JORNAL A TARDE , SALVADOR , 19 DE ABRIL DE 1975
Uma das gravuras do álbum DoJazz |
A Associação Cultural Brasil-Estados Unidos inaugurou na
última quinta-feira a sua Mini-Galeria Acbeu; em sua sede própria, no corredor
da Vitória, número 214, com o lançamento do álbum Do Jazz do gravador
Calasans Neto. Este álbum é o resultado de uma viagem de estudos que fez
recentemente o gravador a convite do Departamento de Estado norte-americano.
Tive a felicidade de conhecer alguns dos trabalhos que
compõem o referido álbum antes do seu lançamento, naquele momento de criação
quando Calasans Neto estava inteiramente voltado para sua execução. Daí poder
afirmar que este álbum é resultado também de um trabalho cuidadoso e apurado
onde ele retrata os grandes nomes os jazz americano. É um álbum de tiragem
limitada (apenas 50 exemplares) onde Calá utilizou uma técnica conhecida por
buril e ponta seca. Cada álbum traz cinco gravuras.
O artista justifica a escolha do tema afirmando que este
trabalho é uma descrição sentimental de sua viagem pela região do Mississipe
onde nasceu o movimento jazzista norte-americano. Assim King’s Oliver, Emma
Barret, Papa Celestin, Bunk Johanson, Louis Armstrong e George Cullen aparecem
em suas gravuras com seus respectivos instrumentos musicais.
Outro detalhe é que o mestre Calá deixou de lado, por pouco
tempo, a madeira, matéria-prima preferida para a confecção e expansão do seu
espírito criador para trabalhar com o frio metal. Mas a sua arte venceu mas de
alto nível, com as figuras do jazz do Mississipi.
O texto do jornalista e estudioso do jazz norte-americano
Luiz Orlando Carneiro veio enriquecer ainda mais o trabalho de Calasans Neto.
Vejamos um pequeno trecho:
E foi por isto que um certo Calasans Neto, homem afeito a
lida dura da madeira e do formato, afeiçoado a cabra, baleias e outros bichos,
baiano de Itapuã, viu-se um dia de repente em Canal Street ”.
A ARTE DE NIDE
Belas negras pintadas por Nide |
A pintora Nide está trabalhando para sua próxima exposição
que realizará em Brasília na Galeria do Eron Palace Hotel. Sua pintura apresenta
um colorido e movimentação original. A maioria de seus trabalhos versa sobre o
folclore baiano, onde negrinhos e negrinhas surgem com suas roupas tradicionais
tocando pandeiros, vendendo acarajés, dançando sambas-de-roda ou maculelê. A
figura humana é uma presença constante em seus quadros mesmo quando pinta
casarios ou paisagens baianas. Ela tem um perfeito conhecido da harmonia das
O Pandeirista, 1975 |
cores e os tons mais vibrantes não chocam o espectador ao contrário dão alegria
e um bonito cromatismo.
Nide começou a pintar ainda criança e sem ter passado por
uma Escola de Belas Artes consegue criar trabalhos de nível. O que lhe
interessa é pintar por uma necessidade intrínseca, por uma exigência
espiritual.
Outro detalhe em sua pintura é o senso de humor das figuras
que sempre estão rindo e brincando. O desenho é estilizado e muito pessoal,
aliado a escolha perfeita das cores.
COSTA LIMA VAI EXPOR NA GALERIA O CAVALETE
Uma obra mais recente do artista Costa Lima |
O artista Costa Lima vai mostrar a partir do próximo dia 25
alguns trabalhos criados recentemente. Com apenas 28 anos de idade Costa Lima
já nos apresenta bons trabalhos que certamente serão ainda mais aprimorados com
o decorrer dos anos. Começou pintando paisagens e flores e hoje sua temática
está voltada para o casario baiano onde consegue ser original, embora este tema
seja constantemente explorado por artistas baianos. O interessante é que mesmo
pintando casarios notamos a originalidade de sua pintura que difere de tudo que
já foi feito. Sua pintura surgiu de uma espontaneidade criadora, pois Costa Lima
nunca frequentou uma Escola de Belas Artes. Porém, o desenho é apurado, reflexo
do curso de licenciatura em Desenho que ele faz em Universidade Federal
da Bahia.
Destaca-se ainda o seu trabalho nos interiores onde as
pinturas nos azulejos portugueses são retratados com perfeição. O jogo de luz e
sombra. Os interiores no seu entender refletem o seu mundo, pois quase sempre
está refugiado num canto de sua residência para criar. São trabalhos que
inspiram calma naqueles que os observam.
PRORROGADA A COLETIVA DA LE DOME
A Le Dome Galeria de
Arte, prorrogou a sua atual exposição até o dia 11 de maio
próximo, tendo em vista o sucesso alcançado. Nesta coletiva estão expostos mais
de 200 trabalhos de 36 artistas.da Le Dome Além de nos
apresentar um grande número de trabalhos e participantes mostra como o
movimento das artes plásticas na Bahia, especialmente em Salvador vem crescendo
assustadoramente. O que é preciso é realização de muitas exposições e
divulgação para que o grande público participe deste movimento. É preciso que
as galerias de arte da Cidade não fiquem presas apenas a comercialização
imediata dos trabalhos ali expostos. É preciso pensar mais longe. Sim, porque o
estudante de hoje será o comerciante, o profissional liberal de amanhã e certamente
se for alertado cedo para a importância do trabalho artístico, quando ele tiver
poder aquisitivo passará a adquirir e prestigiar o movimento. Daí acreditar que
as galerias de arte deveriam ser mais abertas, isto é, deveriam preocupar-se em
levar arte ao povo, principalmente aos jovens estudantes. Que este papel não
fique restrito apenas aos museus que vivem constantemente enfrentando problemas
de ordem financeira. Este trabalho realizado também pela galeria de arte
contribuiria em muito para que os artistas expositores ficassem conhecidos do
grande público.
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