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sábado, 30 de novembro de 2024

MCR GALERIA DE ARTE COMEMORA 35 ANOS

Escultura Maternidade de Mário Cravo,
em pedra sabão. Uma obra maravilhosa!

Os amantes da arte na Bahia estão comemorando os 35 anos da Galeria MCR do casal Marco Couri Brown Ribeiro e  Cláudia Moniz Barreto Ribeiro. É uma história de luta e dedicação neste tortuoso e difícil mercado de arte num país onde sua economia oscila ao sabor da incompetência e da superação de fatos internos e externos.  Ao longo de mais de três década foram realizados importantes leilões e exposições dos grandes nomes da arte baiana e brasileira. Os galeristas têm uma linha de trabalho que visa priorizar a compra e revenda aos clientes e colecionadores de obras de qualidade indiscutível. Estive na última quinta-feira, portanto um dia após a abertura da mostra comemorativa do aniversário da galeria, e posso afirmar que muitas das obras expostas são verdadeiras peças dignas de figurar em qualquer particular ou de museus daqui e de fora do país.

No comunicado de aniversário que os galeristas enviaram convidando seus clientes e amigos está escrito: “Sempre evitamos modismos e neste período acredito que desenvolvemos um bom trabalho de valorização dos artistas... Arte de qualidade é uma excelente reserva de valor e bom investimento a longo prazo”. Concordo com os galeristas porque acredito que investir numa obra de arte de qualidade e até mesmo apostar num novo talento é um investimento a longo prazo de boa liquidez assegurada. Entre os inúmeros artistas que já participaram de leilões e exposições na MCR Galeria de Arte figuram o mineiro Inimá de Paula, Rescala, Bianco, Jenner Augusto, Carlos Scliar, Calasans Neto, Floriano Teixeira, Jamison Pedra, Carybé, Genaro de Carvalho, Carlos Bastos, Jayme Hora e muitos outros.

                              A História

Os galeristas Marco Curi e Cláudia Moniz.
O Marco Couri Ribeiro é engenheiro civil e ainda jovem era um jogador de tênis de destaque e chegou a ganhar um campeonato nacional na sua categoria. Porém, ao se formar foi trabalhar no mercado financeiro e certo dia o banco onde já exercia suas atividades há alguns anos fechou. Já estava prestes a iniciar em outra instituição financeira  teve a ideia de abrir uma galeria de arte. Nesta época como gostava de arte já tinha uma pequena coleção de obras de artistas baianos. Sua esposa Claudia Moniz Barreto Ribeiro é pedagoga, e também chegou a pensar em abrir uma escola, mas depois de muita conversa decidiram pela galeria. Vemos que estavam certos, e hoje a MCR Galeria de Arte é uma das mais importantes de Salvador, inclusive tem sede própria a qual acaba de ser ampliada ocupando mais uma das lojas do Ondina Apart/Hotel onde funciona desde a sua fundação. Abriram a galeria que era tocada inicialmente pela Claudia Ribeiro e quando Marco Couri foi surpreendido pelo fechamento do banco ele passou uns três meses ao lado da esposa na galeria. Como tinha muitos contatos de gente do mercado financeiro e com empresários as vendas aumentaram e ele depois deste período decidiu que ali era o seu lugar. Desistiu de ir para uma nova instituição financeira que lhes ofereceu alguns cursos e achou por bem declinar. Ele fez a escolha certa e hoje é um galerista respeitado. Faz questão de falar sobre cada obra sempre contando detalhes da trajetória da mesma ou destacando algum fato curioso ligado aquela obra ou ao seu autor.

Catálogos de algumas das  exposições 
feitas pelos galeristas da MCR.
A primeira exposição que fez foi em 1991 do pintor baiano Helder Carvalho, recentemente falecido. Helder foi seu amigo de infância e um bom pintor que na época era figurativo. Com o passar dos anos abraçou definitivamente o abstracionismo, e acredito que sua obra é uma das que melhor representa o movimento abstracionista na Bahia. Estive várias vezes com Helder que tinha  grande talento e  um temperamento controverso.

Voltando a falar do trabalho do galerista Marco Couri ele ressaltou que naquela época existia um grande movimento cultural e a economia baiana estava em alta com as atividades do Polo Petroquímico de Camaçari, o Centro Industrial de Aratu e o cacau representava uma grande fatia no pib do Estado. Isto refletia no mercado de arte. Depois vieram as conturbações políticas resultando em problemas na economia durante várias décadas até a chegada da pandemia. Por ser uma atividade que trabalha com um produto que não é de primeira necessidade o mercado de arte é um dos que mais sofre com essas conturbações na economia. O importante é que os galeristas atravessaram esses mares tortuosos com altivez e estão aí mostrando os talentos dos artistas baianos e brasileiros.

       “OS BAIANOS” NO OLHAR DE ARMANDO CR

Capa do livro Os Baianos e  foto de um
guardião de oferendas.
Fiz um texto longo contando a trajetória de Armando Correa Ribeiro que o conhecia quando era repórter do jornal A Tarde como um vitorioso empresário do setor de exportação de cacau. Fiquei curioso quando anos depois o encontrei envolvido com a fotografia. Sou particularmente um apreciador da fotografia e na minha atividade profissional como repórter e depois editor no jornal A Tarde tinha uma convivência diária com vários fotógrafos. Alguns de excelente qualidade profissional e outros nem tanto.  No texto  publicado neste blog em maio do corrente ano tem o título “Armando CR o empresário que virou fotógrafo”. Ele inclusive reproduz este título na sua apresentação do livro Os Baianos dizendo “Recentemente, um jornalista publicou ...” e transcreve o título sem citar o meu nome.  O Armando Correa Ribeiro, ele assina Armando CR, é apaixonado pela fotografia ao ponto de largar outras atividades que exerceu durante a maior parte do tempo de sua vida para focar na sua paixão. Procurou ler, estudar e participar de cursos e de encontros com grandes mestres da fotografia. Olha com seu olhar profissional as fotos dos fotógrafos consagrados mundialmente e assim vai traçando uma trajetória de sucesso também nesta nova atividade.

Armando CR lendo a apresentação
do seu livro Os Baianos.
Quando fomos folhear  o seu livro Os Baianos ele disse que nada foi planejado e que está lançando esta obra ao completar seus oitenta anos de idade. declarou que  está  com a energia de um homem de sessenta anos, goza de boa saúde e disposição para fazer muitas fotografias. Parece estar mesmo! Quando examinávamos uma das fotos do seu livro me deparei com a foto de umas caretas que ele fotografou em Maragogipe, interior da Bahia. Foi quando lhe informei da existência de grupos de caretas muito importantes no povoado do Barrocão, no município de Ribeira do Pombal, no sertão da Bahia. Imediatamente mostrou interesse de conhecer esses grupos e pediu à sua secretária que pesquisasse na internet. De posse das informações afirmou que vai tentar fotografar na época da sua apresentação pelas ruas do povoado. 
O Armando CR escreveu na apresentação que  “O livro Os Baianos é um ato de gratidão ao povo da minha terra, que tanto me inspira e que me deu régua e compasso.” Outro aspecto interessante foi revelar  que “a fotografia lhe conectou com o mundo real, o mundo das ruas, capturando alegrias, tristezas, melancolia, mas, sobretudo, extraindo beleza de tudo isso”

Também conversamos como é difícil explicar às pessoas de fora a condição de ser baiano e toda a complexidade deste povo miscigenado e plural. Vivemos num micro espaço neste Planeta cheio de beleza e contradições. Aqui a alegria está estampada no rosto das pessoas, a vendedora da loja lhe chama de “meu amor”, sem nunca ter lhe visto uma vez sequer. O vendedor ambulante ou o guardador de carro lhe chama de barão, coronel, e os mais descontraídos de “meu tio”. Quando não “diga aí Bahia” Confesso que não gosto quando me chamem de “meu tio” ou  “diga aí Bahia”. Primeiro não sou tio do cidadão e segundo sou torcedor do Vitória. Voltando ao livro o Armando CR fez as fotos nas festas populares em Salvador, na Feira de São Joaquim, em Igatu, na Chapada Diamantina, em São Félix - Cachoeira e Maragogipe.

Vale a pena conferir a exposição da MCR Galeria de Arte e também o livro Os Baianos de Armando CR.

 

  

 

 

 

sábado, 23 de novembro de 2024

ZÉMARIA E SEU ENCANTAMENTO PELO MAR

 Zémaria de Matos finaliza
mais uma obra em seu ateliê  
no bairro de Stella Maris
.

Depois de alguns anos reencontro o pintor baiano natural de Conceição do Coité, interior da Bahia, o Zémaria de Matos que tem uma trajetória de sucesso com a realização de várias exposições individuais e coletivas, e tem trabalhos em importantes coleções daqui e de fora. É um pintor que gosta de retratar o mar, os pescadores na sua lida diária de lançar seus barcos e canoas em busca do sustento, os coqueirais, o encontro do rio com o mar, os banhistas nas praias, enfim seu olhar atento está sempre voltado para as coisas do mar. O colorido de suas obras registra bem esta paleta de cores fortes e tropicais com a luminosidade que encantam não só os residentes aqui, mas principalmente os visitantes que vêm de outros continentes. O professor Romano Galeffi quando da sua exposição na NR Galeria de Arte das saudosas July - Julieta Isensée - e de Graça Coelho, em 1998, viu as marinhas do artista e escreveu: “...o epiteto de poeta das marinhas, não tanto pela insistência ou quase exclusividade do tema que o inspira, quanto, de preferência, pela peculiaridade de sua linguagem pictórica”.

Obras em óleo sobre tela onde aparecem
barcos, marisqueiras, e pescadores na lida.
O Zémaria de Matos além de pintor é um bom tocador de violão e gosta de cantar nos encontros com seus amigos. Ele disse que por muitas vezes esteve na casa do escultor Tati Moreno, no condomínio  Interlagos, localizado no muncípio de Camaçari, Região Metropolitana de Salvador  para participar de encontros  com os amigos para bebericar e curtir uma boa música. “Eram momentos de muita alegria e felicidade. Falávamos de tudo de arte, política, pessoas e o que prevalecia mesmo era alegria e muita música enquanto bebíamos e comíamos alguns tira-gostos. Nem percebíamos o tempo passar. Muitas vezes a gente ficava a noite inteira”. Portanto, além de ser um poeta da cor o Zémaria é um poeta da vida. Gosta de curtir o seu tempo  entre a pintura e a música. Restam poucos artistas que retratam as coisas do mar em Salvador. O maior expoente aqui foi o José Pancetti que tinha sido marinheiro e conhecia bem as coisas do mar. Já o Zémaria de Matos veio do sertão da Bahia e o mar causou nele um impacto muito forte. Aqui encontrou uma razão maior para expressar a sua arte ao se deparar com este mundão de azul deste mar que nos surpreende a cada dia. É difícil que uma pessoa atenta e sensível não pare diante de uma tela e passe a contemplar os detalhes ali registrados por este pintor.

Passeio na praça,  mais um óleo sobre tela .
Também gosta de pintar as pessoas simples nos seus afazeres como catadores de café, marisqueiras, vendedores de feiras livres, lavadeiras, dentre muitos outros sempre procurando enaltecer a figura humana com um colorido pessoal. Ele disse numa entrevista em 2005 a um jornal local que "primeiro penso que é um presente que estou dando às pessoas, este meu mundo exposto. " Em outro trecho diz que "as coisas que sei fazer é pintura e tocar violão. Não acredito que hoje eu possa viver de violão. Nesses anos de ofício à pintura tem sido o meu sustento e de minha família. Não é fácil, mas é possível". Com estas duas frases ditas pelo artista dão para entender melhor o seu jeito de ser e a essência deste ser humano afável e que sempre traz um sorriso nos lábios.

                                                             QUEM É

O Zémaria durante a nossa conversa 
sobre a sua trajetória artística.
Seu nome é José Maria de Matos nasceu em oito de maio de 1945, filho de João Evangelista de Matos e d. Olímpia Cunha de Araújo. O pai era agente ferroviário em Salgadália, pertencente ao município de Conceição do Coité, na Bahia, e seu pai foi registrar na sede do município porque o cartório ficava lá. Ficou em Salgadália até os cinco anos de idade. Quase não se lembra da infância onde nasceu. É o caçula de onze filhos do casal, dos quais apenas estão vivos ele e uma irmã. Brincando disse naquela época “os casais trabalhavam direitinho”. Quando a família veio para Salvador foi morar no Alto do Peru, localizado entre os bairros de Fazenda Grande e São Caetano. Ele disse que morava numa rua que ficava bem no alto e de lá avistava os barcos singrando a Baía de Todos os Santos. Era sua principal diversão ficar observando o mar e o movimento das embarcações, e lembrou que estava acostumado a ver bodes, carneiros e o gado. Aqui passou a ver e admirar o mar e  na época existiam duas pequenas ilhas na área do bairro dos Alagados. Uma ocupada pela indústria de óleo comestível a Sanbra e outra que o padre João construiu a igreja da Assunção. Estas ilhas foram interligadas ao continente quando do aterro para construção de casas do bairro dos Alagados que na época acabou com as palafitas. Atualmente novas palafitas vêm sendo construídas mar adentro.

Pintura Natureza Morta com Paisagem,
óleo sobre tela.
Lembra que ainda criança seu pai faleceu e sua mãe comprava cadernos de desenho onde ele copiava Gibis e a figura do Amigo da Onça, criado por Péricles, e que fez grande sucesso na Revista O Cruzeiro. Sua mãe casou novamente e teve o décimo primeiro filho. Disse que a acompanhava para receber a pensão no prédio da Leste Brasileiro, que fica na Rua Conde D’Eu, na zona do Comércio, na Cidade Baixa, em Salvador. Estudava o primário na Escola Castro Alves, que fica na Rua Barão de Cotegipe, defronte ao icônico prédio da Fábrica de Refrigerantes da Fratelli Vita, na Cidade Baixa. Imaginava nos seus sonhos infantis que ao crescer seria cantor ou jogador de futebol, porque já tocava violão desde cedo, talento que herdou do pai. Em seguida foi estudar no ginásio no Colégio João Florêncio Gomes onde concluiu o ginasial, mas não conseguiu terminar o colegial. O professor Ivan Lopes, pai do pintor Ivo Neto o conheceu e mandou que ele pintasse a óleo. Lembrou que Ivan era todo machão e lhe disse “este negócio de desenho a bico de pena é coisa de mulher. Vá pintar a óleo. Ele era todo metido a machão e lembro que colocava um coco no chão e quebrava com o pé." Aos vinte e sete anos casou, tem dois filhos, e foi ensinar cartazismo e vitrinismo no SENAC. Ficaram desempregados ele e a mulher que na época tinha
Obra Poças , óleo sobre tela.
trabalhado no Serpro. Ao olhar uma folha de jornal no chão de sua casa viu um anúncio de emprego de esteticista. Recortou o anúncio e foi até o local. O recrutador gostou dele e mandou para São Paulo onde passou dois meses treinando com o médico Hosmany Ramos, que na época era ligado a uma senhora da família Klabin. Ele vinha para Salvador às  segundas e  sextas-feiras para fazer o procedimento de  implantação de cabelo. O médico  marcava a área onde ia o implante e o Zémaria o ajudava a colocar a peruca. Os donos da clínica criaram o salão de beleza sofisticado e os frequentadores eram pessoas que frequentavam as altas rodas e os clubes sociais de ponta. O dono da clínica era um ítalo-americano chamado Jimi Antony Luciano e a esposa era d. Úrsula, alemã.  Um certo dia falou para d. Úrsula que não viria naquele sábado porque teria que pegar um cavalete na loja Os Pithons para levar para casa .Um amigo iria transportar o cavalete em sua camionete. Foi quando ela disse non, non eu mesma levo. Colocarm o cavalete  num rack do carro dela e quando chegaram na casa de Zémaria  ela viu seus trabalhos e resolveu fazer uma exposição na própria clínica. Comprou garrafas de uísque e muitos canapés e convidou as pessoas amigas e clientes. Foi um sucesso o Zémaria  vendeu quase todos os quadros e com o dinheiro das vendas comprou o seu primeiro carro, que naturalmente foi um fusquinha. Ficou alguns anos na Clínica Hair Center, na Ladeira da Barra, e depois de uma denúncia a polícia fechou a clínica. Dias depois foi reaberta. Foi quando Zémaria  resolveu deixar o trabalho bem antes da clínica fechar definitivamente. Continuou pintando e em 1979 fez uma exposição na no Centenário do Diário de Notícias ,na Rua Carlos Gomes, hoje o casarão é ocupado pelo Centro Cultural da Caixa Econômica Federal. Em seguida fez outra exposição na  Galeria Grossmann que funcionava no Orixás Center, na Avenida Sete de Setembro, e nunca mais parou. Vive exclusivamente de sua arte cada vez se empenhando em realizar um trabalho mais autoral e este seu esforço tem sido reconhecido por colecionadores e seus colegas e críticos de arte. 

                                                       REFERÊNCIAS

Zémaria em 2002 na exposição da NR 
Galeria de Arte, no  shopping Iguatemi.

Entre as referências  sobre a  sua obra encontramos textos  de Carybé, Calasans Neto, Floriano Teixeira, Carlos Eduardo da Rocha, Alto Tripodi, Romano Galeffi, Reynivaldo Brito, Matilde Matos, dentre outros.
Vejamos:"(...) O que move o artista é a convicção de que há na natureza determinados valores que precisam ser resguardados, e sua arte é uma busca neste sentido. (...) Se o artista procura reforçar os laços do homem com a natureza através dos seus quadros, é a sua intimidade com o assunto escolhido que o leva a fazer de cada uma aquela mistura muito especial de beleza morna e suave, pura e ao mesmo tempo selvagem (...)" Matilde Matos.

"(...) As marinhas de Zémaria bem poderiam justificar, e sem favor nenhum, ao jovem artista, o epíteto de "poeta das marinhas", não tanto pela insistência ou quase exclusividade do tema que o inspira quanto, de preferência, pela peculiaridade de sua linguagem pictórica. O colorido natural que lhe é sugerido por uma espécie de incontido prazer mimético - tão respeitável quanto vários outros tipos deleite que caracterizam a escolha de muitos artistas de todos os tempos - não impede a este jovem que se distinga no difícil jogo da simplificação. Isso ele consegue mediante massas tonais metamorfoseadas à guisa de uma espécie flu fotográfico - por pinceladas horizontais - enquanto a escolha predominante de horizontes altos na composição de cada tela lhe permite aquelas ritmadas alternâncias de cheios e vazios, de massas cromáticas suscitadoras de imagens sólidas e de imagens fluidas ou aeriformes, que lhe sugere aquelas sábias transições entre tons mais ou menos quentes e tons mais ou menos frios. E se cada tela se constitui numa unidade inconfundível com todas as outras, um verdadeiro espetáculo de coral harmonia poderá fruidor encontrar neste conjunto de telas agora exposto, onde não há indícios daquele primarismo que é responsável por tanta parte de devaneios antiestéticos."Romano Galeffi.

Obra Lavadeiras, óleo sobre tela.
 "O artista plástico Zémaria foi evoluindo a cada exposição, apresentando uma produção digna de ser apreciada em qualquer galeria do país. O figurativo tem forte presença em sua obra baseado na gente simples envolvida em seu labor cotidiano. São as lavadeiras, os pescadores e as marisqueiras, dentre outros, que lutam com dificuldade para garantir a sobrevivência de sua prole, examinando uma obra de Zémaria é possível saber que ela produzida nos trópicos pela sua luminosidade e força das cores. Ele segue com sua calmaria, própria de uma personalidade contemplativa, construindo seus personagens que passam a ganhar via, quando a gente passa a olhar com mais vagar. Outras coisas que me chamam a atenção é que ele não fica preso a uma temática, procura outros caminhos e este é
Obra Acupe, óleo sobre tela. Veja o
contraste das cores escolhidas .
papel do artista que deve sempre buscar. Esta busca incessante é que faz com que alguns se destaquem e exponham coisas novas, que comumente chamamos de fase. Essas fases são assim classificadas para nominar as mudanças que vão ocorrendo no caminho de cada artista. Alguns criticam esta denominação, mas existe uma tendência do ser humano em rotular as coisas como uma forma mais fácil de identificá-las. Reynivaldo Brito .

 

 

 

 

 

"Anjos da guarda todos nós tivemos e Zémaria tem o seu. A mão de José Pancetti o guia pelo difícil caminho de pintar o mar de pintar seu fim que são as praias, seus rochedos e sua gente. E o moço Zémaria vem construindo seu espaço com tenacidade e muito trabalho. Trabalhar, procurar fazer e desfazer e refazer é a única maneira que os artistas têm para um dia encontrar-se, já com seu estilo próprio, buscado e suado, poder mostrar sua maneira de ver a vida."Carybé.

"Zémaria e a Luz do Mar
Do Sertão para O mar foi trajetória traçada por Zémaria a procura do seu porto temático. Não teve pressa seguiu a trilha das cores do ocre da terra até onde vinha a grande luz azul do mar. E foi criando sem mundo povoado que vive ao sabor das ondas brancas derramadas nas areias da Bahia com sensibilidade e observação de quem tem a obrigação de fidelidade das figuras que emergem da linha do horizonte. O que é admirável em Zémaria? O pintor é o seu trato de equilíbrio entre suas cores e é o que segura a composição com canoas, saveiros e habitantes do litoral como se fossem uma peça indivisível; cheias de vida e esta luz tão forte que vem em ondas também deste nosso Atlântico Sul. Existe um mundo fantástico nestes quadros que nos prende fazendo do espectador um bem estar fugindo da inquietude barulhenta das cidades."Calasans Neto.

Canoas ancoradas na praia depois
da lida no mar, óleo sobre tela.

"A Bahia é uma terra brasileira farta em pintores de marinha. (.) Zémaria, um desses adeptos dessa forma de pintura, decidiu mudar de caminho. Agora, os seus quadros são povoados de figuras humanas que ele vai criando com cautela e habilidade. Talento e força de vontade não lhe faltam, por isso acredito que em pouco tempo teremos mais um artista baiano subindo a escada do sucesso e ganhando espaço no nosso mercado de arte."Floriano Teixeira . 

                                  EXPOSIÇÕES  COLETIVAS

Em 1979 - Galeria Grossmann ; 1982 - Itaigara Galeria de Arte; 1983 - Itaigara Galeria de Arte; Panorama Galeria de Arte; 1984 - Itaigara Galeria de Arte; 1985 - Panorama Galeria de Arte; 1986 - 0 Cavalete Galeria de Arte; Época Galeria de Arte ; 1987- Galeria Arte Viva ; Época Galeria de Arte; 1988 - O Cavalete Galeria de Arte ; NR Galeria de Arte ; Galeria Faz Arte ; 1995 - Casa do Benin ; 1997 - Raquel Galeria de Arte ; Resort Praia do Forte ; 2000 - Museu Náutico da Bahia; 2001-Teatro Gregório de Mattos.

 PAINÉIS

Restaurante Cocos de Itapuã (destruído)e no Restaurante Badauê.

EXPOSIÇÕES INDIVIDUAIS

Em 1982 - 0 Cavalete Galeria de Arte ; 1983 - 0 Cavalete Galeria de Arte ; 1986 - 0 Cavalete Galeria de Arte ; 1987- Acervo da Bahia Galeria de Arte; 1989 -Foyer do Teatro Municipal de Ilhéus; Galeria Arte Viva ; 1995 - NR Galeria de Arte; 1997- Salão Carlo Barbosa no Museu Regional de Arte da UEFS / CUCA- Feira de Santana ; 1998 - NR Galeria de Arte; Club Mediterranée Bahia, em Itaparica; 2002- NR Galeria de Arte.

quinta-feira, 21 de novembro de 2024

FALECEU A ARTISTA LENA DA BAHIA

Recebi este e-mail de Jacivaldo Gomes Machado (Waba) informando a morte da artista Lena da Bahia. Fui pesquisar em meu blog reynivaldobritoartesvisuais.blogspot.com e encontrei esta matéria que fiz em 15 de junho de 1974 sobre o trabalho da artista. Fica aí o registro republicado para que não esqueçamos desta artista que por tantos anos trabalhou no Centro Histórico difundindo a nossa arte e os valores da Bahia.

Abaixo o texto do e-mail do Waba e a matéria que saiu em A Tarde.

"O campo das Artes Visuais perde a artista plástica Lena da Bahia. Faleceu aos 77 anos na sua residência ((Ladeira do Carmo, 10) Centro Histórico de Salvador, às 9:20 do dia 17/03 do corrente ano e o sepultamento ocorreu às 16:30 do mesmo dia.  Lenice Simões Neves, conhecida no meio artístico como Lena da Bahia, há quase uma década sofria do mal de Alzheimer.  Cidadã soteropolitana, nascida no bairro dos Mares em 1937, pintora e tapeceira de talento, na década de 60 começou pintando para os amigos, a partir daí não parou mais. No decorrer de sua trajetória artística participou de inúmeras mostras coletivas, além de ter realizado diversas exposições individuais. Há quase duas décadas vivia no Centro Histórico ao lado dos seus filhos Marcos e Carlos, ambos, também pintores.

 JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 15 DE JUNHO DE 1974

 

OS TAPETES DE LENA DA BAHIA



A artista Lena da Bahia 


A Primitiva Lena da Bahia é sem dúvida uma das melhores tapeceiras que tem surgido nos últimos tempos no cenário das Artes Plásticas em Salvador. Seu trabalho é multicolorido e traz as marcas da Velha Bahia com suas igrejas, suas baianas do acarajé e seu samba de roda.

A artista tem uma personalidade inquieta e a cada momento ela procura detalhar melhor seus quadros e seus tapetes.Agora está selecionando 25 tapetes para uma exposição que fará no sul do país. Lena está trabalhando várias horas por dia dedicando-se a esta exposição que será a primeira que realizará fora da Bahia. Ela pinta há muitos anos. Já participou de várias exposições coletivas e hoje descobriu a tapeçaria como um meio pelo qual consegue reproduzir nos meios pontos as formas que surgem em sua imaginação criadora.

Diz a artista que "quando estou trabalhando me envolvo de tal forma que esqueço das horas. O tempo vai passando e não consigo parar. Me considero uma primitiva e como tal pretendo continuar pois acho que o primitivismo é uma forma pura de criar. Gosto das cores vivas porque elas estão mais presentes na natureza. E é exatamente a natureza que me envolve". 


Belo tapete de Lena da Bahia.
Lena da Bahia nunca frequentou Escola de Belas Artes e nem mesmo recebeu diretamente uma orientação de um mestre. Tudo que faz é intuitivo e ela consegue elaborar um trabalho primitivo que sobressai em comparação com muitos primitivos que andam por aí. Seus trabalhos são frutos de uma observação, de um viver em meio ao antigo casario, as rodas de samba, as festas de largo, ao candomblé, ela capta os movimentos, as cores e a movimentação e por meio de um desenho primitivo transporte para o tapete. Mas é de sua próxima exposição que Lena gosta de falar.
Ela já está ultimando o catálogo que terá um formato retangular apresentando alguns tapetes e fotos de artistas em seu atelier, da Rua César Gama, na Barra. Vai mostrar aos sulistas dez tapetes de 1,40 m por 1m e oito tapetes de 70cm x50 cm e finalmente sete tapetes menores de 60cm x 40cm. Os tapetes de Lena da Bahia são trabalhados em meio ponto com fios de acrílico.Ela utiliza o chamado fio acrílico porque para o primitivo dá um colorido mais vivo.

 

 

ELDER CARVALHO E SUA PINTURA ABSTRATA

Diariamente era surpreendido no Instagram com novas obras do pintor baiano Elder Carvalho que tinha uma capacidade inacreditável de criar obras abstratas sem qualquer traço de repetição. Era realmente surpreendente esta sua capacidade de criar do nada obras vibrantes que nos tocam ainda hoje por suas cores, traços e manchas. Parece uma orquestra sinfónica em plena harmonia executando uma  peça com notas musicais  que nos deleitam o espírito. Quem conheceu de perto o artista fica realmente pensando no seu momento de criação, porque o homem Elder era  agitado, falava ligeiro e gesticula muito. Me telefonava e ia logo falando e disparando seu pensamento como uma metralhadora giratória . Enquanto ouvia e me preparava para responder ele simplesmente dava tchau e desligava sem deixar que lhe respondesse. Quando desligava eu ficava pensando em seus momentos de alegria, de tristeza e inquietude . Em suas obras vibrantes e multicoloridas O Eleder nos deixa extasiados procurando encontrar novos detalhes em cada olhar. É uma procura que não tem hora de acabar.

O Elder Carvalho era o artista  mais representativo da arte abstrata em nossa Bahia em atividade. Este estilo artístico e moderno de se expressar pioriza as formas abstratas em substituição às figuras que representam a nossa própria realidade. Portanto, dá mais liberdade ao artista de ir construindo sua composição dentro de uma visão  livre e descontraída. Infelizmente, Elder nos deixou sem despedidas.

Coube ao pintor e professor russo Wassily Kandinsky (1866-1944) criar o Abstracionismo . Em 1886 entrou na universidade de Moscou onde estudou Direito e lecionou durante alguns anos. Mas, foi durante uma exposição de Impressionistas Franceses em 1985 que ficou interessado pela obra de Claude Monet .Veio para Monique, na Alemanha, estudar pintura e terminou sendo um dos líderes da pintura abstrata.

Sabemos que este estilo está intimamente ligada às vanguardas artísticas européias do século XIX que conhecemos por arte moderna. Estes movimentos trazem no seu bojo a ruptura artística com os modelos renascentistas, tradicionalistas e academicistas. Criaram novas formas estéticas em nosso país nos anos 20 , e já nos anos 40 vários artistas se manifestavam com obras  abstratas como Alfedo Volpi ( 1896-1988), Tomie Otake, Vicente do Rego Monteiro, dentre muitos outros. 

Os estudiosos apontam que a primeira obra com características deste novo estilo surgiu no Brasil com Vicente do Rego Monteiro em 1922, logo depois veio Tarsila do Amaral com a obra Negra, que causou grande impacto. Entretanto, o marco principal do Abstracionismo no Brasil foi a I Bienal de São Paulo, datada de 1951.




sábado, 16 de novembro de 2024

CALIXTO SALES O PINTOR QUE MELHOR RETRATA O CENTRO HISTÓRICO BAIANO

Calixto Sales em seu ateliê
pintando mais uma tela.
O artista Calixto Sales é um dos mais importantes pintores naifs do país, tendo chegado a Salvador em 1970 e se estabelecendo no Centro Histórico. Sempre gostou de desenhar os barcos dos pescadores e o casario de Nagé, povoado no município de Maragogipe, Bahia, às margens do rio Paraguaçu, onde morava antes. Ao chegar a Salvador   passou a receber orientação e incentivo de seu irmão Washington Sales, um artista consagrado aqui e em outras praças.  Em 1974 fez sua primeira exposição revelando o seu talento e retratando o microcosmo do Pelourinho. É apontado como um dos mais talentosos e pioneiros da pintura naif na área do Centro Histórico em Salvador de onde se lançou para fazer exposições fora do estado e até no exterior. Em seguida decidiu seguir seus próprios passos e conseguiu criar uma identidade pictórica através das figuras que povoam aquele  mundo mágico do Pelourinho pintando marinheiros, prostitutas, vendedores ambulantes, o majestoso casario, igrejas, festas populares e as crianças com seus brinquedos tradicionais. Enfim, este mundo lúdico, colorido e cheio de histórias que permeia todas as ruas e becos do Centro Histórico são motivos para que Calixto Sales os retratem à sua maneira com a originalidade de sua arte.

O artista mais jovem .
Fui encontrá-lo no seu ateliê que fica num dos casarões do Pelourinho na Rua João de Deus, número 15. De fala mansa e pausada ele falou da sua luta para se estabelecer em Salvador já que o povoado de Nagé não lhe oferecia outra opção a não ser pescar nas águas do Paraguaçu, trabalhar numa fazenda ou na roçagem da estrada de rodagem de barro. Disse que começou a trabalhar cedo. Ia para a Escola João Macedo Costa, e a professora Terezinha Brasil Guerreiro lhe ensinou as primeiras letras e depois para o Ginásio José Bonifácio e lembra da professora Adenir Ribeiro de Assis, que ainda reside na vila Coqueiros, também em Maragogipe.  Não concluiu o curso ginasial. Quando foi feita a estrada asfaltada durante o Governo Lomanto Júnior ligando São Félix a Maragogipe os povoados de Nagé e de Coqueiros entraram em decadência porque as mercadorias  eram antes transportadas dos centros por moradores desses  povoados através os saveiros e de lá eles levavam produtos produzidos das fazendas para Salvador e outras cidades. Muita gente vivia desta atividade além da pescaria. Com a chegada da estrada asfaltada  as mercadorias passaram a ser transportadas por  caminhões, desempregando os moradores locais, que  abasteciam inclusive as feiras livres e o precário comércio local, além de transportar materiais de construção e muitas outras mercadorias. Os saveiros praticamente desapareceram.

Nesta obra ele retratou a casa onde nasceu e 
passou a sua infância em Nagé. A casa foi
demolida para passar a estrada ligando
São Félix a Cachoeira, em 1964.
Um tio montou um pequeno armazém no bairro da Liberdade, em Salvador, e ele trabalhou durante dois anos. Disse que na época o ambiente era muito ruim, com violência, foi então que seu tio decidiu fechar o armazém e ele ficou desempregado. Foi então trabalhar numa padaria no bairro do Pero Vaz, mas não deu certo. Seu objetivo era achar uma forma de trabalhar e estudar. Mas, como só tinha o primário as dificuldades de arranjar emprego eram grandes. Revelou que chegou a dormir muitas noites na Rodoviária e que passou até fome, isto porque não procurava os parentes e também não queria voltar para o interior. O único irmão que lhe deu força foi Washington Sales.

Lembra que tanto ele como Washington desde criança  desenhavam, e que o irmão veio bem mais cedo para Salvador e conseguiu se estabelecer e fazer uma arte muito apreciada pelos colecionadores e críticos de arte. Ele o levou para a Rua Guedes de Brito onde tinha o seu ateliê. Washington Sales tem o seu próprio estilo e na época Calixto Sales não entendia a diferença dos dois estilos. Foi então que Calixto Sales resolveu ocupar um casarão velho que estava ameaçado de cair. Continuou pintando e certo dia um portador do irmão foi até o velho casarão perguntar se ele tinha algum quadro pintado. Reuniu uns 20 pequenos quadros e entregou ao portador. No dia seguinte retorna o portador com um maço de dinheiro. Confessa que ficou atônito e indeciso se deveria usar aquele dinheiro. Estava sem um tostão. Passado uns dias retorna o mesmo portador e leva novos quadros que ele tinha pintado e no dia seguinte volta com mais um maço de dinheiro. Como ele nunca tinha visto tanto dinheiro junto preferiu guardar o dinheiro.

Saveiros abasteciam os povoados de Nagé
e Coqueiros com mercadorias das cidades 
e levavam produtos colhidos nas roças .
O portador veio informar que o irmão mandou dizer que o dinheiro era dele e que podia usar porque era da venda dos seus quadros.  Mas, desconfiado ficava com fome e não usava o dinheiro. Quando foi um dia seu pai Calixto Lopes de Sales veio visitá-lo para saber como estava, e o que tinha ocorrido. Ele contou esses fatos e seu receio de usar o dinheiro. O pai foi conversar com o Washington Sales que lhe informou que o dinheiro era resultado das vendas dos quadros do irmão. Tudo ficou resolvido, e ele passou a usar o dinheiro devagarinho. Ainda ficava com receio de ter que devolver a seu irmão.

A exuberância do casario colonial do
Centro Histórico de Salvador.
Quando viu que o casarão estava mesmo ameaçando desabar conheceu uma jovem chamada Zinha  que era de Nagé também tinha vindo morar na Rua Saldanha da Gama, conhecida na época por Melancia, e seu sonho era ser bailarina e terminou se prostituindo e dona do prostíbulo. Ela deu todo o apoio que podia a Calixto Sales e o aconselhou a procurar um local adequado para pintar e expor suas obras. Foi quando ele conheceu o pintor Edivaldo Assis, por quem tem uma grande amizade, que lhe acolheu. Foram pintar um grande mural na casa do dr. João Falcão dono do Jornal da Bahia. Passaram quinze dias pintando e ganharam um bom dinheiro. Aí foi ao shopping comprou roupas e sapatos novos e resolveu ir até Nagé e Coqueiros visitar os parentes e contar as suas aventuras, sempre as positivas. Foi muito bem recebido pelos conterrâneos e parentes e até convidado para almoços.

Dia de festa no Pelourinho com
a presença de barracas e seus
personagens inconfundíveis.
Em 1974 fez uma exposição no prédio do Jornal Diário de Notícias que pertencia ao grupo Diários Associados, de Assis Chateaubriand, onde hoje funciona a Caixa Cultural, na Rua Carlos Gomes, centro de Salvador. Lembrou que levou um quadro para o galerista e tapeceiro Renot e ele gostou muito e passou a comprar suas obras. Em 1978 montou um ateliê no bairro de Santo Antônio Além do Carmo, no Centro Histórico de Salvador, Bahia, e foi quando vendeu bem aos turistas e alguns galeristas. Mesmo assim continuava batalhando e enfrentando dificuldades. Lembrou de um episódio que levou uns quadros até um banco na  Cidade Baixa e procurou uma pessoa que conhecia suas dificuldades e esta pessoa que teria lhe dito mais ou menos assim: "Olha eu vou comprar este quadro não é que tenha gostado, mas estou vendo que está precisando." Diante desta declaração o Calixto Sales respondeu: Estou mesmo, mas vou mostrar que o senhor ainda vai me procurar para comprar um quadro meu porque vai gostar. Meses depois ele veio lhe procurar para adquirir um quadro. Hoje está mais tranquilo tem suas filhas formadas e uma caçulinha de dez anos, fruto do seu quarto relacionamento. Após a pandemia o Calixto Sales ficou um pouco abalado, mas felizmente já retomou sua vida e está pintando em seu ateliê e fazendo planos para o futuro.

Capa do cd do clarinetista de jazz 
Eddie Daniels com obra de Calixto
sem a devida autorização.
Contou outro fato que certo dia recebeu um convite de uma representante da TAM para fazer cem quadros pequenos para um evento de final de ano em Paris, na França. Acertou, e dias depois lhe ligaram que queriam mais cem. Logo depois passaram para trezentos quadros. Disse que quase desiste, mas resolveu aproveitar a oportunidade e trabalhou de dia e  noite. Conseguiu entregar os quadros a tempo e seguiu para Paris para o evento que ocorreu dentro de um bateau-mouche, aqueles barcos que levam turistas através o Rio Sena. Na noite do evento com orquestra, muitos convidados especiais, bebidas e comidas à vontade ele pintou quatro pequenos quadros que foram presenteados aos convidados. Passou a noite inteira na festa e não bebeu nem comeu um salgado sequer. Disse ele “veja como sou tímido. A festa com trezentos convidados com muita comida e bebida. Não comi nada e nem bebi”. Ficou dez dias em Paris conhecendo a Cidade.  Em seguida foi fazer uma exposição em Portugal e revelou que gostou mais de Lisboa do que Paris, e posteriormente também expôs na Universidade Católica de Los Angeles, mas não esteve presente.  O ateliê de Calixto Sales é um pouco escondido, mesmo porque está localizado no primeiro andar do prédio na Rua João de Deus, número 15, e o térreo está fechado. Mas afirmou que gosta de trabalhar em silêncio e que vai arranjar um lugar para expor seus quadros.
O pintor Calixto Slaes em 1976 veio morar na Boca do Rio na Galeria RAG de Roberto de Araújo Goes, um galerista que deve  sempre ser lembrado. Ele não entendia nada de arte, mas tinha a sensibilidade de gostar de arte .Tinha vindo de Valença, sua terra natal e aqui alugou uma casa na Avenida Otávio Mangabeira, na Boca do Rio, e começou a receber obras de tudo que é artista. Tinha um imenso acervo comprado por ele e consignado. Lá recebeu o Calixto Sales que ficou morando alguns anos até que o local passou a ser frequentado por outras pessoas de comportamentos estranhos, e ele resolveu sair. Em 1988 juntamene com os colegas artistas Totonho, atualmente residindo na Holanda, Joilton Silva  que assinava Jó Silara , Raimundo Santos, o Bida,  fundaram o Atelier Portal da Cor que era um misto de galeria de arte e espaço para apresentação musicial e bar localizado na Ladeira do Carmono, número 31. Lembro que em novembro de 1996 eles tiveram uma desavença com um suiço que era dono do velho casarão e tinha  cedido aos artistas  em comodato. O espaço terminou sendo fechado em 1999.

O artista foi surpreendido recentemente com uma obra sua ter sido usada na capa do cd chamado Heart of Brazil do famoso clarinetista de jazz Eddie Daniels que mora em Nova Iorque e fez este disco em homenagem ao músico brasileiro Egberto Gismonti. Ele não recebeu qualquer solicitação e não deu autorização para que sua obra fosse usada com este objetivo. É uma questão de direito autoral que só pode ser resolvida na justiça através de uma ação civil ou um possível acordo entre as partes.

                                                          EXPOSIÇÕES

Calixto Sales tem muitas obras retratando 
a vida dos moradores do Centro Histórico.


E1974 - Instituto Neurológico da Bahia ; Galeria Transa Artes Salvador Bahia
; Centenário do Diário de Notícias - Salvador Bahia ; 1975 – Galeria RAG Salvador- Bahia ; Semana da Marinha Base Naval de Aratu – Bahia;  1976 Exposição Permanente Imperial Móveis - Salvador Bahia ; Exposição na Galeria Decors - Salvador Bahia ; Exposição no Hotel Turismo Brasília DF ; Semana da Marinha Base Naval de Aratu- Bahia ; Galeria Carro de Boi Feira de Santana Bahia ; Galeria da Sereia - Salvador-Bahia ; Galeria Grossman Salvador -Bahia ; Galeria dos Primitivos - Salvador Bahia; Exposição Individual- Galeria RAG Salvador -Bahia ; 1977 - Exposição Coletiva Galeria RAG Salvador Bahia ; Exposição Coletiva Galeria Sereia - Salvador Bahia ; Leilão de Artes Centro de Convenções Salvador Bahia :  Museu de Exposições de Salvador - Bahia ;  Museu de Artes de Porto Seguro -Bahia ; late Clube de Aracaju - Sergipe ; Exposição Coletiva de Valença Bahia ; Exposição de Verão Tereza Galeria de Artes Salvador Bahia ;  Galeria Bonfim Salvador Bahia ;  Galeria Grossman  Salvador Bahia ; Exposição Individual no Museu da Cidade Salvador -Bahia ; Exposição Coletiva no late Clube da Bahia - Salvador
Pinta também  Preto Velho.
Bahia ; Exposição Coletiva no Clube Espanhol- Salvador – Bahia; 1978 Galeria Grossman  Salvador Bahia ; Galeria Tereza Batista Salvador Bahia;  1979 Ministrou curso para iniciantes na Associação dos Artistas Populares de Centro Histórico Salvador Bahia ; 1980 - Exposição Coletiva Galeria do Hotel Nacional Brasília – DF;  1981- Exposição Coletiva - Galeria Margot Salvador Bahia ;  Exposição Coletiva Galeria Grossman - Salvador Bahia;  1982 Exposição Individual - Galeria Grossman  Salvador Bahia; 1983 Exposição Individual - Galeria Artes do Casino do Estoril - Lisboa Portugal ; Exposição no International Student Center Art Gallery - UCLA - Los Angeles -EUA ;1984 -Exposição Coletiva de Férias - Galeria Grossman - Salvador – Bahia; 1985 Exposição Coletiva - Casa de Artes Brasileira - Campinas - SP ; 1986 Mostra de Pintores Baianos - Casa de Artes Brasileira - Campinas – SP; 1987 Leilão de Artes Salvador Praia Hotel Salvador Bahia;  1988 - Leilão de Artes- Salvador Praia Hotel- Salvador Bahia ; 1989 Exposição Coletiva - SENAC / SESC - Pelourinho - Salvador – Bahia; 1990 - Exposição Coletiva - Galeria do Hotel Méridien - Salvador Bahia;  Exposição Coletiva- Fred Night Club Salvador Bahia ;  Exposição Coletiva - 1' Expoart Artes Pelô Via Zona Brasil , Hotel Méridien Salvador Bahia ; Exposição Coletiva Casa dos Artistas - Ilhéus Bahia ; 1991- Exposição Coletiva Projeto Via Brasil- Brasília – DF; Exposição Coletiva Projeto Via Brasil Curitiba -PR ; Exposição Coletiva Projeto Via Brasil Shopping Barra Salvador Bahia; 1992 Exposição Coletiva -  II Bienal das Artes Negras - Casa do Benin - Salvador Bahia ; Exposição Seis Mestres Contemporâneos - Salvador - Bahia ; Exposição Coletiva Tereza Galeria de Artes - Salvador Bahia; 1993 - Exposição Coletiva Inauguração do Atelier Portal da Cor - Pelourinho Salvador Bahia; 1994 Exposição Coletiva - Galeria 13 - Centro Histórico Salvador Bahia; 1996  Exposição Coletiva Raquel Galeria de Artes Salvador Bahia;  1997 - Leilão de Artes -NR Galeria; 1999 Exposição Coletiva de Pintura 2 de Julho a 1 de Agosto de 99 Galeria Praça do Mar Quarteira Loulé Portugal .