Sou daqueles que defende que as pessoas devem ser homenageadas e referenciadas ainda em vida por seus méritos pessoais e pela contribuição que deram em suas respectivas áreas do conhecimento, do saber ou da realização profissional. As homenagens póstumas também são importantes , mas para as pessoas merecedoras que por algum acidente de percurso nos deixaram inesperadamente. Portanto, vamos homenagear sempre quem merece.
Hoje vou prestar minha homenagem a uma mulher batalhadora, uma pessoa que há cinquenta e três anos vem trabalhando com arte, quer seja pintando, desenhando e até mesmo ensinando as técnicas para as pessoas que desejavam aprender a dar suas pinceladas. Não necessariamente os transformando em profissionais. Era um ensinamento de vida , de percepção do belo, de gostar das artes visuais, de fazer sua pintura para deleite próprio. Este ensinamento tinha como palco a Galeria Panorama, onde seu pai o artista Euler Cardoso, e alguns colegas consagrados a exemplo de Emydio Magalhães, professor da Escola de Belas Artes, e tantos outros ajudaram nesta missão de ensinar arte. Trata-se de Ana Georgina (Foto ao alto) que hoje está ao lado de sua mãe d. Yolanda que sempre foi uma figura presente neste ambiente da arte na Bahia. Foram anos seguidos de aulas, e realmente alguns seguiram a carreira de artista, e se profissionalizaram. Ela começou ensinando às crianças e com a morte do pai passou a ministrar aulas também para os adultos.
A Galeria foi fechada em 2016, mas Anna Georgina continua pintando e exercendo sua função de
marchand, além de ser uma boa consultora imobiliária. A vida é assim, a gente tem que procurar formas de uma sobrevivência digna usando nossos conhecimentos e tempo para realizar coisas. Ela já fez inúmeras exposições, e em 2017 fez uma na Cabana da Barra comemorando seus 50 anos de arte. Tem várias apresentações e críticas feitas por várias pessoas , inclusive por mim,e destaco uma feita pelo saudoso escritor Jorge Amado , que sempre foi uma pessoa afável e que ajudou muitos artistas através de suas apresentações . Principalmente a aqueles que ilustraram os seus livros, que até hoje correm o mundo. Sei que alguns artistas e outros intelectuais , por questões ideológicas não gostavam do Jorge Amado , principalmente depois que ele deixou o Partido Comunista, e sofreu uma campanha contra sua obra tentando em vão desclassificá-la.
(Foto à direita de Anna com seu pai Euler Cardoso)Em dezembro de 1968 o grande escritor escreveu : " Os quadros de Anna |Georgina, jovem pintora baiana, refletem uma intensa alegria de viver, um estado quase poético". Finalizando escreveu " A jovem artista está diante de uma vocação plástica, com plena consciência e com inegável talento. Nada conseguirá detê-la pois ela tem algo válido a mostrar. Cabemos aplaudir seu trabalho, certos de que Anna Georgina o levará adiante com sucesso".
Ai ao lado um belo casario em vinil de Ana Georgina , datado de 2020.A PINTORA
Lembra Anna que não teve uma infância igual as meninas de sua época. As bonecas foram trocadas
pelos lápis de côres variadas, pincéis, papéis e telas. Tendo seu pai como professor e orientador. Os presentes que ganhava os guardava e um dia resolveu distribuir com suas amigas. Enquanto isto seu pai Euler Cardoso passava alguns exercícios antes ou depois de chegar de seu trabalho que era num banco situado na Cidade Baixa. Ela apresentava o exercício feito ele corrigia e se não estivesse bom mandava repetir. Finalmente, já com certa habilidade ligada ao seu talento fez sua primeira exposição em 1966 na Le Dôme Galeria de Arte, onde apresentou 40 guaches com a temática Flores e Borboletas. Diz Anna que vendeu todos os quadros, inclusive um deles foi comparado por Mário Cravo. Já em 1975 começou a ajudar o seu pai na escola de arte que ele mantinha na Galeria Panorama e que permaneceu até após a sua morte ocorrida em outubro de 1975. Hoje com 73 anos de idade Anna Georgina continua ativa e pintando.
Acima Anna com sua mãe d. Yolanda ,que sempre foi uma presença marcante no ambiente artístico das últimas décadas em Salvador.
Ela assinava Anna quando em 1978 conheceu o cantor e pintor Francisco Carlos que veio fazer uma exposição na Galeria Panorama e lhe deu a sugestão de assinar Anna Goergina pois "você teve a sorte de ter dois nomes próprios". Então passou a assinar Anna Georgina, atendendo à sugestão do Francisco Carlos, e assim ficou sendo conhecida no mercado de arte.