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sábado, 25 de maio de 2024

ELISA GALEFFI E SUA ARTE EM DIFERENTES SUPORTES

A artista pintando em seu ateliê em Araras,
no estado  do Rio de Janeiro.
Todos que estudaram na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia e acompanharam e acompanham o crescimento  das artes visuais nas últimas décadas quando ouvem ou veem escrito este sobrenome Galeffi recordam do professor e crítico de arte Romano Galeffi que ministrou suas aulas na EBA, escreveu livros e artigos na imprensa local. Hoje vamos conhecer melhor uma de suas filhas a Elisa Romano Galeffi, que assina suas obras como Elisa Galeffi, nascida em Salvador no dia quinze de maio de 1955, juntamente com sua irmã gêmea e também artista plástica Virginia Romano Zart. Seu pai Romano Galeffi era professor de Filosofia da Arte e Estética, e sua mãe Maria Luigia Magnavita Galeffi, professora de italiano, na Faculdade de Letras, na Universidade Federal da Bahia. Eles vieram da Itália para a Bahia em 1948, 

Elisa se inspira na natureza que lhe
cerca no sítio onde reside atualmente.
portanto no pós guerra, quando o reitor Edgard Santos estava empenhado em instalar a Universidade Federal da Bahia e para isto recrutou professores daqui e de fora do país. Foram os tempos áureos da Universidade Federal da Bahia. Aqui o professor Romano Galeffi fundou a cadeira de Estética e sua esposa Maria Luigi Magnavita foi ministrar aulas de italiano na então Faculdade de Filosofia e Letras da UFBA, que funcionava na Avenida Joana Angélica, em Salvador, e tiveram  cinco filhos. A grande maioria dos filhos é professor e um deles tem uma pizzaria. Sua mãe também fundou a Associação Cultural Ítalo- Brasileira Dante Alighieri, que funcionava na sede do Clube Casa D’Itália, no bairro do Campo Grande, e depois foi transferida para sua sede atual na Rua General Labatut, no bairro dos Barris, também em Salvador.
                                      
                                                 SUA TRAJETÓRIA

Peixe pintado em  madeira
sobra de uma construção.
Falando de sua infância lembrou que nos primeiros anos moravam no bairro do Politeama e que depois seu avô Pasquale Magnavita fez um prédio de nove andares no bairro dos Barris, na Rua Travessa dos Barris, que fica atrás da Biblioteca Central. Ela e seus irmãos não brincaram na rua como acontecia na época, principalmente com as crianças que moravam em bairros populares ou no
interior do Estado. Neste prédio moravam também as famílias de seus tios e assim as brincadeiras eram com irmãos e primos no playground. Sua família é da região da Calábria, na Itália, e seus avós chegaram à Bahia em 1913 antes da Primeira Guerra mundial. Foi o pároco da cidade onde eles moravam, na Itália, que avisou que a guerra estava prestes a romper e era melhor saírem para ficarem seguros. Foi assim que vieram e aqui tiveram catorze filhos.

Pássaros pintados em tijolos
 de demolição.
A Elisa Galeffi fez seu curso primário no Instituto Dante Alighieri e o curso colegial no Colégio das Mercês, que funcionava na Avenida Sete de Setembro, em Salvador. Em 1974 prestou vestibular para a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e relembrou que no início ficou receosa de desistir do curso. Mas, prosseguiu e passou a fazer oito matérias por semestre, e assim terminou a faculdade em quatro anos. Disse que foi uma aluna dedicada e que graças ao que aprendeu na Escola de Belas Artes tem um gosto especial em experimentar. Ao concluir o seu curso na Escola de Belas Artes em 1978 conseguiu uma bolsa de estudos para estudar Design na Universitá Internazionale Dell’Arte, em Florença, Itália , de 1979 a 1980 – “Conservação e Restauração de Obras de Arte” na Universitá Internazionale Dell’Arte; em 1980 estudou Restauração de Bens Móveis na Escola de Belas Artes da UFBA e em 2007 Arte e Filosofia” , Latu Sensu , na Pontifícia Universidade Católica (PUC) – Rio de Janeiro/RJ.

Fotografia de Elisa  Galeffi.
Foram anos de muito aprendizado porque como sabemos a cidade de Florença é um grande museu a céu aberto e lá você respira arte todo tempo. Lá estão obras importantes de Michelangelo como a bela escultura de David, dentre outras. Elisa Galeffi voltou em 1980 . Ela  é dessas artistas que gosta de resolver todas as etapas do seu trabalho artístico. Disse que quando tentou terceirizar alguma etapa não se deu muito bem, então prefere ela mesma realizar todas as fases de suas obras. Criou uma marca chamada Tuto a Mano e passou a fazer objetos em série para vender. Abriu um bazar e assim fazia estamparias em almofadas, tangas, lenços de cabeça e muitos outros produtos. Brincando ela lembrou que até hoje seu tio o arquiteto Pasquale Magnavita tem umas almofadas que ela fez.

Trabalhou  de 1982 a 1991  como Conservadora e Restauradora,  e depois foi ser professora nas Oficinas de Expressão Artística do Museu de Arte Moderna da Bahia, MAM-Ba  ensinando  Desenho de Padronagens e Estamparia sobre Tecido . Em 1980 foi professora de História da Arte, na Universidade Católica de Salvador.

Acrílica s/tela inspirada na flora local.
Em seguida trabalhou restaurando obras de arte. Lembra que a Bahia tinha um mercado de arte ainda incipiente e que os artistas promoveram uma campanha para que ao construir um prédio as construtoras fossem obrigadas a colocar uma obra de arte nos seus empreendimentos imobiliários. Foi criada uma lei municipal com esta finalidade e isto funcionou por um determinado período, mas depois esta obrigatoriedade foi relaxada.

                                         GOSTA DE EXPERIMENTAR 

Pássaro pintado numa ferramenta.
Ela tem um olhar atento e gosta de experimentar e utilizar todo tipo de suporte, além  de restauração de obras de arte e de móveis antigos. Em Florença teve a oportunidade de aprender a lidar com o moderno e o antigo e aqui restaurou móveis de sua própria casa e de parentes, porque segundo me disse  é importante valorizar os materiais de que esses móveis são feitos. Em 1984 se casou e o esposo foi transferido pela Odebrecht onde trabalhava para a cidade do Rio de Janeiro. Hoje estão morando numa casa que construíram na zona rural próxima a cidade de Araras-RJ. Os dois filhos já estão adultos e tocando suas vidas. Reconhece que nunca foi uma artista de carreira, mas que foi fazendo coisas durante sua trajetória e no período que morou no Rio de Janeiro viu as dificuldades para expor numa galeria. Diante disto vai fazendo suas experiências, procura utilizar outros suportes para expressar a sua arte, faz fotografias e na sua convivência com o campo tem se dedicado a captar as formas e cores da fauna e da flora. Falando da vegetação disse que cada folha  tem um mundo particular e rico e assim vai registrando esses detalhes. Tem uma folha mais verde, outra vai envelhecendo uma parte fica amarela, depois seca. Outra fica retorcida, outra se bifurca, etc. Também gosta de andar no campo e na praia e sempre encontra uma raiz , um pedaço de tronco, uma boneca abandonada, uma pedra e recolhe esses materiais para depois utilizá-los em suas obras. Ela tem uma série de esculturas e objetos feitos com este material
Máscara em madeira, pregos,
arame e arruelas
 .
reciclado. Me disse que lá no Vale das Videiras, onde mora, usam muito o que chamam de nó de pinho para acender o fogo das lareiras e que esta madeira tem formas incríveis. “Tenho necessidade de retratar o design criado por Deus e a sua multiplicidade de formas e cores”, adianta Elisa Galeffi. Até uma ferramenta agrícola ela transformou num pássaro. Por falar em pássaro com uns velhos tijolos de uma demolição Elisa Galeffi fez uma série de pinturas representando os pássaros da região e alguns exóticos. Gosta mais de trabalhar com tijolos já usados porque têm uma textura melhor enquanto os novos as suas faces são mais lisas. Fez também uma série de máscaras usando restos de madeira que são utilizados para fazer cercas, grampos de pregar arame, pregos e parafusos.  Realmente este olhar atento da Elisa Galeffi é o que lhe impulsa a continuar criando.

Também trabalha usando o stencil que é uma espécie de molde vazado onde o artista tem diversos tipos de desenhos, escolhidos de acordo com a sua necessidade e a temática que vai trabalhar. Lembro que uma das formas de imprimir em série nos anos 70 usávamos o stencil para fazer os textos de protestos e alguns colegas conseguiam fazer desenhos nas matrizes e assim produzíamos jornais que eram distribuídos entre os estudantes. Este tipo de stencil não era de folhas de acetato, era de um material que lembra o papel. Quando a gente datilografava as teclas da máquina de escrever furavam o papel e por ali a tinta penetrava quando a gente colocava esta matriz para rodar no mimeógrafo. Atualmente existem stencil que já vem com os desenhos que são perfeitos porque usam o laser para cortar as folhas de acetato.Alguns artistas preferem eles mesmos fazer os desenhos na folha de acetato.

 

                                        EXPOSIÇÕES E CRÍTICA

Monogravura  feita no Parque
Lage-RJ , em 1991.
 Quando expôs Séries , no Espaço BAHVNA, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador,   a Elisa Galeffi apresentou várias assemblages que são obras feitas com objetos diversos reciclados e colecionados. A propósito sua colega Lígia Aguiar que já expôs muitos artistas quando tinha sua galeria Abaporu, no Pelourinho, escreveu: “Ausente da cena artística de Salvador, desde 1991, quando se transferiu para o Rio de Janeiro, a artista baiana Elisa Galeffi, retorna agora e retoma o seu lugar até então adormecido. Com a mostra Séries, nos brinda com objetos, pinturas e fotografias, realizadas entre os anos 2000 e 2010. Expõe a sua delicada poética e deixa exposto o talento para ressignificar o óbvio. Reinventa a partir de materiais colecionados ao acaso. Tira partido da fotografia com as surpresas encontradas em caminhadas habituais pela urbe, onde brinca com o jogo de luz e sombra sobre os resíduos descartados. O resultado é de uma riqueza de forma e cor, com belas e contemporâneas composições. A sua verve Duchampiana dá um novo sentido às coisas tiradas da sua função, como as formas hexagonais destacadas pelo equilíbrio de cores, formadas com tampas de garrafas pet; a série de relógios com suporte de bacias de alumínio, nas quais Elisa nos envolve e nos leva a querer parar o tempo em nossas lembranças juvenis. Da sua natureza cordial e bem humorada surgem os objetos com um refinado humor. É o caso dos Filhos da Placa Mãe, e do ótimo e ambíguo título de um dos trabalhos: Ishtar, a Deusa do Amor e Sua Aranha Devoradora de Corações artista mexe com a sua memória afetiva e o seu bem estar, para nos deliciar e prender com as tramas coloridas dos minuciosos objetos de impecável fatura. Na maioria, são trabalhos que denotam a sua preocupação com o meio ambiente, e um olhar atento para o novo e o inesperado.”

Primavera, lápis de cor sobre
 fotografia digital, 2016.
.
EXPOSIÇÕES - 2018 “Segundo Tempo” – Mostra Coletiva no Palacete das Artes – Salvador; 2013 – “Mostra Coletiva 30 x 30 (pequenos formatos)” – Galeria Nelson Dahia – Senac Pelourinho – Salvador ; 2011 – “Series” – Individual – Espaço Bahyna – Salvador; 2010 – “Series” – Exposição individual – Casa Versal – São Paulo/SP; 2004 – Coletiva – Galeria Gourmet- Espaço Cultural Shopping Downtown – Rio de Janeiro/RJ; “Caixas Culinárias” – Exposição individual – Café Venâncio,  Leblon – Rio de Janeiro/RJ; “Em Algum Lugar do Brasil” – Exposição individual no Unicentro Belas Artes – São Paulo/SP; 2002 – “Gávea Circular” — Gávea – Rio de Janeiro/RJ ; 1999 – “VII Arte de Portas Abertas” – Santa Teresa – Rio de Janeiro/RJ; 1998 – V e VI “Arte de Portas Abertas” – Santa Teresa – Rio de Janeiro/RJ; “Abstração dos Sentidos” – Pintura sobre Panôs –Exposição individual – Galeria da Associação Cultural Dante Alighieri – Salvador e na “Babilônia Feira Hyppie” – Participação com material de arte aplicada em decoração no Jóquei Clube – Rio de Janeiro/RJ; 1993 – “Coletes Para Mocinhos e Bandidas” – Exposição individual no Rio Design Center – Leblon – Rio de Janeiro/RJ; 1992 – “Impressões” – Com o artista Antônio Vieira – Galeria de Arte da Casa do Estudante do Brasil – Pinturas e impressões sobre tecido - Rio de Janeiro/RJ; 1991 – Mandalas – No evento “Nova Era” – Hotel da Bahia – Salvador ; 1989 – “Mandalas” – Exposição individual – Shopping Barra –Salvador; 1988 – “Tecendo a Forma” – Com as artistas Inha Bastos e Ângela Cardoso – Galeria Fazarte – Salvador; “Caleidoscópio” – Exposição individual – Espaço e Restaurante Pituaçú – Salvador; 1985 – Mostra “Camelô Artístico”, aplicação de objetos de camelô nas Artes Plásticas – Praça da Igreja de Santana - Rio Vermelho –Salvador; 1981 – “Flexo, Reflexo” – Exposição Coletiva – Eucatexpo Galeria de Arte – Salvador; 1980 – “A Natureza é o Tema” , Galeria O Cavalete – Clube Bahiano de Tênis – Salvador; e Coletiva “Cinque Brasiliani” – Casa Dello Studente –Florença – Itália; 1977 – Exposição dos Diplomados da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia – Galeria Canizares – Salvador – BA; 1970 – “Primeiro Salão de Estreantes” – Panorama Galeria de Arte– Salvador e em 1968 – Exposição dos Estudantes Secundaristas – Gabinete Português de Leitura- Salvador - BA.

sábado, 18 de maio de 2024

ESCULTURAS COM REFERÊNCIAS DO SERTÃO DE FLORIVAL OLIVEIRA

Florival Oliveira no seu ateliê em Riachão
do Jacuípe, Bahia.

 O artista Florival Oliveira é natural da cidade de Riachão do Jacuípe, interior da Bahia, onde nasceu em dezoito de agosto de 1953 e depois de estudar o primário foi fazer o segundo grau no Colégio João Campos. Veio em 1975 para Salvador fazer o vestibular na Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia  e aqui permaneceu algumas décadas. Porém, a terra natal o chamou de volta, e agora está morando num sítio em Riachão do Jacuípe onde tem seu ateliê e vem desenvolvendo suas esculturas de madeira que são apreciadas pelos amantes das artes tridimensionais. Ele diz com satisfação que sua “mãe d. Raulinda Oliveira Carvalho era filha de um autêntico vaqueiro chamado Antônio Geminiano de Santana. Seu pai era agente estatístico, e filho de um homem de negócios  de Feira de Santana chamado de Francisco Pinheiro de Carvalho. Eram duas realidades antagônicas. "Somos cinco filhos e todos tiveram uma tendência artística, mas como meu pai morreu muito cedo, eu tinha dezenove anos de idade quando ele faleceu de um acidente automobilístico, e tive de tocar a vida em frente sempre pensando em ser artista”. Desde criança que ele andava pelas cordoarias, sapatarias, carpintarias, cerâmicas e marcenarias em todas essas oficinas observando o dia-a-dia dos artesãos. Ficava olhando eles trabalharem e isto criou em si desde cedo uma vontade de mexer com a madeira, couro e outros materiais. o artista  acredita que sua arte sofre até hoje influências destas vivências que ficaram marcadas desde a infância em seu inconsciente.

Esculturas em madeira
de sua autoria.
Também gostava de música e até cantava em dupla na Cidade e chegou com alguns colegas a viajar até Feira de Santana para comprar uns instrumentos musicais e formaram uma banda de rock. Recorda da alegria quando compraram os instrumentos e trouxeram numa Rural Willis para Riachão do Jacuípe. Chegaram a fazer três festas tocando com a banda que chamava Os Invencíveis. Paralelamente iniciou fazer alguns entalhes sob influência de seu pai que gostava de pintar. Disse que um dia seu pai, que era amigo do prefeito João Campos,de Riachão do Jacuípe,  que também era o médico da cidade, o levou até sua fazenda em busca de algum tronco de umburana para que pudesse fazer uma escultura. Terminou não encontrando e depois das conversas com os anfitriões voltaram para Riachão do Jacuípe. Fazia uns entalhes de ex-votos, índios da Ilha de Marajó, figuras exóticas da Ilha de Páscoa e até egípcias. Esta sua inclinação para a arte escultórica segundo Florival Oliveira “me levou para onde estou até hoje. Também pintava umas telas”. Em 1959 seu pai fundou junto com amigos o Clube Euterpe Jacuipense, em Riachão do Jacuípe, e lembra ele que pintou nas paredes do salão de dança umas faixas sinuosas imitando as serpentinas coloridas e uns círculos lembrando os confetes que eram muito presentes nos carnavais da época. Hoje Florival Oliveira identifica estas imagens que seu pai fez unindo um confete no outro, uma serpentina noutra e como sendo figuras neoconcretas. Depois ele foi para a Lira 8 de setembro. Ai Florival Oliveira chama a atenção que numa cidade que não tinha muitos habitantes, contava naquela época com duas filarmônicas.

                                      AS PRIMEIRAS OBRAS

Foto I - Entrada de  uma roça  com
um xique-xique. Foto II -Escultura
inspirada na caatinga.
Lembra que seu pai arranjou umas tábuas de pinho e fez algumas placas de entalhes que foram as suas primeiras expressões artísticas. Também foi ele que lhe apresentou o compasso, réguas, transferidor, os esquadros e lápis. Como ele era agente estatístico e trabalhava no Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE tinha que fazer mapas e estatísticas e até mesmo dos limites do município . Iniciou e concluiu os estudos entre altos e baixos na escola pública, mas não encontrou na mesma aquilo que já estava latente no seu íntimo. Recém formado como Técnico em Contabilidade, pelo Colégio João Campos (1974), foi contratado para trabalhar na Empresa de Exportação José Wilson Carneiro & Cia e no mesmo ano migrou para a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural da Bahia-EMATER-BA como auxiliar de escritório e lá permaneceu até 1976. De maneira que quando o Florival Oliveira foi trabalhar na EMATER-BA também passou a fazer mapas estatísticos e desenhos necessários aos projetos rurais. Tinha que delimitar as áreas, e lhe davam as referências e ele desenvolvia os mapas dos projetos para que o banco financiasse o produtor rural.

Performance que fez no Museu de Arte Moderna
na Bahia utilizando folhas de jornais
.
Já na Escola de Belas Artes em 1978 participou de um grupo chamado Integração Artística, ligado também a Escola de Teatro, que funcionava vizinha a de Belas Artes. Organizaram um movimento coletivo com teatro, música, dança e artes plásticas. Neste interim junto com Gilson Rodrigues, já falecido, foram decorar o Teatro Vila Velha para o famoso Baile das Atrizes.  Surge uma Semana Experimental dentro da Escola de Belas Artes e o Florival Oliveira foi trabalhar utilizando o jornal como material para suas esculturas. Lembra que fez uma instalação usando folhas de jornal, pintou e depois salpicou de preto. Aí fez uma performance usando sua experiência teatral. Disse que “a escolha do jornal tem a ver com uma questão social e que se inspirou naquela época nos moradores de rua que tinha visto na Rua Carlos Gomes, em Salvador.” Arranjou um fraque emprestado pela colega Elisa Galeffi, que pegou do seu pai o professor de Estética, da Escola de Belas Artes, Romano Galeffi e assim se apresentou no Teatro Santo Antônio. Lembra que foi aluno por dois semestres do professor Galeffi e que o mesmo entendia muito de Estética, mas que achava difícil. Chegou a comprar um livro de sua autoria para tentar entender, mas confessou que era muito complicado, e que o professor  entendia as dificuldades dos alunos para entender seus ensinamentos de Estética. Também disse que a professora Zélia Uchoa lhe chamou para estudar modelo vivo com ela. Respondeu que ia fazer, mas não copiando o modelo vivo, mas que ele lhe disse que iria fazer síntese do movimento do corpo. “Passei o semestre com ela e este estudo da anatomia humana me ajudou e comecei a ter uma relação com o gesto, lembrando os Jacques Pollack.

Escultura  de arame galvanizado.
No seu texto de apresentação Florival Oliveira escreveu sobre suas vivências e também da trajetória como profissional das artes começou ainda como estudante em 1979, sendo contratado para compor o quadro de professor na Escola Santa Clara do Desterro em Salvador, onde passou a lecionar Desenho Geométrico. Em 1980, ingressou no serviço público pela Fundação Cultural da Bahia, designado para trabalho no Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM) onde na sequência exerceu várias funções nas oficinas como: monitor; técnico em assuntos culturais; supervisor técnico, posteriormente foi promovido à Coordenador das Oficinas (MAM) até 2006. A partir dessa data, assumiu a função de professor de litografia e xilogravura. No ano de 2016 encerrou suas atividades nesta instituição mediante aposentadoria. Nesse interim, fez curso livre de cinema, teatro introdução à música, cinema de animação e gravura. Cheguei a ser supervisor das Oficinas de Expressão Artística, onde fiquei 36 anos, até me aposentar. Juarez Paraíso coordenou até 1988 as oficinas quando o Heitor Reis veio a ser o diretor do museu. As oficinas foram muito importantes para as artes plásticas na Bahia que chegou a ter dezoito artistas ensinando. Disse que Virgínia Medeiros, escultura, e Stella Carrozzo, História da Arte foram neste período as últimas que entraram como professoras nas Oficinas.

                                       PERMANÊNCIA NA EBA

Objeto, de Florival Oliveira.
Durante sua permanência na Escola de Belas Artes a partir de 1976 quando iniciou o curso, disse que foi um momento de muita alegria e teve que procurar um emprego para se sustentar. “Em 1977 ingressou no curso de cinema do Clube de Cinema da Bahia no Instituto de Cultura Brasil Alemanha (ICBA), tendo como professores Guido Araújo, Joan Cloud Barnabé, Deter Yeung, Bráulio Tavares e Orlando Sena. Ação que estimulou novos aprendizados a partir da construção de uma ideia cinematográfica na bitola S/8 tendo como resultado o documentário “Pião de Motor”. Faz questão de dizer que nunca foi um ator que se destacasse, inclusive tinha pouco texto em suas apresentações. Realizou diversas apresentações em praças públicas e em comunidade de bairros do Marotinho e Pelourinho, em Salvador;

Participou do festival de São Cristóvão - SE. Fez Teatro de Câmara: Leitura dramática no Teatro Santo Antônio - Peça "Os Fuzis da Senhora Carrà” e também do chamado teatro tradicional ou teatrão atuando como ator em “Oxente Gente Cordel”, peça premiada pelo projeto Mambembe, em turnê pelo Brasil no Teatro Vila Velha, em Salvador; Teatro Parque em Brasília; Teatro Nacional de Comédias, no Rio de Janeiro e no Teatro Pixinguinha, em São Paulo. Ainda pelo Teatro Livre da Bahia, atuou como ator na peça "Gracias a la Vida” (1978), apresentada no Teatro Vila Velha, em Salvador e no Teatro Parque, Brasília). Peça-Prêmio Martins Gonçalves. Ministrou oficinas filantrópicas de xilogravura em diversas escolas

Escultura em madeira  feita com a junção 
de vários elementos
.
Nas suas idas para Riachão do Jacuípe esteve numa marcenaria onde eram feitas
portas que a parte superior formava um semicírculo e viu restos de madeira cortados nesta forma. Conseguiu com o dono da marcenaria este material que ia ser descartado e contratou um carroceiro que transportou o material para um espaço que ele tinha na cidade. Isto foi em 1997 e começou a trabalhar fazendo suas esculturas e no ano seguinte fez uma exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia com esculturas feitas usando este material. Também já tinha outras obras criadas anteriormente utilizando folhas de jornais, arame e fibras, as quais juntou com as esculturas de madeira para esta exposição no MAM-Ba. Foi aí que abraçou a escultura em madeira. Disse que a sinuosidade presente em suas esculturas tem a ver com o embate com ele próprio. “Eu desenho na madeira estes elementos sinuosos e mandou cortar na marcenaria e depois monto minhas esculturas. Sempre digo que minhas esculturas têm a influência do sertão, tem muito a ver com as coisas de lá. Tenho uma história de vivência, tive próximo a mim um homem que era vaqueiro, que era meu avô materno e as vivências no campo. Aqui descubro a caligrafia, a escrita que leva a cultura do boi, e daqui retiro o arco. Sempre nos meus desenhos estava formando este meu trabalho escultórico”, afirmou Florival Oliveira com a influência das coisas do sertão.

 Em Salvador ele pintou com outros artistas alguns muros, inclusive um na curva

Florival Oliveira mostra   xilogravura.
na Rua da Paciência, no Rio Vermelho, onde todos os anos a pintura era renovada. Já aí ele pintava trazendo as referências vivenciadas em sua terra natal. Em 1985 foi ao Rio de Janeiro e conseguiu participar da exposição Escrita e a Caligrafia da Arte Brasileira, na Funarte, e o curador foi Marc Berkovitz, que era diretor da Funarte, e da exposição O Desenho Brasileiro, na Escola do Parque Lage, sendo curador Marcos Lontra. Foi convidado a fazer uma individual na Galeria Contemporânea, no Rio de Janeiro. Tinha todo material pronto, mas estava casado com dois filhos e não teve condições de ir montar a exposição. Perdeu esta oportunidade importante. De lá para cá não tem parado.  Atualmente sua produção está limitada a dois trabalhos por mês, porque segundo ele a madeira exige muito esforço individual para montar a escultura. Trabalha com madeira, ferro e aço inoxidável. Trouxe recentemente dois trabalhos para a Galeria Paulo Darzé que contam a história da uma vaca Jersey chamada Pombinha, que estava parida recentemente e um boi grande rompeu a cerca que os separava e subiu nela, que não aguentou o peso do boi e terminou morrendo. O Florival guardou os ossos e inspirado neles criou estas duas esculturas. São estruturas tridimensionais vazadas e podem ficar na parede, dependuradas ou mesmo no chão em estruturas apropriadas.

                                                    EXPOSIÇÕES

Florival e sua obra na Exposição  
da Geração 70, no Museu de Arte 
da Bahia.
Tem obras nos acervos de museus daqui e de Feira de Santana além de coleções particulares e já fez várias exposições individuais e coletivas. Numa exposição de gravuras realizada em Salvador, seu colega e arquiteto Almandrade escreveu: "Figuras que não são figuras, flutuando no universo do papel, criando uma dialética do preto e do branco. São formas desconhecidas, fabricadas por uma técnica e uma psicologia que significam aquilo que o olhar imagina, atravessando o mundo real e se instalam no mundo da linguagem e do sentimento. Não são estrelas porque não brilham, são signos, quem sabe buracos negros que captam as emoções do espectador e revelam uma luminosidade inacreditável, como espelhos que refletem ansiedades de quem os completa.

As gravuras de Florival Oliveira são puras imagens que registram além da definição de seus contornos, as texturas naturais de madeira. A mão do artista delimita um território, formas sem a ligação com as referências habituais, quase silenciosas, que é preciso escutá-las como se escuta os sonhos. Possivelmente códigos secretos de um inconsciente que se manifesta, na estreita relação do artesanato e da inteligência que fazem da arte um lugar de meditação. Há uma ausência, um deserto. Um invisível gravitando entre o trabalho e o corpo de observador. Um teorema para o conhecimento e a imaginação resolverem."

Gravura de autoria de Florival Oliveira.
Sua primeira exposição foi em 1976 no Clube Euterpe, em Riachão do Jacuípe,
Bahia; na I Feira Experimental de Arte, da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. 1977 - Semana Experimental de Arte da EBA, UFBA. 1978 - Salão Baiano de Artes Visuais, no foyer do Teatro Castro Alves. Salvador-Ba. 1979- I Salão de Artes plásticas Universitária Hoje, na Galeria Cañizares,Salvador-Bahia;1979 - IV Salão Nacional Universitário, em Florianópolis, Santa Catarina; Exposição na Galeria do Instituto Cultural Brasil-Alemanha, Salvador-Ba; Exposição no Gabinete Português  de Leitura, Salvador-Ba; Exposição na Galeria Atelier, em Vitória da Conquista-Ba;1979 - Encontro Regional de Bolsa de Artes, EBA-UFBA; Exposição Cadastro, no Museu de Arte Moderna da Bahia; Exposição Coletiva, na Prefeitura  Municipal de Santo Amaro da Purificação-Ba e  na I Feira de Ideias, Salvador-Ba. 1980 - Exposição Poemas Cartazes, no ICBA, Salvador-Ba; Semana Franco Brasileira, MAM-Ba; Exposição Agora Mostra Sete, no Museu de Arte Moderna da Bahia. 1981- 35 Anos da Gravura na EBA-UFBA; IV Salão Nacional de Artes, Rio de Janeiro-RJ, Encontro de Artistas do Nordeste, no MAM-BA e Exposição Coletiva na Sociedade Brasileira de Pesquisa e Ciências - SBPC, em Salvador-Bahia. 1982 - Painel do Cine Glauber Rocha e Painel Coletivo, na Escola Parque Salvador-Ba. 1983 -Circuito de Arte do Nordeste, no Museu de Arte Moderna da Bahia, Coletiva e, Feira de Santana-Ba, Clube de Campo Cajueiro, Painel coletivo no Muro do Rio Vermelho, Salvador-Ba e Exposição de Gravura, no Solar do Ferrão, Salvador-Ba. 1984 - 
Bela escultura em madeira e parafusos
que sugere uma tensão .
Encontro de Artistas Brasileiros, no Museu de Arte Moderna ,Salvador-Ba, Exposição Artistas , no Centro de Convenções , Salvador-Ba, Painel Coletivo no Muro do Rio Vermelho, Salvador-Bahia e Exposição Coletiva de  Gravura, no MAM-Ba.1985 - Exposição de Geração 70, no Museu de Arte da Bahia, Exposição  Origem da Paz, no Museu de Arte da Bahia, Exposição Caligrafia e Escritura Brasileira, na Funarte, no Rio de Janeiro, Exposição Desenho Brasileiro, no Parque Lage, no RJ, Painel Coletivo, na Escola de Arquitetura da UFBA e o Painel n Semana do Índio, no ICBA.1986 - Exposição na Galeria Época, Salvador-Ba, Exposição na Galeria O Cavalete, Exposição no Galpão e Exposição na Galeria da ACBEU. 1987 - Exposição na Galeria Raimundo Oliveira, em Feira de Santana-Ba. 1988 - Exposição no Instituto do Cacau, Salvador-Ba, Exposição Dez Gravadores Baianos, na Galeria O Cavalete, Feira da Cultura Baiana, Buenos Aires, na Argentina e Expo na Galeria FazArte, Salvador-Ba. De 1989 a 2019 fez mais quarenta e cinco exposições entre individuais e coletivas aqui, em outros estados e fora do país.

Entre os prêmios estão: 1978 - Prêmio Mambembão com a peça de cordel Oxente Gente, no Teatro Livre da Bahia; Prêmio Martins Gonçalves, no Teatro Livre da Bahia, com a peça Gracias a lá Vida.1980 -Prêmio Funarte de Xilogravura no V Salão Nacional Universitário, Salvador, Bahia. 1986 - Prêmio Animation com o filme de animação Garrancho, na Office Nacional du Film, Universidade Federal da Bahia.

 

 

 

 

sábado, 11 de maio de 2024

ARMANDO CR O EMPRESÁRIO QUE VIROU FOTÓGRAFO

Armando CR com duas fotos de sua autoria.

Tenho especial interesse pela fotografia por registrar numa fração de segundos uma cena inusitada reinterpretando a realidade transformando em imagens. Sendo jornalista convivi com muitos fotógrafos durante anos que registravam instantaneamente com sua técnica e astúcia  os fatos jornalísticos. Aprendi na prática que uma fotografia vale realmente mais que muitas palavras. Atualmente com a chegada dos smartphones e a fotografia digital muita gente se arvora à fotógrafo, mas existe uma grande diferença entre aqueles que quase mecanicamente registram um fato ou uma paisagem e os fotógrafos verdadeiros que registram com a cabeça, com o coração, com o sentimento. Esses são parecidos com os pintores diante de uma tela em branco. Eles sentem o ambiente, a luz, procuram um ângulo melhor e eliminam coisas que não lhes interessam na composição. A criatividade prevalece e a câmara é apenas uma ferramenta como se fosse um pincel imaginário. Hoje os smartphones trazem câmeras cada vez mais sofisticadas e as pessoas registram tudo, inclusive sem até nós percebermos. Já as câmeras fotográficas usadas por fotógrafos profissionais têm inúmeros recursos que lhes permitem diferenciar suas fotos das amadoras.  E na tarde de ontem me vi diante de inúmeras fotos de qualidade ímpar ao visitar o Studio do fotógrafo Armando CR, na Rua da Paciência, no bairro do Rio Vermelho, em Salvador. Fiz com ele um tour cultural e visual ao examinar as belas e criativas fotografias que ele fez em Marrocos, Myanmar ( antiga Birmânia), que para ele foi a viagem mais produtiva. Esteve em Cuba e na Índia em ambas  por quatro vezes, Camboja, Vietnã, Butão, Veneza, Portugal,  Cachoeira e muitos outros lugares. Agora está programando passar um mês em Bali fotografando. É um verdadeiro festival de cores, cheiros e belezas que vão
Gal Costa, no Festival  MPB,  da  Record.
penetrando em seu corpo através o olhar. É como que se você estivesse fisicamente naqueles locais observando e captando cada detalhe das cores das vestes e dos ornamentos nos corpos dos personagens, e vendo as expressões captadas por suas câmeras alemãs Leicas, tidas como uma das melhores no mercado. Conheço o Armando há décadas e sendo repórter fui entrevistá-lo algumas vezes quando ele era um empresário bem sucedido e a sua empresa Correa Ribeiro S/A Comércio e Indústria, grande exportadora de cacau da Bahia, estava em operação. Depois como comerciante dono das lojas Tio Correa. Hoje, afastado de sua empresa que a transformou numa holding patrimonial ele vive imerso no mundo da fotografia. Não foi de repente que aconteceu esta transformação do empresário num fotógrafo. Sua paixão pela fotografia vem desde jovem, quando estudante registrou nos anos 60 muitos momentos dos festivais de música popular brasileira da TV Record, em São Paulo. 

Armando CR aos oito
anos com sua Brownie.
Mas o seu contato com a fotografia começou ainda mais cedo, ou seja, aos oito anos de idade quando seu avô materno Armando Joaquim de Carvalho lhe presenteou com uma câmera Brownie, de fabricação americana, durante um cruzeiro de navio com toda sua família percorrendo vários países europeus. Com o passar dos anos a primeira câmera se perdeu, mas o gosto pela fotografia permaneceu. Agora para sua satisfação a sua secretária Andressa Santana conseguiu comprar pela internet uma câmara Brownie pela bagatela de R$150,00, igual à que ganhara do seu avô. Hoje ele ostenta numa prateleira do seu Studio junto a foto dele aos 8 anos de idade com sua primeira câmera Brownie dependurada no pescoço. É interessante ressaltar que ele também coleciona fotografias de famosos fotógrafos como do Sebastião Salgado, Mário Cravo Neto, do cubano Alberto Corda, que fez aquela foto famosa de Che Guevara que os estudantes de esquerda costumam ostentar em camisetas e os comunistas em suas manifestações. Tem ainda uma foto do suíço René Burri, falecido em 2014, que foi fotógrafo da agência Magnum Photos por décadas e ficou conhecido por fotografar Che Guevara com um imenso charuto cubano e Pablo Picasso, além de políticos, militares e artiscas, assim como, imagens icônicas de São Paulo e Brasília. Inclusive participou de um Workshop em Cuba promovido pela brasileira a paulista Alessandra Silvestre, casada com o embaixador da França e que moram na ilha caribenha. Neste evento estiveram presentes fotógrafos famosos e ele fez amizade com o colega fotógrafo Mário Dias, que é cubano, e já esteve por lá quatro vezes. Compareceu também ao Workshop o suíço René Burri, fotógrafos americanos, um austríaco e de vários outros países.  os filhos de Che Guevara e o Fidelito, filho do Fidel Castro. Nessas viagens e convivências aprendeu a sair da bolha e a trocar experiências enriquecedoras.

                                         ROMPEU A BOLHA

Armando CR no seu apartamento do
Copan, em São Paulo.Época de militância.
O nosso personagem chama-se Armando de Carvalho Correa Ribeiro, assina como fotógrafo Armando CR, é filho de Carlos Correa Ribeiro Filho e Maria Lúcia Carvalho Correa Ribeiro. Nasceu na maternidade do Hospital Português, em Salvador, no dia 15 de fevereiro de 1944, portanto está com oitenta anos de idade bem vividos. Morou do zero aos 16 anos no famoso edifício Oceania, de frente ao Farol da Barra. Fez seu curso primário na Escola Modelo, que era uma escola particular, mista, pertencente à professora Helena Mateus, conhecida por proporcionar uma boa qualidade de ensino e também por ser disciplinadora. De lá foi para o Colégio Antônio Vieira onde permaneceu até o terceiro ano quando decidiu romper a bolha do conforto de sua família abastada e foi para São Paulo morar no famoso edifício Copan, cujo projeto arquitetônico é de Oscar Niemeyer. Este prédio foi inaugurado em 1966, fica na Avenida Ipiranga, na capital paulista número 200, tem 32 andares e 1.160 apartamentos de dimensões variadas e ocupados por cinco mil pessoas. Imagine o choque que o jovem Armando Correa Ribeiro deve ter sofrido, ele que morava aqui confortavelmente. Em São Paulo fez o vestibular para a Escola de Administração da Fundação Getúlio Vargas onde entrou no dia 31 de março de 1964, exatamente no dia da chamada por muitos de Revolução de 1964 e outros de Contra Revolução, Ditadura Militar e por aí vai. Participou ativamente do movimento estudantil e chegou a ser eleito vice-presidente do Diretório Acadêmico da faculdade com uma votação expressiva.

Foto I e II - Brindes das Lojas Tio Correa.
Foto III - filmete da DM9  no Dia das Mães.
 Foto IV -Trio Elétrico das Lojas Tio Correa
  no carnaval baiano. Estas fotos acima
não são 
de autoria de Armando CR.

Decidiu ir trabalhar numa madeireira e lá tinha um diretor da empresa que era
comunista e possuía muitos livros sobre o marxismo. Com medo de receber a visita do DOPS e da Polícia Federal pediu que guardasse esses livros, e assim ele andava com seu fusca cheio de livros considerados “subversivos”, para cima e para baixo pelas ruas de São Paulo. A sorte é que nunca caiu numa blitz. Montou um pequeno laboratório fotográfico no seu apartamento no icônico edifício Copan e ali revelava fotos dos festivais de música popular e outras que fazia em São Paulo.  No ano de concluir o seu curso de Administração na FGV foi procurado por um diretor da Gillette que estava decidido a trocar os dirigentes aqui no Brasil. Era para ganhar um bom dinheiro cerca de NCR$1.200,00. Seu tio Fernando Correa Ribeiro ao saber da sua decisão resolveu convidá-lo para voltar para Salvador e ingressar na Correa Ribeiro S/A Comércio e Indústria recebendo o salário de NCr$900,00. Portanto um pouco menor que o oferecido pela multinacional. Mas, atendendo aos apelos dos pais e do tio Fernando Correa Ribeiro resolveu voltar e passou a trabalhar terminando como dono da empresa que hoje é uma holding patrimonial.

Baile em Cuba, onde vemos a singeleza
dos gestos.
Lembrou que aprendeu a língua inglesa através de um curso à distância chamado de Calvert School of English e neste curso tinha aulas até de História da Arte. Nas viagens que fez para a Europa e Estados Unidos teve a oportunidade além de conhecer as cidades visitar muitos museus importantes e esta formação do curso de inglês“me ajudou muito em apurar a minha sensibilidade e conhecimentos, e a partir daí desenvolver a arte fotográfica que faço atualmente”, disse Armando CR. 
Adiantou quando retornou e já casado foi morar na Avenida Princesa Izabel, no bairro da Barra Avenida, em Salvador, e montou também um pequeno laboratório para revelar suas fotos. Continuava com a exportação de cacau, mas quando a lavoura cacaueira passou a declinar especialmente com a vassoura de bruxa que dizimou muitas fazendas ele resolveu acabar com a empresa exportadora de cacau. Em 1966 o Armando Correa Ribeiro fundou as famosas lojas Tio Correa que tinha o inconfundível senhor barrigudo com bigodão como marca e chegou a ter 32 lojas espalhadas por várias cidades baianas da região cacaueira e duas em Recife. Uma curiosidade quem criou a marca das lojas foi a empresa de publicidade Publivendas, do saudoso Fernando Carvalho, que
Velha barqueira fotografada no Vietnã.
contratou um freelancer para fazer a marca. Depois passou a ser atendida pela Propeg e finalmente a DM9. Na época o Duda Mendonça  seu amigo, era corretor de imóveis da Construtora Promov e  resolveu abrir uma empresa de publicidade e marketing político juntamente com Zilmar Fernandes e passou a atender as Lojas Tio Correia. As lojas funcionaram de 1968 quando o Armando Correa Ribeiro vendo a inflação alcançar altos patamares de cerca de 80% resolveu se desfazer das lojas e procurou o empresário Israel Portnoy, que era o dono da concorrente Lojas Ypê, que as adquiriu e passou a operar as lojas. O trato era que Israel Portnoy ia operar as Lojas Tio Correa por um ano e se não conseguisse tocar o negócio lhe devolveria. Três meses depois Israel Portnoy o procurou e disse que o negócio estava fechado definitivamente , acertaram os valores, e assim semanalmente 
Menino num mercado na Índia.
o Israel fazia o pagamento parcelado do valor acordado.
Após a venda das lojas o Duda Mendonça o convidou para trabalhar na DM9 e assim ele foi com toda a sua família para São Paulo integrando o marketing político da campanha de Paulo Maluf, que terminou sendo eleito governador de São Paulo, e o Armando Correa Ribeiro ficou por sete anos na capital paulista. Seguiu para Brasília trabalhar na campanha do candidato a governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, que foi eleito. Voltando a Salvador criou o Restaurante Trapiche Adelaide que foi um sucesso, depois o demoliu e construiu um conjunto de  vinte  apartamentos de alto padrão no local. Agora deu um tempo à sua atividade empresarial e vive dedicado à sua arte de fotografar.

                                                         A FOTOGRAFIA

Armando CR fotografou a Menina
da Ilha de Maré e  voltou  a
 fotografá-la dez anos depois.
"E
u precisava me firmar como fotógrafo e nas viagens que fiz e ainda vou fazer ao invés de escrever na ficha do hotel profissão de empresário passei a escrever profissão: fotógrafo, com muito orgulho. Durante a pandemia decidi fazer uns vídeos, criei um canal no YouTube e hoje já tenho 48 vídeos falando das minhas viagens para fotografar e também da minha arte fotográfica, e hoje já tenho 13 mil inscritos e continua crescendo.  “A coisa mais gratificante é quando encontro alguém e fala das minhas fotos. Esta semana encontrei um advogado conhecido e me chamou para ir à sua fazenda fazer umas fotos. Sinto hoje que muitas pessoas já me aceitam como fotógrafo”, disse Armando CR, com entusiasmo de um jovem iniciante. Ele adora fotografar e revelou que sente uma grande sensação de conquista quando consegue capturar algo mais numa fotografia.  “Pode ser um certo olhar, uma expressão significativa, um movimento ou simplesmente o gesto puro e inocente de uma criança. A minha maior satisfação é quando minha foto desperta alegria nas pessoas, quando me descrevem como àquela fotografia lhe tocou, muitas vezes refletidas e descritas  em um sorriso ou mesmo em um quase silencioso , eu gostei.”

Foto de uma tourada em Portugal.Isto
mesmo  na terra lusitana tem touradas .
Falando da arte fotográfica de Armando CR é preciso antes de tudo esquecer o empresário bem sucedido que conheci e olhar com atenção as imagens que  consegue captar com suas câmeras e principalmente com sua aguçada sensibilidade. Posso dizer que Armando é um artista ousado que rompeu a sua bolha de conforto e sai por aí procurando captar a essência das pessoas, das paisagens e objetos que lhes tocam de perto. Sua postura é diferente daquela do turista deslumbrado que sai por aí fotografando tudo. Não, Armando CR sabe o que lhe interessa fotografar, vive emocionalmente aquele momento e vibra quando consegue transformar aquela realidade numa fotografia de qualidade. Suas fotos emanam sentimento como uma tela de um artista. São emoções diferentes? São.  o artista vai criando a cada passo e pode demorar até meses. O fotógrafo muitas vezes conta apenas com fração de um minuto para realizar aquela foto fantástica. Mas, são emoções que surgem com a mesma intensidade e quando um artista recebe um elogio da tela 
Monge  em Mynmar, antiga Birmânia.
que pintou e o Armando CR de sua fotografia. Esses elogios se equivalem. É o reconhecimento explícito de um trabalho feito com suor, emoção e sensibilidade. 
O fotógrafo americano Arnold Newman ficou conhecido por seus retratos ambientais. Ele conseguia capturar a essência das pessoas e também suas obras. Fez retratos de políticos como de John Kennedy e outras celebridades, e falando da arte fotográfica disse: “Nós não tiramos fotos com nossas câmeras nós tiramos fotos com os nossos corações e mentes. Elas são reflexo de nós mesmos... o que somos e o que pensamos”. Ele nasceu em Nova Iorque em 3 de março de 1918 e faleceu em 6 de junho de 2006, na sua cidade natal.

                                          EXPOSIÇÕES REALIZADAS

Foto na chamada Cidade
Azul, em Marrocos.
Em 1969 – participou da 2ª Bienal da Bahia, Salvador-Ba;  2006 da exposição Bahia, Brasil e o Mundo, no Manhattan Square Salvador - Ba;  2011 da mostra Caboclos de Itaparica, na Biblioteca Juracy Magalhães Júnior, na ilha de Itaparica, Bahia e - expôs na Casa da Cultura Galeno D’Ávelírio , em Cruz das Almas, Bahia;  2014 – expôs no Museu Afro Brasil, em São Paulo e participou da mostra Minha Bahia, na Casa Cor Bahia, em Ilhéus-Bahia ; 2015 da exposição Terra Brasil, na cidade de Vila Nova de Gaia, em Portugal;  da Artists Across Continents, na II Cultural Week Brasil-Noruega Brazilian Embassy, em Oslo, Noruega;  da Artcom International Expo Carrousel du Louvre, em Paris, França; 2016 do Bahia-Brasil Quotidiano no Gat Rossio Hotel, em Lisboa, Portugal;   da exposição O Olhar do Viajante, na Art Embassy Gallery, em Lisboa, Portugal; da 6TH Dimension International Art Show, em Birla Academy of Art & Culture, em Kolkata, ,West Bengali, na Índia; 2017 exposição Uma Índia, dois Olhares, no Museu da Misericórdia, Salvador-Ba;2018 exposição na Embaixada da Índia, Brasília; 2019  exposição na Land + Scape, Forneria – Salvador-Bahia; 2020 exposição Iemanjá no Hotel Fasano, Salvador-Ba;  2023 da exposição Verdade e Liberdade , no Bicentenário de Independência do Brasil na Bahia na Caixa Cultural,  e da XXIII Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em Cores, ambas em Salvador-Bahia.