JORNAL A TARDE, SALVADOR, SÁBADO, 18 DE FEVEREIRO DE 1978
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Leonel trabalhando em seu atelier |
Fico contente quando chego no atelier de Leonel Brayner e
sinto aquela liberdade e vontade de criar. Uma liberdade que contagia o
visitante, o qual sente vontade também de manipular os materiais utilizados
pelo artista na confecção de suas pinturas e objetos. Isto porque, além de um
bom artista Leonel é um entusiasta, um homem capaz de vibrar com a
espontaneidade de uma criança diante de um trabalho concluído. Percebo através
de seus novos trabalhos e de suas palavras que muita coisa ainda estar por vir,
e esta mostra que fará em Curitiba é o passo inicial para esta nova série de
trabalhos, onde estão incluídos os objetos.
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Tela-objeto de Leonel Bryner |
Os objetos são resultado de um jogo de materiais, formas, e
o próprio suporte que foi seccionado em vários tamanhos, variando tanto na
espessura como no comprimento. As frutas coloridas também ganharam
receptáculos, como cabaças de vários tamanhos e outras foram lançadas em
espaços livres. Um trabalho de um artesão que trabalha com a consciência e dose
de intelectualidade, o que permite a valorização do objeto de arte. Não
confundir com uma peça simplesmente decorativa. Tudo que Leonel faz é com
consciência e com a certeza de um resultado maior ou seja aquele que toca de
perto a sensibilidade das pessoas. Isto porque ele vive jogando num campo onde
cada movimento, cada cor ou forma, cada secção tem uma razão de ser dentro dos
limites de seu espaço criativo.
É verdade que ele dá realce a alguns materiais de sua
predileção, principalmente as frutas, que ora são vermelhas e grandes, ora
verdes e pequenas, e assim por diante. Mas tudo isto é consequência de um
trabalho que ele já vinha desenvolvendo desde quando passou a utilizar o
suporte como elemento integrante de sua pintura.
Leonel cria uma atmosfera metafísica tendo como base aquela
beleza revelada do objeto em repouso. É preciso parar para sentir esta beleza
de formas e cores. Leonel conseguiu
captar esta beleza metafísica que tem os elementos em repouso e recriá-la em
suas pinturas e objetos. Dizia um critico sulista que a tendência natural do
artista era a escultura, mas ele faz questão de ressaltar que continua e
continuará sendo um pintor.
Ganhei os espaços com esses novos objetos, mas não desejo
partir para a escultura. Os espaços e as formas exercem sobre meu trabalho uma
presença constante. Mas, não acabarei escultor, embora goste de mexer com
lixas, colas, tornos, massaricos e outros instrumentos tão presentes na vida do
escultor.
MUSEU NACIONAL DE CINEMA
Através de um convênio assinado entre a Funarte e a
Embrafilme, será instalado Museu
Nacional com um acervo de sessenta peças
de diferentes épocas doadas por colecionadores
particulares.
O museu sediado em uma
das galerias da Fundação Nacional de Arte, no Rio de Janeiro será aberto
ao público com a finalidade de se formar uma autêntica fonte de pesquisa. A
exposição em cinema brasileiro e montagens a evolução das técnicas empregadas
acompanhada de um estatuto que funcionará como um auxiliar da bibliografia
filmográfica Nacional.
AS PEÇAS
As peças que compõem o acervo do Museu Nacional do Cinema
compreendem desde professores à manivela, microfones, câmeras, copiadoras,
refletores, até fotos, cartazes, catálogos e programas de várias décadas.
Entre as peças mais importantes está uma mesa de montagem
alemã marca Leica, manual, mais conhecida como Olho de Boi, antecessora das
atuais moviolas. É um exemplar dos equipamentos fabricados no início dos anos 30
.Outra peça de grande valor histórico é a câmera Hermann a manivela alemã, para
60 metros
equipamento da segunda década deste século, foi utilizado no Ciclo do Recife
pelos cineastas J. Soares Dustan Maciel, Gentil Róis, Pedro Novas e Ary Severo.
Do acervo consta ainda um projetor Lucco (Italiano) também da
segunda década à manivela e fixo. Foi adaptado posteriormente a filmes falados.
MONTAGEM
A montagem do Museu do Cinema está a cargo de uma museóloga,
assessorada por um artista plástico e um arquiteto, funcionários da Funarte e
da Embrafilme. A instalação obedecerá a diversas etapas: catalogação das peças,
elaboração do livro de tempo do museu visualização de espaço e planejamento da
exposição permanente.
De acordo com JurandYr Passos Noronha chefe da Divisão de
Pesquisa e História de Cinema Brasileiro da Embrafilme. O Museu Nacional do
Cinema foi pensado como elemento capar de contar a história de nosso cinema,
aproveitando a oportunidade de mostrar a evolução do equipamento de filmagem,
iluminação, revelação, copiagem, montagem e sonorização.
A mostra, reunindo mais de 60 peças, será completada por um
catálogo editado pela Funarte, onde o visitante encontrará a história e a
descrição de cada peça do acervo, servindo como uma fonte de pesquisa.
SALÃO NACIONAL DE ARTES PLÁSTICAS
O presidente da República usando das atribuições legais
decretou que caberá a Fundação Nacional de Arte-Funarte organizar anualmente o
Salão Nacional de Artes Plásticas, no Palácio da Cultura, no Rio de Janeiro, ou
em outros locais a depender dos critérios da Comissão Nacional de Artes
Plásticas.
O salão será sempre de âmbito nacional e destinado a
exposição publicadas formas de arte plástica, sem privilégio de nenhuma de suas
expressões tradicionais, das formas experimentais ou de produção e
comportamento não tradicionais. Para isto no primeiro trimestre de cada ano o
ministro da Educação nomeará pessoas de notório saber e experiência no campo
das artes e das ciências para realização do referido Salão. Esta comissão será
composta de nove membros, além do presidente da Funarte, seu membro nato, que
presidirá com direito a voto de qualidade. Para integrar esta comissão poderão
ser convidados, em todo país, autoridades e estudiosos das áreas de: ciências
humanas e tecnológicas; artes plásticas e visuais, filosofia história da arte e
crítica da arte, programação e comunicação visual, arquitetura, urbanismo e
paisagismo. Todos receberão pro labore, a ser fixado anualmente pelo ministro
da Educação.
A Comissão Nacional de Artes Plásticas poderá estabelecer
temática ou tendência específica, convidando artistas representantes das mesmas
para exposição em sala especial, de caráter histórico-didático cujo espaço
físico não excederá a 1/ 3 da área
total do Salão. Por outro lado, para os efeitos de seleção e premiação será
constituída uma subcomissão composta de três membros eleitos pelos artistas
inscritos no Salão, além do presidente da Funarte.
Um detalhe curioso é que ao se inscrever no Salão o
candidato indicará na própria ficha de inscrição os nomes dos três membros para
comporem a subcomissão e premiação. Outra curiosidade é que somente poderão
concorrer os artistas que, no período de 10 anos até a data do respectivo
Salão, tenham realizado pelo menos uma exposição individual ou participado de
no mínimo duas exposições coletivas, estas devidamente comprovadas mediante
catálogos.
Quanto aos prêmios serão de viagem no país ou ao exterior e
de aquisição. Serão em número de oito sendo quatro ao exterior e quatro no
país, e os de aquisição, até o máximo de cinco dependendo das disponibilidades
financeiras, passando as obras adquiridas a integrar o patrimônio da Funarte.
Os valores serão fixados anualmente pelo MEC e pagos de uma só vez em moeda
nacional aos vencedores.
NOVA GERAÇÃO DE ARTISTAS BAIANOS
Os artistas baianos da nova geração, Antenor Lago, Sinval Cunha,
Edson Calmon, J. Cunha, Murilo, Renato da Silveira que se encontra em Paris, e
Sônia Rangel estarão expondo seus trabalhos de pintura e escultura, num total
de 48, no próximo dia 13 na Galeria Global ,de São Paulo, na exposição intitulada
Arte Bahia Hoje. A mostra será patrocinada pela TV Aratu e tem como
responsáveis pela seleção das obras o diretor da galeria, Franco Terra Nova,
Silvio Robatto e Carlos Ramon, J. Cunha e Sônia Rangel ficaram incumbidos de
preparar a exposição na capital paulista.
LIBERDADE DO MESTRE OSWALDO GOELDI
A liberdade de um desenho simples haveria de caracterizar
Oswaldo Goeldi como um artista perscrutador de seu mundo interior, e
despreocupado com os caminhos dos centros artísticos.
Próximo do procedimento dos expressionistas do norte da Europa,
com os quais tivera contato no início de sua formação artística em Berna,
Genebra, Zurique de 1917 a
1919, Goeldi encontra em Kubin um legitimador de suas intenções pessoais,
retornando em 1919 para o Brasil, depois de uma estada de quase 20 anos na Suíça,
é na solidão de seu trabalho que reside o substrato de sua vida e de sua obra.
Entre a noite e o dia, entre a vida e a morte, move-se o
poeta a desvelar um mundo extraordinário: dos pescadores silenciosos, dos ventos
e sóis aos animais às plantas, todos seres engendrados por uma força inimiga.
Partindo do observado em seu trajeto pela rua ou pelo cais particularmente
sensível ás misérias humanas, Goeldi transfigura o cotidiano em sua dimensão mais oculta, capaz
de ultrapassar o factual e para atingir a condição de ser. Em 1924 passa a
dedicar-se à xilogravura e do novo meio surge um desenho incisivo e mais
definido: as figuras revelam-se pelos traços luminosos sulcados na superfície
da madeira, qual superfície noturna, em contraste dramático.
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Gravura Velhice, de autoria de Oswaldo Goeldi |
Pela xilogravura
Velhice é possível observar o gesto do
artesão unido á intenção simbólica. Ao contraste mais rarefeito do branco com o
cinza vem superpor-se o preto, a povoar a figura do velho, a constranger-lhe o
espaço, afunilando-o.Do silêncio e da solidão monocromática surge um vermelho
distante e poente. Inatingível por detrás do muro.
Goeldi utiliza a cor na gravura desde 37, quando busca da
memória na infância vivida em Belém do Pará, em contato com a natureza, o
motivo par a ilustração de Cobra Norato, de Raul Bopp.
O artista procura atingir a gravura concebida pela cor, ou
seja, a cor gravada ao invés da cor superposta á gravura definida pelo desenho.
Em Jardim, a suavidade conseguida pela menor definição dos
limites da cor, pelas suas variações sutis, e pelo uso de regiões claras, nem
gravadas nem entintadas, constitui uma atmosfera de encanto e leveza na
intimidade do cultivo de plantas. A flutuação do azul do céu resulta da
superfície colorida desprendida da demarcação do traço gravado; a solução de
rosados dá horizontalidade à casa. Embora o cuidado artesanal da tiragem possa
ter permitido maior ou menor adensamento da cor nota-se que as variações são
conseguidas através da escolha de valores diferentes no movimento da entintagem
da madeira, como é o caso dos verdes das plantas, ou através da superposição de
cores, como mostra a figura humana, na qual o castanho recebe por vezes, pretos
mais ou menos diluídos.
Goeldi que expôs desde 1919, dedicou-se à ilustração de
vários jornais e revistas, livros e poemas,
cabendo referências às xilos realizadas em 1940 para ilustrar Dostoiewsky. Sua
atividade pioneira o situa como marco do florescimento da gravura moderna no
Brasil, tendo influenciado seu posterior desenvolvimento.
UMA PAISAGEM DE BRASÍLIA
No próximo dia 5 de março será realizada em Brasília a 5ª.
Gincana de Pintura promovida pela Associação dos Artistas Plásticos do Distrito
Federal. A gincana será na Torre de Televisão e tem ainda o patrocínio da
Secretaria Geral do Ministério da Educação e Cultura. Quem está coordenando os
trabalhos é Roberto Lucena que afirma que poderão participar da gincana
qualquer artista e serão conferidos quatro prêmios sendo que o colocado em 1º
lugar receberá oito mil cruzeiros, o segundo lugar, quatro e, o terceiro apenas
dois mil cruzeiros. O quarto colocado receberá um troféu da Associação dos
Artistas Plásticos do Distrito Federal, categoria ouro.
Ao quadros premiados passarão para o acervo da AAP-DF e
todos os candidatos deverão se apresentar à comissão julgadora no dia 5 de
março para pintar uma paisagem de Brasília.Qualquer informação poderá ser conseguida com a pintora
Nide, em Salvador.
Recentemente foi empossada a atual diretoria a atual
diretoria da AAP-DF que tem como presidente Roberto Lucena, secretário José Maria
Belo de Oliveira, Tesoureiro-Mauro Leão Martin.
OBRAS DE ELISEO VISCONTI EXPOSTAS EM SALVADOR
Em promoção conjunta da Fundação Cultural do Estado, Galeria
de Arte Global e TV-Aratu, foi inaugurada no Museu de Arte Moderna da Bahia, a
exposição itinerante de Eliseo Visconti que será apresentada nas principais
capitais do Nordeste.
A mostra propõe-se a registrada, a nível de informação
crítica e revisão, na área das artes plásticas, das principais escolas e
tendências, a presença brasileira na pintura pós-impressionista, de que
Visconti foi um dos nomes mais representativos.
O catálogo, confeccionado
sob a responsabilidade da Galeria
de Arte Global ,ao lado de reproduzir os principais momentos da pintura de
Eliseu Visconti apresenta uma seleção de análises críticas sobre sua obra,
assinadas por destacadas personalidades
da vida cultural brasileira.