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Foto 1. Ana Maria Villar em foto . atual . Foto 2 . Numa exposição . Foto 3 - Em 1989. |
Manter e conservar o patrimônio
e bens culturais requer do seu proprietário ou gestor público sensibilidade e
conhecimento da importância que representam para si e para a sociedade, porque
é através deles que conhecemos a história e tudo que a envolve. Isto pode
ser feito com a arte, as tradições, e os saberes disseminados entre a
população. Portanto, é de suma importância a preservação e valorização desses
elementos históricos e culturais para preservar viva a identidade do povo
daquela localidade ou país. É o exercício da cidadania e para isto é preciso
atentar para a necessidade muitas vezes de intervenções que venham restituir e
prorrogar a existência daquele patrimônio. É imprescindível que seja restaurado
através de intervenções pontuais que são feitas por especialistas devidamente
treinados e capacitados, como é o caso de Ana Maria Villar Leite que há anos
vem se dedicando a salvar o nosso patrimônio histórico e cultural. As
intervenções objetivam dar ao objeto do restauro suas características originais,
sempre mantendo a identidade da época em que foi concebido e adaptando a um contexto
atual quando necessário.
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Fotos 1 e 2 -monumento Riachuelo que foi restaurado. Foto 3. Equipe de restauração em Petrópolis, no Rio de Janeiro. |
A artista Ana Maria Villar foi responsável
juntamente com sua equipe da qual faz
parte seu filho e arquiteto Álvaro Villar
pela restauração do majestoso monumento a Riachuelo que fica em frente ao prédio
da Associação Comercial da Bahia, na Cidade Baixa, em Salvador, de várias
igrejas, de prédios e obras de arte aqui, em Petrópolis, no estado do Rio de
Janeiro; Penedo, em Alagoas, e em outros estados. Aqui restaurou vários
monumentos pertencentes a Cúria Metropolitana onde trabalhou vários anos. Por
outro lado, ensinou algumas disciplinas na Escola de Belas Artes, da
Universidade Federal da Bahia, da qual foi diretora, e paralelamente continuava
produzindo sua arte e fazendo algumas exposições. Durante a pandemia aproveitou
para fazer uma série de aquarelas de flores e barcos as quais revelam o seu talento e a sua
sensibilidade .
QUEM
É
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Ana Maria com obra da artista Maria Polo . |
A
Ana Maria Villar Leite, ou Ana Maria Villar nasceu em Salvador em 23 de abril
de 1942, filha de Adir Alves Leite e Margarida Villar Leite. Estudou seu curso
primário e ginasial no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, conhecido como o
Colégio d. Afrísia Santiago fundado por ela em 1927, que funcionava naquele
casarão que ainda existe e foi restaurado e ocupado pelo Ministério Público
Estadual, bem no alto da Ladeira da Fonte Nova. Ao terminar o ginásio foi fazer
o teste para a Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia, sendo diplomada em 1957, que funcionava num belo casarão na Rua 28 de Setembro,
que hoje pertence a Prefeitura e está sendo usado como depósito de
materiais. Lembra que conhecidos e parentes censuravam que ela tão jovem
estava indo estudar na Escola de Belas Arte - EBA localizada numa rua
frequentada por prostitutas e malandros. Disse que as vezes a pressão era tão
grande que chorava, mas que permanecia firme com seu ideal de fazer Belas
Artes. Já formada fez o concurso público para professora da EBA para a
disciplina Conservação e Restauração de Bens Culturais. Disse que fez a prova e foi aprovada. Teve como professores Newton Silva, Raymundo Aguiar, Alberto Valença, professor
de modelo vivo, dentre outros . “Trabalhávamos com carvão e aprendíamos muito a desenhar e
depois subíamos para o ateliê. Era hora de pintar. Tudo isto era realizado num
ambiente muito respeitoso e só entravam os alunos e professores porque era aula
de modelo vivo.” Fez a pós-graduação em Especialista em Conservação e
Restauração de Bens Culturais Móveis na Escola de Belas Artes concluindo em
1980. Tem vários diplomas de cursos de restauro ministrados por especialistas
italianos, americanos aqui e no exterior.
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Detalhes de aquarelas de barcos de Ana Maria. |
Ministrou
aulas no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, da UCSAL; na
UNIFACS no
curso de Graduação Gestão e Design da Moda, a disciplina História da Arte e no
Curso de Graduação Educação Artística com Ênfase em Composição Gráfica a
disciplina Teoria e Técnica de Pintura. Na Escola de Belas Artes da UFBA
ensinou as disciplinas Teoria e Técnica de Pintura, História da Arte Universal
e História da Arte no Brasil. Ministrou o curso de Reciclagem de profissionais
graduados em Restauração de Tela e obras de Arte em Papel para atuarem no
acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia - MAMB, em 1994. Aposentou-se da
Escola de Belas Artes em 1992. Ministrou aulas no Centro Educacional Sophia
Costa Pinto de 1954 a 1979, no Instituto Valença de 1957 a 1970 e no Colégio Nossa Senhora do Carmo de 1959 a 1973.
Lembrou
que seu pai era muito previdente e como não tinha cursado o segundo grau, pois
naquela época não era exigido pela Escola de Belas Artes foi aconselhada a
cursar. Então foi fazer o científico no Colégio Ypiranga. Neste ínterim
casou e teve quatro filhos e um dia encontrou-se com a colega Yeda Maria
que lhe informou que haveria concurso para professor da Escola de Belas Artes. “Resolvi
procurar juntar meus títulos e outros documentos e me inscrevi”, adiantou Ana
Maria Villar. Disse que a prova era feita dessa forma. “Era sorteado um ponto
que você mesma tirava num recipiente onde estavam todos os pontos na presença
dos demais candidatos e professores e alguém da banca examinadora anunciava o
ponto que você ia escrever. Depois tinha que ler o que escreveu para apreciação
da banca examinadora. Tirei uma boa nota na parte técnica, embora nos títulos
não tenha me saído muito bem. Examinar durante o concurso uma
obra com raios ultra vermelhos, ultravioleta onde se consegue ver se a obra já
foi ou não restaurada, e com raio X onde você enxerga até o desenho que o
artista fez para pintar aquela obra. Aí me saí muito bem na parte técnica”,
disse Ana Maria Villar.
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Detalhes de Flores de autoria de Ana Maria. |
A
restauradora e artista Ana Maria Villar acrescentou que para usar o Raio X
muitas vezes eles precisam conseguir junto a Faculdade de Medicina para que possam restaurar com mais precisão uma obra de arte. Ela revelou “que é um trabalho muito
técnico e de responsabilidade porque muitas vezes estas obras têm um valor
monetário, histórico e cultural muito expressivos. Com o Raio X de uma imagem por
exemplo, a gente vê onde o cupim estragou e assim podemos traçar a estratégia
de como devemos proceder para restaurá-la com precisão. Isto é muito importante”. É exigente em seu trabalho e reclama que às vezes resolve não
participar de determinados editais de concorrências que se baseiam em menor preço porque não permitem
um trabalho de qualidade na restauração e uma remuneração justa. Aí
exemplificou que “as igrejas baianas têm a presença de ouro nas suas
ornamentações e este ouro é de 23 quilates. É muito cara uma folha deste
material. Ela é tão fininha que a gente evita respirar para não a danificar.
Quando participo coloco o ouro de 23 quilates, como deve ser, e assim muitas
vezes saio em desvantagem porque com o menor preço às vezes não dá para cobrir
os preços dos materiais, da mão de obra e a remuneração justa do nosso
trabalho. Aí tenho me recusado a participar de algumas concorrências. Uma das coisas que Ana Maria Villar chama a atenção é que os bens culturais feitos em metais são muito atacados pela ferrugem e que é importante cuidar logo porque a ferrugem destrói o bem, que muitas vezes fica muito difícil restaurar e voltar ao seu estágio anterior.
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Ana Maria Villar trabalhando num restauro. |
O
trabalho técnico e o uso dos materiais adequados são muito relevantes na
restauração de um bem histórico e cultural", afirma Ana Maria Villar. Ela
documenta tudo que vai fazer no seu trabalho de restauração e à medida que vai
avançando vai fotografando e documentando e no final entrega ao cliente um
volume grosso contendo tudo que foi usado e feito naquele imóvel, estátua ou
mesmo numa tela. Vi que ela está restaurando uma tela da artista plástica Maria
Polo, pertencente a um galerista baiano. É um trabalho meticuloso, cuidadoso e
que exige muita técnica e paciência. Esta artista nasceu em Veneza, na Itália em 19-11-1937 e faleceu no Rio
de Janeiro em 23 -21-1983. Era uma artista moderna. Estudou no
Instituto de Arte de Veneza, entre 1949 e 1955. Quatro anos depois, vem para o
Brasil, fixando residência em São Paulo, onde inicia os trabalhos para realizar
uma mostra individual, a convite de Pietro Maria Bardi, fundador do Museu de
Arte Moderna, paulista. Na década de 70, começa a trabalhar com azulejos e
execução de vitrais. Participou, entre outras, das seguintes mostras coletivas:
1963-67 – Bienal de São Paulo, São Paulo; Salão Nacional de Arte Moderna, Rio
de Janeiro; Bienal da Bahia, Salvador, BA e da Bienal de Córdoba, Argentina,
1973 .
EXPOSIÇÕES
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Ana com aquarela de barcos de sua autoria. |
Em maio de 1989 Ana Maria
Villar fez uma exposição intitulada Marinhas, na Casa Brasil, na Barra, em
Salvador, quando escreveu no catálogo "Sinto-me mais livre na minha obra
hoje do que ontem, talvez por me sentir mais consciente dos elementos com que
trabalho e do próprio ato de fazer criativo. Compreendo a arte como
o princípio ordenador do caos, busco a ordenação primeiro no meu cosmo interior
fazendo, criando e nessa busca utilizo-me das cores essencialmente do verde nos
seus mais diversos tons ou nuances e das manchas dos barcos, das velas, do mar
e do céu como uma forma de captação e transfiguração da realidade".
Já o saudoso professor Ivo
Vellame escreveu: "Por mais que a figuração continue sendo uma intrometida
nas obras mais recentes de Ana Maria, ela se dirige cada vez mais para a
abstração. Nessa amostragem, a despeito da observação feita anteriormente, um
tema se impõe - os barcos, tema que ela domina como poucos dos nossos artistas.
São barcos que teimam em recuperar as suas formas estruturais, porém a artista
faz prevalecer a sua vontade criadora, o desenho faz-se cor, o gesto é algumas
vezes privilegiado e o estilo, se interessa ao espectador encontrá-lo, não é
outra coisa, senão essa harmonia entre tons sombrios e a alegria dos
"taches" brilhantes - sensíveis traços de luminosidade. São barcos
antológicos, que se distanciam, carregados de lembranças, de formas fugidias
como acontecidos reencontrados".
O professor Carlos Eduardo
da Rocha, escreveu: "Ana Maria, professor da Escola de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia, livre das obrigações da diretoria que exerceu brilhantemente,
pode agora voltar ao seu ofício de pintora com mais liberdade para a criação.
Já tem pronta uma coleção dos seus novos trabalhos, desta vez uma bela
exposição de aquarelas com características muito próprias e pessoais porque
foge aos efeitos e recursos tradicionais das tintas de água, da suavidade dos
coloridos e das transparências luminosas. Com sua experiência de mestra da Restauração
em contato com os diversos gêneros de arte, com materiais e suportes variados
Ana Maria pode com a maior segurança fazer as dosagens de tintas e tirar dos
suportes utilizados novos recursos no caso das suas aquarelas , um papel
especial e sujeitos a preparativos prévios. O resultado são os efeitos impactantes
das suas cores nas marinhas, onde céus e mares, mastros e velas estão bem
construídos com valores puramente pictóricos. Uma pintura de sentimento como
não poderia deixar numa artista que sabe com maestria manejar cores e pincéis
com tanta desenvoltura e beleza".
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Capa do catálogo da exposição Marinhas, de aquarelas, em 1989. |
Teve sua vida profissional
mais voltada para o restauro de monumentos e obras de artes plásticas. Fez duas
exposições individuais. A primeira em 1978 na Galeria Cañizares e a segunda em
1989 na Casa Brasil, ambas em Salvador. Por outro lado participou de muitas
mostra coletivas a saber: 2001 - No Centro de Memória e Cultura dos
Correios;2001 - na Casa de Cultura Oikos; 1997 - Exposição na Abertura da
Escola Baiana de Artes Plásticas, no Caminho das Árvores, em Salvador; 1986 -
Exposição em Homenagem à Mulher, na Galeria da Câmara Municipal de Salvador;
1986 - Exposição comemorativa da Visita do Presidente de Portugal Mário Soares,
no Gabinete Português de Leitura, em Salvador ; 1987- Exposição Arte da Bahia,
em Salvador; 1987 - Exposição Pós-Moderna de Artes Plásticas, em Salvador ;
1985- Coletiva 18 Anos de Galeria , na Panorama Galeria de Arte, em Salvador ;1984
- Exposição Mulheres Artistas, no Shopping Iguatemi, em Salvador; 1982 - Salão
de Arte José de Dome , na Galeria José Inácio, recebeu o Título de Menção Honrosa,
do Governo de Sergipe; Exposição no I Congresso Nacional das Cores, no Centro
de Convenções da Bahia, em Salvador; 1981 - Exposição Retrospectiva dos
Processos Artísticos de Presciliano Silva aos dia atuais, na Galeria Cañizares,
em Salvador; 1978 - Exposição na Galeria de Arte Kompasso, Salão Funcisa; 1977
- Exposição do Centenário da Fundação da EBA, na Galeria Cañizares; 1970 - I
Salão de Arte e Folclore da Bahia em Petrópolis , Rio de Janeiro; 1957 - I
Salão Universitário Baiano de Arte Moderna, premiada em Terceiro Lugar: 1956 -
VI Salão Baiano de Belas Artes; 1956 - V Salão Universitário de Arte de Minas
Gerais, premiada em Terceiro Lugar, com Medalha de Bronze