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Florival Oliveira no seu ateliê em Riachão do Jacuípe, Bahia. |
O artista Florival Oliveira é
natural da cidade de Riachão do Jacuípe, interior da Bahia, onde nasceu em
dezoito de agosto de 1953 e depois de estudar o primário foi fazer o segundo
grau no Colégio João Campos. Veio em 1975 para Salvador fazer o vestibular na
Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia e aqui permaneceu algumas décadas. Porém, a
terra natal o chamou de volta, e agora está morando num sítio em Riachão do
Jacuípe onde tem seu ateliê e vem desenvolvendo suas esculturas de madeira que
são apreciadas pelos amantes das artes tridimensionais. Ele diz com satisfação que
sua “mãe d. Raulinda Oliveira Carvalho era filha de um autêntico vaqueiro
chamado Antônio Geminiano de Santana. Seu pai era agente estatístico, e filho
de um homem de negócios de Feira de Santana chamado de Francisco Pinheiro de Carvalho.
Eram duas realidades antagônicas. "Somos cinco filhos e todos tiveram uma
tendência artística, mas como meu pai morreu muito cedo, eu tinha dezenove anos de
idade quando ele faleceu de um acidente automobilístico, e tive de tocar a vida
em frente sempre pensando em ser artista”. Desde criança que ele andava pelas
cordoarias, sapatarias, carpintarias, cerâmicas e marcenarias em todas essas
oficinas observando o dia-a-dia dos artesãos. Ficava olhando eles trabalharem e
isto criou em si desde cedo uma vontade de mexer com a madeira, couro e outros
materiais. o artista acredita que sua arte sofre até hoje influências destas
vivências que ficaram marcadas desde a infância em seu inconsciente.
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Esculturas em madeira de sua autoria. |
Também gostava de música e até
cantava em dupla na Cidade e chegou com alguns colegas a viajar até Feira de Santana
para comprar uns instrumentos musicais e formaram uma banda de rock. Recorda da
alegria quando compraram os instrumentos e trouxeram numa Rural Willis para
Riachão do Jacuípe. Chegaram a fazer três festas tocando com a banda que
chamava Os Invencíveis. Paralelamente iniciou fazer alguns entalhes sob
influência de seu pai que gostava de pintar. Disse que um dia seu pai, que era
amigo do prefeito João Campos,de Riachão do Jacuípe, que também era o médico da cidade, o levou até
sua fazenda em busca de algum tronco de umburana para que pudesse fazer uma
escultura. Terminou não encontrando e depois das conversas com os anfitriões
voltaram para Riachão do Jacuípe. Fazia uns entalhes de ex-votos, índios da
Ilha de Marajó, figuras exóticas da Ilha de Páscoa e até egípcias. Esta sua
inclinação para a arte escultórica segundo Florival Oliveira “me levou para
onde estou até hoje. Também pintava umas telas”. Em 1959 seu pai fundou junto com
amigos o Clube Euterpe Jacuipense, em Riachão do Jacuípe, e lembra ele que pintou
nas paredes do salão de dança umas faixas sinuosas imitando as serpentinas
coloridas e uns círculos lembrando os confetes que eram muito presentes nos
carnavais da época. Hoje Florival Oliveira identifica estas imagens que seu pai
fez unindo um confete no outro, uma serpentina noutra e como sendo figuras
neoconcretas. Depois ele foi para a Lira 8 de setembro. Ai Florival Oliveira
chama a atenção que numa cidade que não tinha muitos habitantes, contava
naquela época com duas filarmônicas.
AS PRIMEIRAS OBRAS
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Foto I - Entrada de uma roça com um xique-xique. Foto II -Escultura inspirada na caatinga. |
Lembra que seu pai arranjou umas
tábuas de pinho e fez algumas placas de entalhes que foram as suas primeiras
expressões artísticas. Também foi ele que lhe apresentou o compasso, réguas,
transferidor, os esquadros e lápis. Como ele era agente estatístico e
trabalhava no Intituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE tinha que fazer mapas e estatísticas e até mesmo dos
limites do município . Iniciou e concluiu os estudos entre altos e
baixos na escola pública, mas não encontrou na mesma aquilo que já estava
latente no seu íntimo. Recém formado como Técnico em Contabilidade, pelo Colégio
João Campos (1974), foi contratado para trabalhar na Empresa de Exportação José
Wilson Carneiro & Cia e no mesmo ano migrou para a Empresa de Assistência
Técnica e Extensão Rural da Bahia-EMATER-BA como auxiliar de escritório e lá
permaneceu até 1976. De maneira que quando o Florival Oliveira foi trabalhar na
EMATER-BA também passou a fazer mapas estatísticos e desenhos necessários aos
projetos rurais. Tinha que delimitar as áreas, e lhe davam as referências e ele
desenvolvia os mapas dos projetos para que o banco financiasse o produtor
rural.
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Performance que fez no Museu de Arte Moderna na Bahia utilizando folhas de jornais. |
Já na Escola de Belas Artes em
1978 participou de um grupo chamado Integração Artística, ligado também a
Escola de Teatro, que funcionava vizinha a de Belas Artes. Organizaram um movimento coletivo com teatro, música, dança e artes plásticas. Neste interim
junto com Gilson Rodrigues, já falecido, foram decorar o Teatro Vila Velha para
o famoso Baile das Atrizes. Surge uma
Semana Experimental dentro da Escola de Belas Artes e o Florival Oliveira foi trabalhar
utilizando o jornal como material para suas esculturas. Lembra que fez uma
instalação usando folhas de jornal, pintou e depois salpicou de preto. Aí fez
uma performance usando sua experiência teatral. Disse que “a escolha do jornal
tem a ver com uma questão social e que se inspirou naquela época nos moradores
de rua que tinha visto na Rua Carlos Gomes, em Salvador.” Arranjou um fraque
emprestado pela colega Elisa Galeffi, que pegou do seu pai o professor de
Estética, da Escola de Belas Artes, Romano Galeffi e assim se apresentou no
Teatro Santo Antônio. Lembra que foi aluno por dois semestres do professor Galeffi
e que o mesmo entendia muito de Estética, mas que achava difícil. Chegou
a comprar um livro de sua autoria para tentar entender, mas confessou que era
muito complicado, e que o professor entendia as dificuldades dos alunos para
entender seus ensinamentos de Estética. Também disse que a professora Zélia
Uchoa lhe chamou para estudar modelo vivo com ela. Respondeu que ia fazer, mas
não copiando o modelo vivo, mas que ele lhe disse que iria fazer síntese do
movimento do corpo. “Passei o semestre com ela e este estudo da anatomia humana
me ajudou e comecei a ter uma relação com o gesto, lembrando os Jacques
Pollack.
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Escultura de arame galvanizado. |
No seu texto de apresentação
Florival Oliveira escreveu sobre suas vivências e também da trajetória como profissional
das artes começou ainda como estudante em 1979, sendo contratado para compor o
quadro de professor na Escola Santa Clara do Desterro em Salvador, onde passou
a lecionar Desenho Geométrico. Em 1980, ingressou no serviço público pela Fundação
Cultural da Bahia, designado para trabalho no Museu de Arte Moderna da Bahia
(MAM) onde na sequência exerceu várias funções nas oficinas como: monitor;
técnico em assuntos culturais; supervisor técnico, posteriormente foi promovido
à Coordenador das Oficinas (MAM) até 2006. A partir dessa data, assumiu a
função de professor de litografia e xilogravura. No ano de 2016 encerrou suas
atividades nesta instituição mediante aposentadoria. Nesse interim, fez curso
livre de cinema, teatro introdução à música, cinema de animação e gravura. Cheguei
a ser supervisor das Oficinas de Expressão Artística, onde fiquei 36 anos, até
me aposentar. Juarez Paraíso coordenou até 1988 as oficinas quando o Heitor
Reis veio a ser o diretor do museu. As oficinas foram muito importantes para as
artes plásticas na Bahia que chegou a ter dezoito artistas ensinando. Disse que
Virgínia Medeiros, escultura, e Stella Carrozzo, História da Arte foram neste
período as últimas que entraram como professoras nas Oficinas.
PERMANÊNCIA NA EBA
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Objeto, de Florival Oliveira. |
Durante sua permanência na Escola
de Belas Artes a partir de 1976 quando iniciou o curso, disse que foi um
momento de muita alegria e teve que procurar um emprego para se sustentar. “Em
1977 ingressou no curso de cinema do Clube de Cinema da Bahia no Instituto de
Cultura Brasil Alemanha (ICBA), tendo como professores Guido Araújo, Joan Cloud
Barnabé, Deter Yeung, Bráulio Tavares e Orlando Sena. Ação que estimulou novos
aprendizados a partir da construção de uma ideia cinematográfica na bitola S/8
tendo como resultado o documentário “Pião de Motor”. Faz questão de dizer que
nunca foi um ator que se destacasse, inclusive tinha pouco texto em suas
apresentações. Realizou diversas apresentações em praças públicas e em comunidade
de bairros do Marotinho e Pelourinho, em Salvador;
Participou do festival de São Cristóvão
- SE. Fez Teatro de Câmara: Leitura dramática no Teatro Santo Antônio - Peça
"Os Fuzis da Senhora Carrà” e também do chamado teatro tradicional ou teatrão
atuando como ator em “Oxente Gente Cordel”, peça premiada pelo projeto Mambembe,
em turnê pelo Brasil no Teatro Vila Velha, em Salvador; Teatro Parque em Brasília;
Teatro Nacional de Comédias, no Rio de Janeiro e no Teatro Pixinguinha, em São
Paulo. Ainda pelo Teatro Livre da Bahia, atuou como ator na peça "Gracias
a la Vida” (1978), apresentada no Teatro Vila Velha, em Salvador e no Teatro Parque,
Brasília). Peça-Prêmio Martins Gonçalves. Ministrou oficinas filantrópicas de
xilogravura em diversas escolas
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Escultura em madeira feita com a junção de vários elementos . |
Nas suas idas para Riachão do Jacuípe
esteve numa marcenaria onde eram feitas
portas que a parte superior formava um
semicírculo e viu restos de madeira cortados nesta forma. Conseguiu com o dono
da marcenaria este material que ia ser descartado e contratou um carroceiro que
transportou o material para um espaço que ele tinha na cidade. Isto foi em 1997
e começou a trabalhar fazendo suas esculturas e no ano seguinte fez uma
exposição no Museu de Arte Moderna da Bahia com esculturas feitas usando este
material. Também já tinha outras obras criadas anteriormente utilizando folhas
de jornais, arame e fibras, as quais juntou com as esculturas de madeira para
esta exposição no MAM-Ba. Foi aí que abraçou a escultura em madeira. Disse
que a sinuosidade presente em suas esculturas tem a ver com o embate com ele próprio.
“Eu desenho na madeira estes elementos sinuosos e mandou cortar na marcenaria e
depois monto minhas esculturas. Sempre digo que minhas esculturas têm a
influência do sertão, tem muito a ver com as coisas de lá. Tenho uma história
de vivência, tive próximo a mim um homem que era vaqueiro, que era meu avô
materno e as vivências no campo. Aqui descubro a caligrafia, a escrita que leva
a cultura do boi, e daqui retiro o arco. Sempre nos meus desenhos estava
formando este meu trabalho escultórico”, afirmou Florival Oliveira com a
influência das coisas do sertão.
Em Salvador ele pintou com outros
artistas alguns muros, inclusive um na curva
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Florival Oliveira mostra xilogravura. |
na Rua da Paciência, no Rio
Vermelho, onde todos os anos a pintura era renovada. Já aí ele pintava trazendo
as referências vivenciadas em sua terra natal. Em 1985 foi ao Rio de Janeiro e
conseguiu participar da exposição Escrita e a Caligrafia da Arte Brasileira, na
Funarte, e o curador foi Marc Berkovitz, que era diretor da Funarte, e da exposição
O Desenho Brasileiro, na Escola do Parque Lage, sendo curador Marcos Lontra.
Foi convidado a fazer uma individual na Galeria Contemporânea, no Rio de
Janeiro. Tinha todo material pronto, mas estava casado com dois filhos e não teve
condições de ir montar a exposição. Perdeu esta oportunidade importante. De lá
para cá não tem parado. Atualmente sua produção está
limitada a dois trabalhos por mês, porque segundo ele a madeira exige muito
esforço individual para montar a escultura. Trabalha com madeira, ferro e aço
inoxidável. Trouxe recentemente dois trabalhos para a Galeria Paulo Darzé que
contam a história da uma vaca Jersey chamada Pombinha, que estava parida
recentemente e um boi grande rompeu a cerca que os separava e subiu nela, que
não aguentou o peso do boi e terminou morrendo. O Florival guardou os ossos e
inspirado neles criou estas duas esculturas. São estruturas tridimensionais
vazadas e podem ficar na parede, dependuradas ou mesmo no chão em estruturas
apropriadas.
EXPOSIÇÕES
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Florival e sua obra na Exposição da Geração 70, no Museu de Arte da Bahia. |
Tem obras nos acervos de museus daqui e de Feira de
Santana além de coleções particulares e já fez várias exposições individuais e
coletivas. Numa exposição de gravuras realizada em Salvador, seu colega e
arquiteto Almandrade escreveu: "Figuras que não são figuras, flutuando no
universo do papel, criando uma dialética do preto e do branco. São formas
desconhecidas, fabricadas por uma técnica e uma psicologia que significam
aquilo que o olhar imagina, atravessando o mundo real e se instalam no
mundo da linguagem e do sentimento. Não são estrelas porque não brilham,
são signos, quem sabe buracos negros que captam as emoções do espectador
e revelam uma luminosidade inacreditável, como espelhos que
refletem ansiedades de quem os completa.
As gravuras de Florival Oliveira são puras imagens
que registram além da definição de seus contornos, as texturas naturais de
madeira. A mão do artista delimita um território, formas sem a ligação com
as referências habituais, quase silenciosas, que é preciso escutá-las como
se escuta os sonhos. Possivelmente códigos secretos de um inconsciente que
se manifesta, na estreita relação do artesanato e da inteligência que
fazem da arte um lugar de meditação. Há uma ausência, um deserto. Um
invisível gravitando entre o trabalho e o corpo de observador. Um teorema
para o conhecimento e a imaginação resolverem."
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Gravura de autoria de Florival Oliveira. |
Sua primeira exposição foi em 1976 no
Clube Euterpe, em Riachão do Jacuípe,
Bahia; na I Feira Experimental de Arte,
da Escola de Belas Artes, da Universidade Federal da Bahia. 1977 -
Semana Experimental de Arte da EBA, UFBA. 1978 - Salão
Baiano de Artes Visuais, no foyer do Teatro Castro Alves. Salvador-Ba. 1979-
I Salão de Artes plásticas Universitária Hoje, na Galeria
Cañizares,Salvador-Bahia;1979 - IV Salão Nacional Universitário, em
Florianópolis, Santa Catarina; Exposição na Galeria do Instituto Cultural
Brasil-Alemanha, Salvador-Ba; Exposição no Gabinete Português de Leitura,
Salvador-Ba; Exposição na Galeria Atelier, em Vitória da Conquista-Ba;1979 -
Encontro Regional de Bolsa de Artes, EBA-UFBA; Exposição Cadastro, no Museu de
Arte Moderna da Bahia; Exposição Coletiva, na Prefeitura Municipal de
Santo Amaro da Purificação-Ba e na I Feira de Ideias, Salvador-Ba. 1980 -
Exposição Poemas Cartazes, no ICBA, Salvador-Ba; Semana Franco Brasileira,
MAM-Ba; Exposição Agora Mostra Sete, no Museu de Arte Moderna da Bahia. 1981-
35 Anos da Gravura na EBA-UFBA; IV Salão Nacional de Artes, Rio de Janeiro-RJ,
Encontro de Artistas do Nordeste, no MAM-BA e Exposição Coletiva na Sociedade
Brasileira de Pesquisa e Ciências - SBPC, em Salvador-Bahia. 1982 -
Painel do Cine Glauber Rocha e Painel Coletivo, na Escola Parque
Salvador-Ba. 1983 -Circuito de Arte do Nordeste, no
Museu de Arte Moderna da Bahia, Coletiva e, Feira de Santana-Ba, Clube de Campo
Cajueiro, Painel coletivo no Muro do Rio Vermelho, Salvador-Ba e Exposição de
Gravura, no Solar do Ferrão, Salvador-Ba. 1984 -
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Bela escultura em madeira e parafusos que sugere uma tensão . |
Encontro de Artistas Brasileiros, no Museu de Arte Moderna ,Salvador-Ba,
Exposição Artistas , no Centro de Convenções , Salvador-Ba, Painel Coletivo no
Muro do Rio Vermelho, Salvador-Bahia e Exposição Coletiva de Gravura, no
MAM-Ba.1985 - Exposição de Geração 70, no Museu de Arte da
Bahia, Exposição Origem da Paz, no Museu de Arte da Bahia, Exposição
Caligrafia e Escritura Brasileira, na Funarte, no Rio de Janeiro, Exposição
Desenho Brasileiro, no Parque Lage, no RJ, Painel Coletivo, na Escola de
Arquitetura da UFBA e o Painel n Semana do Índio, no ICBA.1986 - Exposição
na Galeria Época, Salvador-Ba, Exposição na Galeria O Cavalete, Exposição no
Galpão e Exposição na Galeria da ACBEU. 1987 -
Exposição na Galeria Raimundo Oliveira, em Feira de Santana-Ba. 1988 -
Exposição no Instituto do Cacau, Salvador-Ba, Exposição Dez Gravadores Baianos,
na Galeria O Cavalete, Feira da Cultura Baiana, Buenos Aires, na Argentina e
Expo na Galeria FazArte, Salvador-Ba. De 1989 a 2019 fez
mais quarenta e cinco exposições entre individuais e coletivas aqui, em outros
estados e fora do país.
Entre os prêmios estão: 1978 - Prêmio
Mambembão com a peça de cordel Oxente Gente, no Teatro Livre da
Bahia; Prêmio Martins Gonçalves, no Teatro Livre da Bahia, com a peça Gracias
a lá Vida.1980 -Prêmio Funarte de Xilogravura no V Salão
Nacional Universitário, Salvador, Bahia. 1986 - Prêmio Animation com
o filme de animação Garrancho, na Office Nacional du Film, Universidade Federal
da Bahia.