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quinta-feira, 25 de abril de 2013

CELUQUE NOS TRANSPORTA A0S MISTÉRIOS DO COSMO - 18 DE SETEMBRO DE 1989


JORNAL A TARDE,SALVADOR, SEGUNDA-FEIRA 18 DE SETEMBRO DE 1989

CELUQUE NOS TRANSPORTA A0S MISTÉRIOS DO COSMO


Fractal,obra de Celuque em acrílica sobre tela
O homem, desde os primórdios de sua existência, mostrou e mostra um certo fascínio pelo desconhecido. Ao contemplar o céu com suas estrelas, satélites e planetas, utilizando ferramentas cada vez mais sofisticadas, dá alguns passos procurando desvendar os mistérios. Mas eles são muitos e as galáxias estão distantes de nós e até mesmo a extraordinária investida da Voyager II, que a esta altura encontra-se em local desconhecido, é apenas um pequeno ponto em relação à grandiosidade desses mesmos mistérios.
Fascinado pelo universo, o artista Celuque consegue efeitos de luminosidade que engrandecem a sua obra. Utilizando de um fundo preto e tintas acrílicas, Celuque que constrói o seu universo onde corpos celestiais gravitam em movimentos coordenados do preto, ora o alaranjado, ora o branco e agente fica extasiado diante da possibilidade de viajar por este mundo luminoso e misterioso. Aí damos asas á imaginação e percorremos como esses heróis das histórias em quadrinhos e que atualmente invadem o vídeo, as galáxias que conseguimos criar e realizamos viagens fantásticas.
De repente nos deparamos com suas obras onde predomina a ação de quebrar, de desperdiçar, tendo a sua origem no latim de fractor, o que quebra. Assim Celuque vai construindo suas obras que simplesmente as chama de fractais, como resultado de um corpo inteiro que se vai dividindo em pedaços e esses em nova partículas que vão-se fracionando se quebrando numa ação multiplicadora. Em alguns momentos a gente tem a sensação que suas partículas estão em ação, aumentando á medida em que-se vão fracionando. Realmente, essas obras, onde surgem os elementos que nos transportam ás galáxias e ás fractais, demonstram maturidade do artista que dispõe de toda uma técnica e criatividade exemplares.
Quanto a presença da figuração, confesso que senti que Celuque não chegou lá. Falta alguma coisa que faça a ponte entre esta figuração e os elementos do mundo de sua fantasia cósmica. A figura do Davi, mesmo envolvida por alguns elementos pictóricos que acompanham a sua obra, não foi capaz de me emocionar. Cheguei a conversar com Celuque e ele me respondeu que pretende continuar trabalhando também com a figuração. Espero que no futuro próximo possa encontrar exatamente o que busca, para que acabe este hiato entre esses dois momentos de sua arte.
Sua exposição apresenta um bom nível do conjunto das obras, principalmente as telas que lembram os elementos do Universo. A luminosidade é perfeita, com grandes efeitos de cores fortes, e, mesmo á disposição e agrupamento das manchas de cor. São obras para serem observadas numa certa distância para que o espectador sinta toda a profundidade que o artista quis transmitir.

CENTO E VINTE PAINÉIS DE ART NOUVEAU NO TCA

Cento e vinte painéis de Art Nouveau compõem  a mostra organizada pelo Instituto Goethe de Munique formados de fotografias, diapositivos grandes e algumas peças de móveis que ilustram bem este momento da arte mundial. As peças são exemplos procedentes de quase todos os países europeus e dos Estados Unidos, a influência do Jugendstil nas áreas da arquitetura, pintura, decoração interiores, artes aplicadas, esculturas, ilustração de livros e cartazes.
O material será exposto agrupado de acordo com os estilos floral, linear e geométrico, que caracterizam a Art Noveau, como também é conhecido este período da história da arte que se estende  de 1980 a 1910 e que os países de língua alemã chamam de Jugendstil.
A exposição que o Instituto Goethe de Salvador vai montar será aberta no próximo dia 20, no Foyer do Teatro Castro Alves, onde permanecerá até o próximo dia 15 de outubro.
A Arte Nova não está isenta de reminiscências barrocas. O enunciado quase patético é um traço comum a ambas as épocas. O movimento dinâmico, os ritmos freqüentes das linhas curvas e ondulantes, a utilização, como ornamentos de figuras de peixes e insetos, as extremidades espiraladas e curvas dos motivos e a sua plasticidade são aspectos também comuns. O romantismo tinha já aprofundado o interesse pela investigação da história da arte; mas só nos fins do século se produziram resultados visíveis, que não tem caráter historicista, antes são o resultado de uma oura reflexão. Como precursores do movimento global da arte  do fin de siécle podem citar-se os grupos de pintores que se formaram em Inglaterra, em França e na Alemanha na viragem do século, os chamados pré-rafaelitas, os nabis e os nazarenos.
Nestes grupos trabalham pela primeira vez artistas individuais conscientemente num estilo uniforme. Verificava-se neles um vivo intercâmbio de idéias, que ia enriquecer os pintores individualmente e lhes permitia elevar-se acima das suas próprias possibilidades.
A influência mais duradora foi a dos seus quadros, o recurso e ritmos florais são tendências que vamos encontrar também na Arte Nova internacional. Um sentido estético extremamente requintado animou também todo o fin de siécle. Os símbolos do movimento pré-rafaelita, a flor-de-lis, o olho de pavão e o girassol, bem como as figuras de mulher tristes e misteriosas, são característicos de toda a pintura da viagem do século.
Os fatores referidos levaram, nos diversos países e de acordo com a situação e mentalidade específicas, á formação de uma imagem diferenciada daquilo que pretendemos formular com o conceito de Arte Nova. Também a personalidade dos artistas se transformou neste período. Ao lado do pintor e do escultor tradicionais surge, com importância decisiva, o artista que marca todas as formas de expressão e criação com seu estilo próprio: O arquiteto não projeta apenas o edifício, mas também todo o equipamento, indo até os mais pequenos detalhes. Pretendia-se, que a nova concepção do trabalho artístico se estendesse a todos os objetos.
Jugendstil é o termo usado nos países de língua alemã para uma época da história da arte que se inicia por volta de 1890, e que de há uns anos a esta parte vem suscitando um interesse verdadeiramente notável. Este interesse é múltiplo, não se limitando apenas no âmbito da arte, mas alargando-se a todo o estilo de vida da chamada Belle Époque. Os olhares que se voltam para trás enchem-se da nostalgia dum mundo cheio de grandes nomes, que tinha sido o do período burguês da fundação do segundo império alemão, e esquecem a atmosfera quase revolucionária em que vivia este seu mundo.
Esta imagem superficial é, assim, contraditória, e move-se freqüentemente no âmbito das emoções sensuais e da vivência duma geração. Por aqui se pode ver já como o Jupendstil abrange um vasto domínio, ainda não totalmente explorado, pelo simples fato de que ele suscita esperanças e pensamentos extremamente subjetivos que, alíás, se revelam quase todos corretos. Raramente uma categoria da história da arte designa uma variedade tão grande de formas de expressão, sobretudo se pensarmos no curto período a que se refere a chamada viragem do século. Por um lado, os produtos de luxo de toda uma geração que quer criar as suas formas de expressão próprias, por outro lado, a confissão artística de uma época que pretendia restaurar a unidade de vida  e arte. Certos aspectos do mau gosto do século XIX, contra os quais o novo estilo precisamente lutou e dos quais nos libertou, t~em sido incorretamente apelidados de Jugendstil, e daí o considerarem-se freqüentemente a peluche e as palmas como motivos estilísticos característicos da Arte Nova.


BALANÇO 76 - 08 DE JANEIRO DE 1977


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 08 DE JANEIRO DE 1977

     BALANÇO  DO ANO DE 1976

Dois feriados seguidos determinaram a ausência desta coluna. Hoje, apresento um completo balanço das principais exposições e acontecimentos no setor das Artes Visuais em nosso Estado, com destaque especial para algumas mostras que foram realizadas no Solar do Unhão, que certamente vem tomando a dianteira. Trato desde a chegada do moldureiro português Júlio Monteiro até  a última exposição do Solar do Unhão onde tivemos mais uma vez a oportunidade de admirar o seu pequeno, mas valioso acervo, que há mais de uma dezena de anos estava armazenado em caixotes. Portanto, é um balanço total de tudo que de importante aconteceu, relembrando a participação a Bahia no cenário nacional como por exemplo, a escolha de Mário Cravo, a escolha de Mário Cravo Neto e Bené Fonteles para a mostra Agora I, Brasil 70-75 organizada no Rio de Janeiro.

Boi da Floresta, a pequena  e extraordinária obra de Tarsila do Amaral,pertencente ao MAM-Ba


JANEIRO

JÚLIO MONTEIRO- Dois fatos de destaque aconteceram no setor durante o mês de janeiro, sendo um positivo, que foi a chegada a Salvador do moldureiro português Júlio Monteiro e a invasão da tradicional Casa do Peso por quadros da artista Yedamaria.
Júlio veio inovar e revolucionar a arte da moldura na cidade. Assim houve a valorização de muitos quadros tendo em vista a grande importância que exerce a moldura como complemento de uma obra de arte. É certo que ela não deve interferir, sobressaindo mais que a tela. O seu lugar é definido como uma continuação, um complemento, e, é isto que o português Júlio Monteiro consegue com suas originais molduras.
Quanto á invasão tenho pouca coisa a falar. Denunciei e continuarei atento a qualquer atitude que venha influenciar negativamente para deturpar o nosso folclore e nossas tradições religiosas, seja qual for o credo ou seita.

FEVEREIRO

ESCOLHIDOS- Logo a seguir tomamos conhecimento da escolha de Mário Cravo Neto ( Foto) e de Bené Fonteles para participar da exposição, Arte Agora I Brasil 70-75 promovido por um jornal do sul do País. A mostra foi inaugurada em março no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro com a participação de cem artistas brasileiros, entre os quais figuram estes dois artistas, um baiano, o Mário Cravo Neto e o cearense  Bené Fonteles, hoje radicado entre nós. Disseram na época os juízes encarregados da seleção que acham-se ausentes certos nomes cuja obra apresenta o mais inegável interesse de atualidade, mas que já se tinham afirmado de maneira incontestável em momentos anteriores. Evidente que esta afirmação é em parte verdadeira, põem muitos artistas de renome deixaram de apresentar coisas novas, caíram na pura repetição.
Louvável a escolha destes dois artistas que sem dúvida representam à altura a arte feita na Bahia.

MARÇO

MULHER E SANTOS- A Galeria O Cavalete apresentou uma exposição dos trabalhos de Carlo Barbosa um jovem artista baiano que foi apresentado pelo crítico Walmir Ayala.
Seu trabalho está baseado numa temática religiosa e é mais conhecida no sul do País que em seu estado de origem.
Por outro lado, a artista Rosa Cabral, hoje estudando fotografia na Alemanha, realizou um trabalho criativo junto aos alunos do Instituto de Letras da Universidade federal da Bahia quando apresentou uma pesquisa utilizando um sincretismo de linguagem com a integração do corpo humano, o som, a luz e a fala como forma superior de comunicação.

ABRIL

Visitantes examinam os móveis de Zanini
ZANINI- Os baianos foram brindados com  uma grande exposição no Solar do Unhão dos trabalhos de Zanini. O artista é considerado um profissional de grande habilidade pois confecciona seus móveis em madeira maciça e oca sem a utilização de pregos. Ele projeta seus móveis, faz as maquetes e em seguida parte para execução propriamente dita. É baiano de Belmonte e autodidata. Tem vários projetos arquitetônicos no sul do País e sua base de trabalho é a cidade de Nova Viçosa onde encontra material em abundância para prosseguir em sua necessidade de criar.
Com 57 anos de idade Zanini tem muito a percorrer, embora já tenha um trabalho representativo e reconhecido como um dos inovadores do desenho de móveis no País.
Neste mesmo mês, dediquei à coluna do dia 24, á necessidade de contenção da violência nas cidades. Aproveitava várias fotos que foram tiradas por Gildo Lima, fotógrafo de A Tarde na rua Chile onde uma mulher agredia a todos, inclusive a um soldado da PM que tentava contê-la. No meio das pernas e botas lá estava a filhinha da mulher desconhecida chorando desesperadamente. Esta cena comum, hoje, nas grandes cidades é resultado da falta de diálogo e entendimento entre as pessoas. Os egoísmos e as vaidades bestiais também estão presentes. Basta lembrar de alguns vernissages que aconteceram no ano que passou.

MAIO

SERTÃO E LUZ- Uma grande exposição também foi a do artista J. Cunha na capela do Solar do Unhão. Com a temática  nordestina Cunha conseguiu por meio de um traço forte e simples captar toda uma atmosfera que só nos nordestinos conhecemos. Quando da inauguração da mostra escrevi J. Cunha é um artista que tem uma força de criação muito grande e profunda, embora você á primeira vista, pense ser o J. uma pessoa quase parada. Sua figura assemelha-se a um vaqueiro nordestino, magro mas forte e capaz de retirar das brenhas uma novilha e levá-la para lugar seguro. Assim, é o J. Cunha: um vaqueiro da arte que retira da inospitalidade do Nordeste as coisas que lá acontecem e joga na tela;...

JUNHO

DOIS FOTÓGRAFOS- Dois grandes artistas resolveram fazer uma mostra de seus trabalhos: Mário Cravo Neto e Vicente Sampaio. Fotografias de rara sensibilidade foram expostas no Solar do Unhão. Ambos residiam na Boca do Rio. Dois profissionais que junto representam o que de mais importante existe em fotografar na Bahia, Mário Cravo Neto é um nome nacional e seu parceiro Vicente Sampaio não fica atrás. As fotos do primeiro foram divididas em  dois grupos distintos: algumas feitas em Nova Iorque e outras na Bahia. A figura humana, os animais e mesmo a paisagem são os temas predominantes, sendo que em todas elas a gente teve oportunidade de observar não apenas a qualidade técnica como também uma sensibilidade que só os grandes artistas possuem.
Calasans Neto lançou o seu álbum Itapuã Céu. Um álbum que trata dos pássaros e do céu misterioso de Itapuã, uma continuidade de um tema maior, Itapuã, que vem sendo desenvolvido pelo artista. Teve uma tiragem de apenas 150 exemplares com texto em Português e Inglês de autoria de Guido Guerra.
Composto de oito gravuras numeradas e assinadas, este álbum marcou a evolução do trabalho de Calá. O álbum não representa uma descrição ou uma tomada de posição do artista, do ponto de vista geográfico, e sim uma situação de envolvimento e conhecimento de uma realidade que em determinados momentos passa para o misterioso.

JUNHO

A LIBERDADE DE JOSELITO- Tive a oportunidade assinar o catálogo da exposição de Joselito Duque, que teve lugar na Galeria Rag na Boca do Rio. Escrevi entre outras coisas que sua pintura é forte e original e a tela é preparada com antecedência através de misturas de tinta e outros materiais, o que permite uma textura em alto relevo. As mulatas se apresentam em suas telas, grandiosas e enroladas em lenços e lençóis coloridos, com os selos expostos á luz do sol. Noutras as mulatas com seus vestidos curtos e grossas coxas estão lavando roupas em lagoas azuis rodeadas de areia branca. Lembrando a Lagoa do Abaeté.

JULHO

CARIBÉ NA POUSADA- Foi outra grande oportunidade para os aficionados da arte. Pela segunda vez os baianos tiveram oportunidade de admirar os vinte trabalhos de autoria de Caribé que compõem o livro Sete Portas da Bahia. O próprio artista declarou na época da mostra que estes desenhos são importantes porque retratam coisas que não existem mais, como é o caso da Feira de Água de Meninos a rampa do Mercado Modelo o a própria capoeira hoje, muito modificada. A capoeira, atualmente é, muito mas uma exibição de contorcionismo e ginástica. Antes era defesa pessoal, quem jogava capoeira era carroceiro e estivador.
Os desenhos foram feitos à nanquim em 1955 e publicados na coleção Recôncavo com textos de Odorico Tavares, Wilson Rocha, Verger, dentre outros.

AGOSTO

LAMBE-LAMBES E AMERICANA ALICE BABER- Numa promoção da Secretaria de Educação e Cultura da Prefeitura Municipal foi realizada a mostra de fotógrafos Lambe-Lambes no Terreiro de Jesus. Participaram 42 fotógrafos que disputaram três prêmios em dinheiro. Eles fazem parte da paisagem de Salvador e em determinados momentos são importantes quando realizam um trabalho rápido e eficiente principalmente para aqueles que tem necessidade urgente de certos documentos pessoais. Várias pessoas compareceram ao Terreiro e foram fotografadas pelos lambe-lambes.
Na Galeria Cañizares a colorista americana Alice Baber mostrava a sua técnica de manto feminista. Na realidade Zélia Maria, Graça Ramos Carmem Carvalho,Hilda Oliveira, Rosa Alice, Denise Pitágoras e Terezinha Dumet estavam interessadas em mostrar o seu trabalho.
A reunião de sete mulheres foi uma coincidência ou obra de uma amizade surgida nos bancos da academia. Mostrei que embora estudassem na Escola de Belas Artes estas jovens artistas tinham toda uma liberdade na criação e utilização e técnica.

SETEMBRO

CANDOCA- Em setembro os artistas Raymundo Aguiar e Candoca encantaram os baianos com seus casarios e paisagens bucólicas baianas. Raymundo com mais de oitenta anos continua produzindo uma arte de alto nível. Português de nascimento e desde rapazola radicado em Salvador é um dos expoentes da arte acadêmica. Toda sua formação artística aconteceu na Bahia, Estado que adotou como sua terra. Ensinou na Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia e sua exposição aconteceu no  Museu de Arte Sacra e foi organizada pelo professor Valentin Calderon. São famosas suas charges políticas publicadas em vários jornais baianos, inclusive em A Tarde.
Outra prova de que idade não quer dizer quietude ou aposentadoria de braços cruzados foi a mostra de Candoca que o professor Ivo Velame organizou na Galeria Canizares. Suas telas falam na Bahia antiga com a presença de conhecidos tipos populares. A ternura e o misticismo de nossas igrejas e casarões que hoje estão ameaçados pelo progresso foram mostrados com maestria. Alegre e acima de tudo com uma imensa vontade de criar, Candoca é uma das páginas de nossa História da Arte.
Mas vieram também os alemães que mostraram toda uma técnica rebuscada da serigrafia.Trabalhos de alto nível técnico onde predominou a preocupação com os problemas da Ecologia. Vivendo num país altamente industrializado os artistas alemães mostraram também uma preocupação em conhecer e discutir a arte que está sendo feita na Bahia. Foram expostos cerca de 50 trabalhos. Eles integram o Gruppo Kwarz.


OUTUBRO 

RESCALA E SUAS EX-ALUNAS - Tivemos  ainda a oportunidade de visitar uma das principais exposições ocorridas em 1976.Eram telas do mestre Rescala que lotaram a Galeria Canizares com muita gente querendo adquirir suas últimas criações. Na sua calma Rescala vai criando todo uma atmosfera baiana que ele conseguiu compreender e sentir desde o primeiro dia que aqui chegou como visitante. Sem dúvida o trabalho do mestre Rescala é extensivo,bastando lembrar quantas obras de arte ele conseguiu salvar através de um processo cuidadoso e técnica da arte de restauração. Participante de alguns movimentos modernistas é considerado por alguns como acadêmico. O mestre declarou ao colunista que "não sou acadêmico.Tenho um estilo próprio e os que me consideram acadêmicos são maldosos".
Ainda na Galeria Canizares visitamos os trabalhos da sete ex-alunas do mestre Rescala. Pensávamos que a presença de sete mulheres numa mostra tinha alguma conotação de um movimento feminista. Na realidade Zélia Maria, Graça Ramos, Carmem Carvalho, Hilda Oliveira,Rosa Alice, Denise Pitágoras e Terezinha Dumet estavam interessadas em mostras as suas obras.
A reunião de sete mulheres foi uma coincidência ou obra de uma amizade surgida nos bancos da academia. Mostrei que embora estuudassem na Escola de Belas Artes estas jovens artistas tinham toda uma liberdade de criação e utilização de técnicas diferenciadas.


NOVEMBRO

ARTE AMERICANA- A mostra Arte EUA: O SUL com 35 obras trouxe toda uma gama de informações especialmente pela utilização dos mais variados materiais e técnicas. Uma exposição que retrata a zona rural do sul dos Estados Unidos que apresenta um grande contraste com a área industrializada.

DEZEMBRO

Sem Legenda, obra de Carlos Vergara
DUAS MOSTRAS NO UNHÃO- Finalmente, duas importantes exposições foram realizadas no apagar das luzes de 1976. A primeira, reunindo parte da coleção de Gilberto Chateaubriand intitulada Arte Brasileira- os anos 60 e 70, com trabalhos de Carlos Vergara, Wesley Duke Lee, Rubens Gerchamam, Pancetti, dentre outros renomados artistas nacionais.
Mas, sem dúvida que a exposição das obras do acervo do Museu de Arte Moderna da Bahia organizada por seu diretor Sílvio Robato foi a mais importante, por mostrar aos baianos obras raras pertencentes ao MAMB que estavam amontoadas em caixotes de madeira, sujeitas a deterioração. Sílvio Robato anuncia ainda a construção de um setor, com as condições ambientais necessárias, para armazenamento das obras pertencentes ao museu.


O CONTROVERTIDO CENTRO DE CULTURA - 19 DE FEVEREIRO DE 1977


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 19 DE FEVEREIRO DE 1977

O CONTROVERTIDO CENTRO DE CULTURA FRANCÊS




O Centro de Cultural e Artes Georges Pompidou é talvez o maior, o mais custoso e controvertido complexo de museus do mundo.O museu foi inaugurado recentemente pelo presidente francês Giscard D’Estaing em companhia da viúva do ex-Presidente George Pompidou. Mais de 5 mil pessoas compareceram á solenidade. O museu tem uma moderníssima estrutura lembrando uma refinaria de petróleo com sua escada rolante do lado de fora. O prédio é pintado em cores brilhantes e está localizado numa área com construções predominantemente do século 17. O Centro abriga o Museu de Arte Moderna de Paris, a Biblioteca de Paris, salas de cinema, estúdios culturais, infantis, galerias experimentais e tradicionais, uma enorme biblioteca de arte, com documentos sobre a vida e a obra dos maiores artistas do mundo DESDE 1905 e um Instituto para Pesquisa da Música. A obra custou ao tesouro da França 983 milhões de francos o que corresponde a cerca de 2 bilhões e 516 milhões de cruzeiros, além de uma verba de 130 milhões de francos anualmente para submanutenção.
O edifício domina a região de Beaubourg, antigo distrito operário e atualmente uma área onde se destaca clubes noturnos. O complexo foi descrito por algumas pessoas como um pedaço de cano descoberto, e por outras como um magneto estético. Os quatro lados do edifício que tem forma retangular são cobertos por tubulações vermelhas, azuis e amarelas.
Adornado na fachada principal por uma passagem transparente na qual os visitantes se locomovem num tapete rolante. A controvérsia sobre o centro, conhecido popularmente como Beaubourg, foi considerável em Paris entre os arquitetos que se ressentem da apresentação do projeto a dois arquitetos estrangeiros, o italiano Renzo Pisno e o britânico Richard Rogers, e, entre os artistas, que afirmam que através do Centro, o Governo está tentando instituir uma forma de arte oficial, que exclui todas as outras.
Embora Françoise Giroud, Secretario de Estado para a Cultura, tenha negado constantemente que o Governo favorece um tipo de arte contra a outra, um grupo de 100 artistas franceses declarou que a guerra contra o Beaubourg e anunciou que fará circular petições contra o museu.
Herdeiros dos artistas Braque, Laurens e Roualt recusaram-se a permitir que suas obras fossem transferidas para o Centro, vindas do antigo Museu de Arte Moderna. As únicas obras desses artistas franceses que se encontram atualmente em Beaubourg são dois Braques emprestados pelo Museu de Arte Moderna de Nova Iorque.
Alguns críticos de arte franceses classificaram o Centro Pompidou de o mais horrendo edifício do mundo. Mesmo antes de ser inaugurado, o museu serviu de instrumento para que artistas norte-americanos criticassem o Governo francês pela sua recente libertação do suspeito terrorista palestino Daoud. Por isto vários artistas norte-americanos incluindo Louse Nevelson, Roy Lichtenstein e Barbara Rose, cancelaram os donativos que pretendiam fazer ao museu.

                          PAINEL

MANIFESTANTES- Acabo de receber uma carta de autoria de Antônio Luiz M. Andrade e Haroldo Cajazeira Alves revelando que não estavam inscritos no Salão de Verão o oficial e que apenas participam do Salão dos Recusados. Isto vem fortalecer meu argumento quando afirmei que os participantes do Salão alternativo se intitularam recusados, e agora para a minha surpresa, outros que não se inscreveram no Salão Oficial. Na carta os autores reafirmam todos aqueles argumentos que tive oportunidade de discordar e concluem que o nosso texto não procura oferecer soluções mas sim levantar danos para possíveis discussões e daí se chegar a soluções concretas. Ora, quero finalizar afirmando que já discutir o que tinha a discutir sobre o texto na semana que passou. A carta não traz nada de novo.
Quando houver, Voltarei ao assunto.

NOVA ETAPA- O  caso das telas  de Frans Krajcberg ( Foto) datadas da década de 50 e cuja autoria ele nega volta às páginas da imprensa no sul do País. Tive oportunidade de conversar sobre o assunto com o Krajcerb na casa de Emanoel Araújo. Fui chamado porque o artista estava indignado com as notícias publicadas por uma revista de circulação nacional que o acusava de negar a autoria das telas porque eram de péssima qualidade. Mas outro personagem, o critico José Roberto Teixeira Leite afirma que a maioria delas é autêntica. Este crítico disputa também a autenticidade de várias telas atribuídas a Di Cavalvanti e negadas por Edson Mota.
Voltando ao caso Krajcberg a ação judicial teve início quando descobriu os quadros numa galeria carioca e mandou retirá-los, garantindo que não eram seus. Agora um juiz carioca aceitou o parecer de José Roberto Teixeira Leite e as telas foram atribuídas a Krajcberg. Novo processo poderá surgir. Nestas disputam quem perdem são o artistas porque os compradores em potencial ficam alarmados com tanta falta de vergonha.

BARCOS E SEREIAS- Yedamaria, pintora de barcos e sereias segue para os Estados Unidos na primeira quinzena de março, em bolsa de Mestrado, Desenho, Comunicação Visual e Arte na Educação. Antes ela mostrará alguns trabalhos na Galeria da Acbeu, na Avenida Sete a partir de 1º de março.

NO MAM RIO- O  artista carioca João Ricardo expõe na área experimental o trabalho mais recente- Tribo.- Constando de 10 tendas a mostra tem o caráter tribal não somente tribalizar o público presente como também colocar o individuo numa sensação de todo:
Tribo-diz o expositor-lembra o que se foi, no caso, a herança cultural dos nossos índios, ou ainda a imagem inconsciente coletiva do brasileiro.

PREMIADOS DA FORMA- Foram entregues os prêmios da 1ª. Fase do Concurso Forma de Desenho industrial. Os vendedores: José Gabriel Borba Filho, Leila Lengruber Queiroz, Gilberto Pacheco Fagundes, Vitor Amaral Lotufo, Max Sterenberg, Píer Luigi Bagini e Alexandre Rodrigues de Castro e Silva. Cada um recebeu CR$ 7 mil cruzeiros. Desses, três foram escolhidos a saber: José Gabriel, Leila e Gilberto Pacheco que acompanharão os modelos que serão desenvolvidos e receberão novos prêmios que variam de CR$ 15 mil, CR$25 mil e CR$ 50 mil cruzeiros.


MARC CHAGALL CONDECORADO - Um dos grandes artista da atualidade Marc Chagall acaba de receber uma justa homenagem do governo francês. O Presidente Valery Giscard D’Estaing condecorou o artista com a Grande Cruz da Legião de Honra, que é a mais alta condecoração da França para pessoas que não sejam chefes de Estado. Dirigindo-se a Chagall que hoje tem 89 anos de idade disso o Presidente: Em nome da França, das flores, dos animais e das três musas que o tem inspirado: o trabalho, a Bíblia e a Liberdade ofereço esta homenagem.
Ao término da homenagem o pintor e sua família foram almoçar no Palácio Eliseu. (Foto).

RESPOSTA A UM MANIFESTO -12 DE FEVEREIRO DE 1979.


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO 12 DE FEVEREIRO DE 1979.

             RESPOSTA A UM MANIFESTO

Alguns dos recusados explicam objetivo do Salão.
Discordo do Manifesto assinado pelos artistas Antônio Luiz M. Andrade e Haroldo Cajazeiras Alves que nega a presença de vários elementos capazes de proporcionar o surgimento de uma arte vanguardista. O que existe é o comodismo dos artistas que não buscam as informações necessárias visando dinamizar sua criação. O que existe é o papel carbono que podemos observar no próprio salão dos recusados com vários trabalhos que representam cópias mal feitas da obra de Sante Scaldaferri, Pancetti e outros. O que existe é uma arte boa e uma arte ruim. Disto ninguém, pode fugir, e a seleção é uma coisa natural como separar o joio do trigo. Uma questão de valorização, que certamente entra o subjetivo, Sim, o subjetivo porque a arte é muito subjetiva.
Podemos dizer que o trabalho artístico tem um significado quase que individualizado. Daí a presença de alguns bons trabalhos no salão dos recusados. Confesso que fui responsável pela recusa de alguns trabalhos.
Este cartaz faz alusão
 àqueles que não concordaram
com o Salão dos Recusados.
Uma posição que assumi consciente diante das explicações que me foram dadas no momento em que estávamos escolhendo os artistas que seriam premiados. Os organizadores estavam surpresos com a presença de grande número de obras enviadas 185 artistas com 518 obras e não tinham espaço para expô-las. Primeiro partimos para diminuir o número de trabalhos, no máximo dois, para todos os artistas e ainda tivemos que selecionar. Os erros cometidos pelos meus colegas de júri são também meus. Assumi e aceitei a regra do jogo como os artistas recusados que não desconheciam que de qualquer forma haveria uma seleção ou seja, aquela que escolheria os prêmios de aquisição. Além disto, acrescenta-se que no momento em que você expõe um trabalho para outra pessoa, ele está sujeito a criticas positivas ou não. A valoração sempre existirá porque é o próprio do ser humano. A escolha deste ou daquele trabalho para prêmio é          portanto, que era de conhecimento público e inclusive divulguei em minha coluna por várias vezes.
Esta obra de Graça Olivieri foi recusada.
Quanto à arte política, engajada, reclamada pelos assinantes do manifesto, é uma questão individual. Você pode independente da Fundação Cultural ou outro qualquer órgão fazer uma arte política. Evidente se a Fundação não aceita a sua proposta é porque ela joga em outro time. E se não existisse mais de um time, as coisas andariam ainda pior...

Contestar é fácil, bonito e estar na moda. Contesta-se tudo. É bom esta contestação porque no final alguma coisa de positiva tem que aparecer. Continuando no exame do Manifesto que reflete o pensamento da maioria dos recusados digo ainda que existe uma grande contradição nele inserido. Diz o Manifesto. Somos contra, não ao fato de haver seleção pois situar-se só é possível quando se toma partido, o que somos contra é o tipo de seleção não objetiva, determinada por critérios política pessoal, burocrática.      Ataca o próprio salão alternativo que surgiu em decorrência desses fatos reproduz os mesmos defeitos do salão oficial em relação á produção artística. Ora os manifestantes são contra tudo. Contra o próprio Salão que participam na qualidade de recusados e contra a seleção de modo geral. Sim, porque toda seleção por mais objetiva que os juízes queiram, estará presente uma grande parcela de subjetividade. Todo julgamento tem subjetividade. É a questão da neutralidade axiológica, quase impossível até no laboratório, porque no momento que você elege um tema ou escolhe um tipo de doença para estudar e realizar pesquisas está presente a subjetividade. Portanto, o manifesto de Andrade e Cajazeiras carece de um estudo mais profundo e levanta a possibilidade de uma discussão mais apurada.

Esta obra também  foi recusada.
Creio que ele foi elaborado num momento de aborrecimento ou excitação por terem sido recusados e por isso, está também cheio de subjetividade e valorização.
Não estou defendendo os interesses da Fundação Cultural. Primeiro, porque não sou empregado de tal órgão e muito menos tenho qualquer vinculação ou aceitação passiva de sua política cultural! Discordo de muita coisa, inclusive da presença de algumas pessoas que poderiam muito bem estar vendendo livros atrás de um balcão. Sou independente dentro das  possibilidades de um ser humano, contra a burocracia, mas também contra a contestação vazia. Vamos contestar mas apresentar soluções. O manifesto não apresenta soluções e o próprio salão demonstra que os artistas aceitaram de uma forma ou de outra o jogo da Fundação. Basta dizer que se consideram e se rotularam recusados. Este é inclusive o rótulo para divulgação do salão, que em tão boa hora foi acolhido pelo pessoal da Escola Baiana de Arte e Decoração.
Quanto ao mercado de arte ele sempre esteve em mãos de burguesia. Arte sempre foi consumida por pessoas que desfrutam dentro das comunidades de um status social pelo menos estável.Basta lembrarmos dos mecenas e mesmo em tempos imemoriais você encontra a arte sendo, consumida por uma certa camada da sociedade. Esta posição de arte para o povo é muito romântica, pelo menos de maneira que nos colocam os manifestantes. O que é preciso é partir para divulgar a arte através de todas as formas de comunicação. No entanto nada disto é feito. Vocês mesmo não mostraram até hoje seus trabalhos em lugar algum.- Ah! Mas não temos apoio. Poderão responder. Esta é a posição do Jeca Tatu de Lobato. Posição assumida por muitos artistas, inclusive figurões que conseguiram uma situação financeira estável e paravam no tempo. Vocês precisam é de uma ação positiva que lhes permitia levar avante o seu trabalho, melhorando a qualidade para poder discutir, mostrar e exigir. Caso o trabalho seja bem feito, tenha qualidade, será forçosamente aceito no mercado. Evidente que concordo que muita gente consegue posição de destaque e vende trabalhos de má qualidade. É a  posição social, é a amizade que levam a isto.
É evidente que o espaço reclamado foi aberto com o I Salão de Verão. Abrir um espaço para a arte não é como a Fundação Cultural propôs, com o Salão de Verão, mas sim abrir um espaço para discussão aberta que venha criar novos hábitos de produção e leitura. Os manifestantes esqueceram que estão discutindo e contestando. Que a recua proporcionou a criação do Salão dos Recusados. Concluo falando acerca do manifesto que carece de u aprofundamento maior e maturidade daqueles que o subscreveram.
Considerando que os autores do manifesto dispõem de poucas possibilidade de divulgá-lo público por uma questão de consciência o documento na íntegra: Manifesto Arte-Bahia- Estagnação.
Para haver uma arte de vanguarda (crítica) é preciso haver instituições crítica artística, salões, escola de artes aparelhadas, mercado mínimo de operacionalidade abertas que permitam em seu interior a produção, circulação e consumo de novas informações que ampliem o repertório de signos artísticos. Na Bahia podemos constatar a ausência desses fatores, e também, como fator negativo ao desenvolvimento de novos repertórios, podemos citar a preservação de um falso patrimônio que a elite econômica se utiliza para demonstrar status e ao mesmo tempo deter a cultura, controlando a produção ideológica.
A divulgação da arte na Bahia só é possível quando os artistas aceitam as regras do mercado e dos grupos que controlam as instituições.Um fato que vem comprovar esta situação é o Salão de Verão que inicialmente tinha como estratégia uma exposição aberta a todo e qualquer trabalho, mas de última hora os organizadores mudaram de estratégia impondo uma seleção. Somos contra, não ao fato de haver seleção, pois o situar-se só é possível quando se toma partido, o que somos contra é o tipo de seleção, não objetiva, determinada por critérios de política pessoal, burocrática, etc.
Mesmo o salão alternativo que surgiu em decorrência desses fatos reproduz os mesmos defeitos do salão oficial em relação à produção artística.

Os recusados tiraram esta foto de costas.
 Por que?
A situação na arte na Bahia estagnou nas propostas da década de 60 (Pró-Art, etc. não havendo nenhum vínculo com a produção e as discussões dos anos 70 Arte conceitual, arte ecológica, Arte Corpo, etc. este desvinculamento da arte baiana em relação ás novas estratégias, contra o circuito artístico, levam os artistas a uma prática cultural alienada.
Abrir um espaço para a arte não é como a Fundação Cultural propôs, com o Salão de Verão, mas sim abrir um espaço para discussão aberta que venha criar novos hábitos de produção e de leitura.
O que se pretende neste texto é contribuir para a discussão da prática alienante que ainda reina nas artes na Bahia, sincronizar o fazer artístico na Bahia com os principais centros produtores e pensar formas de minar o mercado baiano. Não podemos deixar de citar também a falta de um posicionamento ideológico dos artistas. Enfim é necessário envenenar toda uma tradição cultural medíocre e suas táticas.
Concluindo, para revitalizar a estagnada produção artística baiana, è fundamental frisar que o fazer artístico é essencialmente um fazer sobre a linguagem no interior da estrutura  social e o questionamento deve ser neste nível. Politizar a arte e a semântica e as formas de circulação.
Antônio Luiz M. Andrade-Haroldo Cajazeiras Alves.

Estive pessoalmente visitando com toda a boa vontade a abertura possível, o I Salão dos Recusados de Verão o constatei a presença de alguns trabalhos que deveriam estar figurando no I Salão de Verão, o oficial Aliás isto eu já tinha dito duas vezes e minha coluna. Citei nomes de alguns artistas que não deveriam estar figurando na relação dos premiados e critiquei a falta de atenção e cuidado profissional de artistas já conhecidos que enviaram trabalhos medíocres, além de bons trabalhos recusados.
O Salão dos Recusados se propõe a uma mostra da produção artística da Bahia sem prender-se a qualquer critério, aberto ao bom e ao ruim, abrindo espaço para os novos, para a crítica e para o debate. Um salão longe da burocracia dos salões oficiais. Esta abertura é demasiada, porque o ruim é sempre desprezado pelo homem. Abrir espaço para a presença de uma obra sem qualidade, ruim, como expressam os organizadores do Salão dos Recusados, não leva a nada. O trabalho ruim deve realmente ser recusado. Não deve ser exposta ao público sob pena de seu autor sofrer maior decepção. É preferível recusá-lo numa sala fria do que expô-lo numa parede aos olhos de visitantes que terminam por ridicularizar o autor.
Quanto a alusão àqueles que não participaram do Salão dos Recusados com receio d futuras sanções dos responsáveis pela política cultural do nosso Estado, devo dizer, que alguns resolveram não contestar certamente porque aceitaram a crítica e vão procurar melhorar a qualidade, para em seguida partir para uma exposição. Alguns que estão integrando o salão dos recusados, por exemplo, poderiam ter desistido porque não apresenta nada de positivo. Verdadeiros borradores de tela, e cupins de madeira de lei.
Termino afirmando, que a discussão foi aberta. Aceitei e prometo que estarei  aberto diálogo. Não ao diálogo apaixonado. Estou disposto a dialogar com seriedade.

OS RECUSADOS:

Di Paula, Luiz Torres, Álvaro Guimarães Pinheiro, Maso, Sumaya Mendes, Menandro Ramos, Antônio Otávio de Araujo, Flanklin Wriz, Lau Ping Luen, Ling Kam Cheng Lau, Belisário C. Nunes Manoel Duran, Lila Bouzas, Siloeh, Geraldo Guimarães, Aloísio Cerqueira Campos, Carlos Bessa Magalhães, Aldo de Aquino, Henrique Passos, Graça Costa Olivieri, Celeste Coelho, Vieira Neto, Edson Cezário, Elinaldo Costa, Luisa Torres, Edson Batista Ramos, José F. de Souza, Ananias Reis, Ângela Salomão e Eusvaldo Souza.
O que houve entre a Fundação Cultural e os artistas inscritos para o Salão de Verão foi a falta de comunicação. Segundo Graça Olivieri a ideia da Fundação era de dar oportunidade para os novos. Esta foi à proposta inclusive divulgada por Jacyra Oswald em programas de televisão. Acredito que devido a esta abertura prometida foi que 185 artistas procuraram a Fundação para realizar suas inscrições. Depois a própria Fundação recuou, quando seus dirigentes notaram que tinham sido enviados muitas obras e não poderiam expô-las todas por falta de espaço.
Este cartaz  ao lado faz alusão àqueles que não concordaram com o Salão dos Recusados.



A AGRESSÃO DOS ESPIGÕES - 19 DE MARÇO DE 1977


JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 19 DE MARÇO DE 1977

A AGRESSÃO DOS ESPIGÕES EM SALVADOR


"Quando o homem das cavernas sentiu necessidade, muito antes de mim de transformar sua casa em algo mais do que um abrigo, e pintou  nas paredes as coisas de que gostava, ele trouxe a arte do mundo. O impulso de dar ao seu lugar uma identidade pessoal não é apenas uma motivação para a auto-expressão individual e coletiva.  Identidade não é só aquilo que o homem quer dar ao seu habitat. Ela é também o que seu habitat oferece ao homem. Wolf Von Eckardt em seu livro A Crise das Cidades."

Esta citação do escritor e urbanista Wolf Von Eckardt tem muita relação com a nossa cidade que vem sendo desfigurada por monstros de concreto construídos por empresários preocupados em lucro fácil e que tem a seu dispor profissionais capazes de atender a seus egoísmos. Um aprova patente e a existência de aberrações arquitetônicas como os Conjuntos Tiradentes e Julius Caeser e Apolos. Verdadeiras chagas nesta cidade tão beneficiada pela natureza e que os baianos não devem permitir a continuação do desenfreado desfiguramento.
É triste a paisagem que se descortina quando chegamos por mar. Nos morros verdejantes surgem verdadeiros espigões que representam uma agressão visual e estética, além de não oferecerem a seus moradores um ambiente necessário a seu bem estar. Tenho medo que as palavras pronunciadas esta semana pela deputada carioca Lígia Bessa Bastos - O Rio é hoje uma cidade falida, violenta, pobre, devastada, desrespeitada, lesada, enfim, um município inviável, sejam perfeitamente adequadas para nossa cidade. É preciso salvar Salvador da sanha em busca do lucro fácil.
A utilização do solo nas grandes cidades é um problema que preocupa os urbanistas conscientes de suas responsabilidades para com a sociedade. Esta minha preocupação deve ser de todos os baianos, porque desde o momento que o homem cansado de vagar pelos prados se fixou, ele buscou essencialmente um certo conforto e distinção pessoal á sua moradia. E nós baianos também devemos proceder desta maneira.
Agora em boa hora chega o professor alemão Martin Furstenberg para ministrar um curso de extensão sobre Planejamento de Bairro com o objetivo de desenvolver e aplicar uma metodologia de levantamento e planejamento sistemático novos métodos aplicados na Alemanha na elaboração de programas e planos alternativos para a conservação e recuperação de um bairro, com a participação dos moradores. O curso já foi iniciado na Faculdade de Arquitetura e reúne profissionais e estudantes das áreas de arquitetura, urbanismo, geografia, sociologia, psicologia, economia, administração, assistência social e outros com experiência de trabalho com população.
O professor Martin Furstenberg deverá mostrar aos participantes do curso, e, estes por sua vez a outros profissionais a necessidade de preservar, conservar e criar melhores condições de vida para as populações residentes nos bairros das grandes metrópoles. Várias propostas serão apresentadas, segundo o urbanista, pelos participantes para escolha de um bairro onde aplicarão o método alemão.
Eles vão estudar as mudanças, a estrutura, as funções e problemas do bairro a ser eleito, em perfeito entrosamento com a população.
Assim terão oportunidade de verificar como crescem novos bairros sem qualquer planejamento. Um crescimento espontâneo, sem qualquer fiscalização dos poderes públicos. Verdadeiros amontoados de casas, casarões, edifícios, rurais e ruelas. Os equipamentos tão necessários a qualquer bairro digno vão surgindo também espontaneamente. Uns não aparecem, porque o lucro não compensa neste ou naquele setor e assim começam os problemas de falta de saneamento, água, luz, telefone, supermercados e transportes, etc.
E tais considerações que faço visam apenas chamar a atenção dos poderes públicos e conscientizar os profissionais que não devem aceitar estas imposições dos empresários. Cabe aos profissionais orientá-los e demove-los para que a imagem visual e a qualidade de vida não piore nesta tão sofrida e centenária cidade.
                           PAINEL

CARTUM 77 - Devido ao grande êxito alcançado na 1ª Exposição Internacional da Caricatura, Cartum 75 realizada em Berlim os organizadores resolveram montar outra mostra com trabalhos de 400 caricaturistas de 41 países. Para o Cartum 77 haverá um júri internacional, que premiará os seis primeiros colocados e concederá vários prêmios especiais. Os organizadores se reservam o direito de publicar os trabalhos premiados que passarão para sua propriedade. Cada participante deverá enviar no máximo três trabalhos até 1ª de junho para o seguinte endereço: Cartoon 77, Europa, Center, 16.OG. Infoplan, 1000 Berlin 30.Para quem deseja entrar em contato com os organizadores o telefone é este: 031/2611046/47. Telex:...0183017.

RICHARD WAGNER- A Galeria O Cavalete vai abrir suas portas no dia 25 de março para a exposição de Richard Wagner. O artista já realizou mostras em Washington, Califórnia, Montevideo, Bruxelas e São Paulo.

ADA BRITO- A Casa da Bahia, no Rio de Janeiro, está apresentando uma exposição retrospectiva da artista baiana Ada Brito.

PORTAS DO CARMO- A Galeria Portas do Carmo está expondo trabalhos de Rosário com apresentação de Floriano Teixeira. Afirma Floriano que o expositor é figurativista ingênuo, aborda temas populares.
São mulheres roliças, vendedores ambulantes e crianças alegres.

KRAJCBERG - Munido de farta documentação chegou Frans Krajcerg com seu advogado Marcio Donici. Vão brigar com o marchand Giuseppe Baccaro a quem Krajcerb credita a autoria das telas expostas numa galeria do Rio de Janeiro e falsamente atribuídas a ele.

VINTE E CINCO- A oficina infantil do MAM-Rio está completando 25 aos de funcionamento.
Para comemorar a data foi organizada uma mostra dos melhores trabalhos dos alunos que por La passaram nos últimos 3 anos. São cem trabalhos de 60 crianças e jovens, entre 14 e 16 anos de idade. Incluindo desenhos. Óleos, colagens, guaches, aquarelas, objetos  e montagens


PICASSO E MONET- Duas obras de Pablo Picasso e uma do impressionista francês Claude Monet foram doadas ao Museu de Belas Artes de Boston. O quadro de Monet retrata sua mulher e se intitula Camille Monet ET Un Enfant au Jardin. (Foto) Com esta, o Museu de Boston, soma 36 obras de Monet, a maior coleção do autor nos Estados Unidos. Quanto as obras picassianas são uma estátua de bronze Cabeça de Mulher, de 1909, e um  quadro a óleo. Retrato de Mulher, de 1910. As duas obras são exemplos do período cubista de Picasso.

CABEÇA DE BISPO- A  cabeça de um bispo sendo pintada por um artesão de uma empresa londrina de artesanato de vidro.
Esta cabeça mede apenas 102mm e é uma das 30 mil peças de um delicado cristal que formarão uma das maiores rosáceas do mundo, a ser instalada na Capela de Lancing College, no sul da Inglaterra. Foto.






ASSOCIAÇÃO DE ARTISTAS- Existe a Associação dos Artistas Plásticos do Distrito Federal que foi fundada em 9 de setembro de 1973 e tem como presidente Roberto Amaro de Lucena. Segundo seus estatutos para o artista se admitido como sócio pagará uma jóia de Cr$ 120 cruzeiros e mensalidades de CR$ 10,00.

MUSEU EM VALENÇA- O Roberto Araújo proprietário da Galeria Rag está disposto a doar vários trabalhos de artistas baianos para a criação do Museu de Valença. A ideia está ganhando força e algumas pessoas já estão se movimentando para concretizá-la. Possivelmente em novembro Valença terá seu museu, a exemplo de Feira de Santana e Itapetinga.

O DOCUMENTO DE ADELSON DO PRADO - 05 DE FEVEREIRO DE 1977


JORNAL A TARDE, SALVADOR,  SÁBADO, 05 DE FEVEREIRO DE 1977

O DOCUMENTO DE ADELSON DO PRADO

O pintor Adelson do Prado trabalhando numa de suas telas
O artista Adelson do Prado de máquina fotográfica em punho documenta as nossas festas de largo.
Cada vez que volta a Salvador Adelson fica impressionado com a afluência de gente de todas as camadas sociais que senta nas barracas e toma cerveja. Tudo mesclado. Nas cores das peles e dos vestidos e blusas extravagantes. É o baiano em pleno verão, gozando das delícias deste País tropical. É nesta integração que Adelson do Prado, filho de Vitória da Conquista encontra uma atmosfera capaz de dar forças às suas raízes e continuar pintando suas telas ingênuas e belas.O colorido das palmeiras, as pombas brancas, as mulatas e a exuberância do casario colonial são ingredientes utilizados por este artista, que reside numa metrópole e não perdeu a simplicidade de um primitivo. É verdade que a pintura de Adelson sai do primitivo puro, bruto para torna-se uma pintura mais cuidadosa, porém, a perspectiva não existem em seus trabalhos. A evolução é fruto de uma produção artística que forçosamente dá ao artista maior possibilidade de burilar as tintas e as formas. Mas, no fundo toda a atmosfera traduzida em sua obra é primitiva.
Aliás a própria figura de Adelson do Prado tem algo a ver com a sua pintura.A maneira de ser e ver as coisas demonstram uma ingenuidade que é traduzida nas linhas e composições plásticas por ele criadas.
Não gostaria de ver um Adelson em outras fases  tão comuns aos iniciantes porque usa pintura já tem uma marca, uma personalidade própria que a identificamos facilmente.
Saído de Salvador vítima de sua ingenuidade e da maldade de alguns, estes artista chegou ao Rio de Janeiro com a cara e a coragem e, hoje, é um nome respeitado no setor. É evidente que temos que aplaudi-lo para que continue produzindo suas telas, pois é um jovem que tem 33 anos de idade e muita coisa a fazer pela frente. Espero que o Adelson volte sempre a Salvador para rever as nossas festas e os tipos populares tão presentes em suas obras.

               A IDADE MÉDIA NAS QUARTAS-FEIRAS

Oleiro mostra sua arte medieval em Ruthin
Toda a atmosfera da Idade Média com os nobres, ricos, prósperos comerciantes, bobos da corte, artesãos e mercadores anunciando suas mercadorias foi criada na antiquissima cidade de Ruthin ,cidade de mercado ao norte do País de Gales.
Durante os meses de verão todas as quartas-feiras de junho a setembro o povo de Ruthin relembra o seu passado com uma viagem no tempo, retornando á Idade Média. Bandeiras esvoaçam nas ruas, os pubs ficam abertos o dia todo, e os lojistas, os compradores e as crianças, todos eles vestidos com os coloridos trajes da época, dançam, cantam e alegram os turistas que visitam a cidade, muitas vezes apanhados desprevenidos.
Ruthin, no Vale de Clwyd, apenas 22 milhões a oeste de Chester e a 198 milhas de Londres, é uma das mais belas cidades históricas de Gales. O Castelo de Ruthin, construído pela primeira vez no século XIII as casas em preto e branco, semi-revestidos de madeira, as antigas e singulares estalagens, sem cortar as ruas estreitas e tortuosas, são perfeitas lembranças dos laços que ainda prendem a cidade a era medieval.
St. Peter's Square na cidade de Ruthin

St. Peter's Church, igreja do século XIV com um magnífico telhado de carvalho presenteado pelo Rei Henrique VII, Natclwyd House, uma das mais belas casas de cidade em Ruthin, e a Old Court House, onde agora está instalado o Banco Nacional de Westminster, são edifícios com interessante história.
O Castelo de RutHin, atualmente transformado em hotel de luxo com ótimos restaurantes e bares, completa os festejos das quartas-feiras com seus banquetes medievais. O jantar, com muito hidromel e vinho, tudo isso acompanhado de divertimentos tradicionais galeses, custa a partir de $5.50 (CR$ 100,00) por pessoa. A
hora de carro do Parque Nacional até Ruthin, a apenas uma hora do parque  Nacional de Snowdonia, constitui excelente centro para se explorarem as colinas e os vales do norte de Gales. E dentro de fácil alcance estão as estâncias marítimas de Rhyl e de Llandudno, e a agradável cidade interiorana de Llangollen.
                              PAINEL

EMMA VALLE- Com ambientação elaborada pela própria artista será inaugurada no próximo dia 10 uma exposição de seus trabalhos no Museu de Arte Moderna da Bahia, na Capela do Solar do Unhão. A mostra é  promovida pela Fundação Cultural do Estado da Bahia e permanecerá aberta ao público até 10 de março próximo.Esta mostra está sendo aguardada com muita expectativa a ambientação que a Emma Valle vai preparar.

OBRA-PRIMA- A Transfiguração de Cristo, obra-prima do pintor renascentista Rafael Sanzio, foi recentemente restaurada e apresentada pelo diretor-geral dos Museus do Vaticano, o brasileiro Redig Campos. A restauração durou quatro anos e um novo sistema de alarme eletrônico de raios infra-vermelhos foi instalada para protegê-la. O quadro mede 4,10m x 2,7m e foi pintado sobre madeira a pedido do cardeal Júlio de Medicis para a catedral de Narbonne, na França. Foto da obra.




PRÉ-COLOMBIANA- Lá também as obras de arte estão sendo transferidas para outros países. Agora uma rara taça de prata pré-colombiana foi leiloada em Londres. A taça como não podia deixar de ser saiu da América Latina, mais precisamente, do Peru. Remonta ao século XII e é trabalho dos Chimu, um povo que mais tarde foi conquistado pelos Incas. A obra foi levada pelo proprietário que viveu algum tempo no Peru, e tem 22 centímetros de altura e pesa 19 quilos.

AUTÊNTICOS OU NÃO?- continua ainda a polêmica em torno de algumas telas atribuídas ao pintor Di Cavalcanti. O critico Teixeira Leite afirma que são verdadeiras e Edson Mota que são falsificadas. Dois nomes nacionais que agora entram em choque. Todos que estão diretamente ou indiretamente interessados em arte aguardam com ansiedade o desfecho do caso. Certamente dezenas de telas falsificadas vão aparecer já que a morte de DI  determinou o aumento dos preços de suas telas.

PRÊMIO - A Comissão Julgadora do Prêmio de ilustração dos originais do livro Veludinho, de Maryha de Freitas Azevedo Pannunzio, vencedora do Prêmio INL de Literatura Infantil de 1976, reuniu-se no Palácio da Cultura, no Rio de Janeiro, para selecionar o melhor trabalho dentre as vinte concorrentes inscritos.
Integrada pelo critico de arte Clarival do Prado Valladares, representando o Instituto Nacional do Livro, Professora Ione Saldanha, indicada pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, e pela autora do texto vitorioso, a Comissão decidiu, por unanimidade, não conferir o prêmio, alegando que as ilustrações, em geral, não apresentam compatibilidade com a faixa etária a que o livro se destina.