porque senão ia ter dificuldades financeiras. Mas, como os artistas eram necessitados ele sempre soltava algum dinheiro.
Apreciando as obras de Edmundo Simas e Reginaldo
Bonfim, no Mafro, no Terreiro de Jesus, Salvador
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No documentário As Cores da Utopia que Júlio Nascimento fez sobre o artista Reginaldo Bonfim ele conclui num pequeno texto que "A impressão de que eu trouxe comigo ao fim do documentário é a de que, mesmo imerso em sua loucura, Reginaldo Bonfim era tão normal quanto outras pessoas que já conheci. Na verdade, precisa-se de certa dose de loucura para desafiar qualquer modelo de ordem, para ser livre, para ser grande, para ser artista. Eu não saberia dizer se o trabalho de Reginaldo teria sido o mesmo se ele não fosse louco."

sábado, 15 de julho de 2023

GRAÇA RAMOS UMA EXPLOSÃO DE CONTEMPORANEIDADE

Foto 1.Graça mostrando que desenha até de olhos
fechados. Foto 2 Ela jovem. Foto 3. Graça e o filho.

A artista Maria das Graças Moreira Ramos ou simplesmente Graça Ramos não para de desenhar enquanto conversamos sobre a vida e sua arte cheia de vitalidade criatividade  que se revela através de cores alegres  em grandes telas devidamente arrumadas em seu amplo e organizado ateliê. Se diz hiperativa e assim vai construindo seu mundo acadêmico e artístico com firmeza e diversificado. Utiliza em suas obras materiais diversos como pó de mármore, tecidos e crochés e outros elementos que incorpora e integra na tela e às vezes decide rasgá-la, dobrá-la ou costurá-la para expressar seus sentimentos mais profundos e sua criatividade. Mesmo antes de viajar para a Espanha onde fez seu doutorado na Universidade de Sevilla ela já fazia estas interferências nas telas e lá conheceu obras e influências de importantes artistas chamados de Informalistas que também já faziam este trabalho nas décadas de 1950 a 1960 e são reconhecidos internacionalmente entre eles Manolo Millares , (nasceu em 17-1-1926 em Las Palmas e morreu em 14-8-1972,em Madrid, Espanha); Antòni Tàpies (nasceu no dia 13 de dezembro de 1923 e morreu em 6 de fevereiro de 2012, aos 88 anos, em Barcelona, na Espanha) ,  e António Saura (22-9-1930 e faleceu em 22-7-1998). Também o Lucio Fontana que foi um pintor e escultor argentino-italiano. Foi um dos integrantes do movimento da arte Povera que se exprimia através da criatividade, da efemeridade, materialidade e espontaneidade. Criticava a comercialização de objetos artísticos e o consumismo do capitalismo. Nasceu em 19-2-1899 em Rosário, na Argentina, e faleceu em 7-9-1968 
Obra Porto Seguro, com técnica mista ,de 2016.
em Comabbio, na Itália. 
Já a  artista Graça Ramos nasceu em Feira de Santana em 8 de abril de 1948, filha da professora Maura Moreira Ramos e de Alfredo Moreira Ramos. Foi alfabetizada pela própria mãe e fez o primário no Grupo Escolar Municipal onde tinha colegas com várias idades. Estudou ainda no Colégio Santanópolis do educador Áureo Filho e em seguida no Ginásio Municipal de Feira de Santana. Ao concluir o ginasial veio estudar no Colégio da Bahia ou Colégio Central, na Avenida Joana Angélica, em Salvador, onde concluiu o científico. Desde criança que sua mãe a estimulava a pintar e desenhar e ao concluir o segundo grau fez vestibular para a Escola de Arquitetura sendo reprovada em Física, e em seguida foi aprovada nos primeiros lugares na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, em 1968. Foi graduada em Artes Plásticas em 1971 e em Licenciatura de Desenho em 1974. Lembra que foi um importante aprendizado porque na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, onde teve excelentes professores como o alemão Hansen Bahia, Mercedes Rosa, Zélia Maria Povoas, Riolan Coutinho, Jacyra Oswald, dentre muitos outros que lhes abriram os olhos para o que estava acontecendo no mundo das artes e da vida.

                                                                     MAIS ESTUDOS

Obra  técnica mista em tecido
feita durante a pandemia
Faz cursos de Pós-Graduação de Desenho e Geometrias de Representações, Criatividade na Educação, Metodologia no Ensino Superior, portanto dividia seu tempo entre os estudos e a produção de sua obra artística .  Lecionou em alguns colégios públicos e particulares e participa de exposições coletivas e individuais. Em 1975 faz concurso público e ingressa como professora no Departamento I de Pintura e História da Arte na Eba-UFBA onde lecionou a disciplina Teoria e Técnicas da Pintura, Pintura I, II,III e IV, Composição Decorativa I e II até se aposentar. Também ministra aulas em cursos livres para crianças e adultos. Em 1979 foi selecionada para bolsa de estudos nos Estados Unidos onde cursou inglês durante seis meses na The Toledo, University, em Ohio. Casou e tem um filho veterinário, que hoje dedica-se às finanças através da internet, e do seu segundo casamento, desta vez na Espanha tem uma filha  de 27 anos. Seu segundo marido faleceu e pretende voltar à Espanha para rever a filha, pois está com saudades. 

"O Vendedor de Redes, 2006.
Fez o mestrado na State University School of Visual Arts, na Pennsylvania, nos Estados Unidos, em 1980. Em dezembro retorna ao Brasil e continuou fazendo cursos de litografia, gravura em metal, estamparia em tecidos e aquarela. Em seguida fez Doutorado em Belas Artes pela Universidade de Sevilla, na Espanha, em 1997, quando defendeu a sua tese. Ao retornar e retomar a cátedra de Titular na Escola de Belas Artes no Departamento I e do Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais atuou como orientadora de mestrandos e doutorandos incluindo de alunos de Belas Artes, Música e Teatro. No trabalho intitulado Intestino da Cidade que fez com alguns alunos onde prioriza a paisagem urbana, especialmente as favelas, ela e seus alunos propõem uma reflexão sobre "o contexto que envolve o homem e a Cidade com enfoque no espaço geográfico ocupado pelas favelas sob o ponto de vista da arte, do conhecimento de construir e do reconstruir. A proposta é instigante e aborda um diagnóstico sobre aspectos como costumes, escassez, degradação e sofrimento que transita pelas ruas, vielas e becos. "

Obra da Exposição Ciudad
Invadida
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Em sua carreira de pesquisadora gosta de enfocar a Arte Híbrida quando agrega materiais e objetos diferentes à tela, procurando alcançar o tridimensional e até mesmo visando dar função como aconteceu nas caixas de luz que produziu. Diz ter sido pioneira nesta técnica de colocar a luz elétrica na tela desde o doutorado e demonstrou em sua tese de Doutorado na Espanha. Gosta de fazer poesias e já participou de algumas coletâneas como a Poetas da Bahia III onde na página 51 tem um poema datado de 2012 de sua autoria intitulado Autorretrato número 10 onde diz: Quem é esta?/Quem é esta que procura em um ventre um abrigo,/nos braços um abraço, nas mãos um afago?/ Quem é esta de rosto afável, que ainda de olhos cerrados/ busca a morada desconhecida para encontrar-se?/ Quem é esta se não aquela de outrora/ que nascera na Princesa do Sertão,/ que hoje percorrendo estradas/ procura identidade em pátria distante? /Quem é esta se não aquela, /que vagueando nas margens de oceanos/ vive apalpando um barco para navegar?....

                                                                     ESTUDIOSA

 Graça Ramos em seu  ateliê .
Uma das características de Graça Ramos é que dedicou parte de sua vida aos estudos fazendo Mestrado e Doutorado e vários cursos de pós-graduação. Falando sobre sua tese de doutorado que fez parte em Madri e apresentou em Sevilla, na Espanha, lhe pedi para fazer um pequeno resumo para que possamos entender melhor este seu lado acadêmico.  A tese chama-se "Desmitificación Del Suporte Pictórico (El Lienzo). Veja o pequeno resumo que fez da tese:'Minha investigação deu início desde 1984, ainda em Salvador, quando comecei a costurar as sobras dos panos de algodão cru, que preparava minhas telas de pinturas tradicionais. As emendas dos retalhos primeiros foram costuradas à máquina, dando volumes que passaram ser utilitários. Dando função à obra de arte. Durante sete anos trabalhei intensamente experimentado todo tipo de tecidos descartáveis com diferentes texturas e espessuras. Em 1992 fui contemplada através de concurso a nível nacional, com uma bolsa do CNPQ, para cursar o doutorado na Universidade Complutense de Madrid. Ao chegar lá imediatamente fui impactada com a obra Informalistas do artista espanhol Manolo Millares, então pude perceber que minha investigação estava no rumo certo e fui estudando enfaticamente outros artistas do Informalismo espanhol, como Antony Tàpies, Rafael Canogar, Antonio Saura, Carlos Franco, dentre tantos outros,  não somente da Espanha, mas da França, Itália... Através de visitas e entrevistas em seus ateliês, pude recolher um rico material de primeira fonte, então, minha investigação foi se consolidando. Em 1997 conclui com louvor minha tese que defendeu a ideia da obra de arte como objeto utilitário, onde o espectador além de contemplar a pintura matérica, pode ser coparticipantes da obra. Manuseando a tela tridimensional, trocando de lâmpadas, porque em muitos desses trabalhos, a *luz* entra como pintura efêmera, causado efeitos surpreendentes ao fruidor, escolhendo a cor e modificando sua aparência. Além de colocar ou retirar objetos, do cotidiano comprovando sua utilidade e enfatizando a tridimensionalidade. São obras como bem definiu o artista do modernismo americano Robert Rauschenberg com caráter híbrido de pinto/esculturas.

Graça com sua obra onde incorporou 
chinelo ,cordéis, pó de mármore,etc.
 em busca do  tridimensional
.
A maior preocupação foi desmistificar a tela como suporte artístico, imprimir um novo espírito, no sentido de "reciclar" para conseguir resultados ou efeitos plásticos inusitados, pelo menos para mim. O importante não foi realizar um quadro, sem o chassi ou sem a moldura, já que não houve obsessão em executar uma pintura trabalhada de forma tradicional. E sim, especular, descobrir o mundo visual. Não se trata de destruir., negar ou desconhecer tudo que foi feito anteriormente, pelo contrário, se pretendeu observar outras possibilidades, desenvolver outro capítulo sobre a história do quadro, a TELA, proporcionando a este suporte, outra função da estética, onde o espectador pudesse se sentir estimulado a manipular o trabalho, interagir com ele. Ser cúmplice da obra artística..."

 Ela foi também diretora da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. Quando diretora da EBA lembra que precisou preparar a escola para o novo ano letivo e mandou retirar materiais e obras deixadas por alguns alunos de uma sala que teria que ser utilizada e uma das alunas não gostou. Estava na cantina fazendo um lanche quando a aluna transtornada avançou contra ela com um caco de vidro nas mãos ameaçando-a. Felizmente o ato não se concretizou. Noutra ocasião lembra Graça Ramos uma outra aluna estava falando muito mal da EBA e ela começou a rebater quando também foi destratada por esta aluna. Isto demonstra como é difícil administrar e se relacionar com as pessoas, principalmente quando a gente discorda. Esta intolerância hoje está disseminada em nosso país.

                                                               EXPOSIÇÕES

Catálogo da Exposição Migration.
Fez sua primeira exposição em 1968 na Feira de Ciências e Artes, do Colégio Estadual da Bahia, e ainda no ano que se submeteu ao vestibular participou da Coletiva de inauguração da Escada Galeria de Arte. Conclui o curso em 1971 e funda com um grupo de sete pessoas o Atelier Comunicart e faz sua primeira exposição individual na Biblioteca Central da Bahia. Continuou estudando Licenciatura de Desenho na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia concluindo em 1973.  De 1975 a 1979 teve uma fase experimental onde pesquisa diversos materiais e suportes diferentes e participa de murais em escolas públicas, bares, bibliotecas de Salvador num trabalho conjunto com alunos e artistas. Coordena a Semana de Arte Experimental na EBA/UFBA envolvendo também a Escola de Teatro.Em 2018 - Exposición Conjunta de Pintura- Brunete, Espanha; 2016- Arte Brasileira na |Contemporaneidade, em São Paulo; 2012- Exposição Água, Reflexos na Arte da Bahia; 2010 - Exposição Entre Corpo & Cosmo, no Pouso da Palavra em Cachoeira, Bahia; 2007 - Exposição Comemorações dos 80 anos de Matilde Matos, no EBEC; 2007 - Exposição Folklore Du Brésil na  Galerie Artitude, em Paris, França; 2005 - Exposição Corpus Solus, na Ebec; 1998 - Exposição e Prêmio Ecoterra e
"El Hombre y la Ciudad",técnica mista -
2010 da exposição em Lisboa, Poemas
Cromáticos, 2013.
 Lançamento do Livro A Criança que Virou Árvore, de Graça Ramos, Galeria Bahia Art, Praça do Cruzeiro do São Francisco, 5 , Salvador;1988-Exposição no Dia Internacional da Mulher, na inauguração da Galeria na Câmara Municipal de Salvador; Mostra de Artes Plásticas e Literatura ; Coletiva de Julho na Art Nata Galeria, Salvador; Exposição Uma Visão Particular da Mulher, no Shopping Barra, Salvador; Painel do Egos Bar; Painel do Espaço XIS, Fundação Cultural da Bahia, Salvador; 1987 - Exposição Arte Bahia, no Gabinete Português em Homenagem ao Presidente de Portugal em visita a Salvador, Bahia; Inauguração da Casa de Cultura o Espaço Cultural Galeria Detalhes, Salvador; Exposição na Malhoa Galeria de Arte, Salvador; I Mostra de Artes Plásticas e inauguração da Casa da Cultura Galeno D'Avelicio, Cruz das Almas, Bahia; Exposição Oito Mulheres na Galeria Raimundo Oliveira, em Feira de Santana, Bahia; 1986 - Realização de outdoor do 1º Salão Metanor/Copenor de Artes Visuais da Bahia; V Salão de Arte do Pará- Salão Art Liberal, Pará; Mostra Baiana de Artes Plásticas no foyer do Teatro Castro Alves, em Salvador; 1985 - Coletiva na Itaigara Galeria de Arte, Salvador; 1984 - Mostra de Artistas Baianos na visita do embaixador Diego Assunção à Bahia, Salvador; Vernissage no Beco das Artes, Salvador; 1983 - Exposição Circuito das Artes Plásticas do Nordeste, Mostra Estadual no Museu de Arte Moderna Bahia ; 1981 -Participação no Painel da Biblioteca Central da Universidade Federal da Bahia; 1982 - Exposição Forma, Cor e Vida na Galeria ACBEU, Salvador; 1980 - Feira dos Estudantes Internacionais na State College PA-USA: Exposição Coletiva na Zooler Gallery dos Estudantes de Pós Graduação do State College, PA-USA; 1977 -Exposição em homenagem ao Centenário da EBA/UFBA; Participação no I Salão de Verão da Bahia; 1976 - III Salão Nacional de Artes Plásticas da Caixa Econômica Federal, Goiás; Obra na Última Bienal Latino-Americana, São Paulo; 1975- IV Salão de Artes de São Cristóvão, Sergipe; 1972 - Participação na Feira dos Campeões ,Goiânia, Goiás; 1971- I Salão dos Novos Artistas do Nordeste, Salvador.

Los Amantes,técnica mista 
em acrílica, pva, pastel 
seco sobre cartão, 2019.
INDIVIDUAIS
: 1971 - Exposição Gente que a Gente Gosta, óleo sobre telas no foyer da Biblioteca Central da Bahia; 1972 - Exposição Retratos no foyer do Teatro Villa Velha, Salvador; 1973- Exposição de Desenhos e Aquarelas na Galeria Cañizares da Escola de Belas Artes da UFBA, Salvador; 1976 - Desenhos e Pinturas em óleo sobre tela ,Galeria Cañizares , da EBA, Salvador; 1976 - Desenhos e Pinturas em óleo sobre tela no Museu Regional de Feira de Santana, Bahia; 1978 - Pinturas a óleo sobre tela no Museu da Cidade do Salvador, Bahia; 1980 - Exposição de Desenhos e Gravuras na Penn State University, State College, Estados Unidos; 1982 - Exposição de Pinturas a óleo sobre telas ,Salvador; 1983 - Exposição Encanto de Gente Simples - Carnaval e Circo - pinturas no Museu de Arte da Bahia, Salvador; 1987 - Exposição Caras e Cavalos- Desenhos com técnicas mistas e Aquarelas na Galeria de Eventos Bon Vivant, Salvador; Exposição 20 Anos de Graça Ramos- Pinturas em acrílica As Mulheres e 18 do Pasqual na Galeria Arte Salvador;1990 - Exposição Navegar é Preciso, Salvador, na Galeria O Cavalete.

                                                                      REFERÊNCIAS

Obra "Prostituta da Zona Franca",
acrílica sobre tela, de 1988.
D
ois professores  falam sobre a obra e a personalidade de Graça Ramos quando ela completou vinte anos de pintura em 1988. Vejamos: 
"Uma personalidade feminina invulgar composta de valores notáveis e os mais diversos: do  tipo mignon sem fragilidade, vigorosa de temperamento e ao mesmo tempo delicada, irradiando na voz, na alegria do riso constante e nos gestos uma intensa e vibrante energia. Tudo isto está refletido na sua pintura numa fase importante da sua atualidade de novos propósitos, conceitos e resultados plásticos alcançados com muita segurança. Graça Ramos trabalha a sua temática constante, a mulher, não apenas como a figura humana mais cultivada pelos artistas de todos os tempos e épocas da história da arte, mas também envolvida pelo grande papel que exerce a nossa irmã Eva como criadora da vida e a sua função social desde os primeiros grupos humanos até os nossos dias... Na pintura de Graça Ramos o que importa é o conjunto, os objetivos alcançados, a expressão nos seus espaços próprios, nas composições corretas, no emprego da cor com toda a força de que é capaz essa mulher plena de Graça". Carlos Eduardo da Rocha.

"Entre Corpo e Cosmo I", técnica mista
sobre tela , 2010.
Já Romano Galeffi escreveu: “O tema que Graça Ramos aborda nesta exposição com que comemora vinte anos de atividade criadora é o da mulher na sociedade de hoje, tema este em que se condensa mais de um século de história da emancipação da mulher para a conquista de seus direitos na labuta da vida, ao lado de seu companheiro de sexo oposto, pois, do ponto de vista de conquista de sua dignidade espiritual, a história remonta muito mais atrás, como too o mundo sabe. .... Há em cada quadro um jogo de diferentes tensões que dialeticamente alternam tons cromáticos quentes e frios, linhas de desenho externo em função dinâmica ou equilibrante,sabiamente combinadas com cheios e vazios, mediante pinceladas soltas e transparentes, mesmo se matericamente corposas em sua textura, que o observador esteticamente maduto e distanciado de perturbações e preconceitos, não poderá confundir com borrações desnecessárias ou sentimentalmente injustificáveis.",....

A própria Graça Ramos na exposição que participou e apresentou chamada de Entre Corpo & Cosmo - O voo do poeta Damário Cruz, na cidade de Cachoeira, Bahia escreveu: "Para muitos o tempo simplesmente passa seguindo curso natural. Para outros, ela vai bordando de ideias, histórias e poesias a vida. Quando me lembro de Damário, o vejo alegre, brincalhão, anedótico no trato com os amigos íntimos, sua constante gargalhada reverbera no ar contagiando-nos. Irrequieto, autêntico, sensível, poeta por constituição, sua voz ecoa versos, que viram poemas na calada da noite cachoeirana. " E para terminar deixo aqui este poema Certo Voo, do Damário Cruz, com quem também tive uma boa e saudosa convivência: Cada /pássaro/ sabe/a rota / do retorno. / Cada / pássaro / sabe/ a rota / de si. / Cada pássaro, / na rota, / sabe-se/ pássaro.