ARTES VISUAIS Reynivaldo Brito

Este blog se propõe a divulgar o movimento de artes visuais na Bahia, no país, e o que acontecer de significativo no exterior.Também resgatará matérias e críticas que escrevi durante mais de três décadas. Espero contar com a participação de artistas, galeristas e promotores de eventos de artes visuais informando de exposições e outros eventos. Contato britoreynivaldo@gmail.com Se você quiser trocar sua foto por uma colorida é só enviar por e-mail.

Translate

sexta-feira, 6 de dezembro de 2019

AS MIRAGENS DE SIRON FRANCO

"A Vigésima Sétima Miragem", este  boi vermelho .
Morador de Goiânia o  Siron Franco sempre foi um artista inserido nos fatos que aconteceram e acontecem em nosso país. Já fez algumas de suas principais exposições denunciando as vítimas de crimes , e também daquele acidente que contaminou e matou várias pessoas devido a manipulação de produtos radioativos, já enfocou a matança de animais silvestres, a defesa das nossas matas, a dureza do regime militar  etc.
Portanto , sua arte está sempre focada em algo real que de alguma forma o incomoda e instiga . Ou seja , o que move o artista são estes acontecimentos que permeiam os noticiários nacionais ou internacionais , o que demonstra ser um artista plugado e antenado na realidade que o cerca . Sendo assim , sua arte tem um conteúdo político e social. 
"Décima Quarta Miragem" , aberta a interpretações
Por ter uma capacidade criativa muito extensa  pode também pintar uma série de obras pelo prazer de pintar , tirando inspiração armazenada em informações e sentimentos outros que permeiam a sua mente aguçada , inclusive sonhar e imaginar miragens que permeiam a sua vida. 
Como diz o Charles Casac , no catálogo de sua exposição , ora na Galeria Paulo Darzé , "Na década de 1960 elaborou a série Era das Máquinas , depois vieram prostitutas travestidas de madonas , executivos e exercício de perversão , anjos espiões e voyeurs , orgias e divertimentos dos reis , comandantes militares e oprimidos sob o clima da opressão , que marcou o regime militar período esse em que o léxico do artista estava em formação ".
Estes ciclos ou momentos de sua  trajetória são como páginas de um livro ou cenas de um filme documentando a produção  pictórica de Siron Franco.
Atualmente com a temática  Miragens fica difícil ou quase impossível alguém interpretar estas visões oníricas de Siron Franco porque são muito pessoais , e a arte quando precisa ser explicada cai num campo que prefiro deixar de lado. Vamos  sentir e admirar as cores , os traços , as figuras sutilmente sugeridas ou não , e nos  emocionar com este conjunto de elementos  que vibram como notas musicais numa escala infinita.
Siron Franco ao lado do
galerista Paulo Darzé.
É neste campo da ilusão que está conduzida esta nova exposição deste grande artista de renome nacional e internacional . Diz ele no livro-catálogo da sua mostra que não se importa com as críticas e que não responde apesar de ler e reler.
Está portanto dando uma clara demonstração que se importa sim com as críticas a ponto de ler e reler. Se não se importasse nem as lia ou  olhava. Também ,  disse que é bem humorado . É verdade . É muto bem humorado e falante , agradável e envolvente como um artista que vibra como suas obras de cores fortes e traços marcantes.
Imagem do humor de Siron Franco
Ninguém , tenho certeza , que gosta de arte vai  querer faze-lo triste , ao contrário , eu mesmo quero vê-lo sempre alegre , produzindo a fazendo o sucesso que merece pela qualidade da sua obra e seu jeito de ser . 
Estive algumas vezes com Siron , desta vez infelizmente não pude encontrá-lo por estar com alguns problemas que exigiam a minha presença.
Quando você começa a falar do Brasil , das dificuldades que o país vem enfrentando através dos anos , especialmente nas últimas décadas ele acha que nosso Brasil  " é muito cruel com seu povo, é extremamente perverso . Este é um país onde morrem tantas crianças de fome e não dá para esquecer suas tragédias . Disto eu brado e meu brado é minha arte . Sempre estive envolvido com o povo e não aceito o as coisas como são".
 Perfeito , os que tem alguma sensibilidade , independente de ideologias , também ficam revoltados com os privilégios exagerados , com as discrepâncias , com a roubalheira , com os fundos eleitorais , que tiram dinheiro da saúde e da educação para financiar a corrupção.
Você se manifesta com sua arte , e eu aqui com meus textos e posts em todas as plataformas digitais . Isto  porque amamos o nosso país e a sua gente. Um abraço e mais sucesso para você.
A exposição permanece até o próximo dia 13 de dezembro, e a Galeria Paulo Darzé fica na rua dr. Chrysippo de Aguiar, 8, uma transversal do Corredor da Vitória, Salvador, Bahia. www.paulodarzegaleria.com.br


Postado por BLOG DO REYNIVALDO às sexta-feira, dezembro 06, 2019 Nenhum comentário:
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

UM ARTISTA COM OLHOS ABERTOS PARA O MUNDO

O artista Sérgio Rabinovitz em seu Home-Atelier no bairro de Amaralina.
Sua primeira experiência foi buscar uma opção para sua felicidade individual. Estudou Física e depois Arquitetura , mas sempre deixando pelo meio do caminho. A arte o chamava , e solitariamente começou a fazer alguns trabalhos até que seu pai um grande violinista da Orquestra Sinfônica da Bahia o  pegou pela mão e apresentou-lhe ao saudoso artista  Calazans Neto. Este grande gravador que encantou a nossa Bahia e o Brasil com sua arte focando nas cabras,  baleias, nos mistérios do Abaeté , no mar de Itapuã com suas embarcações e também no casario colonial . Assim começou sua trajetória artística . Calá com seu jeito cheio de generosidade colocou as ferramentas da xilogravura em suas mãos ,  ensinou-lhe a imprimir , e depois de um período disse que não tinha mais nada para ensinar . Fez uma carta de apresentação para Mário Cravo , sem antes dizer pode voltar quando quiser para imprimir ou trabalhar em suas gravuras e lhe presenteou com uma pequena xilogravura.
Lá chegando notou que o espaço da gravura estava um pouco deixado de lado pelo mestre Mário Cravo envolvido em suas esculturas modernas.  Ai ele teve que limpar e preparar as ferramentas e a prensa para continuar sua busca numa perspectiva de vida que lhe tornasse plenamente feliz. Os que conheceram Mário Cravo  , o grande escultor , reconhecido mundialmente , sabem do temperamento aberto e instigante. Neste atelier passou muita gente importante inclusive o gravador Oswaldo Goeldi chegou a realizar alguns trabalhos naquela prensa , que teve que ser recuperada.

BOLSA NOS ESTADOS UNIDOS

Cartaz anuncia  lançamento do livro
Foi ai que tomou conhecimento de um concurso para uma bolsa de estudos nos Estados Unidos promovido pela Fundação Fulbrightc  para a Wesleyan University , que fica no estado de Connecticut. Coube a diplomata americana Frances Switt , uma ativista cultural que teve presença importante na Bahia nos meios culturais nos anos 70 em nossa Cidade , avaliar juntamente com artistas baianos e Sérgio Rabinovitz foi selecionado.
Sérgio chegou a fazer uma exposição na sede da Associação Cultural Brasil - Estados Unidos , que funcionava no Corredor da Vitória em 8 de agosto de 1975. Esta mostra aconteceu logo após a inauguração da sede da entidade , que por coincidência teve como atração uma exposição de Calazans Neto . Eram gravuras que ele produziu depois de uma viagem aos Estados Unidos insprada  nos jazzistas populares de New Orleans . Já a exposição de Sérgio as gravuras foram impressas nos ateliers de Mário Cravo e Emanoel Araújo , que ele conhecera nesta época.
Lembra Sérgio Rabinovitz  que ao chegar aos Estados Unidos um mundo novo se abriu naquela universidade que tinha uma metodologia de ensino aberta e um acervo de gravuras fantástico com obras de Picasso, Rembrandt , Dürer , Paul Gauguin e de  outros monstros da arte mundial. O importante é que os alunos podiam consultar este material como elemento de referência e pesquisa. Isto causou um grande impacto no jovem artista baiano que lá permaneceu um ano e meio, seguindo depois para Nova Yorque.

                                                VAI PARA NOVA IORQUE

Obra recente onde vemos uma samambaia interferindo.
 Foi estudar noutra universidade especializada em arte. " Era o lugar que todo mundo que queria estudar arte gostaria de estar", diz o artista . Foi a Cooper Union Arts School. Tinha que se virar para morar em Nova Iorque e passou a estudar gravura, litografia, gravura em metal, misturando com litogravura. Foi ai  que começou a romper os limites da gravura e a interferir usando materiais descartados  que estavam ali no atelier da universidade . Ai já as transformava em desenho. Começou a desenhar sem sentir e dai para desenhar em papel foi um passo normal.
Nesta universidade os professores davam metas e submetia os alunos a uma crítica coletiva dos colegas . Não tinha agenda rígida e muitas vezes nem precisava ficar em sala de aula . Tinha que apresentar o produto , o resultado. Eram ministradas  aulas de História da Arte, que davam a base de conhecimento. "Eu me apresentava para projetar os slides das aulas, e assim ganhava alguma grana que era paga pela própria Universidade. Com isto prestava mais atenção e aprendia mais ", diz Sérgio . Em 1978 se graduou em bacharel em Artes Plásticas. 
Ficou por lá até 1979, mesmo terminando o curso. Estava num momento que era mais fácil ficar lá do que vir pra cá e começar tudo de novo. Um professor lhes disse mais ou menos assim  "Você quer ser um cisne num pequeno lago ou ser um pato num universo bem maior? " Foi ai que respondeu que queria ser um cisne em seu próprio país , não por vaidade, mas para produzir e mostrar sua arte aqui.
De lá para cá Sérgio Rabinovitz consolidou sua carreira como um artista que utiliza de vários materiais para expressar sua arte. Já fez inúmeras exposições aqui e no exterior e vive exclusivamente de sua arte.
    
ABERTO AO MUNDO

Passei uma tarde agradável com Sérgio em seu atelier .
Seu Home-Atelier é um braço estendido a colecionadores do mundo inteiro, inclusive aos galeristas que levam seus clientes para conhecer pessoalmente o artista. Também seus trabalhos  estão lá  dispostos como se fosse num acervo de uma galeria ou numa reserva técnica de um museu.
Ele pretende ainda abrir seu atelier para visitas programadas de escolas quando  mostrará as suas obras e explicará como são produzidas. Fará ainda Workshops para despertar novos valores e contribuir para aprimorar as técnicas da gravura e pintura.
 Sérgio  é um artista ligado em seu tempo, em sua contemporaneidade. A arte produzida por ele pode ser colocada em qualquer museu de arte moderna do mundo . Ele  está atento a isto colocando à disposição de colecionadores e museus nas várias plataformas digitais que estão  ai disponíveis. 



Postado por BLOG DO REYNIVALDO às quinta-feira, dezembro 05, 2019 Um comentário:
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

segunda-feira, 30 de setembro de 2019

UMA EXPOSIÇÃO À ALTURA DO GÊNIO LEONARDO DA VINCI

O cartaz da mostra que impactou milhares de baianos
 Nada menos que umas cem mil pessoas visitaram a exposição O Gênio dos Gênios - Leonardo Da Vinci  organizada pelo engenheiro e artesão Thales de Azevedo Filho, no Palacete da Artes, no bairro da Graça, em Salvador. 
Foi uma das surpresas agradáveis que tive nos últimos anos em termos de exposição , e a revelação de um grande artista capaz de reproduzir em maquetes funcionais várias invenções do gênio Da Vinci.
Uma visão parcial do salão onde estava a
maioria das obras.
Fui visitar a exposição no último dia, e tinha tenta gente que quase as pessoas não conseguiam se movimentar, inclusive famílias acompanhadas de crianças, as quais na espontaneidade que lhes é peculiar mexiam nas maquetes com frenesi.
Está fazendo 500 anos da morte do grande gênio italiano ( 1452- 1519) e o engenheiro Thales Filho  levou nada menos que doze anos construindo suas maquetes reproduzindo as invenções de Da Vinci . Ele informou que  visitou várias exposições no exterior,  e assim foi construindo suas maquetes como a do avião, stand-up, boia de salvamento, escafandro, várias máquinas de guerra, navios civis e militares, além de apresentar algumas reproduções de suas obras marcantes e lá estava a Mona Lisa. 

O paraquedas
criado pelo gênio 
Outro destaque foi a instalação de um Anemômetro feito de tubos cônicos com raios de abertura capaz de medir a intensidade do vento. Os visitantes se divertiram muito ,  e embora houvessem vários monitores, eles não conseguiam atender a todos. Assim,  as pessoas mexiam espontaneamente nas manivelas e hastes colocando as maquetes para funcionar. Portanto, além da surpresa das maquetes elas proporcionam uma formidável participação e interação com o público.
O engenheiro e artista Thales de Azevedo
 Filho  segurando na maquete do casco
de um navio militar .




Quando chegava para visitar a exposição encontrei o diretor do Museu Rodin, que funciona no Palacete das Artes, Murilo Correia Ribeiro. Ele estava muito satisfeito e surpreso com a participação do público e disse que vai promover gestões para que a mostra retorne,  tão logo cumpra outras pautas previamente programadas.

Postado por BLOG DO REYNIVALDO às segunda-feira, setembro 30, 2019 Nenhum comentário:
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

terça-feira, 30 de abril de 2019

CHICO VIEIRA E SEU ABSTRACIONISMO TROPICAL

Chico Vieira trabalhando  em seu atelier
O artista Chico Veira é uma dessas figuras integradas  à paisagem do Centro Histórico de nossa Salvador. Ele mais do que ninguém, porque nasceu  na Rua 28 de setembro, e atualmente mora e mantém o seu atelier na Rua do Açouguinho, número 4. Vive  produzindo sua arte, pintando ou fotografando tudo que acha interessante. Como bom baiano adora conversar, e ao encontrar um amigo de longas datas, especialmente se havia muito tempo que não se encontravam , ai o papo se estica e a alegria contagia.
Por várias vezes, fui procurado pelo artista no início de sua caminhada pelos corredores da arte. Estava iniciando , e me impressionou sua capacidade de sintetizar os volumes , sem detalhar as fachadas dos casarios , utilizando um colorido especial.
Diz o artista que suas obras apresentam uma mistura do barroco trazido da Europa , que pode ser notado nas espirais que as compõem, e "harmoniza a fé e a razão". Com suas linhas e cores  procura esta miscigenação de culturas tanto a europeia, indígena, e predominante a africana. Lembra que
Obra mostra oabstracionismo
 e no centro uma imagem
do Pelourinho.
"são fragmentos do barroco, trazido pelos portugueses, do geometrismo dos índios e africanos ", que segundo ele lhe permite esta linguagem visual e pictórica do que denomina de Abstracionismo Tropical.
Seu nome é Francisco Carlos Vieira Borges, nascido em 1948, assina Chico Vieira. Estudou nas escolas públicas do Centro Histórico,foi recruta da Marinha do Brasil, e também frequentou a Escola de Belas Artes , quando funcionava na 28 de Setembro.
O saudoso professor  Vivaldo Costa Lima, que foi chamado pelo então prefeito e depois governador Antônio Carlos Magalhães para comandar a restauração do Centro Histórico que estava totalmente em ruínas lhe abriu as portas e mostrou a importância da cultura africana.
Trabalhei algum tempo no início da restauração com o professor Vivaldo Costa Lima, que tinha um temperamento intenso, e vibrava com aquele trabalho.
 Lembro do seu embate com o empresário e saudoso Deraldo Motta que queria instalar o Sesc no casarão onde o mestre Pastinha ensinava sua capoeira de Angola. Terminou o Pastinha sendo desalojado, e foi viver o resto de seus dias num dos casarões da rua que dá acesso ao centro do Pelourinho, se não me engano o de número 14.

Neste belo casarão funciona
o ateliê do artista
Chico trabalhou nos serviços de restauração do  Museu  do Carmo, participou das feiras de artes da Praça da República, em São Paulo, e da Praça General Osório, no Rio de Janeiro.
Em 1971 ganha bolsa para a Escola de Belas Artes de Berlim, e em 1975 consegue  bolsa ,
da Fundação Gulbenkian para estudar gravura em metal em Portugal.Chico Vieira diz que na Alemanha  "descobri novos horizontes". Depois foi morar em Barra Grande, no município de Vera Cruz, e no início dos anos 90 retornou ao seu berço natal, o Pelourinho.
Já fez inúmeras exposições aqui e fora do país. Portanto, tem uma bagagem suficiente para se apresentar aos que gostam das artes visuais.
O Chico Vieira batizado como Francisco Carlos Vieira Borges era um desses personagens baianos que você encontra no Centro Histórico de Salvador com os cabelos desgrenhados, a barba crescida e camiseta colorida, de bermudas e empunhando uma sandália japonesa. Nasceu e se criou naquele ambiente do Pelourinho portanto era uma pessoa completamente integrada aquele espaço e um dos autênticos representantes da fauna local. Gostava de batucar e tomar umas cervejinhas para alegrar. Mas, por trás desta figura singular tinha um artista vigoroso e experiente que já tinha vivido alguns anos na Europa e lá estudou em importantes instituições. Em 1971 ganhou uma bolsa de estudos e foi para a Alemanha frequentar a Escola de Belas Artes de Berlim onde ficou até 1974, e em 1975 ganhou outra bolsa de estudos para cursar Gravura em Metal concedida pelo Governo Português na Fundação Gulbenkian, em Lisboa. Lá conheceu sua esposa Ana Ortigão com quem tem três filhos, todos morando em Portugal. O Chico Vieira sempre gostava de identificar suas obras dentro de uma visão antropológica, talvez numa clara influência dos ensinamentos do mestre Vivaldo Costa Lima. Quando pintava pessoas sempre dizia que a obra é da série Antropologia Visual, principalmente se tinha alguma participação dessas pessoas que residem ou trabalham na área do Centro Histórico. Até os vídeos que fazia quando ocorria um evento o Chico Vieira me enviava e lá estava escrito Antropologia Visual. Enquanto a sua obra propriamente a dita cacicava de um abstracionismo tropical porque ali estão inseridos elementos que marcam muito nossa situação cultural e geográfica.
Obra da atual produção do
artista

Era o último dos filhos do casal Carlito Vieira Borges e Clarissa Azevedo Reis, porque seus pais tiveram cinco filhos e todos os quatro irmãos já haviam falecido. Nasceu em 4 de outubro de 1948 na Ladeira de São Francisco, número 3, em Salvador, quando a área ainda estava completamente degradada e ali funcionava o que chamamos de baixo meretrício. Durante a entrevista rindo Chico Vieira disse que sua mãe era uma espécie de agiota e emprestava dinheiro a juros para as prostitutas e outras pessoas que viviam ali. Estudou o primário e o ginásio em escolas da área na Escola Urânia da Bahia e na Escola São Lourenço. Quando sua mãe faleceu tinha apenas 14 anos de idade. Na juventude participou do movimento estudantil contra a ditadura militar, e também do tropicalismo que dominou a Bahia, dos carnavais na Praça Castro Alves e frequentou nas tardes de domingo as sessões dos cinemas Jandaia, Pax e Tupi na Baixa dos Sapateiros. Em 1966 seus parentes resolveram colocá-lo na Escola de Aprendizes Marinheiros, que funciona na Cidade Baixa, em Salvador. Foi muito importante para sua formação porque tinha excelentes professores além de disciplina e formação do cidadão. Ficou na Marinha por três anos e concluiu o segundo grau.

                          OPTOU PELA ARTE

Chico Vieira em seu ateliê do Pelourinho.
Naquela época a Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia funcionava num prédio em estilo colonial na Rua 28 de Setembro, portanto no Centro Histórico, e foi quando em 1968 ele fez o vestibular sendo aprovado. Também estudava no curso livre de alemão no Instituto Cultural Brasil-Alemanha, que até hoje funciona no Corredor da Vitória, atualmente com o nome de Instituto Goethe. Enquanto estudava trabalhou na restauração do Museu do Carmo e participava das feiras de arte do Terreiro de Jesus, em Salvador. Também chegou a expor suas obras nas feiras de artes das praças da República, em São Paulo, e da General Osório, no Rio de Janeiro.

Toda esta sua trajetória contou com o apoio irrestrito do professor Vivaldo Costa Lima, já falecido, que foi o homem que liderou a restauração da área nos governos de Antônio Carlos Magalhães e nos subsequentes. Eles iniciaram e concluíram grande parte da reforma do Centro Histórico de Salvador. Com muita competência e determinação Vivaldo Costa Lima defendia que os moradores locais deveriam permanecer e para isto criou uma política de qualificação profissional. Para as crianças tinham vários programas com vistas a criar condições de uma sobrevivência digna. Trabalhei no início da recuperação do Centro Histórico juntamente com o meu amigo o saudoso Gey Espinheira que era o responsável pelos programas sociais. Nos formamos em Ciências Sociais na mesma turma da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, da UFBA, que funcionava na Av. Joana Angélica onde hoje está o Ministério Público Estadual. Como eu tinha também a formação em Comunicação trabalhava na Assessoria de Imprensa. Vivaldo era etnógrafo, um homem culto e muito temperamental. Presenciei alguns embates dele por discordar de orientações vindas dos governos federal e estadual porque tudo era feito de comum acordo entre o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia -IPAC e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN.

O professor Vivaldo Costa Lima procurava de todas as formas proteger os locais e quem cuidava desta parte, deste contato direto era o Gey Espinheira por ser uma pessoa calma e que compreendia inclusive a resistência de alguns moradores que eram contra a reforma. A situação local era tão caótica que lembro que o fotógrafo Magno Cardoso, ia fazer a documentação dos imóveis em ruínas e tinha que ser acompanhado de algum segurança porque senão a máquina era roubada. Poucos tinham a coragem de andar pelo Maciel de Cima e Maciel de Baixo e outras ruas do Centro Histórico. Em outra ocasião eu estava fazendo uma reportagem com um fotógrafo da revista Manchete, do Rio de Janeiro, quando apareceu um ladrão e tentou arrebatar a sua máquina fotográfica Rolleyflex. Não conseguiu e entrou num daqueles casarões em ruínas. Até hoje o Centro Histórico ainda oferece perigo para os locais e visitantes.

Chico falando do chamamento que
acreditava  ter recebido.

                                        CHAMAMENTO

Voltando ao Chico Vieira depois desta permanência na Europa ele contou que
seus parentes daqui da Bahia ficaram preocupados porque não dava notícias. Na época sua família morava no bairro de Castro Neves, em Salvador. Foi então que um irmão seu conseguiu uma fotografia 3 x 4 dele que estava num álbum de quando servia na Marinha do Brasil e levou até o seu tio Antônio Vieira, que chamava de tio Tonho que era pai de santo em Maragogipe, no interior da Bahia. O tio amarrou a foto no pé de um pombo e fez um “trabalho” pedindo para que ele voltasse. Revelou ainda o Chico Vieira “que no ano de 1976 um dia estava numa praia em Portugal com a família quando recebi inexplicavelmente uma espécie de chamamento e decidi voltar para Salvador.” Falou ainda que seu tio Tonho todos os anos no dia do aniversário em 11 de agosto, ele fazia um ritual com matança de animais e isto ficou marcado em sua infância.

 Chico Vieira trouxe a mulher e os filhos, um menino e duas meninas.” Foram morar em Itaparica e lá construíram uma casa em Barra Grande onde moraram de 1983 a 1986. Nesta época pinta obras contando a História do Brasil de 1500 a 1900, concluindo em 1987 utilizando a técnica mista e de colagens e inicia o Projeto Pró-Índio. Vivia da pintura e da ajuda da família da esposa. Um dia o sogro já idoso veio a Salvador com a intenção de leva-los para Portugal porque ele precisava dividir os bens que tinha. Foi aí que Chico Vieira concordou que ele levasse o menino para lhe fazer companhia. O Chico Vieira botou o pé firme e não aceitou voltar. Tempos depois a esposa teve que retornar a Portugal com as duas filhas e estão por lá até hoje. Nesta obra ao lado vemos sua habilidade no desenho e no uso das cores. Obra feita en nanquim e aquarela sobre papel fabriano que ele denominou de Cabeça Ecológica.

                                                                                                                                                                                                         LEMBRANÇAS

De sua permanência em Portugal lembrou que Lisboa estava numa efervescência social, política e cultural muito grande. Foi a época da chamada Revolução dos Cravos e da independência de várias colônias portuguesas na África.  Tinha a Casa de Angola, em Lisboa e lá conheceu vários líderes revolucionários africanos entre eles Samora Moisés Machel. Foi um líder moçambicano socialista que liderou a Guerra da Independência de Moçambique e seu primeiro presidente após a independência em 1975 e morreu em 1986. Disse o Chico Vieira que vivenciou muito do movimento na Revolução dos Cravos.  Atestam os livros de História que “Foi um levante militar e popular que ocorreu em Portugal, no dia 25 de abril de 1974, e encerrou a longa ditadura liderada por Antônio Salazar. Nos anos 1970, os portugueses enfrentavam uma grave crise econômica, o que gerou insatisfação com o governo português. Além disso, as lutas pela independência das colônias portuguesas na África fizeram com que essa insatisfação se intensificasse.”

EXPOSIÇÕES

Sua primeira exposição individual foi realizada em 1973 em Berlim, entre os anos de 1977, e em 80 participa da Bienal de São Paulo e fez uma exposição individual no ICBA, em Salvador; em 1981 retorna à Europa e faz exposições em Berlim e Lisboa. Em 1986 expõe no Museu da Cidade do Salvador, que funcionava no casarão no Largo do Pelourinho, ao lado da Casa de Jorge Amado. Em 1993 saiu da ilha de Itaparica e decidiu retornar ao Pelourinho e instala o seu ateliê, e aí volta a se entrosar com o movimento artístico local; em 1997 participa da exposição coletiva Pinte o Pelô e também em 1999 de outra coletiva na cidade de Mineapolis, nos Estados Unidos chamada de Expo 500 anos; em 2000 de uma mostra na Galeria do IPAC; 2000 de uma coletiva de artistas brasileiros chamada de Encontros do Fim do Mundo, em Algarve, Portugal; de 2001 a 2003 participa de várias exposições coletivas e individual no Algarve, Portugal; 2003 fez uma individual na Casa 8, em Salvador, Arte Espontânea Brasileira; em 2007 lança o álbum de gravura em metal Abstracionismo Tropical, em Genebra, na Suíça; participa da instalação Pintou Natal no Pelô e em 2012 fez uma exposição de pinturas na Casa da Nigéria da Bahia comemorativa do quarto aniversário de inauguração .

O economista Dilton Machado escreveu um texto sobre a trajetória de Chico Vieira que aqui reproduzo em parte: “Todo este mosaico vivencial se traduziu naquilo que Chico Vieira denominou como abstracionismo tropical, expressão manifestada através de pinturas que saltam das telas em cores e formas que refletem predominantemente a brasilidade decorrente de nossas origens africanas e indígenas.” E continua: É gratificante sentar na Rua do Açouguinho, em frente ao seu ateliê, e observar o impacto que sua obra causa nos passantes, sejam eles baianos, turistas estrangeiros, emergentes das classes C e D, privilegiados com maior poder aquisitivo, intelectuais letrados, estudantes em formação, idosos, adultos, jovens, crianças e até os muito doidos que circulam perdidos pela área parecendo não conseguir desgrudar da sensação hipnótica e convidativa que seu trabalho produz”.






Postado por BLOG DO REYNIVALDO às terça-feira, abril 30, 2019 Nenhum comentário:
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

quinta-feira, 25 de abril de 2019

MUSEU AFRO REÚNE OITO ARTISTAS EM EXPOSIÇÃO

O mestre Juarez ao lado de Márcia Magno sua
esposa e escultora de renome tendo ao
fundo o ônibus que pintou do Projeto Axé.
Nas minhas idas ao Centro Histórico tive a felicidade de encontrar o artista Chico Vieira, que reside no Pelourinho , e estava fazendo sua caminhada. Havia uns 30 anos que não o encontrava pessoalmente, e juntos resolvemos ir ao Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira , que fica  na Rua do Tesouro. 
Lá visitamos a exposição Muncab em Movimento  que reúne os artistas Juarez Paraíso, Juraci Dórea, César Romero, J. Cunha, Guache Marques ,  Yedamaria e Babalu. 
Esta exposição valoriza os "aspectos da cultura matriz africana, destacando a sua influência sobre a cultura brasileira", explica no texto de apresentação o atual diretor da instituição o poeta e compositor José Carlos Capinan.
As faixas emblemáticas de Cesar Romero
Observando as obras vemos que estes artistas, com suas visões e técnicas diferenciadas, tem um laço forte de união nesta mostra, onde a influência afro é uma forte presença . Todos são oriundos da
Geração 70, com exceção de Juarez Paraíso que tem uma década de antecedência. 
Tive ainda o prazer de encontrar José Carlos Capinan, o autor de Ponteio, que ganhou juntamente com Edu Lobo o III Festival de MPB da TV Record, em 1967. Hoje ele dirige o Museu Afro ,  e é um entusiasta desta mostra que precisa ser mais divulgada para receber um número de visitantes à altura de sua importância.
Obra de Gauche com símbolos afros
Capinan nos convida a visitar o MUNCAB e ressalta que logo na chegada o visitante se surpreende com um belo gradil construído em chapas de ferro e com esculturas narrando as "contribuições dos afros descendentes à nossa cultura criando assim a diversidade cultural mais bem sucedida do Planeta. O gradil  intitulado de "As Histórias de Ogum" é de autoria do artista J. Cunha , tem além de sua importância artística a função pedagógica, diz o poeta, "além de oferecer aos visitantes  um belo momento de fruição estética..."

                                                        A 

EXPOSIÇÃO

Os oráculos de J. Cunha com motivos afros.


ví

Obra de Juraci Dórea homenageia
grandes nomes da arte mundial.
O mestre Juarez Paraíso dispensa apresentação por sua grande bagagem e pelo domínio de várias técnicas de artes plásticas e gráficas. Já realizou esculturas , murais em edifícios públicos e privados. Grande fotógrafo , além de autor de figurinos, cenários. É difícil encontrar uma atividade artística onde o Juarez não tenha dado a sua contribuição, até mesmo nas festas populares como no Carnaval da Bahia. Ele apresenta um trabalho que fez em colaboração ao Projeto Axé. Trata-se de um ônibus que foi pintado com motivos afros. Este ônibus é utilizado pelo projeto para exposições móveis e em outras ações culturais. Juarez levou três meses para execução do trabalho. 

Juraci Dórea
traz uma homenagem à História da Arte e referências a  Mondrian e  Duchamps .Homenageando Mondrian  ele apresenta três objetos minimalistas, silenciosos, que lembram estilingues ou cabides. Juraci está  sempre ligado à cultura nordestina, a sua literatura de cordel ,  onde sua arte está centrada.
César Romero mostra três obras com suas faixas emblemáticas,  que lhes permite infinitos movimentos com belas variações de cores.
J.Cunha apresenta 15 oráculos em madeira  com elementos afros . Sua produção artística é identificada pelas referências de matrizes africanas  que utiliza há muitos anos. 
Guache Marques mostra pinturas muito bem elaboradas tecnicamente . Também, as obras tem uma influência afro ,e se destacam entre várias outras  integrantes desta mostra. Tem se ocupado em fazer obras com raízes africanas . Atualmente ,está aos  poucos dissolvendo as imagens de símbolos e quase partindo para uma abstração, como uma evolução natural . Tem trabalhado em pintura acrílica e gravuras digitais , onde imprime , e depois atua com tintas. Quase são monotipias, guardando uma identidade, porque houve um retrabalho. Desde os anos 90 que ele vem se inspirando nas raízes das matrizes africanas. 
Obra da saudosa Yedamaria que deixou
um legado de sua arte de qualidade.
Finalmente, dois artistas já falecidos. A professora e grande artista Yedamaria, que morreu em 2016, tem duas belas pinturas expostas ,onde ressalto suas cores vivas lembrando o nosso sol tropical.
Seu nome era Yeda Maria Correia de Oliveira. Morreu aos  84 anos, sendo encontrada morta no apartamento onde morava, no bairro da Pituba, em Salvador. De acordo com pessoas próximas à artista, ela foi encontrada no apartamento, por uma vizinha, . Yeda morava sozinha e sofria de diabetes e hipertensão.E Babalu que nos deixou um legado com seu universo pictórico calcado nos movimentos populares , também tem três obras participando desta importante mostra. Ele faleceu em 2008 era irmão de J. Cunha. Era uma referência na arte primitiva , conjugando o barroco com o popular , e tinha um humor poético apurado. Não deixe de visitar.
Postado por BLOG DO REYNIVALDO às quinta-feira, abril 25, 2019 Nenhum comentário:
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

quarta-feira, 20 de março de 2019

BAIANOS E ALEMÃES EXPÕEM NO MUSEU DE ARTE DA BAHIA

Uma imagem da abertura da exposição BerlinBahia. Espero
que o Governo do Estado procure dotar o Museu de Arte da
Bahia de ar condicionado em suas salas de exposições.
Foi uma noite alegre e importante para a arte da Bahia a abertura da exposição BerlinBahia que reúne artistas baianos e alemães. Este projeto objetiva documentar o desenvolvimento de relações criativas em uma série de exposições no Brasil e na Europa. É uma iniciativa aberta, e a primeira mostra aconteceu na Galerie Alte Schule, em Berlim.
O historiador de cultura e musicólogo Tiago de Oliveira Pinto aplica o conceito de afinidade ao intercâmbio: "A transferência cultural , para ter êxito, necessita de referências em comum. Tais afinidades culturais surgem inesperadas. Também, podem ser rastreadas intencionalmente ou ser construídas sistematicamente .Todo intercâmbio cultural confia em afinidades.Visto assim, a globalização é o maior entreposto para trocar elementos afins".
Hoje, com a facilidade de comunicação, inclusive das redes sociais  e da mobilidade social esta interação existe com mais intensidade. Lembro que aqui desembarcou o Hansen que depois até adotou o nome de Hansen Bahia, optando por morar  e depois em Cachoeira , onde faleceu. Ele trouxe sua técnica da Alemanha e  criou seu universo influenciado pela cultura baiana com obras em xilogravura que são referência em todo o mundo.
O Almandrade contente com a receptividade
às suas obras
Vou começar a falar sobre os nossos artistas. Encontrei o Almandrade - Antônio Luiz Morais de Andrade .Artista e arquiteto , suas obras já expostas  em vários estados e no exterior trazem a marca da arquitetura com seus traços e espaços bem definidos, que nos levam a pensar. Almandrade já fez várias performances e sua obra tem uma unidade , clareza e a limpidez  e estrutura  arquitetônica.
Já o Bel Borba apresenta alguns óleos sobre tela . Bel é conhecido por suas intervenções urbanas em Salvador e outras cidades. Escultor, pintor, gravador, muralista e intervencionista urbano o Bel é o exemplo do artista inquieto que sempre enxerga uma possibilidade de mostrar a sua arte.
Caetano Dias - Alberto Caetano Dias Rodrigues começou pintando seus quadros a óleo e atualmente trabalha com vídeo, pintura, obras tridimensionais e fotografia digital. Artista multimídia realizou em 1988 a performance "Hormônios de uma Cidade", no teatro ACBEU, e assina a pintura mural na praça de Oxum no Terreiro da Casa Branca.
Sérgio Rabinovitz tendo ao lado sua obra Galo
 de Briga, uma das que me agradou na exposição.
O artista Sergio Rabinovitz é desenhista, gravador, fotógrafo, pintor e ilustrador e desde 1970 trabalha com arte, sendo  ex-aluno de Calazans Neto, o nosso saudoso Calá. Estudou arte em Nova York , durante dois anos e realizou sua primeira mostra na Galeria Acbeu , em 1975. Uma das obras mais representativas da mostra acredito ser a tela "Galo de Briga", de sua autoria.
Escultura de Hans
Scheib "A poeta"
Finalmente, o cineasta e artista plástico Walter Lima  participa da mostra com algumas telas. Ele estudou pintura com Ivan Serpa, no MAM do Rio de Janeiro e cinema com Walter da Silveira, este grande incentivador do cinema na Bahia. Walter Lima criou o movimento artístico de vanguarda "Delirismo" conceito que vem realizando nos seus trabalhos de cinema e pintura.
Entre os alemães destaca-se o escultor Hans Scheib  ,nascido em Postdam, é graduado em pintura pela Academia de Belas Artes de Dresden. em 1976 foi morar em Berlin e já fez exposições em vários países, inclusive na China. Suas esculturas em madeira mostram um traço quase ingênuo, e lembra escultores que trabalham com madeira em nosso país. Me chamou a atenção a escultura "A Poeta", com seus olhos vivos a nos observar.
Também, as obras de Volker Henze, valem ser vistas com parcimônia. Natural da ex-Alemanha oriental, também estudou em Dresden e realizou exposições em vários países europeus. A vídeo instalação de Volker está numa sala separada. O que notei é que as pessoas ficavam pouco tempo nesta sala devido ao calor insuportável. Aliás, é um ponto negativo e inconcebível que  Museu de Arte da Bahia, ainda não tenha ar condicionado nas salas de suas exposições.  O governo do Estado precisa voltar os  olhos para os museus baianos.
"Visão de Mundo", é a vídeo instalação do
artista alemão Volker Hense. Vale a pena ver
 Expõem ainda Reinhard Stangel com suas telas em óleo sobre tela .Também nasceu na Alemanha Oriental e mora em Berlin. Já Strawalde é artista plástico e cineasta expõe óleo sobre tela. Finalmente, a paulista Cristina Barroso , que estudou em São Francisco, na Califórnia e desde 1988 mora em Stuttgart , na Alemanha.

Postado por BLOG DO REYNIVALDO às quarta-feira, março 20, 2019 Nenhum comentário:
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

sexta-feira, 15 de março de 2019

SEPULTADO O ARTISTA JOSÉ ARTHUR

Obra de Zé Arthur que me
 presenteou há muitos anos
Mais um pintor baiano que nos deixa . Trata-se de José Arthur uma pessoa que tinha por
característica a gentileza. Um batalhador incansável sempre procurando mostrar sua arte, nesta terra sem memória,onde as pessoas talentosas são esquecidas em pouco tempo . Ele tinha um grande talento, e sempre aparecia na redação do jornal A Tarde , onde trabalhei por mais de trinta anos , todas às vezes que ia fazer uma nova exposição ou mesmo quando encontrava novas formas de criação. 
Depois que me afastei da redação, o encontrei algumas vezes , e percebi que ele havia sumido das vernissages de outros colegas de sua profissão. Ontem, através da artista Anna Georgina, da Panorama Galeria de Arte, soube do seu falecimento , e hoje, às 11 horas , compareci ao Jardim da Saudade para dar-lhe o último adeus. Confesso que fiquei emocionado e triste com o desaparecimento precoce de Zé Arthur. Ele não tinha alcançado a casa dos 70 anos, e da última vez que estivemos juntos me  pareceu bem saudável , levando sua arte com muito prazer. 
Lembro de seu belo mural que criou para o então Aeroporto Dois de Julho, hoje, Aeroporto  Luiz Eduardo Magalhães , com motivos da cultura popular. Também, me veio à memória as reportagens de capa da revista do Centro Industrial de Aratu, o Cia, onde ele trabalhou no período áureo deste centro industrial, atualmente  quase esquecido pela  administração estadual. 
Fui  pesquisar neste nosso blog  e  encontrei várias matérias e registros de sua atuação como artista plástico, entre as quais esta datada de 9 de junho de 1992, que republico em homenagem à sua memória. Vejam.


Postado por BLOG DO REYNIVALDO às sexta-feira, março 15, 2019 Nenhum comentário:
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest

quarta-feira, 13 de março de 2019

COMO A CULTURA É ADMINISTRADA NA BAHIA

O Solar do Unhão, onde funciona o Mam-Ba , um dos mais belos
conjuntos arquitetônicos do país  corre sério  risco de incêndio.
Defendo que o mérito deve ser o principal critério para a escolha de alguém como administrador (a) de um órgão público. Escolher um gestor porque é negro, branco, amarelo, até mesmo por ser gay ou mulher é um demérito inclusive para quem é designado(a). Mas, na Bahia este critério esdrúxulo tem prevalecido, seguindo a cartilha retrógrada da esquerda.
Antes, a esquerda condenava  as indicações feitas por políticos , que colocavam pessoas sem qualquer condições como gestores. Era o tal QI ou seja, valia Quem Indicou. Ao assumir o poder a esquerda trocou o QI pelo critério da cor da pele ou do gênero. Assim, este critério  continua prevalecendo, e o que vemos são administrações desastrosas, como já constatamos na Secretaria da Cultura, dentre vários outros órgãos. Vou me fixar nesta pasta porquê quero falar da exoneração do artista Zivé Gíudice que vinha fazendo um trabalho razoável à frente do  Museu de Arte Moderna da Bahia - Mam-Ba. Digo razoável, porque presenciei algumas vezes a total falta de recursos para empreender um trabalho digno de elogio. 
O píer antes usado por  turistas para
visitar o museu está interditado
.
Os museus e outras instituições culturais na Bahia estão carentes de tudo,evidente que a ideologia dos atuais  dirigentes despreza  a arte que chamam de tradicional ou mainstrain, e apoiam performances semelhantes àquelas da peça "Macaquinhos"; do homem nu sendo apalpado por criancinhas apresentada no Museu de Arte Moderna de São Paulo, chamada de "La Bête" ou a exposição que foi montada no Instituto Goethe, em Salvador,  sobre o ânus,  patrocinada pelo Governo do Estado. É a desconstrução, e a tentativa de nivelar tudo por baixo. 
O MAM-Ba está localizado num prédio tombado pelo Patrimônio Histórico, que é o belíssimo Solar do Unhão. Lá foi iniciada uma pequena reforma e a construção de uma subestação de eletricidade há cerca de 6 anos . Até hoje está lá sem ser concluída,colocando em risco àquele patrimônio arquitetônico tão importante para o Bahia e o Brasil.
Este barracão da subestação tem seis anos ,e representa
risco de incêndio para  todo o conjunto do Solar do Unhão.
Este patrimônio pode ser consumido pelo fogo de uma hora para outra. A obra está paralisada porquê o Governo do Estado não pagou a empreiteira.
Zivé conduzia o museu com dignidade, e de quando em vez  batia de frente com  tentativas de apresentar determinadas "atrações" que não mereciam e nem merecem ocupar aquele espaço. Contava com a assessoria de outros colegas, também artistas plásticos . Resultando na segunda queda do Zivé . Não recebeu um real para um novo projeto. O MAM-Ba vive à míngua.
Conheço o Zivé há muitos anos. Sei do seu temperamento italiano, e de sua fácil verbalização em defesa de algo que acredita. Com sua saída perdem os artistas e a cultura da Bahia. 
Ele fez uma longa Carta Inventário que publico na íntegra para ficar aqui registrada como um documento a ser visto por quem se propor a ler ou pesquisar no futuro.

O artista Zivé Gíudice

Carta Inventário :

( MAM, o mais importante equipamento de cultura do estado da Bahia)

O tempo é implacável, e tão implacável quanto o tempo é a experiência pessoal, íntima, que ele torna possível. Como ela, não há como nos escondermos em subterfúgios e, por causa dela, somos colocados frente a frente com o que somos. Talvez até aqui não consigam intuir o propósito desse texto, mas, se eu não fracassar na exposição dos motivos que me fazem escrevê-lo, tudo ficará em seu devido lugar.

Da primeira vez que fui exonerado do cargo de Diretor do MAM, Museu de Arte Moderna – BA, elaborei um documento em que relatava, com tom enérgico, as causas de meu desligamento. O texto, mirando o nervo, acertou a veia da não docilidade, da insubordinação de quem se pensa autônomo, de quem se expressa por um modo de pensar autônomo. Hoje, depois de, em junho de 2017, ter retornado à anterior função de diretor do MAM, recebo com surpresa a notícia de minha exoneração.

Desta vez, a acidez do antigo texto já mencionado dará lugar à temperança da sabedoria que cabe a alguém que não tem como se furtar ao peso incontornável de quase 67 anos de vida. Poderão pensar alguns que isso é, na verdade, o esconderijo de uma covardia ou modéstia, lugar dos hipócritas. No meu caso, é antes o contrário. Covardes não agem, covardes silenciam perante injustiças. Minha natureza não abre brechas a esse tipo de comportamento. Pensando nisso, é para a sociedade civil, a quem aqui presto contas, que passarei a expor uma espécie de inventário das mais importantes ações realizadas por mim em nome do MAM. Caberá a ela ajuizar pela justiça ou injustiça desse desligamento.

O primeiro gesto que fiz, tão logo reconduzido à Diretoria do MAM, foi buscar no viço próprio da juventude os novos nomes das artes visuais baianas. Dessa pesquisa, nasceu o projeto da exposição Pertencentes (setembro a outubro de 2017), cuja realização alavancou a produção de dezenove artistas de indiscutível qualidade.

Esse foi o estopim para a condução de uma gestão que primasse por visibilizar o olhar contemporâneo da arte, sem, no entanto, esquecer os artistas de outrora que pavimentaram o caminho por onde os mais novos passam agora. Com vistas a isso, a ideia era ativar o novo e presentear a comunidade com as amostras daquilo que a arte brasileira, constitutiva do gigantesco acervo permanente do MAM, tinha brilhantemente produzido.

Não entendia o porquê de tantas obras repousarem na poeira dos arquivos, longe dos olhares de um povo que MERECE e, mais do que isso, de um povo que tem o direito de conhecer sua história também na perspectiva da arte, a mais revolucionária demonstração de força e empoderamento que a experiência humana pode engendrar! Pensei e penso nos museus, mais especificamente no MAM, como espaço de pertencimento sociocultural, para o qual é preciso, em um primeiro momento, haver o chamamento da sociedade, um convite expresso dirigido a todas e todas, sem quaisquer distinções, para que procedessem a apropriação de equipamentos de cultura; o MAM devém, assim, um espaço de ressignificação social. Daí, consolidaram-se as seguintes exposições:

• Da Razão ao Informalismo (agosto de 2017, com obras de oito artistas);
·   Mostra Gráficas 3 (agosto de 2017, com obras de professores e alunos da Escola de Belas Artes da UFBA);
·   Um Recorte da Figuração do Acervo do MAM (dezembro de 2017, com participação de 11 artistas);
• Escultores contemporâneos brasileiros (janeiro de 2018, com participação de 17 artistas);
·   Acervo dos Salões do MAM (fevereiro de 2018, com obras de 19 artistas);
·   ALFREDO VOLPI (março a julho de 2018);
·   Arte Eletrônica Indígena (agosto a setembro de 2018, com obras cocriadas por indígenas brasileiros e artista da Bolívia, Reino Unido e Brasil);
·   Acervo do MAM (outubro a novembro de 2018, com obras de 11 artistas brasileiros, em homenagem a Mário Cravo Júnior);
·   MESTRE DIDI, Ancestralidade e resistência (outubro a novembro de 2018);
·   Vértice (dezembro de 2018 a abril de 2019, com obras de 20 artistas); e
·   AURELINO DOS SANTOS, A letra que faz o mundo (dezembro de 2018 a abril de 2019).


Para algumas dessas exposições, contei com parcerias decisivas. Entre as colaboradoras mais frequentes, destacam-se a Galeria Paulo Darzé e a Roberto Alban Galeria, ambas sediadas em Salvador/BA, e a Almeida & Dale, de São Paulo. A elas, meu agradecimento especial. Da mesma forma, serei eternamente grato às pessoas de Bel Borba, Caetano Dias, Almandrade e Sérgio Rabinovitz, membros do Conselho Curatorial, pela intransigente defesa de que o MAM, como equipamento de cultura, deve mesmo é alinhar-se com as artes visuais, o mais importante objeto de compromisso do museu.

E não é só! O MAM, na esteira do que se estabeleceu, no decorrer deste século, como conceito de museus de arte, abriu-se a outros domínios, ultrapassou a fronteira da arte visual para afinar-se com outras expressões que se estreitassem ao propósito do museu, a saber: PRODUZIR ARTE. Os exemplos disso são:

·   20 edições do Projeto MAM abraça as crianças, com público total estimado em 20.000 pessoas. Esse projeto é, no âmbito pessoal, especialmente valoroso, pois trouxe ao Museu pessoas que jamais se sentiram convidadas a frequentar suas instalações, jamais se sentiram contempladas em usar um equipamento público voltado à uma arte historicamente usufruída por especialistas . Nessas 20 edições, muitas crianças e jovens descobriam o quanto a arte pode ser combativa, porta-voz das demandas populares silenciadas covardemente por aqueles que só querem negar o novo, negar a mudança dos tempos. ( Esse projeto acontecia aos domingos. Os funcionários e alguns voluntários, chegavam às 8h da manhã. Dedicavam com sacrifícios, dois domingos a cada mês para fazerem acontecer as oficinas com as crianças. O MAM oferecia almoço a todos. Tínhamos que providenciar o retorno de todos às suas casas. Todas essas despesas feitas com as possíveis contrapartidas, ou, nós artistas, nos cotizávamos para garantir o evento)
·   Participação efetiva na revisão do projeto de reforma das instalações do MAM, com o objetivo de evitar a descaracterização dos espaços e, com isso, mostrar-se rigorosamente obediente ao Protocolo de funcionamento da instituição. Quanto a esse ponto, cabe uma importante indagação: queremos um Museu que, pela sua localização privilegiada e pelo acervo arquitetônico que lhe constitui, funcione apenas como local “pitoresco” de um restaurante, ou o restaurante ser um elemento indexado a um projeto de cultura? Em outras palavras, queremos um Museu em que ocorrem oficinas, mostras artísticas, espetáculos culturais no qual há, também, um restaurante, como lugar de convivência, ou queremos um Restaurante que se utiliza, luxuosamente, de um Museu? Em uma pergunta: Qual deve ser o atrativo do MAM? Não creio que haja outro atrativo para o MAM além dele mesmo. Como tenho dito há anos, O ATRATIVO DO MAM É O MAM!!!!
Ainda quanto ao processo de reforma, o vasto período pelo qual se arrasta constituiu, devo dizer, outro elemento constritor para a gestão. Exemplo disso é a limitação espacial do Casarão em virtude da interdição de seu pavimento superior. Ainda sobre a questão da reestruturação do MAM, assim como, indiretamente, de todos os museus, havia recebido do Governador Rui Costa a incumbência de coordenar,junto com a Secretária, o processo de retirada desses equipamentos dos domínios do IPAC, por incompatibilidades conceituais. Fizemos esse pleito em um documento entregue ao governador, assinado por dezenas de artistas, intelectuais, galeristas e curadores, na ocasião de um encontro do governador com artistas representantes de diversas linguagens. Não obstante o governador ter determinado a mudança, a Secretaria da cultura nada fez e, se fez, nós - museus e artistas – não tomamos conhecimento.
·   Reativação das oficinas de litogravura, xilogravura e gravura em metal, cujo formato reduzido (já que não se expandiram para outras técnicas) deu-se pela limitação espacial provocada pela reforma do galpão destinado a essa atividade.
·   Criação do Projeto Acústicos do MAM, em que se apresentaram, em quatro edições, importantes artistas da música brasileira e local. Esse projeto foi executado pela E33 Entretenimento, a quem agradeço na pessoa de seu diretor Eduardo Mattos. Além de fomentar a cultura musical, esse projeto funcionou como forma de captação de recursos econômicos para viabilizar importantes ações. De duas das quatro edições, as contrapartidas ( todas arbitradas pela gestão do Museu, com a participação do Conselho de Curadoria, e posteriormente admitidas pelo órgão dessa competência) permitiram a aquisição dos seguintes materiais e equipamentos permanentes e de manutenção:

1.     criação da marca “Acústicos no MAM”;
2.     02 (dois) aparelhos de computador (Notebook);
3.     01 (uma) furadeira;
4.     01 (uma) parafusadeira;
5.     10(dez) folhas de compensados naval de 15mm
6.     01 (um) rolo para litrogravura;
7.     01 (um) kit de 60 (sessenta) brocas;
8.     03 (três) latas de 18 (dezoito) litros de tinta branca (destinado ao MAB para exposição Berlim-Bahia);
9.     01 (uma) lata de massa corrida de 18 (dezoito) litros (destinado ao MAB para exposição Berlim-Bahia);
10. 02 (dois) rolos de lã para pintura (destinado ao MAB para exposição Berlim-Bahia) ;
11. 10 (dez) folhas de lixa (destinado ao MAB para exposição Berlim-Bahia);
12. 03 (três) rolos de fita adesiva (destinado ao MAB para exposição Berlim-Bahia);
13. 40 (quarenta) refletores com lâmpada PA 38 para as salas de exposição;
14. 40 (quarenta) lâmpadas LED;
15. 20 (vinte) lâmpadas (PA 38) especiais para exposições;
16. 400 (quatrocentos) parafusos para montagem das exposições;
17. produção de conteúdo para as exposições de Aurelino dos Santos, A letra que faz o mundo, e Vértice, sob a forma de: plotagem, banners, logomarca de identificação das amostras e convites eletrônicos;
18. material e insumos destinados à execução da 17ª edição do MAM abraça as crianças.
A julgar pelo tempo em que vivemos, a julgar pelo lugar conferido à cultura pelos órgãos e autoridades governamentais, pouco importando aqui qual seja sua inclinação ideológica, os leitores dessa carta-inventário, assim espero(!), serão conduzidos a pensar ser essa, muitas vezes, a única estratégia de sobrevivência dos atuais equipamentos de cultura. Vale ressaltar que as aquisições mencionadas acima referem-se às duas primeiras edições do Projeto Acústicos. As duas últimas contrapartidas do Acústicos ainda estão por serem demandadas. Essas contrapartidas se constituíram na única fonte de recursos do MAM.

Exposto isso, a esses mesmos leitores talvez seja pertinente perguntar: Fez pouco, em 18 meses, quem realizou essas ações sem dispor de qualquer recurso institucional? Contribuiu pouco com a cultura aquele que empunhou essas bandeiras? É claro e natural que ocorreram críticas à gestão, principalmente pela condução rigorosa, que não transigiu, sob nenhuma alegação, seja ela de cunho pessoal ou institucional, a proteção do Museu e, consequentemente, da função social com a qual está relacionado. Infelizmente, não é possível agradar a todos, por mais bem intencionados que sejam; não é possível atender a todas as demandas, mesmo que legítimas. Mesmo assim, tais perguntas objetivas precisam ser feitas e pude fazê-las a tempo de esse acontecimento não ser, ardilosamente por alguns, colocado no limbo do esquecimento, nesse lugar de não memória. Aqui é preciso não esquecer o momento inoportuno do desligamento: a notícia de minha exoneração veio no dia da abertura das festas carnavalescas. Por que será? É delírio pensar que se tratou de uma estratégia de inviabilizar qualquer discussão sobre causas que motivaram a exoneração, à revelia da comunidade geral e, mais estritamente, da comunidade artística?

Todos que compartilharam ou estiveram próximos da minha gestão compreendiam e apoiavam a minha resistência e a minha recusa em dar voz àqueles que, a despeito dos seus cargos, nada tinham de substancioso para colaborar com o projeto de ressignificação do MAM. Não se tratava de iconoclastia ou irreverência, mas, antes, de criar proteção contra pessoas que nada conhecem do objeto arte.



Chegando perto do fim dessa carta, misto de manifesto e inventário, é sobre o futuro, a memória do futuro, que quero tratar agora. Nesses últimos meses, foram muitas as discussões acerca do ano em que o MAM completa 60 anos de existência com a consequente concepção do calendário de comemorações. Resta-nos saber se as ações programadas em minha gestão serão levadas a cabo. Entre elas, ressalto:

·   exposição de Adriana Varejão (com início previsto para abril);
·   exposição de Ana Elisa Egreja (prevista para junho);
·   exposição do artista Vik Muniz (prevista para julho);
·   exposição de Mariana Palma (ainda com data indefinida );
·   exposição Geração 70 com respectivo lançamento de livro (previstos para setembro);
·   exposição de Leda Catunda (prevista para dezembro);
·   além de outras em fase de ajuste no calendário.

Convicto de que cumpri, junto à sociedade, com aquilo que deve ser obrigação de toda pessoa à frente da execução de serviços públicos, resta-me agora agradecer o decisivo incentivo de familiares e amigos durante essa jornada. Aos colegas de trabalho, meu muito obrigado pela preciosa contribuição com o MAM e por NUNCA se furtarem a servir aos projetos executados pelo e no museu. Que todos saudemos a arte, centro indiscutível disso que chamamos cultura!!









Postado por BLOG DO REYNIVALDO às quarta-feira, março 13, 2019 Nenhum comentário:
Enviar por e-mailPostar no blog!Compartilhar no XCompartilhar no FacebookCompartilhar com o Pinterest
Postagens mais recentes Postagens mais antigas Página inicial
Ver versão para dispositivos móveis
Assinar: Postagens (Atom)

Postagens populares

  • FORY E SUAS ESCULTURAS ESTILOSAS DE MULHERES E ORIXÁS
    Fory em seu ateliê esculpindo  entidade  de matriz africana. O escultor Fory é um artista autodidata da cidade de Cachoeira, Bahia, que tem ...
  • MARCO BULHÕES FAZ INTERVENÇÕES URBANAS COM ANIMAIS MARINHOS
    O artista Marco Bulhões com obras de  sua autoria . C ertamente você que mora em Salvador já deve ter visto uma obra de autoria do artista v...
  • SONIA RANGEL E O POÉTICO PROCESSO CRIATIVO DE SUA ARTE
    A artista Sonia Rangel fala de sua arte. A artista visual Sonia Lúcia Rangel desde os anos setenta que escolheu Salvador para morar. Aqui c...
  • MCR GALERIA DE ARTE COMEMORA 35 ANOS
    Escultura Maternidade de Mário Cravo, em pedra sabão. Uma obra maravilhosa! O s amantes da arte na Bahia estão comemorando os 35 anos da Gal...
  • PAULO RUFINO MOSTRA BELOS DESENHOS A BICO DE PENA
    O artista Paulo Rufino  desenhando.   D epois de um longo período sem expor o artista Paulo Rufino mostrará sessenta e cinco desenhos numa e...
  • ALCEU LISBOA E SEU CONSTRUTIVISMO SINGULAR
    O artista Alceu Lisboa trabalhando numa nova obra, onde podemos ver o surgimento de algumas manchas . T endo trabalhado durante mais de trin...
  • EXPOSIÇÃO DO CU
    E stive visitando a exposição O Cu é Lindo, no Instituto Goethe , na Vitória , que tem o patrocínio do Governo do Estado, do petista Rui ...
  • O ESCULTOR E MURALISTA CELSO CUNHA
    Celso desenhando  nova obra . O meu entrevistado de hoje é o artista , escultor e muralista Celso da Cunha Silva Neto ou Celso Cunha que te...
  • EDVALDO GATO UM ARTISTA DE MÚLTIPLAS ARTES
    Edvaldo Gato trabalhando em sua  mais recente xilogravura .   U m dos mais criativos artistas baianos é  desenhista, ilustrador, colorista e...
  • ANTONETO O ARTISTA VELEJADOR
    O artista Antoneto explicando sua relação com a   arte e o mar. Ele disse que são duas fortes paixões. O Antônio Francisco Souza Neto ou sim...

Pesquisar este blog

Arquivo do blog

  • ►  2025 (31)
    • ►  junho (3)
    • ►  maio (7)
    • ►  abril (7)
    • ►  março (5)
    • ►  fevereiro (4)
    • ►  janeiro (5)
  • ►  2024 (53)
    • ►  dezembro (3)
    • ►  novembro (7)
    • ►  outubro (5)
    • ►  setembro (4)
    • ►  agosto (5)
    • ►  julho (4)
    • ►  junho (4)
    • ►  maio (4)
    • ►  abril (4)
    • ►  março (6)
    • ►  fevereiro (2)
    • ►  janeiro (5)
  • ►  2023 (54)
    • ►  dezembro (6)
    • ►  novembro (6)
    • ►  outubro (5)
    • ►  setembro (8)
    • ►  agosto (4)
    • ►  julho (6)
    • ►  junho (4)
    • ►  maio (4)
    • ►  abril (7)
    • ►  março (4)
  • ►  2022 (10)
    • ►  setembro (1)
    • ►  julho (2)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (3)
    • ►  março (2)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2021 (15)
    • ►  setembro (1)
    • ►  agosto (2)
    • ►  junho (2)
    • ►  maio (5)
    • ►  abril (4)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2020 (18)
    • ►  dezembro (2)
    • ►  outubro (2)
    • ►  setembro (1)
    • ►  agosto (3)
    • ►  julho (4)
    • ►  junho (4)
    • ►  maio (2)
  • ▼  2019 (9)
    • ▼  dezembro (2)
      • AS MIRAGENS DE SIRON FRANCO
      • UM ARTISTA COM OLHOS ABERTOS PARA O MUNDO
    • ►  setembro (1)
      • UMA EXPOSIÇÃO À ALTURA DO GÊNIO LEONARDO DA VINCI
    • ►  abril (2)
      • CHICO VIEIRA E SEU ABSTRACIONISMO TROPICAL
      • MUSEU AFRO REÚNE OITO ARTISTAS EM EXPOSIÇÃO
    • ►  março (3)
      • BAIANOS E ALEMÃES EXPÕEM NO MUSEU DE ARTE DA BAHIA
      • SEPULTADO O ARTISTA JOSÉ ARTHUR
      • COMO A CULTURA É ADMINISTRADA NA BAHIA
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2018 (20)
    • ►  novembro (3)
    • ►  outubro (1)
    • ►  setembro (4)
    • ►  agosto (4)
    • ►  julho (1)
    • ►  junho (1)
    • ►  maio (2)
    • ►  fevereiro (1)
    • ►  janeiro (3)
  • ►  2017 (17)
    • ►  novembro (2)
    • ►  outubro (4)
    • ►  setembro (3)
    • ►  agosto (2)
    • ►  junho (1)
    • ►  maio (1)
    • ►  fevereiro (2)
    • ►  janeiro (2)
  • ►  2016 (291)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  novembro (1)
    • ►  outubro (2)
    • ►  agosto (4)
    • ►  maio (24)
    • ►  abril (3)
    • ►  março (2)
    • ►  fevereiro (2)
    • ►  janeiro (252)
  • ►  2015 (1118)
    • ►  dezembro (494)
    • ►  novembro (172)
    • ►  outubro (165)
    • ►  setembro (190)
    • ►  agosto (88)
    • ►  julho (1)
    • ►  maio (4)
    • ►  abril (1)
    • ►  março (1)
    • ►  fevereiro (1)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2014 (23)
    • ►  dezembro (1)
    • ►  novembro (3)
    • ►  outubro (2)
    • ►  agosto (2)
    • ►  julho (3)
    • ►  maio (1)
    • ►  abril (7)
    • ►  março (2)
    • ►  fevereiro (1)
    • ►  janeiro (1)
  • ►  2013 (475)
    • ►  dezembro (3)
    • ►  novembro (1)
    • ►  outubro (6)
    • ►  setembro (9)
    • ►  agosto (9)
    • ►  julho (129)
    • ►  junho (39)
    • ►  maio (68)
    • ►  abril (25)
    • ►  março (78)
    • ►  fevereiro (62)
    • ►  janeiro (46)
  • ►  2012 (445)
    • ►  dezembro (73)
    • ►  novembro (57)
    • ►  outubro (51)
    • ►  setembro (45)
    • ►  agosto (167)
    • ►  julho (16)
    • ►  junho (36)

Pesquisar este blog

Quem sou eu

BLOG DO REYNIVALDO
Ver meu perfil completo
Tema Espetacular Ltda.. Tecnologia do Blogger.